Killian sentia uma sensação ruim ao redor da garganta por ter sido sufocado pela mulher de preto que o atacara. Seu corpo todo doía, especialmente sua perna esquerda por ter caído e direcionado todo seu peso em cima dela quando foi lançado para além da barreira e aterrizado com força no asfalto. Ele se levantou do chão e limpou a sujeira que grudou em suas roupas com as mãos e ficou parado, olhando para o nada. Storybrooke havia sumido. O coração de Killian pareceu congelar dentro do seu peito, uma sensação de pavor tomou conta do seu corpo.
— Emma ... - ele sussurrou para si mesmo.
A realidade bateu dura e forte contra seu peito. Nunca mais veria a mulher da sua vida. Nuca mais a tocaria, sentiria o corpo dela no seu, sentiria os lábios doce e quente dela contra os seus. Killian lutou contra a vontade de gritar e chorar. Não queria perder o controle agora. Sua mente começou a trabalhar rapidamente, pensando em alguma maneira da qual pudesse retornar a cidade e retornar para os braços de Emma. Seus devaneios foram interrompidos quando uma figura apareceu do nada e caiu com um baque forte no chão próximo a ele. Killian se aproximou rapidamente da figura que vestia uma jaqueta de couro preto e percebeu que era David.
— Hey parceiro, acorda! - Ele disse, pegando David pelos ombros e o chacoalhando de leve.
David estava desmaiado. A pele branca ao redor do pescoço dele estava avermelhada. Era como se algo o tivesse pegado por ali também e o asfixiado. Killian aproximou o rosto do de David e ouviu e sentiu a respiração dele. Estava vivo pelo menos. Gancho então sentou ao lado do amigo e esperou até que ele recobrasse a consciência novamente.

David abriu os olhos rapidamente e acordou de um salto. Tentou pegar a espada na cintura mas não a encontrou. Olhou desesperado para os lados e de repente suspirou de alívio. Killian Jones o encarava de forma tediosa.
— Está tudo bem , companheiro. Você ficou um bom tempo desmaiado.
David arfava. O grande peitoral subindo e descendo em uma velocidade rápida. As lembranças do que havia acontecido começavam a assolar sua mente. Ele então se levantou e encarou a estrada vazia a sua frente. A estrada onde era pra ser a entrada de Storybrooke, mas agora não havia nada ali. Storybrooke tinha ficado para trás. Ele nunca mais conseguiria encontra-la novamente. David então sentiu lágrimas quentes e salgadas escorrerem pelo seu rosto.
— Vamos encontrar um jeito de encontra-las novamente, David. - Disse Gancho, se aproximando por trás dele e colocando sua mão sobre o ombro do amigo e apertando de forma a consola-lo.
— Não, não vamos voltar. - David sussurrou, sua aparência era desoladora.
— Porque não? Emma e Mary Margaret vão achar uma forma de nos encontrar, eu tenho certeza disso.
— Killian ... - David começou a dizer e a se virar para encarar o amigo. - Depois que você foi lançado pela fronteira algo aconteceu ...
Nolan não conseguia terminar de falar. Ele agora chorava e soluçava. Grandes gotas de lágrimas desciam pelo seu rosto. Ele tentava recobrar a normalidade, mas cada vez que se lembrava do que havia acontecido a Emma, as lágrimas voltavam a rolar.
— O que foi, companheiro? - Peguntou Killian, estendendo a mão sobre o ombro do amigo, ainda tentando conforta-lo.
— Depois ... depois de você ser lançado além da fronteira, aquela mulher, a Rainha das Trevas, ela arrancou o coração de Emma e ia usa-lo para lançar uma maldição em Storybrooke e levar todos de volta para a Floresta Encantada.
Foi como se uma lâmina de gelo tivesse entrado na barriga de Killian e retorcido todas suas entranhas. Ele perdeu o ar por um momento e caiu de joelhos no chão.
— Não, não, você está mentindo pra mim David, porque está mentindo pra mim? - Lágrimas agora escorriam pelo rosto dele.
David se abaixou ao lado do Capitão e o tomou em seus braços, abraçando-o com força. Nolan sabia do amor que o Capitão sentia por sua filha, sabia que ele havia abandonado tudo de ruim que existia nele, tinha abandonado toda sua vida de pirada por Emma. Pelo amor que sentia por ela. David o abraçou em gratidão a isso e também para conforta-lo. Ele havia perdido a filha, a mulher, Neal, sua vida também estava destruída. Só restava Killian. Só eles poderiam confortar um ao outro e tentar superar o que havia acontecido para seguirem suas vidas normalmente.

1 ano depois ...

