Maldição | Amor Imortal 03 escrita por Lolli Blanchard


Capítulo 3
Capítulo 03




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Gaia despertou quando sentiu o ar gelado invadir seus pulmões e no mesmo instante percebeu que já não estava mais deitada na água no interior daquela gruta. Ela abriu seus olhos imediatamente, sentindo o medo crescer em sua garganta de maneira sufocante quando viu que estava fechada em um quarto e deitada em uma enorme cama.

A filha dos elementos virou sua cabeça para o lado com a intenção de ver a natureza pela janela para saber em que dimensão estava, mas a única coisa que viu foi o gelo cobrindo todas as paredes do comôdo em que estava.

Aparentemente, ela tinha perdido o controle dos seus poderes enquanto agoniava pela dor causada pelo veneno que se aproximava do seu coração lentamente.

Gaia olhou para seu braço infectado para ter certeza de que as linhas negras ainda estavam longe, mas seu olhar foi capturado por outra coisa.

O arcanjo da humanidade.

Dimitrius.

Do lado oposto em que Gaia estava, o anjo estava sentado com suas costas apoiadas no mastro grosso da cama com dossel e parecia estar perfeitamente acomodado com suas pernas estiradas em cima da cama e os tornozelos cruzados de uma forma muito elegante.

Gaia estava trancada em um quarto. Com Dimitrius.

Isso, definitivamente, era demais para sua mente tolerar. Ainda mais quando o anjo de olhos escuros a ancarava como se fosse uma besta faminta.

Bom, a filha dos elementos nunca teve dúvidas sobre os sentimentos odiosos que o imperador tinha por ela, e agora ele devia estar ainda mais furioso por ter congelado todo aquele quarto.

Claro que Gaia esperava que tivesse sido apenas aquele lugar.

Isso não importava.

A imortal tinha que sair daquele quarto e se afastar o mais rápido possível antes que o seu cérebro fosse tomado pelo medo e por lembranças sombrias. Gaia não desejava voltar para o passado, não quando seus poderes estavam fora do controle por causa do veneno.

Ela se moveu para tentar sair da cama e estar o mais longe possível de Dimitrius, mas ela congelou no lugar no segundo seguinte ao sentir que muita pele estava nua de baixo da enorme coberta que cobria o seu corpo. Olhando para baixo, a filha dos elementos viu que vestia apenas uma camisa.

Gaia ficou horrorizada.

Alguém tinha a tocado enquanto dormia.

A filha dos elementos levantou seus olhos em direção de Dimitrius, temendo encará-lo, mas sem ter outra opção além de enfrentar o arcanjo da humanidade para sair de dentro daquele lugar.

— Não se preocupe.— Dimitrius falou de maneira provocante.— Eu não vi nada que me interesse enquanto tirava o seu vestido.—
— Você fez alguma coisa comigo?— Ela teve que perguntar.
— Necrófilia não me agrada, gatinha.—

Por algum motivo tolo, Gaia acreditava nas palavras do arcanjo da humanidade. Ele poderia ser ameaçador sendo quem era e até mesmo agir de forma assustadora quando o assunto era ela, mas Dimitrius não parecia ser a mesma pessoa que aterrorizava suas memórias.

Só que ao mesmo tempo que Gaia se sentia corajosa para lidar com Dimitrius, o medo do seu passado era maior do que qualquer outro sentimento.

O arcanjo suspirou de forma cansada e o barulho fez com que a filha dos elementos olhasse para ele. Ela percebeu que o brilho provocador sumiram dos olhos de Dimitrius e o vazio assumiu aquela escuridão infinita.

O anjo, quando se tratava de aparencias, era exatamente como Meridius, só que uma versão mais nova do outro arcanjo. E o modo como usavam seus cabelos também eram diferentes, pois enquanto Meridius preferia suas mechas longas jogadas para trás, Dimitrius usava um corte moderno e com o topo levemente arrepiado, exatamente como os humanos usavam. No entanto, os olhos escuros dos dois arcanjos eram exatamente os mesmo.

A única diferença era que Meridius demonstrava toda a sua frieza neles, enquanto Dimitrius parecia tentar esconder a sua falta de sentimentos com o divertimento.

— O que são essas linhas no seu braço, Gaia?— Ele perguntou de maneira séria.
— Os anciões me envenenaram.— Gaia falou contra a sua vontade, pois não desejava contar a verdade para Dimitrius.

Se o anjo soubesse do significado por trás dessa atitude dos anciões... Ela estaria arruinada.

