Com Amor não se Brinca escrita por Bubees


Capítulo 58
Nova Letícia.




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- Alô? – Dizia minha pequena.

Arregalei os olhos, apenas aguardando suas reações.

- Não querida, o Syn está no banho. – Letícia piscava para mim, dando uma leve risada. – Pode falar que eu aviso.

Simplesmente segurei um riso, vendo Letícia ficar tão vermelha quanto seus cabelos. Ela também escondia risos.

- Quer que ele vá até ai pra que? – Letícia afastava o celular dos ouvidos, colocando viva-voz.

- Eu falo disso com ele. – Pamela parecia aborrecida ao telefone.

- Mas ele vai querer saber. – Letícia insistia.

- Ensaio. – Pamela dizia aborrecida.

Estendi o dedo indicador na frente dos lábios, para que Letícia se silenciasse, mas ainda permitindo que ela ouvisse a conversa.

- Oi Pamela. – Disse de má vontade.

- Oi Syn, a Letícia me disse que você estava no banho.

- É, eu acabei de sair... – Disse, vendo um largo sorriso transbordar dos lábios de Letícia. – Letícia está aqui comigo. – Seja lá o que for que Pamela iria pensar, gostei de ter provocado e de ter visto aqueles lindos olhos verdes de Letícia brilhar sobre mim.

Pamela fez uma breve pausa, a ouvi respirar fundo, como se tivesse ficado irritada.

- Preciso que vocês venham até a gravadora. Vocês deixaram o processo do cd parado.

- Pamela, você sabe que eu estava acompanhando a Letícia nas fisioterapias e eu já tinha pedido uma pausa e você aceitou.

- Mas vocês já deram pausas demais e sem o Fernando aqui o meu trabalho triplica!

Coitada...

- Syn? – Ela ainda chamava minha atenção.

- Amor, volta logo pra cama! – Letícia resmungava, deitada de bruços, com os cotovelos sobre o colchão, olhando-me com uma das sobrancelhas arqueadas. Como estava sensual! Quase desliguei o telefone fazendo o que ela me pedia naquele exato momento.

- Estamos indo. – Disse por fim. – Estava precisando mesmo falar com você.

- Ótimo, então...

- Preciso desligar, sabe como é né? – Dei uma risada sacana. – Beijos, até daqui a pouco. – Desliguei o telefone de imediato.

- Você vai lá mesmo? – Letícia perguntava, fazendo um bico.

- Vou. – Disse, acariciando seus cabelos. – Quer ir?

- Melhor evitar confusão... Ela não gosta de mim mesmo, não quero atrapalhar o ensaio de vocês...

- Você não vai se arrepender se for... – Disse, lhe esboçando um sorriso.

- Quer mesmo que eu vá? – Ela me perguntava, fazendo um rostinho meigo, que fez meu coração disparar.

- Quero. – Garanti, certo do que estava fazendo.

- Então eu vou. – Ela sorria para mim, fazendo-me sorrir também.

- Vamos terminar o que começamos? – Perguntei, lhe dando uma piscadela.

- O que? A gente não começou nada... A gente já terminou...

- Vamos tomar banho para ir até a gravadora. – Comecei a gargalhar. Que desculpa esfarrapada. – A gente não pode ir assim todo suado...

- Você acha mesmo que eu vou cair nessa? – Ela gargalhava, com aquela risada contagiante, e eu a abracei muito forte. Que mulher, meu Deus! Que mulher! Não havia dúvidas que ela mudou demais. Estava mais segura de si, mais segura de nós dois.

- VAMOS PEQUENA! – gritei, já da porta. – Os meninos já estão nos esperando lá na garagem!

- JÁ VOU! – Sua voz era abafada pelo secador de cabelo. – Eu disse para você não molhar meu cabelo.

- Agora a culpa é minha, é? – Respondi, rindo.

- Pronto. – Letícia parecia no corredor, com os cabelos impecáveis.

- Finalmente! – Disse, boquiaberto... Ela era tão perfeita. – Vamos.

- Vamos. – Letícia me esboçava um sorriso satisfeito com a minha atitude e então se dirigiu até o elevador.

