Com Amor não se Brinca escrita por Bubees


Capítulo 55
Motivação.




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Ganhamos uma nova chance. Não havia dúvidas que Letícia queria voltar para nós.

Sem Letícia, nada faria sentido, para ninguém.

Com muito prazer distribuí a novidade. Os sinais vitais de Letícia estavam voltando.

Todos ficaram muito animados e também muito surpresos.

Meu medo havia diminuído significativamente. Era bom saber que Letícia também estava participando dessa batalha desenfreada contra a morte, isso só me fazia sentir mais forte.

Incrível como ela conseguia influenciar na minha vida sem nem ao menos me dirigir a palavra. Não restava uma única dúvida de que pertencíamos um ao outro, só fazendo minha ansiedade aumentar para que ela abrisse aqueles lindos olhos novamente.

Abri a porta de seu quarto, entrando lentamente logo em seguida.

Ela ainda continuava linda, porém muito pálida. Dormia profundamente dentro de seu corpo...

Minha felicidade não durou muito assim que eu tornei a vê-la daquela forma. Tão frágil... Tão ainda distante...

- Meu amor... – Disse aproximando-me dela, com cautela, segurando suas mãos quietas. – Agora você pode me ouvir não é?

Ela me ignorava. O sono ainda a domava e ela nem se quer poderia me enfeitiçar com o seu par de esmeraldas...

- Eu não vou sair de perto de você... – Não pude conter as lágrimas que caíam de meus olhos. – Volta pra mim, minha pequena... Volta logo, eu estou com tanta saudade de você... Preciso tanto olhar seus olhos novamente... Queria aproveitar todos os instantes que gastamos com coisas insignificantes... Quero você meu amor, volta pra mim.

Era inútil pedir. Ela não abriria os olhos assim tão fácil, a morte ainda queria disputá-la comigo.

Meu amor a salvaria. Essa frase ainda batia na minha cabeça como se quisesse me obrigar a não desanimar.

Levantei-me da cadeira, dando-lhe um beijo no centro da testa.

Fiquei de pé admirando-a por mais alguns instantes, e ela ainda dormia como se nem soubesse da minha existência ali.

Eu a amava... Amava tanto... Por que eu não poderia transferir um pouco minha vida para ela?

Acariciei seus cabelos e ela continuava a me ignorar.

Que dor terrível que me batia contra o peito... Quero ela de volta... Juro que não a deixaria escapar se ela voltasse... Juro que aproveitaria o dia... os dias... Aproveitaria como se fosse o último dia da minha vida...

Preciso de você, Letícia.

Preciso de você...

- Syn? – De repente, ouvi a voz de Priscila interrompendo meus pensamentos. – Tem um homem aqui te procurando.

- Homem? – Perguntei, franzindo o cenho. – Quem?

- Disse que se chamava Fernando.

- Ah... – Revirei os olhos. – Já volto, meu amor. – Disse, lhe dando um beijo no centro da testa, e finalmente saindo para os corredores do hospital. – Priscila, esse é o Fernando, trabalha na produtora da Pamela.

- Ah sim... – Dizia Priscila, lhe estendendo um largo sorriso. – Eu sou a irmã da Letícia, prazer.

- Ah... Então você é irmã da Letícia. – Dizia Fernando. – Eu já te vi em algum lugar... Acho que foi no último show que teve dos ‘Headshot’.

- Nossa! É mesmo! – Dizia Priscila, dando um leve tapa no centro da testa. – Como eu fui me esquecer...

- Encantando. – Fernando pegava nas mãos de Priscila, dando-lhe um leve beijo.

Franzi o cenho ao observar aquela cena. Então ele queria as irmãs para ele? Babaca.

- Bom, vou deixar vocês a sós e ficar com a minha irmã. – Priscila sorria, ficando com as bochechas coradas, e entrando no quarto de Letícia.

Eu não podia acreditar em uma coisa dessas! Cara folgado! Tinha que trabalhar mesmo para a Pamela.

- Oi Syn. – Ele dizia com aquele sorriso mesquinho e idiota nos lábios.

- Oi. – Respondi apenas, estufando o peito para mostrar quem manda.

Fernando arregalou os olhos, dando uma leve risada, e tornando a me olhar.

- Posso conversar com você?

- Pode. – Dei de ombros.

- Como a Letícia está? – Pra que esse barbudo cheio de piolho queria saber?

- Melhorando. – Como era prazeroso poder dar aquela notícia, mesmo que fosse pra aquele piolhento atômico.

