Depois que Dimitrius saiu do quarto, ele foi encontrar o seu tenente em comando para que pudesse perguntar tudo o que havia ocorrido durante os dias em que ficou em coma. Ele ainda tinha que encontar com seus irmãos e conhecer a sua sobrinha, mas no momento sua cabeça estava dando mil giros para pensar nessas coisas.

No momento em que ele encontrasse Maximus e Meridius, o anjo teria que falar sobre Gaia e Dimitrius percebeu que dizer em voz alta tudo o que estava acontecendo era muito mais dificil do que pensar.

O arcanjo pensou que não sairia tão abalado daquele quarto, mas quando encontrou Ryan e o deixou ciente da sua infeliz situação, ele desejou não ter acordado do coma.

Dimitrius não tinha planos para se casar, nunca desejou ter filhos e ser obrigado a fazer tudo isso apenas o fazia odiar ainda mais tais assuntos. Ainda mais quando Gaia era a sua escolhida para ser mãe dos seus filhos.

O anjo jamais iria se intrometer nos assuntos da imortal se o desejo dela fosse morrer, todo imortal possuía essa vontade quando chegava a hora, mas como existia a promessa que incluia a morte dos arcanjos junto com a dela, tudo se tornava diferente.

O arcanjo não permitiria que seus irmãos morressem, não permitiria que Luna crescesse sem um pai em um mundo cheio de caos e não traria a trágedia para o seu povo. Tanto imortal quanto humano.

Afinal, se os arcanjos morressem, os portões de todas as dimensões seriam abertos e uma guerra começaria.

Ele também não julgava o desespero dos anciões em fortalecer a próxima geração de imperadores, pois a magia do demônio estava ficando cada vez mais forte e o anjo não duvidava que ela poderia se tornar ainda maior que os seus poderes.

Tudo estava em risco naquele momento, mas ainda era impossivel não sentir raiva pelo modo em que os seus superiores agiam para ter o que queriam.

— Eu pensei que Gaia e Patrick tivessem um relacionamento.— Ryan falou enquanto observava Dimitrius caminhar de um lado para o outro no hall da entrada da mansão.
— Se eles são amantes, isso acabará logo.— O anjo falou, pois não seria chamado de trouxa pelos fofoqueiros que rodeavam as dimensões.

Por um momento o arcanjo se sentiu mal por Patrick, mesmo que esse relacionamento nunca tivesse sido assumido, todos podiam sentir o cheiro do demônio em Gaia. Nem mesmo Maximus, que era próximo do seu tenente, sabia dizer o que acontecia entre eles, mas todos sabiam que algo ocorria entre eles.

Ele só esperava que Patrick não criasse nenhum tipo de problema quando soubesse da situação, pois Dimitrius não desejava matá-lo para ficar em silêncio.

— Você não pode forçar uma mulher se casar.— Ryan disse de maneira calma e o arcanjo da humanidade o encarou de forma fuziladora, ainda mais quando o tenente o fez lembrar de sua mãe lhe dando ordens como se estivesse em um nível maior dos arcanjos.

Bae Mi, a mãe de Ryan e sua antiga professora, era uma linda angelical com olhos puxados que vieram de uma origem coreana, ela não se importava que Dimitrius e seus irmãos fossem futuros imperadores, desde que eles fizessem seus deveres corretamente, eles eram tratados como alunos imortais.

Sem prioridades, sem níveis que os colocavam a cima dela mesmo quando crianças.

Ryan era como ela, apesar de ser apenas um tenente, ele não se importava em dizer se Dimitrius agia de maneira imprudente ou não. E como o filho de Bae Mi era tão parecido com a sua antiga professora, já que tinha os mesmo cabelos loiros quase brancos e olhos puxados de cores escuras, era impossivel que o anjo não lembrasse da angelical que já havia morrido à séculos.

Ela havia sido uma grande mulher e deixou um grande homem em seu lugar.

— Quem fez isso foi os anciões.— Dimitrius se defendeu.— E eu não forçarei Gaia fazer nada depois do casamento, ela diz que o veneno irá parar de progredir depois da união e imagino que terei algum tempo até que ele comece a avançar em direção do coração novamente, mas se não me aproximar dela de algum modo, esse herdeiro jamais irá nascer.—
— Você parece já estar com um plano formado, imperatore.— Ryan observou.
— Alguém deve obedecer os anciões para que eles parem de torturar a nossa paz e ameaçar vidas.—

Dimitrius parou de caminhar e olhou fixamente para o chão enquanto pensava sobre o seu futuro e Gaia.