Enquanto estávamos no elevador, eu a abraçava fortemente, querendo me aproveitar de cada segundo ao lado dela.

- FINALMENTE! – Dizia James. – Já estava quase dormindo... O que vocês estavam fazendo, hein?

- Não é da sua conta, cabeção! – Letícia resmungava, indo até o carro.

Eu e Letícia nos entreolhamos e começamos a rir.

- Vocês dois são uns safados, viu? – Dizia Ivan.

- É, seu zíper está aberto, Syn. – Dizia James.

- O QUE?! – Perguntei assustado, olhando imediatamente para baixo.

- PEGADINHA! Synyster safadão! – James e os outros gargalhavam e apontavam para mim.

Revirei os olhos completamente sem graça. FILHO DA PUTA! Olhei para frente, e até mesmo Letícia ria, sem se importar com as brincadeiras.

- Prontos pessoal? – Perguntei para os meninos do banco de trás, antes de ligar o carro. – Estão certos do que vamos fazer?

- Completamente. – Caio dizia, sorridente.

- O que? O que vocês vão fazer? – Letícia perguntava, curiosamente.

Durante o caminho para a gravadora, percebi que todos estavam muito tranqüilos e até mesmo mais felizes. Aquela realmente era a decisão correta.

Assim que chegamos, já avistei Pamela à porta. Quanta ansiedade!

- Syn! – Ela correu para me abraçar. – Que saudades de você... Finalmente te vejo!

- Olá... – Respondi sem graça, com medo do que Letícia poderia pensar daquilo. A única coisa que me vinha à tona era aquela cena odiosa de Letícia correndo... – Olha só quem eu trouxe comigo... – Me soltei, apontando para Letícia.

- Oi. – Letícia dizia apenas, sendo extremamente educada.

- Oi. - dizia Pamela séria. - Sobreviveu então?

- Sim. - Letícia sorria orgulhosa de si. - Eu e o Syn estamos até brincando que vamos comemorar dois aniversários para mim... Escapei por pouco, mas dois aniversários é demais pra uma pessoa só. - ela ria, mostrando-me discontraída e sem se intimidar pela maneira de Pamela agir comigo.

- Que interessante. - dizia Pamela com uma voz monótona, mostrando o contrário do que dizia.

- Precisamos falar com você. – Disse sério, querendo acabar logo com tudo aquilo. – Podemos entrar?

- Claro. – Pamela me encarava, ficando séria de repente. – Entrem.

Eu e Letícia caminhávamos pelos corredores da gravadora de mãos dadas. Era estranho estar ali com ela depois do que aconteceu. Eu tinha péssimas lembranças.

Pamela nos olhava séria, como se não tivesse gostando nenhum pouco daquilo. Para mim pouco me importava, eu iria terminar logo com tudo aquilo hoje mesmo.

- Vamos começar o ensaio? – Ela dizia assim que entramos no estúdio.

- Pamela, eu não disse que viemos ensaiar, queremos conversar com você.

- Como assim não vieram ensaiar? – Pamela cruzava os braços, nos olhando seriamente.

- Isso mesmo. – James balançava a cabeça positivamente, encarando Pamela seriamente.

- Digam. – Dizia ela, apenas.

- Syn, te dou essa honra. – Dizia Ivan, sorridente.

Letícia nos olhava de modo confuso, girando a cabeça de um lado para o outro, tentando acompanhar nosso diálogo.

- Pamela... – Sorri, tendo um enorme prazer em dizer o que eu estava prestes a dizer. – Nos demitimos.

- O QUE?! – Perguntavam Letícia e Pamela em coro.

- Isso mesmo. – Eu olhava para as duas, sorridente. – Estamos nos demitindo.

- D-E-M-I-T-I-N-D-O! – James assinava em baixo.

- VOCÊS ESTÃO LOUCOS?! – A voz de Pamela rapidamente se alterava, e ela nos fuzilava com os olhos. – VOCÊS NÃO PODEM FAZER ISSO COMIGO! Depois que o Fernando se demitiu, mais da metade dos outros funcionários foram embora com ele! Eu vou falir desse jeito.

- Coitadinha... – James zombava. – Pode afogar as mágoas com uma garrafa de vodka.

