Anjo da Água escrita por Chris Lima


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Oláááá, meus amores! Quanto tempo, né?! Postei mais um capítulo bem fofo para todas vocês ♥ ♥ Obrigada por todo acompanhamento!
Espero que continuem gostando da fic!
E obrigada pela paciência :D
(Na ilustração, há apenas uma ideia do cabelo grande de Sachiel, pois ele ainda está pequetuxo XD)



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— Minha filha, pobre garota... – Chorava uma mulher ao lado das cinzas de Adriana.

Era meio dia em ponto. O sol reluzia sobre a pele branca daquela mulher que em prantos estava.  Uma carruagem azul com detalhes dourados estava parada ao seu lado. O cocheiro estava apressado, ele sabia que aquele lugar era perigoso, pois os damasos poderiam aparecer a qualquer momento.

— Minha senhora, é melhor nós irmos, pois os mortos não levantarão de seus túmulos, mas ainda há muito o que tirarem de ti se continuar aqui.

— Não me importo – retrucou a mulher que continuou chorando.

A poucos metros, alguns guerreiros estavam parados observando atentamente os dois. Embora Laylla e seu funcionário não os tenham visto, eles sabiam muito bem que aquilo iria acontecer.

— O que me surpreende é que eles ainda não apareceram e tentaram me subjugar.

— Mais isso não tardará. Vamos – falou o chofer, ao passo que ajudava Laylla a subir em sua carruagem.

Então eles seguiram pela estrada que daria a sua cidade, Caecus. Após algum tempo de viagem, Adriana percebeu que seu cocheiro estava desconfortável e inquieto.

— O que lhe incomoda, meu caro?

— Discretamente, quero que olhe para trás.

Então Laylla olhou para trás, e longe, quase saindo da linha do horizonte ela viu duas pessoas. Eram homens bastante fortes, o que lhe davam quase a certeza de que não eram operários, pois nenhum cidadão era tão bem alimentado a ponto de ter aquele porte físico.

— Depressa – disse Laylla temerosa.

Então o cocheiro deu ordem e os cavalos obedeceram. Eles dobraram sua velocidade, mas de nada adiantou, pois parecia que a distancia entre eles e os dois homens continuava a mesma.

— Os cavalos do império são os melhores, será impossível despistá-los se continuarmos pela estrada – disse o funcionário.

— Mas como nós iremos entrar floresta a dentro com uma carruagem?

— Nós não – disse ele – quem precisa fugir deles é a minha senhora, eu tenho um plano para lhe tirar daqui.

Há poucos metros do lugar em que estavam, havia uma curva bastante acentuada. Então os dois aproveitaram esse momento para por o plano do cocheiro em prática.

Adriana passou a comandar um dos cavalos que antes estava preso na carruagem e mergulhou na densidade da floresta. Ela cavalgou, ordenava a todo instante para o cavalo apressar-se.

As folhas atrapalhavam muito sua visão, por vezes batiam em seu rosto, fazendo-lhe arder e por pouco não lhe derrubar de seu cavalo. Ela só pensava em sumir dalí e ao mesmo tempo se preocupava com seu amigo que continuou no percurso para que os dois guerreiros não entrassem na floresta para procurá-la.

Após algum tempo cavalgando, decidiu que era hora de olhar para trás para ter a certeza de que seu plano teria dado certo. A primeira sensação que teve ao olhar para trás foi a dificuldade de enxergar qualquer coisa por conta de seus cabelos negros cobrindo-lhe a visão. A segunda sensação foi uma dor bastante forte em sua nuca, fazendo com que caísse no chão e perdesse seu cavalo.

— Ótimo – disse a mulher levantando-se com a mão em sua nuca – eu precisava exatamente disso.

Em pleno desespero, Laylla imaginava como iria sair daquela floresta viva. Amaldiçoou diversas vezes seu funcionário por ter dado essa ideia estupida de entrar numa floresta bastante perigosa sozinha. No entanto, ela continuou.

Andou pelo mesmo caminho que faria caso estivesse com o cavalo. Ela sabia que, embora a culpa fosse exclusiva de seu funcionário, ela se sairia bem, caso não encontrasse qualquer animal carnívoro, pois conhecia aquelas florestas como a palma de sua mão.

Seus pés descalços por vezes se machucavam devido a algum espinho em que ela pisava. Às vezes, ela parava para respirar um pouco, mas sempre continuava caminhando. Foi quando sentiu sede e mudou o curso de seu caminho para ir até o rio.

Subitamente, sua respiração se prendeu e foi necessário ela segurar-se em uma das árvores para não cair.

Eles estavam perto.