- Que bom. – Ele sorria, sentando-se na cadeira da sala de espera. – Quero vê-la... Se não for incomodar.

- Pra que? – Grunhi, irritado. Letícia estava mal, e ele queria tirar proveito?

- Syn... Acho que você me interpretou mal... – ELE AINDA TEM CORAGEM DE ME CHAMAR DE SYN?! Espero que minhas feições não estejam denunciando meus pensamentos.

- Como assim? – Perguntei, ainda fechando-lhe a cara.

- Você deve estar agindo assim comigo por que acha que eu estou dando em cima da Letícia, não é? – Ele me perguntava descaradamente, olhando-me de modo sério. Não entendia o que ele pretendia com aquilo.

- Mas é claro que você está dando em cima da Letícia! – Resmunguei, encarando-o. – Pensa que eu não vi aquela dancinha de vocês dois no meu apartamento daquela vez? Eu percebi, ta legal?

- Pois é, e eu devo te dizer que não era nada que você estava pensando...

- Ah não, imagine... – Revirei os olhos.

- Syn, eu fiz isso para te provocar ciúmes da Letícia.

- Como é?! – Perguntei, incrédulo. – Como assim?

Fernando abaixou a cabeça, respirou fundo e tornou a me olhar.

- Eu gostava de outra pessoa...

- Gostava? Não gosta mais?

- Perdi o encanto. – Ele dava de ombros. – O fato é que... Bom...

- Desembucha! – Resmunguei.

Fernando disparou um leve riso e novamente abaixou a cabeça.

- Eu era apaixonado pela Pamela. – Ele confessava finalmente. – ERA! Que isso fique bem claro.

- Como assim?

- Syn... Ela estava toda arrastando asinhas para você, se você ainda não percebeu...

- Estava? – Franzi o cenho. – Pensei que ela queria ser minha amiga, se bem que ultimamente...

- Para de ser idiota né?! Com todo respeito... Mas como você não pode perceber?! Ela estava toda interessada na sua vida inteira! Pelo amor de Deus, ela não largava do seu pé... Pensei que você fosse mais esperto...

- Desculpe... – Dei de ombros. – Mas é que eu estava com outros pensamentos na cabeça...

- Imagino que seja algo relacionado com a Letícia.

- Exatamente. – Admiti.

- Pois é, qualquer idiota percebe que você ama aquela garota... – Dizia Fernando, disparando-me outra risada leve. – Olha... Desculpa, está bem? Eu não queria que você ficasse bravo comigo, mas foi uma coisa combinada entre mim e a Letícia, já que você e a Pamela estavam tão próximos... Não sei se a Letícia iria gostar que você soubesse, mas ela também estava morrendo de ciúmes de vocês dois...

- Então aquela pegação toda entre vocês dois era apenas fachada?

- Exatamente. – Fernando concordava com a cabeça. – Desculpa cara, sério...

- Não, tudo bem... – Disse, sentindo-me um completo idiota.

- Quando eu ficava muito próximo da Letícia você sempre aparecia e se afastava da Pamela, entendeu? – Fernando ria, como se estivesse se lembrando das cenas. – E ela ficava louca de brava comigo... Fiz isso por uma boa causa, eu não tenho interesse na Letícia, mas se bem que a irmã dela...

- Gata, né? – Concordei.

- Claro! – Fernando me dizia, num tom óbvio. – Você bem que podia me apresentar...

- Eu já fiz isso. – Ri. – Agora é com você rapaz...

- Pode deixar... – Fernando ria, olhando para a porta do quarto de Letícia. – Tem outra coisa muito importante que eu queria te falar, agora que você não está mais espumando de raiva contra mim.

- Ah... – Dei uma risada sem graça, sentindo-me aliviado por saber que Fernando de fato não estava interessado na minha pequena. – O que foi?

- Eu me demiti. – Fernando dizia, sério. – Não trabalho mais para a Pamela.

- O QUE?! Sério?! – Perguntei espantado com a notícia. Fernando era quem mais fazia coisas naquela gravadora, sem ele, Pamela não conseguiria dar conta de muita coisa.

- Estou falando extremamente sério...

- Mas por quê?

- Eu não estava mais agüentando as queixas dela por vocês não poderem ir ensaiar... Já repeti mil vezes que a Letícia tinha sofrido um acidente e que era para ela entender... – Fernando respirava fundo. – E sabe o que ela me falou?

- O que?

