A garota do apartamento à frente escrita por BomDiaPeeta


Capítulo 7
A terrível Mlle. Fontaine


Notas iniciais do capítulo

Para ser justo, esse capítulo só tem P.O.V da Nick.
Não se esqueçam de comentar e favoritar a história para dar mais feedback!



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Alguém bateu à porta do apartamento 22, mas Nicolle estava ocupada demais chorando e não poderia atender. Ela havia quebrado pelo menos dois vasos de flores e uma boa quantidade de copos, apenas descontando a raiva que sentia de Albert. Aliás, a raiva que ela sentia era mais dela mesma do que do próprio homem que havia a traído. Ela se sentia mal porque não podia dizer que aquilo havia sido uma traição, já que a única coisa que ela havia feito com seu vizinho havia sido beijá-lo. Ela estava deitada no sofá, com o rosto queimado pelas lágrimas e agarrada a uma almofada quando as batidas na porta finalmente pararam de persistir.

De tanto chorar deitada, ela acabou adormecendo. Era um sono tranquilo, como se fosse um gesto de alívio por finalmente poder esquecer aquilo. Ela chegou a sonhar, mas eram coisas malucas como ela tentando consertar a antena de televisão do prédio. Acordou três ou quatro horas depois, babando no sofá e ainda sentindo o gosto das lágrimas que haviam escorrido para sua boca. Ela sentou-se, ainda com os olhos semiabertos e em seguida os fechou, levando a mão ao rosto e aos cabelos despenteados. Não demorou muito para que ela começasse a choramingar e resmungar de novo, enquanto lutava para conseguir limpar todos os cacos de vidro pela casa. Novamente, batidas na porta. Poderia ser Albert, então ela acertaria um tapa na cara dele e diria poucas e boas. Levantou-se determinada e abriu a porta.

–Nossa, você está horrível. – Falou a visita. Não era Albert e sim a vadia que ele havia beijado. – Seu namoradinho deve ter feito muito mal pra você.

–Vai embora, antes que eu suje minhas mãozinhas delicadas grudando-as no seu pescoço. – Ordenou Nicolle.

–Ah, eu vim me solidarizar com você. Estava me sentindo culpada por ter te tirado de uma boa, porque olha... ele faz bem.

–Faz bem o que, sua vaca? – Nicolle perguntou. Era pra parecer intimidador, mas sua voz de sono cortou o clima.

–Ora, você sabe do que eu estou falando... – Ela riu, como se adorasse aquilo. Aquela mulher era um nojo. – Sexo.

–Transou com ele? Pelo menos isso confirma a minha teoria de que era você a puta que eu vi na esquina ontem. E que ele é um... argh! – Respondeu Nicolle, sem demonstrar que havia sido profundamente afetada.

–Continue tentando me ofender. Sabe, não iria valer a pena pra você... até porque ele merece alguém melhor, como eu. Ele falou de você... disse que nem sabe como ele gostou de você porque eu...

A fala da mulher loura foi cortada por um tapa. Um tapa certeiro, forte, tão dolorido que afetou até mesmo Nicolle, a autora do ataque. As bochecha direita da mulher agora tinha uma marca bem visível de cinco dedos e antes que ela pudesse acabar de sentir a dor do golpe, a sua bochecha esquerda também estava marcada por outro tapa.

–Saia da minha frente ou eu bato de novo até sair sangue, sua puta! Maldita! – Nicolle gritou e todas as velhinhas maléficas poderiam ouvir. – Some daqui, volta pra tua zona!

A loura a encarou com raiva, ainda com o rosto vermelho. Levou uma das mãos à bochecha esquerda e se virou bruscamente. Aquela vadia correu e Nicolle podia ver que ela tinha lágrimas de dor nos olhos. Ela havia obtido um resultado satisfatório em seus tapas doloridos. Fechou a porta de seu apartamento e voltou ao seu antigo estado de depressão, ainda mais chorosa e raivosa. A neve havia parado de cair, mas já anoitecia. Ela lavou o rosto, depois de sofrer em silêncio, depois de repetir centenas de vezes que ela era uma idiiota. Pegou seu telefone e ligou para seus pais.

