A garota do apartamento à frente escrita por BomDiaPeeta


Capítulo 9
A torre Eiffel.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Talvez esse capítulo seja meio tosco, porque eu estou muito ocupado. Mas não se esqueçam de comentar, favoritar, recomendar ou algo assim. ♥



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Albert estava com raiva. Sim, esse não era um sentimento comum para ele, mas mesmo assim... ele só conseguia identificar aquilo como raiva. Havia feito de tudo para não magoar Nicolle, tinha gastado dinheiro, estava tudo às mil maravilhas para que eles pudessem passar o natal juntos e então... ela simplesmente diz que havia mentido e traria a família toda para comemorar no apartamento dela. O rapaz estava quase inventando uma desculpa boa para dar à vizinha e aceitando ir para a bebedeira com seus amigos. Mas então ele se lembrou que ele teria que fingir que é namorado de Nicolle e isso lhe daria certas vantagens...

Ele havia a convidado para sair, mas a ruiva passou o dia todo fora fazendo sabe-se lá o que. Quando já passava das sete da noite do dia 23, uma segunda-feira de nevasca, ele finalmente ouviu o barulho do elevador e de sacolas arrastando no chão. Abriu a porta de seu apartamento e viu Nicolle se matando para conseguir levar as compras para o apartamento 22. Sem nem dizer nada, ele pegou algumas sacolas e a ajudou.

–Obrigada. Eu não tinha comprado presente para aquele bando de gente chata. Estava super feliz porque iria sobrar um bom dinheiro no fim do ano... - Nicolle agradeceu.

–Você não disse que sua família não liga para presentes? - Albert perguntou.

–Não ligam, mas eu ligo para dar presentes, mesmo que eles só mereçam meu desprezo.

–Por que você não gosta deles?

–Amanhã, você vai ver porque eu não gosto. Se eles fossem boas pessoas, eu não moraria aqui, sozinha. - Nicolle respondeu, tirando presentes embrulhados das sacolas e os colocando debaixo da árvore de natal.

–Ei, vamos jantar? - Albert convidou, novamente. - Eu pago.

–Claro. Só me deixe tomar um banho de verdade. Pode esperar aqui.

–Tudo bem...

Albert sentou-se no sofá da casa dela. Aquele que trazia lembranças agridoces à sua mente. Ele esperou quase uma hora. Não que Nicolle tivesse demorado tanto tempo no banheiro, até porque ela morreria congelada se o fizesse, mas com certeza ela estava procurando uma boa roupa que no fim ficaria coberta e oculta por um casaco de pele enorme. Dito e feito, ela apareceu na sala muito bem-agasalhada e maquiada. Albert estava se sentindo um lixo, porque o máximo que ele tinha feito foi entrar por dois minutos debaixo do chuveiro para lavar os cabelos durante a tarde. Ele usava os mesmos agasalhos de sempre e estava muito bem perfumado.

–Estou pronta. Para onde vamos? - Ela perguntou, ainda aguardando.

–Ao Benoit Paris. - Albert respondeu – Dizem que a comida de lá é maravilhosa.

–Não é o que dizem sobre o preço. - Ela reclamou.

–Eu pago, estou falindo mesmo.

O restaurante não estava tão cheio quanto Albert esperava. Havia um ou outro casal em seus momentos de prazer. Ele e Nicolle eram apenas mais um entre aquelas pessoas felizes com seus amores, embora eles não tivessem algo que pudesse ser chamado oficialmente de “amor”. Eles pediram dois pratos de Blanquette de vitela e aguardaram que o pedido chegasse.

–Você já comeu escargot? - Perguntou Albert, tentando puxar assunto.

–Você já ficou gritando na frente do palácio de Buckingham?

–Não é porque eu sou inglês que eu sou fanático pela família real. Por mim ela acabaria.

–Não é porque eu sou francesa que eu como esses bichos nojentos. Por mim, eu jogava tudo fora. - Ela respondeu, sorrindo travessa.

–Tem alguma coisa que vocês goste que só exista na frança?

–Blanquette de vitela, salmão poché, creme brûlée.

