Anjo da Água escrita por Chris Lima


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores! Desculpe pela demora, mas agora irei postar capítulos maiores. Não sei se vocês perceberam, mas eu dei uma reformada na fic e juntei alguns capítulos para que eles ficassem no tamanho certo. Ahh, e para quem não sabe, eu fiz um booktrailer para a fic (está na descrição) e fiz também a dreamcast que está distribuída pelos capítulos anteriores. Espero que gostem!!!



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Seu corpo estava pesado. Por mais que tentasse, ela não conseguia mover um único músculo e até mesmo sua respiração estava difícil de ser mantida. Ao abrir seus olhos, viu o céu rodando em uma velocidade espantosa. “A Lua era minguante ou crescente?” Pensou.

O que tinha acontecido?

Tentou se recordar, mas a única coisa que conseguia perceber era flashes em sua cabeça, na qual, a água era única protagonista. À medida que se esforçava para se recordar de algo a mais, o medo que sentia aumentava.

Muita água, muita água mesmo.

“Socorro”, pensou.

Após alguns instantes, Sachiel percebeu que eles estavam enganados. Como poderia ela controlar algo tão selvagem como a água?

Aquilo puxava-a para baixo, ela não conseguia respirar, nada nela conseguia mover-se com destreza. Muita água. Ela engolia água pela boca e nariz. Muita água. Seu corpo batia violentamente contra coisas que nem ela conseguia distinguir, sentia apenas a dor e a violência da água. Muita água. Ela tentava se agarrar em algo, talvez em um dos objetos que seu corpo vinha a se chocar, mas sentia que estava tentando segurar algo indomável. Como poderia ela conseguir sustento em um corrimão de uma escada líquida?

Era muita água.

Água demais para uma garota tão pequena.

Mas agora ela não estava mais naquele pesadelo. Não sabe ao certo, nem mesmo iria tentar entender. Ela queria apenas conseguir se levantar, mas seu corpo insistia em ficar imóvel naquela terra molhada pela água que escorria de seu próprio ser. Nem mesmo seus sentidos a ajudavam, pois tudo estava muito confuso.

— Vejo que melhorou.

Era uma voz feminina, mas Sachiel não conseguiu identificar a sua dona e, por isso, virou seu rosto lentamente para tentar visualizar a face da pessoa que lhe ajudara.

— Quem é você? – Perguntou a garota confusa, ainda com a visão ainda turva.

Aquela mulher parecia ser jovem e, do pouco que viu, percebeu que ela tinha cabelos loiros e cacheados. Suas vestes um pouco rasgadas, mas sua pele era incrivelmente branca.

— Rogata, é você? – Insistiu a menina.

A mulher continuou em silêncio. Silêncio esse que matava Sachiel, pois não sabia se deveria temer ou agradecer.  No entanto, se parar para pensar logicamente, as pessoas desconhecidas eram as que mais a ajudava. Talvez não fosse tão ruim estar ao lado daquela mulher.

O clima estava extremamente frio, fazendo a mandíbula da pequena garota vibrar, na tentativa instintiva de gerar calor para si. Aquela noite estava sem estrelas e a lua minguante não parecia tão majestosa quanto as diversas vezes em que a menina olhara. Talvez fosse a situação, talvez a frustração.

Sachiel olhou novamente para a mulher. Ela estava de cenho fechado, parecia não ser tão receptível às pessoas. Mas porque estaria ali? Seria o destino a colocando em seu caminho com a única finalidade de salvá-la do rio e ir embora sem ao menos saber seu nome?

Acaso? Seria isso?

— Você parece tão inútil – retrucou a mulher – como é? Diga-me! Como é a sensação de ser a única damaso da água que talvez possui salvação?

— Eu só quero ir pra casa – respondeu a menina não querendo escutar aquelas duras palavras.

— Talvez os Deuses estivessem enganados. Não é você, não deveria ser você – desabafou a mulher enquanto sentava ao lado da garota que acabara de se levantar e encostar seu corpo no tronco da árvore.