–Alô, mamãe... – Ela falou ao celular – Esqueça o que eu disse ontem à noite. Irei passar o natal com vocês e talvez eu saia de casa mais cedo. Acho que vou querer ficar para o ano novo também... ou melhor, as férias todas.

A mãe de Nicolle sabia que havia algo errado com a filha e tentou obrigá-la a confessar, mas ela não disse nada a respeito de Albert. Justificou a voz chorosa dizendo que estava muito gripada. Logo, a ligação terminou e Nicolle quis fazer as malas e ir embora, para longe daquele edifício. O frio outonal foi o que a convenceu a ir para sua cama e sonhar com a tortura que seria ver os maridos de suas primas novamente.

...

A ruiva levantou-se naquela manhã lamentando-se por não ter morrido enquanto dormia. O sol havia saído e a nevasca acabado, ironizando a situação em que ela se encontrava. Logo seria o solstício de inverno e aquela cena se tornaria rara. Ela abriria as cortinas para que aquele apartamento recebesse a luz do sol. Ainda eram quase oito horas da manhã e Nicolle levantou resmungando sobre como era horrível ir ao paraíso e ao inferno em algumas horas.

Ela havia acabado de arrumar a cama e estava penteando os cabelos quando ouviu a campainha tocar. Decidiu que não iria atender, porque não importava quem fosse, ela não queria ver essa pessoa. A visita continuou insistindo em apertar o maldito botão da campainha e Nicolle continuava resistindo. O engraçadinho teve a ideia de ficar apertando o botão repetidas vezes seguidas, até ela se irritar e acabar abrindo a porta. Bem, o plano deu certo e Nicolle abriu a porta, muito frustrada. Não ficou surpresa ao se deparar com Albert. Ela olhou pouco tempo para ele, mas podia ver seu rosto inchado e as olheiras de quem havia tido uma péssima noite.

–Nicolle – Ele disse. A voz dele estava triste e aquilo cortava o coração da garota em mil pedaços, mas ela não podia demonstrar emoção.

–Albert – Ela respondeu, com seriedade.

–Nicolle, eu nem sei quem é aquela mulher. Eu juro.

–Vocês todos tem sempre as mesmas histórias. – Nicolle disse, convencida de que Albert estava mentindo. – Eu sei que você transou com ela. Não precisa esconder essas coisas de mim.

–Foi isso que te contaram? Isso? – Ele parecia muito surpreso e Nicolle acabou quase acreditando. – Ela montou uma árvore de natal na minha casa!

–Ah sim, até suas desculpas tem que ser natalinas, para combinar com a época do ano. – Nicolle respondeu.

–Escuta, eu nunca ficaria com aquela mulher por vontade própria... eu sei que você sabe disso.

A única defesa de Nicolle contra aquilo era fazer com ele o mesmo que fez com a vaca que ele tinha beijado. Ela levantou a mão para lhe acertar um tapa, mas ele bloqueou o golpe. Ela tentou acertar o outro lado e acabou tendo as duas mãos seguradas por ele, com força... mas ela não estava se sentindo agredida. Só estava ridicularizada.

–Se é ciúmes o seu problema... – Ele disse, assustado com os dois tapas. – A gente resolve isso.

Ele a puxou para mais perto de seu corpo e adentrou a sala. Antes que Nicolle pudesse esboçar qualquer reação, ele a beijou. Foi um beijo súbito, de desespero, mas sem deixar de ser de Albert. Nicolle não podia fazer nada além de fechar os olhos e aproveitar... no fim, era aquilo que ela queria. Não havia por que fugir. Dessa vez, o gesto foi mais demorado e intenso. Suas línguas pareciam ter uma coreografia ensaiada.

Ele foi a levando para mais perto do sofá e empurrou a porta, a fechando. Sem parar o beijo, ele se deitou com ela no móvel da sala e a deixou imobilizada no mesmo. Finalmente, houve uma pausa para respirar e os dois estavam arfantes. Olhavam um nos olhos do outro com uma mistura estranha de paixão, carinho e um desejo estranho de tirarem a roupa um do outro e transarem loucamente ali mesmo.