–Eu só conheço esse primeiro, por isso eu pedi. Quando eu almoço no trabalho, eu como essas coisas que você encontra em qualquer lugar do mundo.

–Nada substitui um lanche bem gorduroso do McDonalds. - Ela completou. - Apesar de eu ter certo ódio dos Estados Unidos.

–Eu nem associo mais o McDonalds aos Estados Unidos, até porque...

Aquela conversa emocionante foi cortada pela chegada do garçom, com os dois pratos do casal. Quando começaram a comer, já nem se lembravam qual era o assunto em pauta.

–-x--x--x--

–Isso é divino! E olha que não é a primeira vez que eu como! - Comentou Nicolle. - A noite de Paris sempre reserva algo.

–Mesmo estando aqui há um bom tempo, nunca me canso da noite de Paris. É incrível. - Albert disse.

–Eu estou aqui há vinte anos e cada noite é como se fosse a primeira. Só que essa é especial, porque... bem, você está aqui.

–Eu digo o mesmo, exceto a parte dos vinte anos. - Albert respondeu, rindo. Logo, os dois acabaram a refeição.

–Vamos pedir a sobremesa? - Ela perguntou, um pouco envergonhada.

–Claro. Essas comidas daqui só são bonitas, mas não matam a fome. - Ele comentou e Nicolle riu.

Estar ali com Albert era algo que ela jamais imaginaria há alguns dias. Olhar para o rosto dele, ouvir sua risada e admirar seu sorriso eram um prazer maior do que aquela comida cara. Às vezes, elas pensava que era louca por gostar daquele cara, o mínimo que ela deveria ter feito era cumprimentá-lo vez ou outra, mas o destino queria que eles ficassem juntos. Ela se sentia como se realmente fosse a namorada dele e o conhecesse há muito tempo.

–Dois pratos de profiteroles, por gentileza. - Pediu Albert. Nicolle não havia pedido aqueles doces, mas Albert parecia entender que ela gostava daquilo.

–Como sabe que eu gosto disso? - Nicolle perguntou, quando o garçom retirou.

–Digamos que eu sou um stalker. - Ele respondeu.

–Nunca coloquei isso na internet. - Ela disse, pois realmente não se lembrava de tê-lo feito.

–Colocou isso no seu twitter em 2012. Era algo como “Profiteroles são minha vida”.

–Twitter? Meu Deus! Eu não uso isso desde... 2012. - Ela disse, rindo. - Como encontrou?

–Você colocou um link no seu facebook em 2012.

–Olhou minha linha do tempo até 2012? - Ela perguntou, abismada.

–Às vezes, ficar sozinho é muito entediante. - Ele tentou justificar. - Precisava de uma distração, daí eu fui procurar fotos zoadas pra comentar e fazer elas voltarem pro feed.

–Você é um filho da puta, Albert. - Nicolle disse, rindo.

Ela encarou o céu meio nublado pela janela do restaurante quando o garçom trouxe as sobremesas. Nicolle devorou aquilo e pensou que se eles estivessem em 2012, com certeza ela teria colocado em seu twitter algo como “Profiteroles são minha vida”. Isso fez ela rir sozinha e Albert olhou com estranheza para ela, então ela fingiu estar tossindo. Sabia que havia sido uma tentativa falha, mas ao menos... ele não comentou nada, como seria de seu caráter. Albert demorou mais do que ela para terminar a sobremesa, mas logo que acabou, pediu licença e foi pagar a conta. Aquilo fez Nicolle sentir-se um pouco mal e ela prometeu que faria o seu melhor para pagar o preço de alguma forma, mesmo que não fosse em dinheiro.

–Então, namorado... - Ela disse, em tom de brincadeira (mas queria que não fosse) – Pra onde vamos, agora?

–Vamos pegar o meu carro e andar por aí, Paris serve pra isso, não é?

–Não. Eu posso te dar uma lista enorme de coisas que movem essa cidade além de turismo, mas vale a sua intenção. - Ela falou, com certa seriedade. Ela odiava estereótipos, mas amava a companhia de Albert.

–Qual é, Nicolle? Não seja implicante. - Ele reclamou – O mundo inteiro conhece Paris como a cidade do amor.