— Então você realmente esta morrendo.—
— Quando o veneno chegar até o meu coração, sim, eu irei morrer.—
— Você me parece bem agora, Gaia.— Dimitrius comentou, seus olhos escuros estavam a devorando de tanta curiosidade que existia neles.

Gaia não tinha dúvidas que esse arcanjo entraria dentro do seu cérebro para saber tudo sobre ela se tivesse a oportunidade, enquanto seus irmãos não pareciam se importar com os segredos que envolviam a existência dela, Dimitrius demonstrava estar incomodado por saber quase nada. E isso apenas a deixava mais assustada quando estava próximo dele, pois não imaginava até onde existia os limites necessários para que ficasse segura ao lado desse anjo que causava tantas tempestades em sua mente.

— O veneno só me afeta quando mais linhas crescem no meu braço.— Ela o respondeu sem dar muitas informações e rezando para que ele parasse de fazer perguntas.
— E por que os anciões estão a matando de forma tão lenta?—

Essa era a pergunta que Gaia não responderia. Ela não se importava em morrer e levar muitas pessoas com a sua morte, mesmo isso soando muito egoísta, o que os anciões pediam era impossivel de dar.

A filha dos elementos desviou seu rosto para observar a janela congelada ao seu lado esquerdo. A imortal teria adorado poder ver a natureza que existia fora daquela mansão que o arcanjo da humanidade morava, mas por sua culpa, o quarto parecia um freezer.


Gaia ouviu o som baixo de uma risada muito masculina e mesmo que tivesse curiosidade para saber do que o anjo estava rindo, ela continuou encarando o gelo.


— É típico ver você se fazendo de dificil, não é mesmo?— Dimitrius perguntou com a provocação e irônia transbordando em suas palavras.

A imortal estava planejando ignorar o arcanjo completamente, mas antes que tivesse qualquer tipo de sucesso em seus planos, ela sentiu o colchão a baixo do seu corpo movimentar com o peso de Dimitrius se mexendo. Por um momento Gaia pensou que ele estava se levantando para ir embora, só que sua imaginação se demonstrou estar completamente enganada.

Quando a filha dos elementos olhou em direção do imperador da humanidade, ela encontrou um anjo engantinhando sobre a cama em sua direção ao invés de se afastar. Obviamente, Gaia tentou sair daquele lugar e se manter o mais longe possível, mas seus pés nem ao menos tiveram a chance de encontrar o chão.

Antes que ela pudesse se mover, Dimitrius segurou seu pulso e a puxou com força até que seu corpo estivesse a baixo do dele. As asas do anjo estavam completamente estendidas, não permitindo que Gaia visse o restante do quarto e fazendo com que se sentisse sufocada.

O arcanjo da humanidade colocou suas mãos uma de cada lado da cabeça de Gaia e o mesmo ocorreu com os seus joelhos dobrados. Os corpos deles estavam longe de se serem encostados, mas isso não facilitou nada para a imortal que se sentia presa em uma gaiola humana e que tentava afundar seu corpo cada vez mais naquele colchão para se distanciar.

Ele estava próximo demais...

Assim como os seus piores pesadelos.

— Eu aprendi algumas coisas sobre você, Gaia, e uma delas, é que tudo se torna mais fácil quando está sob pressão.— Dimitrius falou de maneira calma e seus olhos escuros brilharam em diversão. Gaia desejou acertá-lo em seu rosto, mas no mesmo momento reprimiu a violência que era proibida em sua natureza.— Então... Você pode falar agora ou nós podemos nos divertir um pouco.—

A mente de Gaia ficou em um total branco enquanto Dimitrius esperava por uma resposta e a encarava. Ela, definitivamente, queria acreditar que esse anjo não faria nada desagradável, mas seus medos não permitiam que isso acorresse.


As imagens assustadoras do seu passado batiam com força contra as barreiras da sua mente e era quase impossivel não sentir medo.

— Os anciões querem algo de mim, algo que não posso dar.— Gaia falou com certa dificuldade, pois já não conseguia controlar a sua respiração.
— E agora eles estão a ameaçando.— Dimitrius deduziu facilmente.— Me perdoe por dizer que não estou surpreso por isso.—
— Eu prefiro morrer do que fazer o que eles desejam. Já estou cansada de ser manipulada por eles e nada irá mudar minha decisão.—

O arcanjo da humanidade inclinou sua cabeça ligeiramente e a observou com seus olhos demoniacos.

