A garota do apartamento à frente escrita por BomDiaPeeta


Capítulo 10
Um infeliz natal - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Provavelmente, serão três partes. Essa é a primeira. Espero que gostem.

Não se esqueçam de comentar, favoritar, recomendar ou algo assim.



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Albert e Nicolle só voltaram para suas casas de madrugada. Eles estavam conversando e rindo, mas tinham que se controlar para não acordar as velhas do andar. O rapaz esperou que Nicolle abrisse a porta de seu apartamento. Antes que ela entrasse, ele a puxou pelo braço, olhou em seus olhos e mais uma vez eles se beijaram intensa e apaixonadamente. Ainda assim, ele estranhava ter dito com tanta facilidade que amava Nicolle e mais estranhamente ainda, ele sentia que não havia mentido e que poderia repetir aquilo o resto de sua vida.

–Boa noite e até logo. - Ela disse, sorrindo.

–Boa noite, até...

–Meus pais chegam ao meio-dia. Seria bom você estar aqui antes.

–Claro. - Albert concordou – Te vejo daqui a alguma horas. - Ele respondeu e deu um beijo rápido na testa de Nicolle.

Tentando afastar aquela confusão de pensamentos, ele entrou em sua casa e dirigiu-se para seu quarto, totalmente bagunçado. Não demorou para dormir, como uma pedra.

Seu sono pesado foi interrompido por um ruído estranho. Era uma espécie de música que entrava em seus sonhos e deixava Albert assustado. Ele já estava entrando em desespero quando finalmente levantou, com os olhos arregalados, suado e com o coração disparado. Olhou ao redor, procurando alguma coisa e viu seu celular tocando alegremente uma música do Red Hot Chilli Peppers. Ele respirou fundo e desligou o alarme. Já eram dez e meia da manhã e o frio que invadia o quarto de Albert era uma ótima explicação para o porquê de ele não ter acordado tão fácil.

–Ai... - Ele gemeu, com voz de sono – Que dia é hoje? - Perguntou a si mesmo.

–Acho que 22, hoje não é meu aniversário? - Continuou a filosofar. - Não. Dia 24. Torre Eiffel. Amor. Natal. Nicolle. Família. Tô atrasado. - Ele finalmente raciocinou.

Ele pulou da cama, tirou as roupas de dormir e quando estava nu, se trancou no banheiro, já tremendo de frio. Ele precisava de um banho de verdade, para estar apresentável à família de sua... namorada? Bem, de qualquer forma, ele passou vinte minutos debaixo do chuveiro e a cada segundo, ele inventava uma doença diferente que aquele frio poderia lhe causar. Assim que terminou de se lavar, rapidamente vestiu a roupa de baixo e correu para o quarto, a fim de encontrar roupas confortáveis e bonitas. Não era o que faltava no guarda-roupa do homem. Por fim, ele passou uma dose exagerada de perfume e penteou seus cabelos. Ele mal se reconhecia ao se admirar no espelho.

–Albert... se você não fosse eu, eu iria querer te pegar. - Comentou, arrumando os agasalhos.

Saiu de seu apartamento e tocou a campainha do 22. Nicolle abriu a porta logo. Ela estava com os cabelos lisos presos em um coque mal-arrumado, os seus agasalhos eram leves e surrados e Albert chegou a identificar uma marca de suor em sua testa. Ela o encarou com um olhar de cansaço e desespero.

–Não aguento mais arrumar a minha casa. - Ela reclamou, assim que ele entrou.

–Mas não estava desarrumada. - Albert comentou, porque realmente não estava. - Não pra mim.

–Pra mim também não, mas para minha mãe, estava tudo terrível. Estou desde as seis da manhã limpando móveis e mudando as coisas de lugar, a minha sorte é que o vizinho de baixo está viajando. - Ela disse, tirando algumas taças do armário e as colocando em cima da pia.

–Sua mãe é tão ruim assim? - Perguntou o rapaz.

–Ela é uma víbora. Adora implicar com tudo o que eu faço e quer que eu seja a bonequinha dela. Por isso minha irmã casou cedo e saiu de casa.

–Você tem uma irmã? Pensei que fosse filha única.

–É, eu não falo muito dela. Eu não gosto tanto assim dela, mas prefiro um milhão de vezes passar o resto da minha vida com ela a passar dois minutos com o imbecil do meu cunhado. Ele é um trouxa, um... argh! Não tenho nem palavras pra descrever aquele merdinha. - Ela falou. Estava esfregando os copos com a esponja e seus movimentos se intensificaram ao mencionar o tal cunhado.