Era inverno em Nova Iorque. A neve cobria tudo por onde passava. As ruas estavam brancas e fofas. As árvores estavam sem nenhuma folha, no lugar delas estavam a neve que se prendia entre os galhos secos. Os arranha-céus tinham seus cumes brancos com a neve que se acumulava lá também. Killian Jones estava encostado contra as grades de ferro da sacada da escada de emergência do prédio. O vento gelado cortava o seu rosto, mas ele não se importava. Gostava de sentir o frio em sua pele. Gostava de ver a neve cair lentamente contra o chão. Seus cabelos estavam grandes novamente, a franja quase lhe caindo nos olhos. Ele levou a mão então até a cabeça e tirou a neve que também havia se acumulado nos seus cabelos.
— O que faz aí fora? - David perguntou, tirando Killian de seus devaneios. - Vai congelar.
— Gosto de ficar aqui fora pensando. - Killian se limitou a responder.
Os últimos meses tinham sido difíceis para os dois. Mudaram-se para Nova Iorque, para o antigo apartamento de Neal, o Neal que um dia foi namorado de Emma. Killian não queria ir para lá, mas foi convencido por David que era o único lugar que poderiam recomeçar a vida. David arrumou um emprego de chefe de segurança no Museu metropolitano de artes de NY e Killian se contentou em trabalhar como Capitão em uma lancha particular de um milionário, que o chamava raramente para pilotar para ele durante festas ou curtas viagens. O milionário o queria disponível a qualquer hora que o chamasse e para isso, pagava Killian mensalmente por seus serviços, mesmo que ele não trabalhasse todos os meses seguidos.
— Venha, eu preparei uma refeição para comermos e depois podemos fazer alguma coisa, aproveitar que estamos de folga por causa das festas de final de ano.
Killian assentiu com a cabeça e entrou novamente no apartamento. Ele tirou as luvas o casaco cheio de neve e os deixou pendurados no suporte de madeira para secarem. David havia preparado uma macarronada com molho branco e queijo ralado por cima.
— Essa é minha comida preferida. - Killian comentou e David o encarou, abrindo o seu enorme e brilhante sorriso. Mesmo depois desse último ano dificil para ele, Nolan não havia perdido seu charme.
— Eu sei, eu fiz na esperança de que te animasse um pouco.
— Como consegue? - Killian perguntou com a voz baixa e rouca.
David terminou de colocar os pratos na mesa e o encarou com uma ruga surgindo entre suas sobrancelhas.
— Como consegue o que, Killian?
— Esquece-las, não procurar por elas, não tentar encontrar uma forma de voltarmos! - A voz de Killian parecia ter se elevado, mas David não tomou aquilo como um insulto.
— Você acha que eu não tentei? Você não acha que eu fico pesquisando uma forma ou procurando uma forma de tentar voltar até minha mulher? - O peitoral de David subia e descia em um ritmo rápido agora. - Me torturei durante esse tempo todo, Killian. Não vou me permitir ficar minha vida inteira assim, eu tenho que sobreviver.
David se aproximou de Killian, colocou as duas mãos sobre o ombro do amigo e o encarou. Gancho olhou fundo nos olhos azuis de Nolan e por um instante sentiu como se seu corpo tivesse levado um pequeno choque com o toque das mãos do amigo nos ombros. Os dois tinham sobrevivido esse primeiro ano sozinhos, se lamentando, um dando força para o outro. Killian se sentia egoísta toda vez que dava graças por alguém de se juntado aquele dia em que foi lançado para fora de Storybrooke. Vendo o sofrimento do amigo agora fazia com que se sentisse culpado por ter ficado feliz quando o viu caído e desmaiado no chão aquele dia.
— Me desculpa David. - Killian disse, abraçando o amigo repentinamente e sentindo algumas lágrimas rolarem pelo rosto.
David não pareceu surpreso com o abraço e ao invés de empurra-lo ou fazer coisa parecida, passou os braços ao redor do corpo de Killian e o abraçou. Gancho mantinha seu rosto pressionado contro o pescoço de David, abafando as lágrimas e o soluço.
— Eu sei como se sente. - David sussurrou carinhosamente.
Killian então retirou o seu rosto do pescoço do amigo e o encarou novamente. Seus rostos estavam perto um do outro. David sorria de forma consoladora. Killian engoliu o choro e então abriu um sorriso timido e torto para Nolan. David então de repente ficou com um olhar sério, como se estivesse lutando contra algo dentro de si e então aproximou o rosto mais ainda e beijou Killian. Gancho ficou paralisado. Não conseguia mexer nenhuma parte do corpo e o mais estranho de tudo foi que seus lábios se movimentaram juntos com o de David, retribuindo o beijo lento e carinhoso. Killian sentia seu coração batendo forte contra o peito. Aquilo era errado. Aquilo fazia ele se sentir errado. David era como um irmão para ele, porque estavam fazendo aquilo? Essas indagações martelavam dentro da sua cabeça, mas ele não fez nada. Apenas segurou a cintura de David, fechou os olhos e deixou se levar pelo beijo.
David apertou o corpo contra o de Killian de forma calorosa. Seus lábios eram doce, tinham gosto de hortelã e açucar. Os dois começaram a aumentar o ritmo do beijo e o corpo deles se roçavam um no outro. Killian mordeu o lábio inferior de David com força e puxou para trás, soltando num estalo molhado. Nolan abriu os olhos ao mesmo tempo que Killian e os dois por um momento pararam o beijo e se afastaram um do outro.
— Isso não está certo. - Gancho disse, arregalando os olhos e sentindo o corpo começar a tremer. Ele foi até seu casaco e o pegou.
— Killian, me desculpe, eu não deveria... por favor... não vá.
A porta bateu com força e Killian já tinha saído. David levou as duas mãos a cabeça respirando fundo e sussurando pra si mesmo
— Estraguei tudo!