— Você sabe que não pode morrer, se isso acontecer, a desgraça também caíra sobre os arcanjos.— Ele falou.— Se contar exatamente o que esta acontecendo, meus irmãos e eu podemos arrumar um modo de te ajudar. Nós vamos tirar esse veneno do seu corpo e...—
— Meridius e Niffe destruíram os planos dos anciões ao ficarem juntos.— Gaia não permitiu que Dimitrius falasse.— E agora outras pessoas devem pagar pela decisão deles.—

No passado, os anciões ordenaram que Meridius se afastasse da sua esposa, pois ela não era capaz de gerar um herdeiro. Eles ansiavam tanto por uma criança com a mesma quantidade de poderes do arcanjo do paraíso que acabaram ameaçando a vida de Niffie para que o anjo se separasse dela. E tudo isso por causa de uma antiga profecia que dizia que todos os portões das dimensões seriam abertos quando a maldade fosse mais forte que os poderes dos arcanjos.

Esse plano dos anciões de manterem o casal afastados não demorou muito tempo, do mesmo jeito que Meridius foi ameaçado, ele ameaçou os superiores para que pudesse ficar junto com a sua imperatriz. No entanto, a balança que estava se tornando equilibrada, acabou sendo destruída sem um futuro herdeiro com os mesmos grandes poderes de Meridius.

Os anciões já possuíam Luna, filha de Maximus, que prometia ser tão poderesa quanto três arcanjos juntos, já que a mistura de genes de um arcanjo com canibal não criaria algo normal. Mas ainda assim, a balança continua desigual.

— Outras pessoas?— O arcanjo perguntou de forma que realçava o plural das palavras.
— Os anciões querem uma próxima geração mais forte, Dimitrius.— Gaia murmuriou e levou apenas alguns segundos para que a expressão do anjo se tornasse vazia.
— Eles querem que você tenha um filho?— Seu tom era incrédulo.

Antes que Gaia pudesse responder o arcanjo, ele se moveu de cima dela e se sentou na beira da cama. A imortal aproveitou o momento para se afastar o maximo que podia dele por dois motivos: Ela não desejava esbarrar nas asas do anjo e muito menos ficar próxima dele.

— Gaia.— O arcanjo da humanidade sussurrou de forma que fez o coração dela gelar. Seu tom sério parecia dizer que ele sabia exatamente qual era o desejo dos anciões.— Por que eu recebi um recado dos anciões sobre o seu estado atual?—

A verdadeira intenção de Gaia era mentir para se livrar do arcanjo o mais rapido possivel e morrer em paz, mas ela não imaginava que Dimitrius havia recebido um recado dos anciões. Para ser realista, os superiores apenas se comunicavam com ela e a única vez que entravam em contato com arcanjos era para designá-los para as suas respectivas dimensões.

Com o anjo sabendo tanto, era impossivel que a imortal mentisse.

Sua vida, definitivamente, estava destruída.

— Quando você me procurou para ter informações sobre Meridius e Niffie, eu o avisei que seria o próximo alvo dos anciões.— Ela falou em um tom baixo.

Gaia desejava ser corajosa e enfrenter seus problemas com valentia, mas ela não era. Ter que dizer a verdade para Dimitrius a assustava tanto que ela preferia morrer para fugir de todos os planos dos anciões.


Ela deveria obedecer seus superiores desde que eles eram os únicos que sabiam como matá-la, e apesar das ameaças, a filha dos elementos também acreditava nas crenças deles e não via problemas em seguir suas ordens, só que Gaia nunca imaginou que um dia se tornaria um alvo dos planos deles.

Ter filhos não era um grande problema, ela era a filha da natureza e fertilidade era o que mais existia em seu corpo, mas...


— Isso é impossivel.— Dimitrius olhou para ela com sua expressão vazia.

E Gaia queria acreditar no mesmo que ele, mas não podia.

— Os anciões querem que você gere um herdeiro comigo para que a balança volte a ser equilibrada.— Gaia falou.— E o veneno que colocaram em meu corpo apenas irá parar de progredir quando nos oficializarmos nossa união.—
— Espere...— Um sorriso frio cresceu em seus lábios.— Além de ter que gerar um herdeiro, terei que me casar com você?—

Gaia se sentiu um pouco ofendida pelo tom usado quando a mencionou, mas como ela se sentia da mesma maneira que o anjo, preferiu ignorar a falta de respeito.

— Essa foi a ordem deles, não o meu desejo.—

O anjo desviou seus olhos dela para que pudesse apoiar sua cabeça em suas mãos, ele as usou para bagunçar seus cabelos pelo menos duas vezes, o que fez com que Dimitrius parecesse ainda mais bonito ao invés de uma tragédia.

— Tudo bem.— Ele disse sem olhá-la.— Nós vamos nos casar.—

O que?!

