Anjo da Água escrita por Chris Lima


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, meus amores, e obrigada a todos os comentários!! Queria dedicar esse capítulo a uma leitora muito linda e amada Marceline Octos que fez uma recomendação lindíssima!! Obrigada ♥ ♥ Obs: esse capítulo é tenebroso!!



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Adriana foi levada ao forte. Assim que chegou, encontrou três damasos sentados em uma mesa com o formato de uma meia lua, na qual havia seis cadeiras vazias, a do meio e aquelas que estavam situadas na ponta.

Atrás daquela mesa, havia duas estátuas, que lhe chamaram muito a atenção. Elas representavam os dois deusas de Dilecto, que representavam a Alma e a Matéria, o Imanente e o Transcendente, o Manifesto e o Imanifesto e todas as suas complexidades.

A mulher se questionou.

Como eles poderiam tentar personificar o mais elevado grau de pureza em estátuas sem deturpar sua verdadeira glória? Algo dentro dela se revirou. Ela não sabia o que sentia, mas entendia apenas que aquilo não era nada bom.

— Vocês não deveriam ter sido tão audaciosos – ela escarrou e sentiu todo aquele líquido percorrendo por sua boca até continuar – tiveram a coragem de retratar em imagens a figura de nossos deuses? – Disse a mulher enojada.

— Nós não fizemos absolutamente nada. – Disse um dos damasos que estavam sentados atrás da mesa – antes de nascermos elas já estavam aqui e permanecerão depois que morrermos também, eles se permitiram ser vistos e não cabe a você julgá-los.

Embora a sala fosse enorme, ela se sentia comprimida, como se não houvesse espaço suficiente. As paredes feitas de pedras cinzas, decoradas com enormes mosaicos pareciam que estavam a julgando. O chão negro parecia mais um enorme buraco que iria a sugar até a sua alma. Sentia-se extremamente claustrofóbica, mas por mais desconfortável que estivesse, ela não podia e não queria demonstrar aquilo.

O olhar julgador daqueles homens também não ajudavam Adriana a se sentir melhor. Ela conhecia um a um e enquanto passava seus olhos sobre aqueles homens, diversas lembranças angustiantes vieram à tona em sua mente. Adriana sabia o que cada um era, sabia que Mosheh era o mais dedicado, que Eurípedes era o amigo fiel, e Melchior, seu pai.

Pai.

Ele realmente merecia esse título? O que ele teria feito para conquistar isso? Procriação necessariamente garante tamanha honraria? Ela sabia que não e ele também.

— Ajoelhe-se – disse Mosheh.

— O que vocês fizeram para merecer tal ato? – Retrucou Adriana.

— Somos seus senhores – rebateu Eurípedes.

— Se serei condenada a morte, esperarei minha sentença de pé, não me dobrarei diante de suas hipocrisias.

— Adriana... – começou Melchior, mas faltaram-lhe palavras para continuar.

— Onde está a prostituta? – Perguntou Mosheh, mas tal pergunta parecia mais uma provocação.

Mal escutou a provocação e seus punhos se fecharam instintivamente. Sua mandíbula se contraia e ela sentia todas as correntes de ira percorrendo pelo seu corpo.

— Em mil vidas que eu tiver, nunca revelarei a vocês!

Eurípedes gargalhou.

Não precisava ser muito inteligente para perceber que eles não precisariam de nenhuma informação de Adriana. Eles sabiam exatamente o que iriam fazer e o que deveriam fazer. Melchior olhou com desdenho para Adriana, aquilo certamente não era um olhar paterno e melancólico pelo tempo perdido com a filha, mas sim um olhar de desprezo.

— Aquela cortesã me enganou – disse Melchior – você foi um erro. Um terrível erro que terei de suportar por toda a eternidade.

— Pois mate-me! – ela interrompeu – Não estamos aqui para o meu julgamento? Para que tanta demora?

— Porque tudo acontece ao nosso tempo. Nós decidiremos, quando, onde e como você morrerá. Também decidiremos os corresponsáveis por tamanha barbárie! Além disso, por tamanha insubordinação, você não saberá sequer a forma como morrerá. – Disse Mosheh – Levem-na daqui!

 Enquanto dois guerreiros empurravam Adriana para fora da sala, os três permaneceram em silencio. Eles sentiam o peso das estátuas atrás deles, também tinham a sensação de tudo estar desmoronando sobre suas cabeças. Um único erro em um passado muito distante seria capaz de causar a ira dos deuses. Aquele poderia ser o fim.

— Precisamos saber onde Laylla se encontra. – Disse Mosheh.

— Está tudo bem com você, Melchior? – Perguntou Eurípedes.

— Ficará – ele pausou um momento e se dirigiu unicamente a Mosheh – Precisamos nos concentrar em encontrar Sachiel, conheço Laylla, ela irá aparecer para tentar resgatar Adriana, isso é o menor de nossos problemas.