Como eles teriam a farejado? Ela tomou tanto cuidado para despistá-los! Mas aquilo que foi feito ao rio só poderia ser obra dos damasos, pois era como se o rio enfrentasse um longo inverno em plenos trinta e quatro graus celcius.

— Pobre natureza, eles brincam com a vida desse rio como se não fossem nada – Laylla aproximou-se daquele rio congelado e pôs seus pés sobre a superfície.

Era aquele seu futuro e o futuro de todos que topam com aqueles loucos. Se tornam tão frios e sem vida como qualquer pedra de gelo, passam a ser como as pedras: imóveis, incapazes de se enxergarem como pessoas.

Repentinamente, Laylla sentiu uma lufada fria ao seu redor. Aquele vento foi tão frio que ela sentiu necessidade de se abraçar para manter seu corpo aquecido. Quando a onda finalmente parou, ela viu-se completamente molhada.

Não era vento, mas água. Gotículas de água a atingiram.

E novamente veio outra onda, deixando-a com mais frio ainda, mas dessa vez, as gotas d’água vieram acompanhadas por algo mais sombrio e especial, a voz de uma garota. Na verdade, parecia mais um pranto. Alguém se lastimava tanto quanto Laylla se lastimava pela morte de sua filha.

Após conseguir se recompor do súbito frio, a cortesã se levantou e caminhou em direção à fonte daquela onda de gotas d’águas extremamente geladas. Teve, dessa forma, de atravessar todo o rio congelado até chegar a outra borda.

Por vezes pensava que a superfície iria ceder, mas com bastante cautela ela atravessou e, assim que pôs os dois pés na margem, conseguiu ver pegadas de gelo entrando na floresta.

As pegadas eram tão pequenas que Laylla tranquilizou-se por saber que era impossível de ser de algum homem. Ela tinha certeza que seu dono era uma criança.

Quanto mais perto chegava, mais a temperatura caía. E mais difícil ficava de continuar andando. Seus dentes já rangiam por conta do frio, sua respiração estava bastante lenta e seus pés quase não se mexiam. Sua temperatura caiu ainda mais quando conseguiu visualizar as enormes presas de uma mulher loira ao lado de uma garota ruiva.

— Afaste-se dela! – Gritou Laylla.

— E quem é você? – Disse Fidel, enfurecida.

Atrás da vampira, Sachiel estava sentada. Extremamente pálida e tremia de frio, mesmo que o clima da floresta em que estava fosse ameno. Ao seu redor, havia uma pequena crosta de neve, e a temperatura diminuía a medida em que se Laylla se aproximava da garota.

A cada lágrima que percorria por seu rosto, ela sentia outra onda de gotas d´agua molhando-a. Percebeu então o quão poderosa era aquela menina. E temeu ainda mais por ver o enorme risco que ela corria ao lado dessa vampira.

Laylla então pegou um pedaço de galho e deferiu contra Fidel, na qual o golpe a deixou um pouco estonteada. A vampira, por sua vez, embora Laylla tentasse se proteger, socou o rosto da cortesã, fazendo-a cair no chão. No entanto, vale ressaltar que Laylla caiu por ser extremamente fraca, não que a vampira possuísse uma força sobre-humana. Tais mitos ficavam apenas na mitologia e a cortesã sabia muito bem disso.

— Fidel, me tire daqui – pediu Sachiel.

A vampira então se aproximou da garota e ofereceu sua mão como apoio para que a garota levantasse.

— Garota, você está com ela? – Perguntou a cortesã antes que a menina ficasse em pé.

— Quem é você?

— Sou Laylla, de Caecus. Você é Sachiel? A primeira prodígio menina?

— Como você sabe meu nome?

— Todos sabem seu nome. Você é bastante popular no império.

— Sim, então sou eu – a menina abaixou os olhos e pensou um pouco – queria não ser.

— Eu sei que carrega um enorme fardo – disse Laylla – todos nós carregamos.

— Todas as pessoas que amo acabam morrendo – confessou a garota – primeiro meus pais e o Joseph, agora Adriana.

— Você conheceu minha filha?

A garota arregalou meus olhos e então percebeu a enorme semelhança entre aquela mulher e sua falecida amiga.

— Você é a mãe dela?! – falou eufórica, expressão que logo mudou novamente para a sua tristeza – Ela morreu porque tentou me ajudar.

Laylla arqueou uma de suas sobrancelhas, sentiu pena da garota e na tentativa de diminuir seu fardo, acolheu-a com suas palavras.

— Não, minha querida, ela morreu por ser minha filha. E te garanto que eles pagarão por isso – Laylla pausou um instante medindo suas palavras e então continuou – mas então, o que faz com essa abomina...

