Pequena Loja de excentricidades do Senhor Tusspoth escrita por Lari B Haven


Capítulo 2
Seja sempre atenciosa com os clientes.


Notas iniciais do capítulo

"Nem sempre me acham de madrugada, mas quando o faço é por que sei que é tarde em algum lugar. Por isso não estranhem se me acharem tarde da noite... Procurem por um gato ou coruja por perto, eles são meus mensageiros..." Senhor Tusspoth, hoje de manhã.



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A porta da frente se abre, eram nove da manhã em Londres e estávamos passando novamente pelos trópicos mais uma vez naquele dia. Uma garoto Havaiano entra meio desconfiado na loja.

—Boa tarde senhor, o que deseja? -já era tarde no Havaí.

—Eu...Bom...-ele estava vermelho.

—É amor... -ele cora ainda mais- Que tal ver nosso estoque de amuletos do coração fervente?

—Eu... Na verdade... -ele se sentiu acuado.

—Se for para ganhar coragem...- volto ao balcão tirando do cofre de jóias misticas os amuletos- A pedra da chama azul pode ser de grande ajuda. Se for para conseguir que ela te note a pedra das lágrimas verdes tem esse poder...
—É que...Como posso dizer… Eu a amo muito, mas ela… -li suas intenções.
—Se for para fazer com que ela se apaixone por você...- fecho o mostruário- Até tenho o que você quer, mas quem o fez foi muito infeliz em sua escolhas! -ele baixa os olhos- Muitos perderam tudo por esse amor: fortunas, familiares e até mesmo a vida. Sabia que o diamante Hope tem esse mesmo poder? Se realmente a ama, não tem por quê amaldiçoar sua vida... Quanto tem ai?
Ele sacou 1.000 dólares do bolso.

—Já é o suficiente para pagar um "sopro da verdade". -olho em volta e meu olhar me guia até as garrafas azul pavão no teto. -Só um minuto. -digo lhe firme. Subo pelo corrimão da escada principal salto até a estante de livros grandes e me segurei na corrente que vivia presa ao teto. Me balancei e peguei um dos frascos de sopro, desci pela corrente- Sopre isto no rosto dela e ela revelara toda a verdade. Se ela realmente te amar, volte aqui as 9 da noite horário local... e eu lhe darei o precisa de graça. -isso me daria algum tempo, cerca de 6 horas até ele voltar querendo algo mais efetivo...

—Tudo bem...-ele responde e eu abro o caixa, entrego a ele um recibo, um papel preto com os valores impressos em branco e com os dizeres: "Que sua sorte seja duradoura, volte sempre a Pequena Loja de Excentricidades do Senhor Tusspoth".

Ele sai pela porta e me ponho a varrer novamente a loja. Eu sorrio e prendo meu cabelo para trás.

—Amor adolescente... Sempre um ilusão dramática… -murmurei antes de começar a cantarolar uma melodia qualquer.

Olho no relógio que parece demorar a passar e espero mais clientes ou qualquer coisa que anime meu dia, o Sr.T desce com um livro antigo. Eu me ponho a ouvir musica no meu celular. Acho incrível a internet daqui ser mais rápida que fora dela.

—O que está ouvindo Catherine, meu anjo? -ele pergunta e eu vejo em sua mão um Dostoievsk impresso em sua tiragem original.

—O senhor já leu todos os clássicos do mundo, não? -fico apreciando Twenty One Pilots nos fones de ouvido enquanto ele desce as escada de modo felino- Eu fico sempre pensando comigo mesma, se você na verdade só se veste de velho… O senhor é tão ativo.

—Eu sou aquilo que você quer que eu pareça meu anjo… Digamos que minha verdadeira forma é um pouco mais assustadora que este velho enrugado a sua frente. -ele pousa o livro no balcão- Aqui para ler a noite… -assim que eu pouso os olhos no livro ele me sopra a névoa dialetadora.

—Senhor T! Assim não vale! As vezes eu gosto de aprender línguas sozinha! -essa era a função da névoa, fazer você apender línguas apenas olhando para uma palavra escrita assim.