- Que não é desculpa! Que a Letícia nem está mais na banda e vocês deveriam ir trabalhar...

- É, ela me disse algo parecido no telefone hoje de manhã...

- Ela teve coragem de falar assim com você?! – Fernando me olhava boquiaberto.

- Completamente. – Concordei com a cabeça.

- Meu desencantamento se deu por que eu vi que ela realmente não se importa com as pessoas, nem mesmo com quem ela se diz gostar... Ela está muito brava por que acha que depois que tudo isso passar você e a Letícia vão reatar, disse que estava perto de te conquistar e a imbecil da Letícia atrapalhou tudo... Palavras dela.

Finquei minhas unhas contra a palma de minha mão, sentindo o ódio correr entre minhas veias. Como eu pude me deixar ser enganado assim tão facilmente? Estava com tanto ódio que não queria nem ao menos ver um único fio de cabelo de Pamela na minha frente.

Eu tinha sido um imbecil.

Pensava tanto que Letícia havia deixado de lutar, mas acabei sendo facilmente manipulado. Eu não via as coisas como eu estava vendo agora.

- Syn? – Fernando chamava a minha atenção.

- Oi? – Voltei para fora de meus pensamentos.

- Bom... – Fernando retomava as palavras. – Consegui um emprego em outra gravadora. – Ele sorria, me entendendo um cartão. – Sinta-se à vontade para se demitir da gravadora de Pamela.

- O que? – Perguntei com um meio sorriso, apanhando o cartão.

- Exatamente... Eu aprecio muito a banda de vocês e o som é impecável... Quero que saiba que onde quer que eu esteja sempre terá espaço para os “Headshot”.

- JURA?! – Estava boquiaberto. Fernando era muito mais do que eu imaginei.

- Juro! – Fernando sorria. – Seu pai vai gostar da idéia, ele não ia com a cara dela mesmo.

- É verdade... – Concordei com a cabeça. – Fernando, você me surpreendeu... Muito obrigado de verdade...

- Não me agradeça... Eu finalmente acordei para a vida... E quero a Pamela bem longe dela.

- É, eu também...

- Oi meninos... – De repente ouvi a voz de Priscila, que abria a porta do quarto com cautela e nos olhava. – Vocês estão aí ainda? Eu ia descer para tomar um pouco de café...

- Deseja companhia? – Fernando rapidamente se levantou da cadeira, olhando de modo intenso para Priscila.

Tenho certeza que vi Priscila corar, e rapidamente ela abaixou a cabeça.

- Será ótimo ter uma companhia. – Dizia ela, sorridente, tornando a erguer a cabeça.

- Então o café é por minha conta... – Dizia Fernando, ainda sem tirar os olhos de Priscila. – Já volto, Syn...

- Relaxa, cara! – Disse, sorridente, vendo os dois se afastarem.

Não sei exatamente o porquê, mas eu estava com um largo sorriso estampado nos lábios. Era como se eu estivesse me libertado de um grande mal, e era incrível ver como aos poucos as coisas iam se ajeitando, enquanto Letícia nem se quer tinha uma mínima noção disso tudo.

- Syn! – De repente, eu era despertado de meus pensamentos, por Diego.

- Oi? – Perguntei desnorteado.

- Vou descer para comer algo... Só fica de olho na Clarice por mim, caso ela precise de algo.

- Ah! Acho melhor você não descer. – Disse, tentando impedir que Diego visse Priscila com Fernando, vai se ele tem um ataque de ciúmes?

- Por quê?

- Estão sem café, mas na lanchonete aqui da frente tem... – Sorri, sendo completamente convincente.

- Ah, obrigado Syn... – Diego sorria. – Vou lá então...

Sorri, aguardando que Diego finalmente se afastasse.

Suspirei, e então resolvi ver se Clarice precisava de algo. Estava muito aflita com o estado da filha e imagino o quanto deve ser terrível ficar naquele quarto, sozinha.

Afinal, qualquer deslize facilitaria para que pensamentos não tão bons invadissem a cabeça de qualquer um.

Eu sentia uma grande necessidade de deixar tudo em ordem para quando a minha pequena finalmente acordasse. As coisas iriam se concertar, enquanto isso ela iria dormir presa em seu próprio corpo, e eu a esperaria voltar aos meus braços.

Cheguei ao quarto de Clarice, batendo lentamente na porta e entrando logo em seguida.

- Clarice? – Perguntei, sussurrando. – Está acordada?

- Oi Syn... – Clarice me dava um leve sorriso. – Pode entrar...