— Eu não queria que fosse eu. Queria minha família – Sachiel segurava o choro. Passou a mão em seus olhos diversas vezes a fim de esconder o que sentia. Após alguns segundos, sentou-se no chão também.

— E eu a minha.

Aquela mulher fitou o chão por um tempo. Ela queria poder chorar, mas sua vida não lhe permitia mais isso, na verdade, ela queria poder sentir alguma coisa além de ódio. O tempo a deixou mais forte, mas também estava mais insensível. Pensava às vezes que talvez ela não fosse mais capaz de sentir nada. Não seria mais capaz de amar e ser amada. Não conseguiria ter nem ao menos compaixão.

— Quem é você? – Sachiel continuou insistindo. Sua curiosidade era tão grande quanto a fome que sentia no momento e que, por conta disso, esfregava sua pequena mão diversas vezes sobre sua barriga – a Rogata te mandou aqui?

Aquela jovem loira olhou para Sachiel com desdenho quando ela pronunciou as palavras da semi-deusa e naquele momento a menina desejou que pudesse ser capaz de ler mentes. Mas infelizmente isso não acontecera e ela continuou na dúvida.

— Digamos que sim – respondeu a mulher.

Por mais um tempo o silêncio reinou naquele local. Nem mesmo os lobos seriam audaciosos o suficiente para uivarem a ponto de alcançarem os ouvidos das duas. Elas estavam caladas e permaneceram assim por um bom tempo.

— O que aconteceria se eu te matasse agora?

Sachiel ficou confusa, não sabia o que responder diante de uma pergunta tão repentina e inusitada. Ela se perguntou se aquela mulher realmente desejava matá-la e só em pensar nessa possibilidade, sentiu uma corrente elétrica percorrendo sua espinha e um frio enorme em sua barriga.

— Eu morreria? – Ainda confusa respondeu.

Novamente aquela cara de desdenho. Dessa vez direcionada a Sachiel. Parecia que não era aquela resposta que a mulher queria escutar. De longe era aquela resposta e então ela facilitou a conversa para a pequena domadora de água.

— Pense além do óbvio. O que aconteceria se eu te matasse?

— Eu não sei – Sachiel respondeu um pouco decepcionada por não ter conseguido pensar em nada suficientemente digno.

— Quais seriam os primeiros atingidos com sua morte? – Continuou a mulher.

— Acho que os damasos.

— E você tem raiva deles?

— Sim! – Ela respondeu com todas as suas forças, parecendo até que concordava com sua morte.

— Eu também não gosto deles. Poderia matar todos com os olhos fechados.

— Eu queria poder fazer isso – confessou a menina.

— Mas, por outro lado, matar-te também faria um bom estrago.

— Eu não entendo – Sachiel falou, levando suas mãos ao rosto.

— Não entende o quê? O que é tão difícil assim? – A mulher respondeu de forma ríspida.

Sachiel pausou por um instantes e pensou exatamente o que iria falar. Ela não queria cometer mais nenhum erro que talvez custasse a sua vida ou fazer qualquer comentário desnecessário que deixe aquela mulher ainda mais irada. No entanto, mesmo correndo esse risco, ela decidiu que iria perguntar, pois o medo de arriscar não seria maior que sua curiosidade, e então falou:

— Você vai me matar ou não?

A jovem revirou os olhos. Levou suas mãos à nuca e puxou seus cabelos com força a ponto de arrancar algumas mechas de seu couro cabeludo. Então, ela olhou novamente para Sachiel e seu olhar era de total reprovação. Talvez aquilo seria um sinal de que a garota devesse morrer, pois com tanta burrice, tal ato seria interpretado como uma caridade ao mundo.

— O problema disso tudo é que você se nega a perceber o verdadeiro erro. – Disse a mulher – É bastante fácil eu conseguir te matar, isso é óbvio e com certeza iria prejudicá-los, mas seria pouco. Muito pouco para o que eles verdadeiramente merecem e você sabe muito bem disso. Por isso, eu quero que pense. Use sua cabeça para algo. Vamos, pense melhor!