—Você tem muita dificuldades com as línguas desses países… -ele faz cara de gato arrependido. Eu não resisto a isso, reviro os olhos e guardo o livro em minha mochila.

—Não faça mais isso senhor T. Eu ainda vou pegar essas bochechas e apertar até amassar todos os seus ossos! -eu enrolo um de seus bigodes enquanto aperto uma de suas bochechas com a outra- Eu já tenho o traducilador, para quê eu preciso disso? Aprender por osmose!

Ele ri e da um salto para trás.

Eu sou uma mulher que fala muitas línguas, talvez ele tenha me procurado por que essa loja recebe gente de todos os países do mundo (E está em todos os países do mundo). Em um certo aniversário ele me deu um aparelho chamado Traducilador 2.0 que converte fala de outros idiomas para o meu e vice e versa instantaneamente. E funciona sempre. Quando me deparei com um amigo certa vez fora da loja, ele me perguntou por que eu não levava o aparelho comigo. Eu respondi que é por que tem coisas que nunca deveriam sair da loja, embora o sr.T tivesse me autorizado.

Nunca vou entender esse velho sacana. Hoje o velho não para de organizar a loja. Eu olhei novamente no calendário lunar pendurado acima do paradouro do meu casaco. Então estava na época, ele ia encontra-la. Em alguns dias...

—Vai encontrá-la? -sorrio maliciosamente. Ele pula das escadas segurando três caixas de vidros de enguias venenosas.

—Não, mas está próximo! Daqui a 3 luas.

—Mas 3 luas estão tão longe... -suspirei.

—Não para quem ama, meu anjo. No meu país suas luas são como horas para nos. Anos são poucos dias...

—Queria me sentir assim. -suspirei em cima do crânio de um Bellaux (Sempre amei saber sobre o Bellaux, essas criaturas que se assemelhavam com fadas coloridas, em seus crânios tinham chifres de veado e dentes afiados).
Hoje o senhor Tusspoth estava feliz. Não o via animado assim a tempos. Ficava pensando na escolhida da vez... Sim não era uma só amada, eram várias! Não que eu julgasse ou algo do tipo, longe de mim fazer algo assim, fiquei com diversas pessoas aos longos desses anos por uma noite só. Ha quatro anos fiz isso com um garoto da faculdade, lembro que no dia seguinte encontrei o sr.T triste, foi quando ele me contou sobre sua amada misteriosa, ele se sentia culpado por traí-la. Eu o confortei falando que certos corações não tem dono e que tinha que ser verdadeiro com ela sobre isso. Ele se sentiu infinitamente melhor. Acho que as coisas se resolvem melhor no seu pais, pois ele disse que tinha uma nova namorada e que sairia com as duas a partir de agora

—Hoje teremos a visita de alguem do seu país?

—Não estou esperando ninguém em especial, mas quem sabe os Petruncianos não vão querer algo do nosso estoque de pedras de fogo.

Sr.T desce as escadas com o violino imitando a musica que eu canto.

Realmente o bom humor escondido sobre aquelas rugas era imenso.

—Quantos anos o senhor realmente tem em seu país senhor Tusspoth? -eu pergunto enquanto ele sai dançando e pulando com o violino debaixo do braço como se fosse uma criança.

—Quantos anos a senhorita quiser que eu tenha… -ele larga o violino e a musica continua sem nenhuma razão aparente, sei que enquanto giramos já estamos próximos a Finlândia novamente.

—Que tal uma paradinha para umas compras no Japão? -eu sorrio assim que sinto o movimento diminuir dentro da loja.

—Se me prometer trazer alguns peixes frescos do mercado e noodles. -ele se senta na cadeira do balcão.

—Sabe que eu sempre trago… -eu solto meu cabelo quase loiro novamente e tiro o avental.

—Vai pintar o cabelo de que cor este mês? -ele me pergunta quando estou quase na porta.

—Não sei, talvez de lilás, para não ter uma mudança muito drástica enquanto eu o escureço novamente.