- Cala a boca! – Pamela dizia imediatamente.

Letícia nos olhava boquiaberta, mas não pronunciava uma única palavra se quer.

- Você deveria ter dado mais valor ao Fernando, não é? – Cruzei os braços, encarando-a de modo sério.

- Como é?

- Exatamente. – Disse, dirigindo-me até ela de cabeça erguida. – É isso que você ganha por querer ficar manipulando as pessoas ao seu redor sem se importar com elas de fato.

- Syn... Eu jamais quis fazer isso...

Começamos a gargalhar.

- Pamela, conta outra. – James a encarava, se colocando ao meu lado. – Você ficou infernizando a vida do Syn até dar no que deu, mas felizmente você não conseguiu nada com isso... Estaremos melhor sem você... Com alguém mais profissional, entende?

- VOCÊS NÃO PODEM FAZER ISSO COMIGO! – Ela gritava, com a face púrpura e coberta por raiva. – VOCÊS TEM UM CONTRATO COMIGO!

- Esse aqui? - Caio sorria, esticando para o alto uma folha de papel que continha as nossas assinaturas.

Caio se aproximou de mim, entregando o papel nas minhas mãos.

- Não existe mais contrato. - disse de modo firme, apanhando o papel e rasgando-o em milhares de peadaços.

- NÃO! SYN, VOCÊ FICOU LOUCO?! – De repente, lágrimas caíam de seus olhos atormentados. – Está fazendo tudo isso por causa dessa daí? – Ela apontava para a minha pequena com desprezo.

- “Dessa daí”, Pamela, é minha namorada. – Disse de modo sério. – E se você realmente se importasse tanto com a minha felicidade como tanto dizia, daria apoio quando eu mais precisei de você... Pamela, esquece, você não tem mais capacidade para manipular ninguém.

Eu olhava fixamente para a minha pequena, que retribuía meu olhar, esboçando-me um largo sorriso logo em seguida.

- Pode ficar com isso para afagar as mágoas. – Dizia James, deixando uma garrafa de vodka em cima da mesa. – Aproveita, eu não costumo a ficar distribuindo vodkas por aí...

Pamela nos encarou com um enorme ódio dentro dos olhos.

Não havia mais nada para falar, apenas me virei de costas, pronto para sair.

- PODE ESCREVER O QUE EU ESTOU FALANDO, BRIAN! – Pamela berrava, sua voz estava trêmula como se estivesse chorando. – VOCÊ NUNCA VAI SER FELIZ COM ESSA GAROTINHA CONFUSA, IDIOTA, MIMADA! – Ela berrava.

Virei de costas rapidamente, vendo que ela chorava, estava com a face completamente vermelha. Estava horrível, nunca pude pensar que ela poderia ser tão feia, tão asquerosa! Dizer aquelas coisas depois de tudo que eu passei... Ela quem era confusa, idiota e mimada!

- Escuta bem... – Pamela me apontava do dedo indicador, aproximando-se de mim bruscamente.

- ESCUTA AQUI, VOCÊ! – Letícia inesperadamente se colocava à minha frente. – Essa garotinha confusa que você se referiu, sabe MUITO bem o que quer... E não precisa manipular ninguém por isso.

- SUA... – Pamela rapidamente erguia o punho.

Eu imediatamente, a segurei, empurrando seus braços para trás.

- Chega, Pamela. – Disse com firmeza. – A gente não vai se rebaixar ao seu nível. – Sorri descaradamente, dando-lhe às costas novamente.

- ESSA BANDA NÃO SERÁ NADA SEM MIM! – Ela gritava.

- Não, essa banda não será nada sem ela! – Eu apontava para Letícia, que sorria para mim, como se estivesse orgulhosa.

Finalmente, conseguimos sair de lá, James, Caio e Ivan nos olhavam sorridentes, e caminhávamos agora finalmente livres para fora da gravadora, entrando finalmente no carro.

- Vocês fizeram tudo isso por mim? – Letícia perguntava, surpresa.

- Não só por você. – Disse.

- TOMA! METIDA! – Dizia James, às gargalhadas.