— Precisamos continuar andando – interrompeu Fidel – e sem você – apontou para Laylla.

— Nunca deixarei essa garota sozinha com você!

— Estamos indo para o forte – disse Sachiel – Fidel é minha amiga, estou com ela há uns dias e foi ela quem me ajudou a continuar.

— Mas o quê?! – Disse Laylla.

A cortesã sentiu o seu estômago embrulhar. O que uma vampira queria ajudando Sachiel? Não seria eles os piores tipos de seres do mundo? Certamente estava tramando algo, mas por outro lado, acompanhar as duas até o forte seria sua sentença de morte, pois era exatamente isso que os damasos queriam.

Ela queria muito ajudar, mas seria possível?

Até que ponto ela deveria tornar secundária as suas necessidade?

Ela não estava em condições de tomar aquela briga para si... Não agora.

— Venha comigo, Sachiel – Disse Laylla.

A menina mordeu seu lábio inferior e coçou sua cabeça. Passou um tempo pensando. Tudo que ela poderia se livrar se aceitasse o convite, tudo que poderia conquistar novamente. Mas ela não podia, sabia que Laylla acabaria morta se fizesse aquilo, como todos os outros acabaram.

— Não posso – disse a garota com bastante pesar.

— É claro que você pode!

— Ela disse que não – rosnou Fidel.

— Preciso aprender a controlar meu dom e só eles podem me ensinar. “Também preciso de vingança” Pensou a garota.

Laylla que antes estava sentada perto da garota, levantou-se e olhou Fidel ameaçadoramente.

— Se algo acontecer a essa garota, considere-se morta.

Fidel sorriu e sussurrou perto da cortesã:

— Eu já estou morta.

Então Fidel puxou Sachiel e as duas continuaram sua jornada com destino ao forte. A menina sentia-se inquieta e se perguntava o motivo de Laylla não ter gostado de Fidel. Ela a ajudou tanto até agora e teria muito mais serventia dentro do forte, quando matasse todos os seus tutores.

Era isso que ela queria. Sabia disso.

— Você está deixando um rastro de neve por onde pisa, é melhor que controle isso, não queremos encrencas – disse a vampira, tirando a garota de seus devaneios.

— Não consigo controlar.

— Pois é melhor que consiga.

Sachiel engoliu seco. Teria de ter motivos a temer Fidel? Ela seria mesmo de confiança?  Até então, Sachiel sempre encontrou ajudas gratuitas, mas ela realmente estava disposta a lhe oferecer isso como Adriana fez? Seria ela alguém que finalmente a tiraria daquele sofrimento?

Sentiu uma corrente elétrica em sua espinha só de pensar em Fidel como inimiga.

Não.

Ela certamente não queria Fidel como inimiga. Essa mulher era amedrontadora.

O caminho em que passavam continuava igual aos anteriores, bastante escuro e com pouca penetração da luz do sol. Isso ajudava Fidel a continuar a estrada. Ela temia só de pensar em expor-se ao sol, amedrontava-se não por morrer, ela sabia que não morreria, mas ficaria bastante vulnerável. E Sachiel não a guiaria ao forte se descobrisse sua real condição.

Mesmo sem ser devota aos deuses, ela imaginava o quão afortunada era por não ter encontrado nenhuma falha na floresta que a obrigasse a dar a volta e assim aumentar o percurso para o seu destino. Parecia até algo divino. Isso alimentava ainda mais sua sede de morte. Sede essa que a deixava mais fraca, pelo fato de ter que se alimentar apenas de animais, enquanto a garota dormia para que não fosse descoberta.

Ela também salivava constantemente, imaginando suas presas dentro de Sachel. Seu cheiro era tão doce que até parecia que era capaz de sentir o sabor de seu sangue dentro de sua boca. A sua inocência só aumentava sua fome, sorria para si mesma com tamanha burrice da garota de nunca ter a descoberto. Até mesmo Laylla, que só as viu uns minutos, descobriu primeiro. E, mesmo com tanta gritaria, a menina não desconfiou de nada.

Pureza.

Era disso que ela precisava se alimentar.

Talvez, quando acabasse com os damasos, ela se alimentasse do sangue daquela menina. Sorria só de imaginar tamanho feito. Ela sabia que aquilo poderia a enlouquecer, pois o desejo é a pior tortura. E se não encontrasse nenhum animal, ela também se veria obrigada a sugar a menina, pois se um vampiro passar tanto tempo sem se alimentar, acaba perdendo a sanidade.

No entanto, mesmo com tanto instinto animalesco, bem no seu interior, ela realmente esperava que, ao final de tudo, não precisasse mais se alimentar do sangue de Sachiel.

Nem de ninguém.


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