Inserção escrita por Yennefer de V


Capítulo 6
Oraculo




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Segundo Morpheus, o Oraculo devia ser visto como um guia e não como um profeta que erra e acerta sobre o destino das pessoas. Há muito tempo atrás, Neo entendeu que a profecia feita sobre sua vida o transformou em alguém capaz de conquistar trégua com as máquinas. Foi chamado de “Escolhido”.

Na época, Morpheus e o povo de Zion eram a chamada Resistência. As pessoas que lutavam pela realidade verdadeira. Contra Matrix e pela liberdade dos homens. Contudo, agora já não era mais necessário que Oraculo nenhum guiasse os passos de Neo (em seu próprio julgamento) já que eles não eram mais escravos.

Era toda a certeza de Neo até Voldemort aparecer.

Os programas que habitavam Matrix (responsáveis por funções pequenas como o nascer do sol até o equilíbrio humano e lógico do destino da ilusão) andavam por Matrix como pessoas comuns. Existiram também os agentes (que depois em Zion foram chamados de “vírus” por Neo e pelos sobreviventes) que impediam que os moradores de Zion despertassem as pessoas de Matrix. Os agentes foram tirados de Matrix pelas máquinas a fim de dar às pessoas paz.

Voldemort foi considerado por Neo um agente (ou antivírus) particularmente feroz. Porque foi criado pelos seus habitantes e não por máquinas que escravizavam as mentes humanas.

O Oraculo fazia profecias para garantir o equilíbrio de Matrix. Ela era parte da ilusão. Seu propósito era sempre “humanizar” a ilusão, não deixando tudo muito perfeito ou muito lógico.

Segundo o programa criador de Matrix, chamado Arquiteto, que neste caso é o lado lógico para o equilíbrio da ilusão, a primeira versão de Matrix (no qual as máquinas testavam aprisionar as mentes humanas) era uma versão perfeita para suas vidas, como uma plena visão de Paraíso. E não foi aceita. Humanos precisam dos “defeitos” do mundo para viverem e sobreviverem. Faz parte de sua raça.

Trinity decidiu embarcar na Horus àquela vez. Ela, Neo, Morpheus, The Kid e Niobe formavam a equipe em missão de consultar o Oraculo e decidir qual o próximo passo a dar para o destino da humanidade.

Neo ficou agitado a viagem inteira. Trinity tentava acalma-lo enquanto seu próprio coração batia veloz. Quando a Horus chegou à posição necessária para a conexão com Matrix, Neo já estava na cadeira que inclinava.

A equipe inteira (menos The Kid) se conectou à Matrix.

– Tudo vai dar certo. – assegurou Trinity dando a mão para o marido na cadeira antes de enfiar o cabo em seu conector da nuca.

– Queria saber onde está o erro. – murmurou Neo.

– Talvez não haja erro. – quem respondeu foi Niobe sorrindo levemente. - É questão de perspectiva. Se você acredita que é um erro então será.

Não muito mais seguro, Neo fechou os olhos e sua mente foi para Matrix.

***

Era um conjunto habitacional muito pobre. Crianças corriam de um lado para o outro. Era dia. Os quatro estavam vestidos de negro e de óculos escuros. Algumas pessoas trajadas precariamente apontaram e riam. Eles viraram uma esquina e encontraram um prédio gasto de quatro andares. Tomaram as escadas e pararam em frente à porta idêntica às outras do corredor (exceto por números de identificação ou placas de “bem-vindo”).

Neo girou a maçaneta. Uma moça negra de cabelos negros presos os recebeu.

– Quanto tempo, Neo. – ela lhe sorriu depois se adiantou para os outros. – Morpheus, Trinity, Niobe. Ela que vê-lo com privacidade.

Neo não ficou surpreso. A Oraculo sempre sabia mais do que eles suspeitavam. Os outros ficaram na sala desconfortavelmente. Neo passou pelo portal da cozinha e lá estava a velha.

O Oraculo era um programa que se apresentava como uma velhinha fumante e cozinheira, de avental e cabelos crespos e curtos. Tinha pele morena e um ar de constante indiferença.

– Você tinha que voltar mais cedo. Claro que eu sabia que não voltaria. – disse a velha.

A cozinha não era espaçosa, tampouco luxuosa. Havia uma mesa com uma bandeja de biscoitos. Um relógio no alto. Aparelhagem para cozinhar. Ela estava sentada em uma das cadeiras da mesa fumando, ao que parecia, o terceiro cigarro seguido. O cinzeiro estava cheio de bitucas.

– Eu o conheci. – continuou a velha. – Seu medo. O encapuzado.

– Então sabe que ele é um maluco. – concluiu Neo, rancoroso.

A velha deu um pequeno sorriso.

– Já te ocorreu, Neo, que você é apenas uma pequena peça de um quebra-cabeça gigante, assim como eu? Quanto mais cedo você aceitar sua condição, mais cedo poderá jazer em paz em sua morte.

– Eu sou o Escolhido.

A velha empurrou a bandeja de biscoitos em sua direção. Ele continuava em pé. Neo não protestou, apenas mastigou um biscoito a contragosto.

– Meu querido, você foi o Escolhido. E você virou o mundo de cabeça para baixo, é verdade. Já te ocorreu, mais uma vez, que sua verdade não é a verdade alheia?

Neo, cuja boca estava cheia, viu um discurso da filha Luna na velha e engasgou.

– Luna. Você está falando como minha filha.

– Neo, você sacrificou muito por todos. Ser o Escolhido significava exatamente isso. Porém, você não aprendeu a mais significante das lições. Você esteve pronto para morrer, mas nunca esteve pronto para perder. Nunca esteve pronto para estar errado. O encapuzado espera que Hogwarts esteja pronta para começar sua história e então atacará.

– O que acontece se ele o fizer? - perguntou Neo ignorando o resto do discurso da velha.

– Não faço profecias sobre antivírus, Neo.

Ele olhou para a velha de um jeito ameaçador.

– O que pode dizer sobre mim?

– Você tem que escolher. Viver e deixar viver, Neo. Não viver e trancar a vida dos outros.

– Eu achei que a chave para se libertar de Matrix fosse acreditar. – resmungou Neo.

– Não estamos falando de Matrix. Estamos falando de você. Foi sobre você que me perguntou por medo de estar errado. Achou por toda a vida que a certeza de ser o Escolhido te dava todas as respostas.

– Estou errado?

– Está certo em achar que há um erro. - respondeu a velha. - Mas temo que não do modo que acredita.

Neo ficou em silencio por um instante tentando decifrar o enigma. Por fim, a velha encerrou o dialogo.

– Você terá que aprender, Neo, que o pior sacrifício humano não é a morte, ou a tortura, muito menos a solidão. É abdicar as pessoas que você mais ama de sua vida pelo bem de todos os outros.

E fazendo um gesto para que Neo saísse com aquela nota enigmática, a velha acendeu o quarto cigarro e bocejou.


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