- Você está melhor? – Perguntei, aproximando-se de sua cama. – Seu rosto me parece mais tranqüilo...

- Estou sim... – Ela me respondia, parecendo realmente mais calma. – Como a Letícia está?

- Diego não te disse? Os sinais vitais dela estão finalmente voltando...

- Ah... Graças a Deus... – Clarice sorria, respirando aliviada. – É, Diego deve ter mencionado, ele não conversa muito comigo... Está muito quieto, ele não costuma ser assim... E fica insistindo para que eu simplesmente descanse...

- Não deve estar sendo fácil para ele também...

- É verdade... – Clarice se espreguiçava. – Syn, sente-se aqui... – Ela apontava para a cadeira ao lado de sua cama.

Fiz o que ela me pedia sem hesitar, e fiquei olhando seu rosto. Parecia que queria me dizer algo.

Clarice me olhava de uma forma como se estivesse me agradecendo pelo olhar. Estava terno, e um sorriso leve se estampava no canto de seus lábios. Aqueles olhos de Clarice eram tão verdes quanto os da minha pequena... De repente, comecei a me sentir ainda melhor ao vê-los de forma tão delicada.

- Obrigada por não ter se abatido tanto quando eu... Letícia não iria gostar de me ver assim... – Dizia, finalmente.

- Por favor, não me agradeça... – Pedi, ficando seriamente sem jeito.

- Como não? – Clarice me olhava, sorridente.

- Eu não sei se eu realmente mereço... Por pouco eu também não desabei, ou até fiz coisa pior... – Disse, lembrando-me das horas mais terríveis da minha vida.

- Mas não desabou! – Clarice ainda me olhava serenamente. – Você e a Letícia já se machucaram muito, mas eu nunca deixei de perceber o quanto ela o amava por mais que ela negasse ou tentasse se fazer de indiferente... E com essa sua atitude, ficando aqui a todo minuto, servindo como um pilar de sustentação, querendo deixar tudo em ordem e não deixando que as pessoas percam as esperanças... Eu vejo que você também a ama muito! Eu imagino vocês como uma pessoa só... Letícia sempre bateu os pés contra o chão sem nem perceber, por ser uma garota muito ansiosa, sabe?

Fiz que sim com a cabeça, tornando a ter lindas lembranças sobre a minha pequena.

- Mas... – Clarice retomava as palavras. – Quando ela estava do seu lado eu percebia que toda aquela ansiedade desaparecia... Nas poucas vezes que eu os vi junto, pude perceber isso claramente... Até mesmo o olhar dela mudava como se somente você existisse no mundo...

Eu estava sem palavras. Não sabia o que dizer diante de tudo aquilo. Agora aquelas certezas palpitavam em minha mente claramente... Meu amor e o de Letícia era muito mais forte do que imaginei... A minha tristeza me castigava sempre que eu pensava que se fosse diferente, que se víssemos o quanto aquele sentimento todo era forte, talvez, não estaríamos aqui, agora.

- Só um idiota para não perceber que vocês pertencem um ao outro... – Clarice retomava as palavras diante o meu silêncio. – Quero que saiba, que eu mais do que ninguém, desejo do fundo do meu coração que vocês sejam felizes... E agora eu SEI e eu VEJO que somente você pode fazer a minha filha feliz, e percebo também que a felicidade que você procura, está sim, com a Letícia.

- Eu amo sua filha. – Disse claramente. – Eu amo cada frase que ela diz, o ar que ela respira... TUDO! Então pode ter certeza de que minha felicidade de fato, está na sua filha e depois que tudo isso acabar, nada vai me separar dela... Por que agora... – Disparei um sorriso, orgulhoso de mim mesmo. – Agora eu me sinto mais forte... Ou melhor, agora eu estou mais forte.

- Que bom, Syn... – Clarice sorria para mim, segurando minhas mãos. – Por que eu preciso ver a minha filha feliz.

- Então não vamos desanimar. – Apertei suas mãos, determinado. – Por que eu ainda sonho em ver novamente aqueles lindos olhinhos verdes encarando os meus.

Clarice me estendia um largo sorriso. Agora, eu via claramente que nela havia esperanças.

- Faz um favor?

- Mais é claro. – Concordei sem hesitar.

- Vá até a enfermeira e diga que estou melhor, por favor... Não agüento mais ficar deitada aqui, eu realmente estou mais calma.

- Tem certeza? – Perguntei, ainda sem me soltar de sua mão.