Letícia apenas o encarou, mostrando-lhe o dedo do meio logo em seguida.

Comecei a gargalhar, tentando retomar minhas palavras.

- Também fizemos por você. – Disse. – Mas quando você estava no hospital, a única coisa que Pamela fez foi me pressionar para ir ensaiar... Foi completamente incompreensiva... E foi aí que eu comecei a enxergar que nesse tempo todo a única coisa que ela estava tentando fazer era me manipular... Por culpa dela eu tomei medidas completamente erradas... E...

- Esquece isso meu amor. – Letícia me interrompia, dando-me um forte abraço. – Já passou...

Retribui o sorriso.

- Nossa! Pequena! Eu preciso te levar para a casa, meu celular já está cheio de ligações perdidas da sua mãe.

- Ai, ela não me esquece, viu? – Letícia revirava os olhos.

- Pessoal, vamos comigo até a casa da Letícia? – Perguntei.

- Por mim, tudo bem... – James sorria.

Rapidamente coloquei o carro para funcionar, dirigindo até a casa de Clarice.

Assim que chegamos, estacionei o carro logo à frente da casa, abrindo a porta para Letícia.

Caio, Ivan e James nos seguiam.

Tocamos a campainha e não havia sinal de que havia gente ali.

- Ué, será que a minha mãe saiu? – Letícia perguntava, coçando a nuca, tentando olhar através da janela. – Essa cortina idiota não me deixa ver nada.

- Às vezes sua mãe está no quintal... – Disse, pegando nas mãos de Letícia.

- Vamos lá ver... – Dizia James, encarando-me com um sorriso maldoso.

Retribui o sorriso, fazendo com que Letícia caminhasse à minha frente, enquanto eu pousava minhas mãos por cima de seus ombros, esperando o momento certo para lhe dar o bote.

Segurei seus ombros, deixando que James fechasse seus olhos com uma blusa que ele segurava exatamente para esse fim.

- AI! Ei! O que vocês pensam que estão fazendo?! – Letícia resmungava, debatendo-se, tentando se livrar das minhas mãos.

- ME AJUDA AQUI, IVAN! – Gritei, já que Caio saiu correndo na frente para avisar aos outros que Letícia já havia chego.

Ivan rapidamente se colocou ao meu lado, ajudando-me a segurar os braços de Letícia.

- Pequena... – Disse gargalhando. – Fica calma, confie em mim... Quando eu tinha ido até a farmácia...

Imediatamente Ivan me olhou de olhos arregalados, e em seguida, esboçou um sorriso malicioso.

- É... – Gaguejei. – É...

- É O QUE?! – Letícia perguntava impaciente.

- Sua mãe disse que não tinha problemas... Ela ficou bem feliz de você ter sido dispensada da fisioterapia.

- Ah... O que vocês vão aprontar comigo? – Letícia resmungava, finalmente parando de dar uma de difícil, deixando que nós a conduzíssemos até o jardim.

- Letícia... – Disse, aproximando-me dos nossos amigos e familiares que já estavam todos posicionados no jardim.

- SURPRESA! – Gritamos todos em coro, removendo a blusa que cobria os olhos da minha pequena.

Letícia estava boquiaberta.

Havia um carro prateado, estacionado exatamente no centro do jardim, com um laço vermelho por cima.

- Bem vinda a sua nova vida... Agora tudo vai ser bem melhor. – Dizia Clarice, aproximando-se da minha pequena e lhe dando um forte abraço. – Espero que goste do carro... O Syn já se convocou para ser seu professor.

Letícia virou-se para trás, encarando-me com um sorriso maldoso, e me dando um forte abraço.

- É, eu sei por que ele deve adorar me ensinar a dirigir, né? – Ela ria, daquela forma mágica, fazendo com que eu risse junto dela

- Pois é. – Concordei descaradamente.

Fiquei muito feliz ao ver meus pais ali. Éramos todos como uma grande família.

Mariana, João e Bianca também estavam lá. Era muito bonito ver que João e Bianca estavam se dando bem. Combinavam, e juro que não digo isso apenas por ver que João finalmente aceitou que o lugar da minha pequena era apenas comigo, mas eles de fato combinavam. Bianca estava radiante, abraçada com João, enquanto ele, parecia até mesmo mais feliz ainda, sorria, zombava da minha pequena, lhe fazia cafunés, e por incrível que pareça, nos tornamos de fato, amigos.