–E o seu pai? - Albert perguntou, querendo medir o desafio que enfrentaria.

–Meu pai será um problema pra você. Vai ter que atuar muito bem, mas... não vai ter que mentir muito. Você é o tipo de cara que ele gosta, acho eu. Ele vai perguntar coisas sobre seu emprego e te fazer uma ameaças, mas nada além disso.

–Você tem irmãos?

–Já tive, mas ele morreu quando eu tinha uns dois anos. O nome dele era Gustáve e minha mãe adora esfregar na minha cara o quanto ele era melhor do que eu. Porém, Dominique diz que ele era um drogado. - Ela respondeu, agora puxando a água da pia com um rodo de mão.

–Dominique seria sua irmã?

–É. Ah, você vai ter mais um serviço. Me defender das minhas primas.

–Quantas são? - Albert perguntou, começando a se preocupar.

–São duas, se chamam Lis e Francine. São irmãs gêmeas e as duas são casadas com homens bem-sucedidos, cheios de dinheiro e elas adoram contar todos os dotes e talentos deles. Sua função será se colocar no mesmo nível deles. Vai ser fácil, porque você é foda naturalmente. - Ela elogiou, sem parar o serviço de arrumação.

–Não teria tanta certeza. Tudo vai depender da personalidade deles. - Albert respondeu.

–E só mais um casal de parentes... meus tios, pais das minhas primas. Eles são as únicas pessoas do bem nessa família. Minha tia é extremamente inteligente e meu tio adora contar histórias, que quase sempre são totalmente verídicas e engraçadas. Eles vivem dando foras também, que sempre nos fazem rir. São uns amores.

–Bem, vai ser um desafio. - Albert comentou. - Mas não vou abandonar o barco.

–Albert, só saiba que não importa o que aconteça hoje à noite, nada vai mudar o que eu sinto por você, ok? - Ela tranquilizou. - Mantenha a calma e sinta-se beijado.

–-x--x--x--

Nicolle queria ajuda, mas quando ela viu Albert entrar de banho tomado, cabelo penteado e excessivamente perfumado, ela preferiu mantê-lo assim. Seus pais não iriam gostar de ver que ela tinha um “namorado” todo descabelado e cansado. Albert precisava ser o modelo perfeito de namorado, aquele que causaria inveja em todos. Finalmente, ela tinha uma oportunidade de ter o melhor natal de sua vida. Mas para ela, o melhor de tudo é que talvez mais tarde aquilo passasse de encenação e se tornasse realidade. Ela sabia que todos iriam adorar o seu novo amor.

–Pode se sentar, eu já limpei a sala de estar. Fique à vontade, como se já morasse aqui há muito tempo. - Ela disse, tentando fazer uma cena bonita. - Ah, eu quase me esqueci de avisar. Nos conhecemos há três anos.

–Claro – Ele disse, mas ela não pôde ler sua expressão. - Bem, vou ligar a TV. Devem estar reprisando “Esqueceram de mim”.

–Não duvido nada.

Albert caminhou até o sofá e se encostou, totalmente relaxado. Seu corpo foi escorregando para o lado, até que ele estava deitado no móvel. Ela queria pedir para ele tomar cuidado para não sujar o sofá com os seus tênis, mas parece que ele já tinha noção disso.

–Estou suficientemente à vontade? - Ele perguntou, sem levantar.

–Sim, completamente. - Ela concordou, então não resistiu ao aviso. - Mas não suje meu sofá com seus pezinhos.

–Eu sei disso, Nick. Eu nem gosto de me deitar em sofás, mas estou fazendo o que você pede.

–Já disse que te amo hoje, Albert?

–Não depois que eu levantei da cama. - Ele respondeu, pegando o controle da TV.

–Estou dizendo agora, então. - Nicolle falou, terminando de limpar o chão da cozinha.

Finalmente, o serviço estava completo. Agora era hora de ela cuidar de si mesma. Queria estar à altura de Albert, então infelizmente, ela teria que enfrentar o rigoroso frio da Europa e se lavar de novo, pelo menos para tirar o suor que grudou em seu corpo por conta do serviço pesado. Ela se repreendeu por ter feito isso na noite anterior e fez uma prece a Deus para que ela não pegasse uma pneumonia.