A imortal era tão inocente quanto ele nessa história, tão inocente quanto Niffie e Ellylan que foram alvo dos anciões. Claro que para Ellylan havia ocorrido tudo bem, mas ela poderia ter tido alguma reação diferente em viver no inferno quando tudo o que conhecia era a humanidade. Se ela não tivesse se apaixonado por Maximus, Elly não aceitaria se tornar uma canibal para viver o resto da eternidade ao lado do imperador do inferno.

Mas com Gaia e Niffie, as coisas não ocorreram tão bem.

Essas ameaças dos anciões tinham que acabar ou os arcanjos jamais viveriam em paz.

E como Dimitrius não tinha planos de oferecer seu coração futuramente para uma mulher, ele não se importava em se casar com Gaia para gerar herdeiros.

Seus pais nunca se amaram e mesmo assim foram capazes de transmitir amor para ele e seus irmãos mais velhos, sua mãe até mesmo havia tratado Diane como se fosse sua própria filha e Luna também acabaria decepcionada ao saber que a filha bastarda do arcanjo do inferno havia se transformado em uma traídora e uma feiticeira da magia negra.

Dimitrius acreditava que podia construir uma boa relação com Gaia e futuros filhos, assim como aconteceu com seu pai.

O arcanjo da humanidade suspirou e usou suas mãos para bagunçar seus cabelos, como se o ato ajudasse a organizar os seus pensamentos tão confusos.

— Eu gostaria de ser como você.— Ele falou para Ryan.— Apenas um tenente que segue ordens sensatas e sem nenhuma obrigação com mulheres.—
— Eu poderia ser como Cameron.—

Cameron, o outro tenente de Dimitrius, possuía uma habilidade única de paralisar o inimigo se o seu sangue entrasse em contato com a pele da pessoa desejada. Todos os anjos na família do tenente possuíam esse poder e como seus pais não desejavam que essa linhagem tão poderosa acabasse, eles arrumaram uma noiva angelical para que Cameron gerasse outro anjo com os poderes de paralisia.

Era incrivel como tudo estava ligado a herdeiros.

— Bae Mi não permitiria que o seu único filho se casasse com uma mulher que não ama.—
— Isso seria mais fácil do que acreditar que um dia encontrarei uma esposa.—

Dimitrius não podia negar, pois assim como o tenente, acreditava que não era mais capaz de sentir amor por uma mulher. E ele nem ao menos estava no mesmo nível de frieza do seu soldado.

Ryan era o seu soldado mais frio e mais temido pelos imortais, apesar de exagerarem nas fofocas sobre ele, nem tudo o que diziam era mentira. Apenas pelo fato do tenente quase nunca usar armas em luta ou ter alguma modificação em seus genes que o tornaria único como os seus outros tenentes com poderes já era o suficiente para que o chamassem de monstro.

A mulher que se apaixonasse pelo soldado provavelmente teria seu coração destruído se não fosse corajosa o suficiente para lidar com o filho de Bae Mi.

— Irei me encontrar com meus irmãos agora.— Dimitrius falou para o tenente de cabelos claros.— Não permita que Gaia saia dessa mansão.—
— Imperatore.— Ryan disse de maneira respeitosa ao mesmo tempo que movimentava a sua cabeça.

O arcanjo tinha muito o que fazer e organizar por ter passado tanto tempo dormindo, mas ver a sua família era prioridade naquele momento. Além do mais, antes de agir conforme os anciões desejavam, Dimitrius tinha que conversar com os outros arcanjos sobre o assunto.

Claro que ele não esperava soluções ao fazer isso, muito menos aprovação dos seus irmãos mais velhos, mas Maximus e Meridius tinham que saber o que estava acontecendo ou pensariam que Dimitrius estava apenas infernizando a vida de Gaia como todos os outros imortais pensavam.

E o anjo, definitivamente, não precisava ouvir nenhum boato dizendo que ele havia sequestrado e prendido a filha dos elementos em sua própria casa.