Diego estava sozinho. Nunca mais vi Carmen no condomínio desde que Letícia sofreu o acidente. Ainda não conversei com ele, mas algo me diz que ele finalmente terminou com Carmen e estava disposto a reconquistar Clarice. Eu particularmente, acredito que ele consiga. Apesar de tudo, nunca é tarde para reparar os erros e fazer tudo diferente, eu era a prova viva disso.

Agora também éramos rodeados por um novo casal. Priscila e Fernando.

Fernando estava completamente apaixonado por Priscila e se rendia sem nem ao menos hesitar à todos os caprichos dela, que se esbanjava, sentindo-se uma verdadeira princesa de contos de fada. Ela era completamente paparicada por Fernando e não fazia menção em disfarçar.

Mariana ainda estava solteira, mas por que ela queria. Ivan, estava completamente apaixonado por ela, desde que se atracaram em beijos na festa destrutiva que teve na minha casa há um tempo. Ele olhava para ela fixamente, mas sem coragem de conversar e essa chatinha simplesmente fugia dele. Parecia não ter se recuperado do mico, ou estava se sentindo idiota demais por ter confundido uma toalha com cabelos longos. Mariana, porém, não queria investir em ninguém mesmo, já que estava preparando-se para ir embora para o exterior. Queria viver a vida nos Estados Unidos.

Caio já havia se superado do foras que havia recebido de Bianca, estava agora de olho em uma das produtoras da gravadora de Fernando, e algo me dizia que ele iria se dar bem com ela.

James... Bom, James estava praticamente casado com a vodka.

Eu nunca me senti mais realizado do que eu estava. Ter o apoio dos meus pais e a garota que eu mais amo e amei na minha vida ao meu lado eram motivos de sobra para que eu me gabasse um sortudo. O mundo dá tantas voltas e sei que ainda vamos ter muitos problemas para enfrentar, mas tínhamos um diferencial. Estávamos juntos! Mais unidos do que nunca, livres daquela ideia de medo e qualquer outra coisa que seja.

Letícia estava diferente, mais confiante, e todos conseguiam ver isso claramente.

E ela tinha que ser mesmo confiante, ela venceu uma batalha que muitos saem perdendo. Venceu a morte e voltou para os meus braços.

- Syn?! – De repente, vi seus dedos estalarem em frente aos meus olhos. – Seu bobo, você está aí no canto e eu já te chamei várias vezes e nada!

- Oi pequena... – Olhei para baixo, vendo aqueles lindos olhos brilharem para mim. – Desculpa, eu estava aqui pensando...

- E eu posso saber no que? – Ela se aproximava de mim cautelosamente, enganchando seus braços por trás de minha nuca.

- Pode. – Sorri. – Pensando no quanto eu tenho sorte de ter você e todo mundo nos apoiando.

Ela se afastava de mim, apenas para olhar meu rosto, esboçando-me um sorriso meigo e coberto por ternura.

- Eu quem tenho sorte. – Ela dizia. – Obrigada por não desistir de mim.

- Eu jamais desistiria de você. – Sorri, lhe dando um forte abraço.

- VAMOS PRA PISCINA! – Ouvi James, berrando.

- JAMES! AQUI NÃO TEM PISCINA! – Berrei. – Melhor a gente ir lá por que do jeito que ele já está bêbado é capaz que ele abra o bueiro e nade lá.

- É mesmo... – Letícia gargalhava, correndo à minha frente.

- SYN! – Ouvi Priscila gritando, enquanto eu e a minha pequena passávamos correndo.

Paramos de correr rapidamente, e Letícia me olhava, como se esperasse por uma resposta.

- Vai indo na frente, eu já vou. – Respondi, virando-me de costas e indo até Priscila.

- O que foi, Pri? – Aproximei dela ofegante.

- Preciso que veja isso. – Priscila engolia seco, olhando-me de modo sério.

- O que foi? – perguntei preocupado.