–Vou tomar o meu banho, antes que eles cheguem. - Ela avisou – Se vierem antes do que eu espero, abra a porta e lembre-se que faz três anos que você entra aqui.

–Tudo bem, mas não demore. Vou sentir saudades. - Ele brincou, mas sem voltar o rosto para ela.

Ela já havia deixado suas roupas e adereços separados, então a única coisa que ela tinha que fazer era entrar no banheiro. Ela planejava passar pouco tempo ali, mas parece que seus cabelos não queriam contribuir para que o banho acabasse logo. Na França, não se pode gastar muita água, então era algo desesperador, apesar de ela já estar acostumada a isso. Finalmente, ela terminou de se lavar e estava começando a se vestir quando ouviu a campainha tocar. Olhou no relógio e amaldiçoou as visitas por terem chegado quinze minutos antes. Começou a acelerar sua troca de roupa e xingar meio mundo porque ainda tinha que pentear os cabelos.

–Ah, olá! - Ela ouviu a voz de Albert – Como vão?

–Oh, você que é o tal namorado? - Nicolle reconheceu a voz como sendo a de sua mãe. - Um belo rosto, meu rapaz, mas poderia fazer melhor essa barba.

Ela ouviu a falsa risada de Albert e algum resmungo de concordância. Pobre rapaz, tão lindo e já estava sofrendo nas mãos da mãe de Nicolle. Ela não ouviu a voz de seu pai, mas podia imaginar a cena dele entrando e olhando feio para seu novo namorado.

–Fiquem a vontade. - O seu vizinho disse. Sua voz estava mais próxima.

–Onde está minha filha? - Perguntou a mãe de Nicolle. - Era para ela já estar aqui.

Nicolle havia acabado de colocar suas roupas e estava se perfurmando. Ao ouvir a pergunta da mãe, revirou os olhos, ergueu os dois dedos do meio e colocou os braços para o alto, num xingamento silencioso. Bufou e ligou o secador, começando a escovar os cabelos. Passou o menor tempo possível fazendo aquilo, porque queria ouvir as conversas na sala. Desligou o secador e se encarou no espelho, se sentindo incrivelmente maravilhosa.

–...lá embaixo, com os presentes. - A mãe dela estava completando uma frase. - Espero que não se importe, Albert, mas não tivemos tempo de comprar um presente pra você. Sabe, Nicolle é completamente atrapalhada e nos avisou muito em cima da hora. Mas prometemos comprar alguma coisa e lhe enviaremos pelos correios.

–Ah, não se preocupe Mme. Rousseau, eu também não...

Então, antes que Albert se enrolasse mais, Nicolle abriu a porta do quarto com um falso sorriso estampado no rosto. Encarou diretamente a mãe, que estava sentada no sofá. Demonstrava alegria por fora, mas queria fuzilá-la por dentro.

–Oi, mamãe. Oi, papai. - Ela cumprimentou, com animação. - Que bom ver vocês, senti a falta de vocês.

–Ah, oi minha filha. - A mãe dela se levantou, indo cumprimentá-la também com um sorriso visivelmente falso. - Claro que nós também sentimos muito a sua falta. Sabe, desde que você deciciu não seguir os rumos do seu...

–É, mamãe. Já conheço a história, mas venha cá, me dê um abraço. - Ela pediu, fingindo emoção. Então as duas se abraçaram.

Logo, ela também abraçou seu pai, mas com menos falsidade. Depois, encarou Albert como se quisesse ler uma tese sobre o que ele achou dos pais dele apenas com um olhar. Vendo que não obteria sucesso na missão, se aproximou dele e o abraçou.

–Você está linda. - Ele comentou, e ela sabia que era verdadeiro.

–Obrigada.

–Ela sempre foi. - Corrigiu o pai dela. - Ela é linda de todas as maneiras. - Depois, ele deu uma risada brincalhona, correspondida por Albert.

–Isso o que eu quis dizer, mais linda. - Ele corrigiu. Por enquanto, tudo estava correndo melhor do que ela esperava. Ela ouviu a campainha e foi atender a porta, então seus casal preferido entrou no campo de visão dela. Com sacolas cheias de presentes na mão.

–Oi, Dominique. - Ela cumprimentou, com um sorriso falso. Depois desfez o gesto e colocou desprezo na voz. - Oi, Pierre.


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