— Não está tentando desviar a atenção daquela mulher indigna?

— Você sabe que não – o damaso do fogo respondeu sem demonstrar qualquer sentimento.

Então Melchior se levantou, reverenciou as duas estátuas enormes, e saiu da enorme sala cinza. A passos longos, ele caminhou até o portão e ficou encarando a saída daquele local. Faltavam poucos minutos para o anoitecer, o céu já estava em tons alaranjado e os três damasos ainda teriam de se deslocar para a cidade mais próxima do forte, chamada de Oboedire, para realizar durante às três horas da madrugada a execução de Adriana.

Ele não sentia nada, qualquer remorso, rancor ou medo. Também não sentia qualquer afetividade por Adriana. Melchior era incapaz de usar sua empatia para aquela mulher. Ela teria mesmo, dentro de si, o conjunto de características vindas dele e de Laylla?

Sem dúvida nenhuma, ela era a cópia de Laylla.  Aqueles olhos felinos nunca mentiram, mas, por outro lado, ele não estava impresso em nenhuma característica de Adriana. Talvez ele não teria de carregar esse fardo pelo simples fato de não ser o verdadeiro genitor daquela mulher.

Pouco tempo depois, Eurípedes, montado em um cavalo, parou ao lado de Melchior e o fitou por alguns instantes, sem que o damaso do fogo percebesse.

— Vamos? – Perguntou apontando para trás de Melchior, onde um guerreiro esperava segurando o cavalo do damaso do fogo.

Começaram, então, a cavalgar. Não estavam com muita pressa, pois a viagem não demoraria muito. Seria no máximo uma hora de viagem até a Oboedire. Os três damasos se situavam na dianteira, atrás deles, vinha uma fila de guerreiros, em seus majestosos cavalos, impedindo a visão do que viria logo atrás: a condenada.

Diferentemente dos outros, Adriana andava. Suas mãos estavam amarradas a correntes e ela era arrastada por um guerreiro com a aparência de 40 anos de idade, montado em um cavalo preto. Ele possuía um semblante bastante sério e seus traços faciais eram extremamente fortes. Com a barba bem aparada e seus olhos semicerrados, ele contraia seus lábios com toda força que tinha, fato que acabava lhe deixando ainda mais intimidador.

O homem nunca olhava para trás, nem nas vezes em que a mulher tropeçava ou aparentava não conseguir acompanhar o ritmo do cavalo. Ela também parecia pouco se importar com aquele fato. Submersa em seus pensamento, ela suplicava a todo momento para que os deuses tivessem piedade de sua alma.

Ela tinha em mente que aquilo iria passar e, enfim, ela poderia repousar no amor dos deuses.

☾☾☾

A viagem demorou muito mais do que esperavam. Quando finalmente chegaram em Oboedire, deslocaram-se imediatamente à praça da cidade. Ela era pequena, o chão de terra batida confundia-se com o lodo vindo de algumas ruas e o cheiro fétido dali impregnava nas narinas de Adriana.

Muitos já a esperavam, ansiosos para o espetáculo brutal que em breve iria acontecer. Era possível ouvir gritos de fúria originados da multidão, dentre os urros e berros, algumas palavras, como vadia, se distinguiam.

A notícia sobre sua execução correu rápido pela cidade. Precisou-se de apenas um dia para que todos, ou quase todos, os cidadãos daquela cidade ficassem cientes da apresentação pública. Outras pessoas levaram também à notícia às outras cidades, mas não com a mesma eficácia que ocorreu em Oboedire, pois dentre todas as cidades, ela era a mais sanguinária e em seu ceio, a praça central, eram realizados as principais sentenças de morte, como a de Adriana.

Posicionaram-na no meio da praça, em uma elevação feita de madeira que era destinada especialmente para os sacrifícios. Assim que ela parou pode observar que naquele local havia diversos aparatos que permitiam diversas modalidades de tortura, todas cruéis na sua forma. Adriana olhou um por um, seu corpo estremecia ao ver a gaiola, o berço de judas, o garrote espanhol ou o balcão de tortura, nunca em sua vida imaginou que poderia estar ali naquela situação, pois todos os rituais de sacrifício que ela presenciou pareciam tão justos e implacáveis, mas o seu era tão injusto e tão sujo!

Talvez, a diferença era que agora ela era a criminosa. Era indigna por ter feito o certo, merecia morrer por ter desobedecido às leis. Se o certo leva à morte, o que seria justiça, então? Cegar-se para o mundo e obedecer aos desmandes de pessoas que nem sabem o que está abaixo do nariz?