- Absoluta, meu querido. – Clarice sorria. Não restava dúvidas de que ela realmente estava melhor. – Cansei de ficar deitada aqui sem ver minha filha, sem estar ao seu lado... Você está certo, Syn, não podemos desanimar... Letícia ficaria orgulhosa de saber tudo o que você está fazendo por ela... Além de tentar se manter firme, está fazendo com que a nossa família se mantenha firme... Eu não tenho palavras pra te agradecer...

Ri um pouco sem graça, mas sentindo uma enorme leveza dentro do meu peito.

Tudo estava melhorando lentamente, e quando minha pequena voltasse para meus braços, não teria de se preocupar com absolutamente nada.

Sai do quarto de Clarice indo fazer exatamente o que ela me pediu. Ela realmente estava mais calma, não havia mais motivos para que ela ficasse ali.

Assim que providenciavam a saída de Clarice do quarto, fui ver a minha Letícia.

Sentei-me ao seu lado, acariciando seus cabelos, enquanto diversas frases invadiam minha mente. Não eram simplesmente frases sendo jogadas pelo ar, eram frases que me faziam sentir um grande vazio ao continuar pensando que tudo isso poderia ter tido um rumo completamente diferente... Eu poderia viver tudo outra vez e faria diferente se antes eu tivesse consciência de que Letícia realmente não era uma garota como as outras... Ela era a MINHA Letícia, única, exclusiva e muito mais do que ela mesma imaginaria ser...

Aquelas frases também transmitiam a minha infantil ambição de ver aqueles olhos de novo. Sentia tanta falta deles...

O medo da morte definitivamente muda a visão das pessoas. Vivemos acreditando sermos invencíveis e em um simples piscar de olhos, vemos que é uma mentira completamente tola.

Eu me sentia um sobrevivente de uma guerra. Fomos bombardeados de tantas formas...

Dizem que sobreviventes de uma guerra se tornam mais fortes. E é por isso que eu estou aqui.

Ela ainda dormia, sem nem ao menos saber o que se passava ao seu redor. Eu ainda acariciava seus lindos cabelos de fogo, desejando do fundo do meu coração que ela finalmente voltasse para mim.

- Syn? – De repente ouvi uma leve batida na porta.

Virei para trás, espiando por trás dos ombros, e vi que era Fernando.

- Oi... – Respondi. – Como foi com a... – Calei-me rapidamente, assim que vi Priscila se posicionando ao seu lado. Não podia dar um fora terrível daqueles...

Fernando me deu um sorriso, como se agradecesse meu silêncio.

- Empresta a Letícia um instante? – Ele me dizia. – Já tenho que ir embora, e ainda não a vi...

- Mas é claro... – Respondi, inclinando o corpo brevemente e lhe dando um beijo no centro da testa. – Já volto, minha pequena.

Fernando me estendeu outro sorriso, entrando no quarto acompanhado por Priscila.

- Essa garota é linda até assim, não é? – Fernando dizia.

- Com certeza. – Respondi, caminhando até a porta. – Vou deixá-los a sós. – Disse, finalmente passando pela porta, deixando Priscila e Fernando fazendo companhia para a minha pequena.

Tornei a me sentar na cadeira mórbida da sala de espera.

Abaixei a cabeça, respirando fundo, procurando a me relaxar por um único instante que seja, mas algo dentro do meu peito ainda me inspirava... Aquelas frases eram quase que uma nova canção.

De repente, meus pensamentos foram barrados por uma voz.

- Tem certeza que já se sente melhor? – Ouvi Diego perguntar.

Levantei-me da cadeira, andando cautelosamente para próximo do corredor onde Clarice e Diego conversavam, tomando muito cuidado para não ser visto por eles.

- Tenho sim, Diego. – Ouvia Clarice dizer. – Priscila já chegou?

- Já, deve estar com o Brian vendo a Letícia. – Dizia Diego, com tranqüilidade.

- Ah sim... – Clarice dizia, apenas. – Quero vê-la.

- Posso conversar com você antes?

- Diego... – Vi que Clarice se afastava alguns centímetros dele. – Já sei sobre o que você quer me falar, mas devo dizer que esse não é o momento...

- E quando será o momento? – Diego insistia, encarando Clarice. – Eu sinto sua falta... Desculpe se eu só me dei conta agora, mas você é minha mulher e...

- EX mulher. – Clarice ressaltava.

- Mas eu sinto sua falta! Eu preciso de você e das meninas...