— Eu não sei..

— Não sabe o quê? O que eles merecem? Eles merecem morrer! Mas isso não vai acontecer se você continuar brincando de escode-esconde com os homens-lobo. Eles sempre irão te encontrar, você não vê? Pare de ser uma agente secundária em sua história. Torne-se ativa! Faça o necessário para conseguir o que quer!

— Mas eu não sei o que fazer!

— Eu sei – disse a mulher de forma confiante.

— Então me diga – Sachiel praticamente suplicava - Eu não conseguiria matá-los!

— Mas eu consigo. Então me ajude-me a entrar no forte.

— Mas como eu faria isso?

— Da mesma forma que você fugiu. Pense.

— Seria mais fácil se...

— Não pense no mais fácil, ele não compensa. Você não quer vingança? Ouvi boatos do que aconteceu com sua família. Pobre Joseph. – Aquela loira abaixou seu olhar ao dizer isso como um sinônimo de falso pesar.

Sachiel mal ouviu o nome de seu irmão e logo se levantou. Seu coração acelerou. Então, uma onda de raiva percorreu todo seu corpo e ela parecia mais determinada do que nunca. Ela finalmente tomaria a atitude mais certa que poderia ter em todos esses tempos.

— Tudo bem, eu te levarei ao forte – disse a menina.

A loira sorriu. Também se levantou e ajustou sua roupa rasgada ao seu corpo.

— E a propósito, meu nome é Fidel.

☾☾☾

Após horas de caminhada, Sachiel se sentia cansada. Ela não tinha a mínima ideia onde estava ou o caminho que estava tomando. Seguia apenas aquela desconhecida que fazia promessas um tanto estranhas, mas que de certa forma davam esperança à garota.

Ela estava perdida. Tinha apenas nove anos de idade, mas o peso de sua vida era demais para suas costas. Talvez estivesse beirando a loucura ou talvez estivesse mais sã do que nunca, pois durante tanto tempo ela não sentia algo como estava sentindo naquele momento.

Não era algo nobre, isso é fato, mas poderia substituir muito bem o espaço da esperança, que demonstrou nos últimos tempos ser uma perda de tempo ou apenas uma distração para os mais fracos. Ela nunca conseguiria ser livre se não fizesse algo que realmente mudasse sua condição.

Adriana era prova disso.

“Mas, onde estava Adriana?” Pensou a garota.

Sachiel olhou para Fidel e pensou diversas vezes se realmente deveria perguntar. Como vinha fazendo, elaborou diversas vezes o discurso que faria antes de pronunciar qualquer palavra dirigida àquela mulher. E quando finalmente encontrou algo bom o suficiente, resolveu falar:

— Eu posso perguntar algo para você? – Perguntou a menina.

— Você já está perguntando.

“Droga”, pensou Sachiel. De todas as formas que ela poderia ter começado a conversa, resolveu escolher exatamente a pior. Mas aquilo não iria a abater ou a fazer desistir e então continuou.

— Onde estamos? Onde está Adriana?

— Estamos na floresta Illusio. Fica perto do forte, mas ainda teremos que caminhar um pouco para chegarmos lá –  Fidel, agora, falava serenamente. Tinha abandonado sua rispidez, mas mesmo assim, Sachiel ainda temia falar qualquer coisa que tirasse sua paciência.

— E Adriana?

— Não sei quem é Adriana. Quando a encontrei, estava sozinha.

— Então como sabe que eu posso te ajudar a entrar no forte?

— De onde eu venho, você é bastante conhecida – disse Fidel de forma sarcástica.

— E de onde você vem? – Perguntou a menina confusa.

— De muito longe.

— Eu também vim de longe – disse – morava com meus pais, antes dos..

— Chega – interrompeu a mulher – vamos combinar o seguinte, você não me fala nada de sua vida e nem eu falo nada da sua. A única coisa que precisamos é continuar andando e sair dessa floresta.