Uma corneta soou estridente, rasgando os seus ouvidos e tirando-lhe de seus devaneios. Seu estômago embrulhou, o carrasco já estava presente e a poucos metros de onde ela estava. Atrás do carrasco, surgiu o mensageiro, era ele quem iria dizer o calvário que iria ter de suportar. Ela conhecia aquele teatro. Antes, adorava todo aquele espetáculo, agora, ela estava na posição mais indesejada de todo o império.

— Tendo em vista a evidente insubordinação ao império e o total desrespeito a toda sociedade, que se consumaram no sequestro e desaparecimento da prodígio Sachiel, a corte de Dilecto determina que Adriana, filha de Laylla, seja levada ao balcão de tortura e perca todos os seus membros, para que, dessa forma, os deuses tenham piedade de sua existência medíocre e decida o que fazer com sua vida.

A plateia sanguinária ovacionou o mensageiro. Alguns cidadãos até tentaram subir para alcançar Adriana, mas foram barrados pelos guerreiros. Pedras eram arremessadas contra ela, mas ela tentava continuar forte, sem demonstrar nenhuma fraqueza, embora seu interior se revirasse completamente por saber que iria morrer.

O carrasco então segurou com força o braço da mulher e a arremessou com força em direção ao balcão. Ela estava inclinada em um ângulo de 45 graus para que a vítima da tortura pudesse “deitar” ao mesmo tempo que a plateia contemplasse o show de horrores.

Então, amarraram-lhe as cordas em seus membros até sentirem que nem o sangue conseguiria passar entre suas veias e artérias. Adriana tinha em mente que não podia gritar. Ela não iria dar esse prazer ao público nem aos damasos. No entanto, a maçaneta começou a ser girada. E a cada momento, ela sentia seus braços e pernas sendo puxados.

Por conta da dor, ela passou a morder seu lábio inferior e olhou para o público. Eles gritavam.

Mais uma volta foi dada na manivela e seus membros estavam mais estendidos. Ela não resistiu, gritou e pode ver o sorrido dos damasos que estavam entre os últimos da plateia, sobre seus cavalos.

Mais uma volta foi dada. Seus braços e pernas iriam ser arrancados, ela sabia disso e olhou para os guerreiros. Eles pareciam alheios ao que estava acontecendo. Será se eles realmente tinham uma consciência, ou eram apenas marionetes dos damasos?

Eles podiam pensar?

Mais uma volta foi dada. E bem no fundo, na esquina de uma rua, ela distinguiu uma garota com cabelos vermelhos. Sachiel. Seu coração pulou de alegria. Nenhuma dor seria capaz de tirar aquilo que ela estava sentindo agora. Ela estava viva! Viva!

Mas tinha uma mulher atrás que segurava em seu braço e tapava sua boca não permitindo que a garota corresse ou gritasse. Adriana se sentiu aliviada. Com certeza aquilo era o mais sensato a se fazer. Embora isso significasse seu fim.

Com tantos guerreiros e três damasos por perto, para Sachiel ser livre ela não poderia andar gritando por qualquer canto. Um dia ela entenderá isso. Em uma tragédia, poucos saem vivos e Adriana tinha consciente que pereceria.

Não demorou muito para a mulher pálida de cabelos loiros e cacheados de vestes rasgadas sumisse de sua visão com a garota e não também nã demorou muito para que ela voltasse a sentir a pressão das cordas.

Era extremamente agoniante e o carrasco não cessava por qualquer motivo e mais uma volta foi dada, e mais outra e outra e outra e outra. Inúmeras.

 O show de horrores se prolongou por bastante tempo, muitas pessoas desistiram de ficar até o final, outras apareceram na metade. No entanto, a única certeza era de que não faltava plateia. O dia já estava amanhecendo, Adriana não estava acordada, mas também não sabiam se já tinha morrido, além disso, seus membros ainda estavam em seu corpo, mas não demoraria muito para serem arrancados, pois o carrasco não iria parar.

Ele também não demonstrava qualquer pressa. Aquele homem, de forma bastante lenta e prazerosa, girava a maçaneta, que, por sua vez, acabava girando as roldanas e as roldanas puxavam os membros de Ariana.  

Minutos se passaram e finalmente o fato esperado ocorreu: os dois braços forram arrancados de forma truculenta do corpo da filha do damaso. O sangue jorrava do corpo da mulher e enlabuzava a plateia eufórica. Logo em seguida foi a perna direita e por último, a perna esquerda. E as pessoas que ali estavam urravam de satisfação.

O cheiro de sangue impregnou nas narinas de todos que estavam assistindo aquela execução. Adriana poderia ainda estar viva, poderia apenas ter desmaiado de dor. Porém, eles sabiam disso e para evitar qualquer ato de caridade dos cidadãos, desceram da elevação de madeira e, em um ponto bastante estratégico fizeram uma fogueira para assar carne.

Assar a carde de Adriana.


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