- Por que está me dizendo isso agora, Diego? – Clarice cruzava os braços, encarando Diego com frieza.

- Por que depois que eu vi o que o Syn está fazendo pela minha filha, eu me dei conta de que nunca é tarde para reparar os erros... Eu te amo! Infelizmente eu deixei que a rotina afetasse o nosso casamento, mas eu quero reparar meu erro! Por favor... Eu quero você e as meninas ao meu lado... Eu finalmente me dei conta do que é ter uma família de verdade...

- É, mas você nos abandonou... Eu não tenho culpa se você precisou perder para dar valor... – Clarice o encarava com frieza, fazendo com que eu me lembrasse dos olhos frios que Letícia às vezes direcionava para mim.

- Mas...

- A Letícia sofreu MUITO com isso, e você SABE! Se não fosse por mim ela não teria voltado a falar com você! Ela era a sua garotinha, Diego! Ouvia as suas músicas, vestia as suas blusas estampadas com as bandas que ela começou a idolatrar graças à você, ela te observava tocando bateria, e sempre quis tocar tão bem quanto você! Ela o admirava, Diego... E você a decepcionou... Tanto a ela, quanto a mim e quanto a Priscila.

- EU SEI! EU SEI! EU SEI! – A voz de Diego me parecia desesperada, e eu conhecia bem o que era aquele desespero. – Por minha culpa a Letícia se tornou uma pessoa muito fechada e eu mais do que tudo quero reparar todos esses erros da minha vida... A Letícia sempre vai ser a minha garotinha! Eu fui a pessoa mais idiota do mundo, mas eu quero fazê-las feliz...

- Por quê?! – Clarice o encarava.

- Por que agora eu me dou conta do quanto fui babaca e que eu fui, sou e sempre serei apaixonado por vocês... Eu te amo, Clarice! Você precisa me perdoar, precisa deixar que eu repare meus erros... Eu sou NADA sem vocês...

Vi que Clarice havia ficado por alguns instantes em silêncio, mas havia uma coisa naquela conversa que não saía da minha cabeça... A garotinha do papai...

Eu jamais poderia imaginar Letícia assim.

Durante a vida, cometemos muitos erros, e ao mesmo tempo somos obrigados a lhe dar com eles... Tínhamos que lutar por aquilo que queríamos... A vida era muito difícil, e não enxergamos coisas óbvias por termos sentimentos tão complexos... Por que agora? Por que diante ao medo de perder a nossa Letícia, todos se mobilizavam?

A morte se mostrou próxima e por isso João percebeu seu verdadeiro sentimento por Letícia, queria vê-la feliz acima de tudo, Diego via que sentia falta da família, eu via que meu amor por Letícia fazia parte de mim... E Letícia, amedrontada viu que a felicidade estava ao seu lado o tempo todo, bastava lutar.

- Eu te amo, Clarice. – Ouvi Diego dizer, mais uma vez.

- NÃO! – Dizia Clarice, ríspida. – Você não pode mudar tudo o que eu e suas filhas sofremos... Você me decepcionou demais! Eu só me importo com as minhas filhas agora... Elas são tudo o que eu tenho.

- Mas Clarice...

- Chega! Vou descer para comer alguma coisa e vou ver a Letícia.

- Posso te acompanhar? – Diego perguntava.

Ouvi que Clarice simplesmente bufou como se estivesse irritada, e logo os vi descendo as escadas.

Voltei a me sentar na cadeira de espera, ainda me lembrando da parte mais intrigante de toda aquela conversa... A garotinha do papai, mesmo estando em coma e impossibilitada de conversar comigo, de me dizer suas dores, eu a entendia agora melhor do que nunca, e ainda sim ela me surpreendia.

De repente, aqueles meus pensamentos foram interrompidos por uma voz que me pareceu extremamente familiar.

- Oi Brian. – Dizia aquela voz que me feriu de repente como um tiro certeiro em meu peito.

Levantei-me boquiaberto, com os olhos fixos naquela alma atormentada. Estava pálido, com os lábios secos, os olhos profundos, com olheiras marcadas ao seu redor. Parecia um morto vivo.

- Mateus? – Perguntei, ofegante, como se meu corpo estivesse reagindo a uma grande ameaça que estava diante de meus olhos.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, está aí mais um capítulo, espero que gostem. *o*

Em breve estarei postando o prólogo da fic nova, espero que vcs leiam pelo menos pra dar uma opinião e tals. HISAHISHAISAHIHSAI

Espero pelo reviews. *o*

beeejos (:



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