A menina se calou e pensou em como teria conseguido sobreviver àquele mundo de água. Sentiu um frio na barriga só de lembrar seu corpo afundando. Foi um pesadelo, suas mãos sem destreza e seu corpo colidindo com pedras devido à força da correnteza.  

— Você estava domando a água – disse Fidel. – Inconsciente.

— Como assim? – Perguntou a garota.

— Seu corpo estava sendo levado pela correnteza, isso é óbvio, mas você causava uma distorção impressionante na água. Parecia como se você tivesse deitada sobre a água e ela se moldava à profundidade em que seu corpo estava, como se estivesse em um grande colchão na qual seu corpo estava à mais de 1 metro da superfície mais alta da água, mas mesmo assim, seu corpo boiava. Você formou uma espécie de buraco para que seu corpo conseguisse oxigênio. Era impressionante, a água se reverenciava a você em um formato de “U”, onde seu corpo estava na parte inferior.

— Isso é possível?

— Se você fez, é claro que é possível. E o impossível é aquilo que está aguardando tornar-se possível.

As duas continuaram andando até um ponto em que a garotinha não suportava mais as dores de seus pés. Ela se sentou perto de uma árvore e ficou olhando para o chão. O chão estava verde, coberto por plantas rasteiras. E percebeu que tudo aquilo que vivera parecia uma ilusão.

As árvores, que eram em forma de cone, sempre a impressionavam, pois pareciam estar venerando os céus, como servos de sua vontade. O barulho da correnteza do rio também a acalmava, era mais como uma canção de ninar que a deixava extremamente extasiada.

No entanto, era lá que Adriana estava. Estaria ela submersa precisando de sua ajuda? A garota que antes estava deitada de olhos fechados, abriu involuntariamente seus olhos e correu de encontro ao rio.

Primeiro seu pé direito.

Ela sentiu a água acariciando seu pé, como uma mãe brinca com sua filha.

Depois o segundo.

Ela ainda estava na parte rasa, não teria muita dificuldade em fugir dalí caso a situação saísse de seu controle.

Por um pequeno período de tempo, a menina se estagnou, para sentir aquela indescritível sensação que era estar completa. A água se movimentava e à medida que ela percorria seu percurso, Sachiel podia sentir o movimento, como se aquele rio fosse extensão de seu corpo.

E ela foi capaz.

Tornou-se capaz de sentir os mais ínfimos detalhes que aquele rio possuía. Sentia os peixes deslizando em seu balé aquático, sentia as pedras, que duramente resistiam em seus lugares, também sentia as folhas, boiando pelo leito do rio. A água estava calma em alguns lugares, mas estava extremamente feroz em outros.

E ela sentia.

Sentia todos os aromas que o rio podia sentir. Sentia a brisa leve a empurrando, sentia o cheiro das flores, o odor dos peixes, sentia até mesmo o aroma de seus pés, sentia até o pulsar do sangue daqueles animais. Seria até óbvio falar que, em todos os seus nove anos de idade, nunca teve uma paz de espírito tão grande como aquela que estava vivenciando.

Mas ela já não era capaz de sentir uma única coisa.

Ela não sentia mais a firmeza do chão sob seus pés. O que estava pisando parecia mais como um enorme colchão macio e moldável. Então ela deu conta do que acabara de fazer: estava caminhando sobre a água.

— Santos deuses! – Disse Fidel.

Aquilo passou a angustiar a vampira, pois ela sabia que aquilo não era comum. Em todos os seus séculos de vida, nunca viu a água obedecer tanto um damaso, como estava acontecendo com Sachiel. Nunca nenhum damaso foi capaz de tomar a água como brinquedo de seus pés, pois eles conseguiam apenas controlar a água e seus estados, mas nunca conseguiram mudar qualquer característica sua, como sua tensão superficial e, para eles, a água era mais uma arma de guerra.

O futuro ainda reservava muitas surpresas para aquela garota. Fidel sabia disso e então percebeu que teria que agir o mais rápido possível para atingir seu verdadeiro propósito dentro daquele forte.


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