— Eu não irei fazer o que eles desejam.— Gaia se irritou, pois Dimitrius não seria outra pessoa que a usaria como uma peça de jogo. Na verdade, por um momento ela acreditou que ele se negaria do mesmo modo que ela.— Não irei me casar, muito menos ter filhos com você.—
— Estou tão infeliz quanto você com essa ordem, Gaia, mas todos nós sabemos o que irá acontecer se sua vida acabar.—

Sim, ela sabia. Apesar de ninguém, além dos anciões, saber como matá-la, existia a promessa dos seus criadores que se algum dia ela fosse assassinada imjustamente, os arcanjos também caíriam junto com a sua derrota.

— Não seja egoista. Meridius e Maximus sempre foram bons com você.— Dimitrius a advertiu. —Não irei permitir que meus irmãos sofram por sua causa. Eles estão felizes e eu não me importo em ter que pagar o preço pelas escolhas de Meridius para ficar com Niffie. Além do mais, nós já imaginavamos que os anciões não ficariam em silêncio depois de terem sido ameaçados.—
— Eu não irei me casar com você.— Gaia repetiu.
— E eu não preciso de um casamento para gerar herdeiros.— Ele a olhou de forma ameaçadora.— Apenas de correntes.—

Gaia sentiu seu coração acelerar algumas batidas pelo medo quando sua imaginação decidiu seguir Dimitrius e apavorá-la. E o pior de tudo, era que ela não duvidava das palavras do arcanjo.

— Nós podemos fazer isso da maneira fácil ou difícil, mas posso lhe garantir que você não irá morrer e trazer tragédia para os meus irmãos, Gaia.—

Gaia se sentia mal por negar tanto, pois Dimitrius estava certo ao dizer que seus irmãos sempre foram bons com ela. E ela nem ao menos precisava mencionar que Maximus acabará de ter uma filha e corria o risco de nem ao menos vê-la crescer.

Uma criança inocente também sofreria nessa historia em que Gaia se recusava a aceitar e era inaceitável que algo como isso acontecesse, ainda mais quando a filha dos elementos nunca quis ferir ninguém.

Só que era impossivel ter qualquer tipo de relacionamento com Dimitrius, ainda mais quando a imagem dele trazia tantos pesadelos para a sua mente.

— Eu não posso fazer isso.— Gaia não queria que Maximus e Meridius morressem, mas a sua covardia era grande demais para enfrentar o seu passado.— Um dia tudo irá acabar, não importa o quanto os anciões tentem evitar, nosso mundo acabará quando chegar a hora. Se a profecia que diz que os portões serão abertos não se realizar, outra irá nascer. Não existem motivos para lutar contra as regras da natureza.—
— Você esta errada, Gaia.— Dimitrius falou.— Não existem motivos para pararmos de lutar contra as regras da natureza. Se a vida fosse tão facilmente quebrável, ela nunca teria sido criada.—

Dimitrius se levantou da cama e se afastou completamente dela para se aproximar da porta do quarto. Antes que ele fizesse o movimento para sair daquele lugar, o arcanjo a olhou de maneira que dizia que Gaia estava prestes a ser presa por ele sem ao menos precisar usar uma gaiola.

— Eu penso que os anciões enlouqueceram ao ordenar algo como isso, pois nunca imaginei que eles fossem do tipo casamenteiro. Contudo, por meus irmãos não existem duvidas que faria qualquer coisa para vê-los bem e isso incluí ter que me casar com alguém que não desejo para gerar um herdeiro.— Ele falou.— Eu nunca a machucarei, Gaia, mas não posso dizer que a deixarei em paz quando a vida das pessoas que amo está em risco. E você entenderia isso se tivesse algum propósito em sua vida além de ficar vagando sozinha pelas dimensões.—

Dimitrius saiu logo em seguida e tudo o que Gaia desejou fazer era chorar pela humilhação que sentia em seu coração.

A imortal estava sem planos, sem ninguém para ajudá-la e não podia lidar contra um arcanjo. E a com a natureza conversando sempre com ela para mostrar pedaços de um futuro proibido, Gaia sabia o que aconteceria se cumprisse a ordem dos anciões.

Apenas um deles se apaixonaria nesse relacionamento, mas nenhum deles seriam felizes.

Ela torcia para que o futuro mudasse logo, pois não desejava se casar com o arcanjo da humanidade, muito menos se apaixonar por ele.

Gaia já tinha seus sentimentos complexos por Patrick, o tenente demônio de Maximus, e não desejava lidar com nada novo relacionado a Dimitrius.

A filha dos elementos queria morrer naquele momento, mas nem mesmo ela sabia como acabar com a sua vida.


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