—Ah… Tem as cores das aves do meu país…

Saio revirando os olhos por que segundo ele, toda cor que eu pinto o meu cabelo, tem as cores das aves de seu país.

Enquanto desso até as ruas menos movimentadas da cidade de Tóquio, fico passeando por lá e me lembrando de momentos engraçados que vivi nos meus primeiros dias na loja. Um deles foi ficar presa do lado de fora em Tóquio e não conseguir voltar até o Sr. T aparecer três horas depois preocupado. Checo os meus bolsos e procuro pelos ienes que juro que guardei na bota esquerda, mas que na verdade estão na direita. Faço algumas compras em loja 24 horas, já que é madrugada e não tem muita coisa aberta tirando bordeis e danceterias. Falo com um pescador amigo meu que transporta peixes frescos todos os dias para o mercado. Ele me vende uma peça enorme e pergunta pelo Sr.T. Eu o agradeço e saio com sacolas pesadas descendo a parte tradicional do bairro onde eu vou encontrar a casa do sr.T espremida entre as lojas. É engraçado como a loja adquire as características de cada pais em que ela passa. Aqui vemos ela parecer uma casa de chá japonesa com o letreiro também em japonês.

Entro na loja e entrego a comida a ele, depois me ponho a varrer a entrada novamente, deixei algumas flores de cerejeira amassadas na entrada. Ele me chama para tomar chá de ervas. Desisto da tarefa inútil já que do nada a areia de Jerusalém sopra na entrada e vou tomar meu chá. Ainda falta muito para as cinco, mas que se dane, eram cinco horas em algum lugar.

—Sem leite, mas com limão... -sorrio.

—Só tomo chá com leite e creme... Um costume inglês que amei aprender... -ele se sente na beirada do balcão e tira a xícara da bandeja.

Nossa paz é interrompida quando a porta amarela se abre. É, eu não teria paz hoje... Com toda certeza eu iria sair mais tarde. Checo meu relógio mais uma vez. Não sei o por que, mas sinto. De todos que adentraram essa loja hoje, o que mais me preocupa é esse garoto. É ele hoje...

Sr. T sobe as escadas, ele nunca lidou bem com humanos de coração partido. Eu também não, apesar de ser mais causadora que sofredora de tal mau. Mas eu ainda era humana.

—Não vou vender nada que a mate... -eu suspirei ao ver ele caindo em prantos- E também não posso fazer a dor desaparecer...

—Quero que ela sofra!

—Isso... -eu engulo as palavras no balcão, ele corre até mim- Eu infelizmente posso fazer.

—Me dê uma coisa! Qualquer coisa! -ele continua a chorar.

Penso em algo bom, porem que não fosse acabar com a vida dela. Achei uns talismãs das lágrimas incessantes. Quanto maior, maior o poder, maior o sofrimento. Escolhi um que durasse apenas um mês. Tinha o tamanho de um grão de arroz.

—Vai ter que pagar por ele, -respiro fundo pegando as instruções do talismã, como energiza-lo, como usá-lo e como destruí-lo.

—Quem precisa de faculdade quando se pode destruir a vida de alguem! -ele me apresenta uma mala de dinheiro.

—Por um mês é o que isso paga... -eu vi as notas, pagava muito mais que isso. Mas eu não ia fazer isso.

—Só isso? -ele me olha desapontado. Eu aceno com a cabeça.

—Só. -minto.

—Então não quero... -ele se vira e volta marchando até a porta.

—Ainda estamos longe do Havaí... Vamos voltar para lá até em... Uma hora! -minto novamente, ele estava horrível. Enquanto um cliente está na loja a loja fica "estacionada" no lugar em que ele mora- Quer chá? Bolo? Refrigerante?

—Suco de uva... Você tem? -ele tira a mão da maçaneta.

—Tenho dos lugares mais nobres deste mundo e de outros... -sorrio e tiro uma garrafa no fundo do freezer das sangrias.

Parte do meu trabalho é ouvir. Parte evitar tragédias. Mas a maior parte é ser o humano que eu preciso ser.


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Notas finais do capítulo

Comentem se gostarem.