- Foi o Fernando que viu, ele acabou de me mostrar... – Priscila então, estendia uma nota de jornal.

- Pra que diabos o Fernando trouxe jornal para uma festa? – Resmunguei, apanhando a nota.

- Ele não trouxe, estava em cima da mesa, a mãe nem leu... Ele gosta de ler pra ver como está o mercado de trabalho e tudo mais, mas isso não convém agora... Melhor você ler a notícia.

Dei de ombros, estendendo o jornal em frente aos meus olhos, não podendo acreditar no que se tratava do título.

“Garoto ciumento se suicida na prisão.

Preso não tão recentemente, Mateus Gonçalves, o garoto responsável por causar terror em plena formatura de terceiro grau, suicidou-se nessa madrugada, enforcando-se com um lençol, deixando apenas um bilhete que dizia “Letícia, você está livre.”

Fiquei boquiaberto. Meu coração saltava dentro de meu peito e eu me lembrava brevemente da minha última conversa com Mateus.

“Cansei.”

Foi a última palavra que ele me disse antes de sair.

Não tinha dado importância antes, mas agora aquela palavra parecia tão obvia. Ele estava sofrendo terrivelmente naquele lugar, a sua obsessão ainda não o deixava livre, sabia que eu estava ao lado de Letícia e lá ficaria... Admitiu até mesmo a minha diferença por ele... Mateus não agüentou a derrota.

- Você precisa contar à Letícia. – Ouvi Priscila dizer, interrompendo meus pensamentos.

- O que? – Perguntei incrédulo. – Não!

- Syn... – Priscila se aproximava. – Você já escondeu dela que o Mateus foi vê-la no hospital... Não esconda a morte dele também... Se ela acabar descobrindo de outra forma pode ser que fique brava.

- Eu não quero mais causar dor a ela.

- Não vai. – Priscila me garantia. – Esse pesadelo todo que vocês dois sofreram, finalmente foi enterrado... Literalmente.

- Eu sei, mas...

- Ela está vindo. – Informava Priscila. – Sei que vai fazer a coisa certa. – Ela me olhava de forma séria dentro dos olhos, e logo dava as costas, deixando-me sozinho dentro da cozinha.

- SYN?! – Ouvi a voz ofegante de Letícia se aproximar. – O que foi? Nossa, o James me jogou no chão e depois derrubou vodka em mim. – Ela resmungava, e ria ao mesmo tempo. – Estou toda melecada.

Simplesmente me virei para ela com um leve sorriso, escondendo a nota de jornal atrás de mim.

- O que foi, Syn? Você está um pouco pálido... Está passando mal?

Fiquei em silencio, tentando lhe dizer algo, tentando desviar aquelas suas perguntas, mas eu tinha medo que Priscila estivesse certa.

- Syn? – Letícia ainda chamava a minha atenção.

- Preciso te contar uma coisa. – Disse respirando fundo. Talvez eu devesse colocar logo um ponto final nessa história e seguir em frente, começar do zero.

- Ai meu Deus... Não gosto dessa entonação. – Ela dizia se aproximando com os cabelos bagunçados e parcialmente molhados. Cheirava a álcool.

Respirei fundo, tentando evitar aquela sua aparência engraçada, e me concentrar no assunto sério.

- Leia. – Ainda temeroso, estendi a nota de jornal para que ela lesse.

Letícia franziu o cenho, confusa, e então apanhou a nota de jornal, passando os olhos rapidamente por ela. Seus lábios foram se abrindo, como se estivesse cada vez mais surpresa. Colocou as mãos em frente aos lábios, devolvendo-me a notícia.

Ela me olhava de olhos arregalados, sentava-se à cadeira, ainda sem reação.

- Eu sinto muito. – Disse. – Eu não pensei que as coisas seriam assim para ele...

- Eu também não... – Letícia sussurrava, mostrando-se ainda chocada.

– Eu não sei se escolhi um bom momento, mas eu queria acabar logo com isso, se não eu ia pensar demais e não ia te contar... Eu sei que é uma festa pra comemorar sua melhora, mas...