–Tudo bem, não deixa de ser verdade. Então, vamos seguir seus planos... “amor”. - Ela disse, se levantando da mesa.

Albert a levou até seu carro e eles entraram no veículo. Os vidros logo embaçaram por conta do frio em contraste com o calor do motor e da respiração dos dois. Nicolle observava o que conseguia para tentar adivinhar aonde eles estavam indo. Percebeu o rio Sena ao seu lado e olhou ao longe, um ponto brilhante que se aproximava conforme o caminho era percorrido.

–Vamos à Torre Eiffel? - Perguntou Nicolle, identificando o ponto brilhante.

–É. Eu fui poucas vezes. - Albert disse – E só subi lá uma vez.

–Eu tenho medo de altura, Albert. Não vou subir lá.

–Eu também, por isso só subi uma vez. - Ele respondeu, mas Nicolle não sabia se aquilo era sério.

–Fala sério, você só quer ter coisas em comum comigo. - Nicolle tentou adivinhar.

–Se eu fosse parecido com você, eu acho que subiria na torre e me jogaria de lá. - Ele brincou.

–Babaca – Ela xingou, com um sorriso. - E se quer saber, eu te diria o mesmo.

Eles continuaram se aproximando, até que ele estacionou, mas longe do estacionamento próprio de visitantes. Os dois desceram e tiveram que caminhar um bom pedaço de asfalto, mas só a visão do ponto turístico mais famoso do mundo compensava, mesmo para Nicolle que já estava enjoada de tanto ver aquela coisa brilhando. Albert segurou na mão de Nicolle espontaneamente e sem motivo algum, então ele correu e a levou junto. Ela gritava e pedia para ele parar, mas ele só parou quando tropeçou na calçada e caiu na grama, levando a garota junto.

Eles estavam bem de frente com a torre, num grande campo cheio de grama, o lugar mais clichê que os casais procuravam quando estavam a fim de admirar aquele monte de ferros retorcidos. Nicolle realmente não sabia o que as pessoas viam na torre Eiffel.

–Ai! - Ele disse, depois de ter levantado. - Acho que quebrei meu corpo todo.

–Eu congelei o meu rosto, parece que eu fiz botox. - Nicolle brincou. Ela estava brava por ele ter corrido sem motivos, mas ao menos ela estava sã e salva, sem nenhum ferimento.

–Bem, aqui estamos. - Albert disse, abrindo os braços como se mostrasse o local ao redor. Ele mancou mais para a frente, então se sentou na grama fofa. Nicolle o acompanhou.

–O que faremos agora? - Ela perguntou.

–Não sei. Vamos fingir que somos pessoas normais e ficar olhando pra torre feito bobos.

–Claro. - Ela encarou a estrutura à sua frente, tinha muita luz, mas era uma das visões mais bonitas que ela já poderia ter.

–Já percebeu que não tem graça nenhuma? - Albert perguntou, também encarando a torre Eiffel.

–É porque nós dois vimos isso todo dia. É como morar na praia. - Nicolle respondeu.

–É sem graça, mas bonita. É, acho que é aceitável um casal se apaixonar por causa dessa torre. - Ele completou o pensamento. - Mas penso que a sua explicação é a mais correta.

–É muito bonita, mas eu fico cega se olhar muito tempo para ela. - A mulher respondeu, encostando-se ao ombro de Albert.

Albert tinha um cheiro bom. Não o de perfume, como boa parte dos franceses, mas sim um cheiro único. Parece que exalava uma mistura de segurança e talvez sensualidade, mas ela não sabia definir o que era, apenas podia dizer que era muito bom, a ponto de ser apaixonante.

–Eu não quero sair daqui nunca – Ela resmungou, colocando o rosto no peito do rapaz.

–Se for para estar com você, eu fico aqui. - Ele disse. Era incrivelmente meloso, mas era Albert.

–Albert, eu acho que eu te amo. - Ela disse, sem nem pensar muito no que falara. - Eu não acho... eu tenho certeza disso.

–É porque eu mereço - Ele respondeu, riu e depois respirou fundo. - Sabe, Nick, seria impossível eu não me apaixonar por você. Ou melhor, sejamos claros: seria impossível eu não te amar.


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