–Albert Smith, você é um canalha de marca maior. – Nicolle disse, ainda com o rapaz sobre ela. – E eu te odeio por ter beijado aquela...

Sua fala foi interrompida por outro beijo do rapaz, dessa vez, foi rápido, apenas para fazê-la calar a boca.

–Eu não beijei ela porque só tem uma pessoa no mundo que eu ouso tocar. – Albert disse, ele estava levemente alterado, por causa da agitação. – E essa pessoa é você.

Nicolle não queria acreditar. Ela sabia que era tudo um truque de Albert para que ela o perdoasse pela traição, mas... isso não parecia um bom motivo para recusar os beijos dele. Dessa vez, ela mesma começou um novo, intenso e apaixonado beijo. Ela podia sentir suas pernas se entrelaçarem nas dele e um calor tomar conta de seu corpo.

“Nicolle, pare agora! Não!” , ela pensou, mas não estava dando certa. Ela queria o corpo de Albert. Então seu próprio corpo inventou uma maneira de impedir que aquilo acontecesse. “Nicolle, pare agora!”, ela pensou novamente, mas dessa vez, imaginou isto com a voz de Miranda. Imediatamente, ela cessou o beijo e encarou o rapaz, que ainda estava de olhos fechados.

–Não, Albert. Isso não... isso não. – Nicolle disse, recusando.

–Tudo bem, eu... eu só não queria que você desse as costas pra mim e eu faria o que fosse preciso para...

–Shhh – Ela fez, levando o indicador à boca dele – Pare com esse discursinho pronto. Eu vou cair na sua.

Era isso, ela cairía na dele. Seria hipnotizada novamente por aquele babaca. Pelo menos, era o que ela pensava encarando seus olhos castanhos naquele sofá... até que os dois ouviram alguém gritar no corredor. Eram duas vozes conhecidas do casal.

–Mas Louise... você não pode me deixar aqui! – Disse uma velha. Era Mlle. Fontaine.

–Sinto muito, vovó, mas o plano não incluía levar dois tapas. – Louise respondeu. Então esse era o nome da vadia...

O casal se entreolhou e rapidamente se levantou do sofá, abrindo a porta do 22 para assistir ao espetáculo no corredor. Nicolle colocou a cabeça para fora e Albert também. As duas pareceram não notar a presença deles ali. Nicolle quase saiu do apartamento, mas Albert a puxou pela cintura, por trás e os dois ficaram abraçados e encostados ao batente. Ela, encostada ao peito de Albert e presa por seus braços, para não fugir.

–Você vai ver, minha queridinha. Eu vou processar aquela ruivinha. Ela vai ser presa.

–Não importa. O plano era beijar aquele cara nojento do 21 e depois deixar ela com raiva. Eu só estava seguindo as suas ordens, você é que devia levar um tapa na cara.

–Tal vó, tal neta. – Nicolle disse, bem alto e revelando a presença do casal ali. – Vocês nunca vão conseguir me atingir.

–Me desculpem vocês dois. Minha avó me ofereceu 200 euros pra ficar com... ele. – Louise disse. – Pensando bem, eu fui tão idiota que merecia outro tapa.

–É verdade, deixa só o Albert me soltar que eu te pego no tapa até ficar roxa. – Nicolle disse, com um sorriso de simpatia carregado de ironia.

Louise bufou e entrou no elevador, muito assustada. A avó tentou impedir, mas era tarde demais.

–Espera só, ruivinha! Você vai dormir na cadeia! Ora essa... eu irei ligar para todos os meus contatos!

–Boa sorte com isso. Você está criando lindos monstros. – Dessa vez, quem respondeu foi Albert. Parece que ele aprendeu algo com Nicolle.

A velha voltou para seu apartamento, muito irritada. Nicolle estava aliviada por saber que tudo não passava de puro veneno da Mlle. Fontaine. Ela e Albert esperaram ela sumir para entrarem no apartamento e darem muita risada daquela situação e inventar apelidos pejorativos para a velha do 18. Ela só não podia deixar de admitir que era uma velha muito esperta, além de maléfica.

–Ei, Nick. – Albert disse, depois de um tempo. – Tem uma árvore de natal destruída para montar ali no 21. Quer me ajudar com isto?


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