- Syn... – Ela se levantava da cadeira, encarando-me com um leve sorriso, dando-me um forte abraço logo em seguida. – Obrigada por ter me contado... – Letícia sussurrava. – Isso já passou... Lógico que foi muito chocante pra mim... Mas vamos começar do zero agora, livre de tudo isso...

- É, você pensa como eu... – Aproveitei-me do abraço, acariciando seus cabelos levemente... – Letícia...

- O que foi?

- Tem outra coisa que eu preciso te contar. – Disse agora um pouco mais confiante.

- Ai, o que foi agora? – Ela cruzava os braços, olhando-me impaciente.

- O Mateus... É... Quando...

- DESEMBUCHA!

- Quando você estava em coma o Mateus foi ao hospital.

- O QUE?! – Letícia me olhava boquiaberta. – Syn! E você só me conta isso AGORA?!

- Desculpa minha pequena! Por favor, me desculpa, não fica brava comigo... – Disse quase que desesperado, cuspindo as palavras.

- POR QUE VOCÊ SÓ ESTÁ ME CONTANDO AGORA?! Ele entrou no quarto? Ele me viu?!

- Não, ele não te viu... Eu não deixei...

- Eu não acredito que você escondeu isso de mim...

- Pequena! Tenta me entender... Depois de tudo que aconteceu não quis te causar mais dor... Vai se você ainda tinha muito medo de vê-lo e etc... Por favor... Não fica brava comigo, eu pensei que seria melhor assim, me perdoa.

Letícia logo esboçava um sorriso no canto de seus lábios vermelhos, acariciando meus braços.

- Você é um idiota. – Ela sorria.

- O que?! – Perguntei confuso.

- Não precisa ficar todo preocupadinho assim... – Ela dizia ainda sorridente. – Eu entendi que você fez isso pro meu bem, mas eu prefiro que agora em diante você não me esconda mais nada... Prefiro saber as coisas, por mais terríveis que elas sejam... Tudo bem?

- Tudo bem. – Respondi, dando-lhe um forte abraço que a suspendia do chão. – VEM CÁ! – A coloquei em meus ombros, provocando que ela disparasse vários gritinhos agudos.

- SYN! EU VOU CAIR! – Letícia gritava e ria ao mesmo tempo, deixando que a nota de jornal caísse no chão.

Encarei a nota por mais alguns instantes. Lá aquela nota ficaria, jogada ao chão, esquecia, enterrada. Queria viver minha vida ao lado de Letícia, como se nenhum mal desses tivesse nos atingido.

- EU VOU TE JOGAR NA PISCINA! – Lhe dei um tapa na bunda impiedosamente, desviando aqueles pensamentos macabros.

- SYN! – Letícia gritava, como se já estivesse esquecido das sombras. – Mas aqui não tem piscina.

Saí correndo pelo quintal, enquanto ela se debatia.

A joguei no gramado todo molhado de vodka, enquanto rapidamente James, Ivan, Caio, Mariana, Priscila, Fernando, João e Bianca pulavam em cima da gente, formando um enorme montinho.

Eu mal podia respirar, mas não conseguia ficar sem rir.

Não conseguimos nos equilibrar direito e logo caímos no chão.

Dá pra acreditar que desde que eu entrei naquele colégio eu conseguiria uma vida assim?

Dá pra acreditar que de um garoto fútil, mesquinho, e pouco modesto eu me transformei em um fiel servo de meus sentimentos?

Salve as brigas.

Ainda bem que eu fui expulso daquela minha antiga escola.


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Notas finais do capítulo

Ai gente, eu não sei vocês, mas me corta a alma saber que eu to postando o penúltimo capítulo. T_T
Se for parar para pensar bem, eu posto essa fic nesse site há quase 1 anos. É inacreditável, mas é verdade.
Estou feliz com o resultado e por ter recebido tantas reviews e indicações, todas me insentivaram muito a continuar escrevendo e sempre ter mais ideias para novas histórias.

Bom, já comecei a escrever a fic nova, acredito que vocês vão gostar, vou deixar para postar o prólogo quando eu finalmente postar o último capítulo dessa fic.
Espero que gostem do penúltimo capítulo, aguardo os reviews. *-*

beeejos. (: