A garota do apartamento à frente escrita por BomDiaPeeta


Capítulo 6
A árvore de natal


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não tem P.O.V da Nick, porque senão ia ficar enorme. Mas o próximo capítulo provavelmente começará com ela.

Comentem, favoritem, recomendem... sei lá, só não sejam fantasmas!



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Assim que Nicolle voltou para seu apartamento, Albert olhou ao redor. A primeira coisa que ele precisaria fazer era desmarcar o compromisso dele com seus amigos no natal. Não, ele não havia mentido para a moça, ou pelo menos, ele não considerava que era mentira, porque ele realmente passava o natal sozinho e apesar de ter aceitado ir para os bares naquele ano, passar a data com a garota do apartamento à frente era muito melhor do que isso. Albert simplesmente enviou uma mensagem para o organizador do evento, que logo respondeu com:

“Que pena :( Boa sorte com a gata hahaha”

Agora que isso já havia sido resolvido, era hora de criar um ambiente natalino na casa dele. Depois de colocar as roupas sujas de creme para lavar,vestir agasalhos novos e se perfumar, como qualquer francês, Albert saiu de sua casa, levando o cartão de débito. Ele não pretendia gastar nada no fim do ano, mas valia a pena se fosse por Nicolle. A única coisa estranha era que na manhã do dia anterior, isso nem passava pela cabeça dele.

Pegou o seu carro e dirigiu pelas ruas de Paris durante quase meia hora, até encontrar o que estava procurando: uma loja que vendesse decorações natalinas. Ele estacionou alguns metros adiante do seu destino, desceu do carro e entrou no local. O vendedor era um senhor baixo, gordo e com um bigode enorme. Albert era o único cliente àquela altura da semana. Procurou tudo o que queria nas prateleiras.

–Aproveite que estamos queimando o estoque. Tudo o que é natalino está nas últimas unidades. – O senhor alertou.

–Mas... ainda nem é natal.

–O senhor deveria ter montado a sua árvore em novembro. – Ele disse, como se Albert não devesse estar ali.

–Eu sei... mas é que eu só consegui alguém para passar a data comigo agora.

–Uma pessoa especial? – O senhor perguntou, com um sorriso esperto.

–É. – Respondeu Albert.

–Venha aqui, eu te mostro uns enfeites bem... maneiros, como dizem os jovens de hoje. – Ele abafou uma risada.

“Ninguém fala ‘maneiro’ hoje em dia”, pensou Albert. Mas o velho se levantou e pediu que o rapaz o seguisse. Albert foi atrás do homem, subiu alguns degraus e entrou no estoque da loja. O homem acendeu a luz e apontou um monte de árvores de natal, luzes, enfeites... enfim, tudo o que Albert precisava para decorar o seu apartamento.

–Pode escolher. Você parece ser um homem bom, então eu te darei 50% de desconto em tudo. – O velho respondeu, meio relutante.

–Poxa vida, muito obrigado, Monsieur! – Albert agradeceu, empolgado.

Ele logo explorou todo o local. Pegou uma árvore de natal de tamanho médio, várias bolas coloridas, luzes pisca-pisca, laços dourados e uma grande estrela dourada. Por fim, pegou também uma guirlanda em ótimo estado e desceu as escadas, indo para o caixa da loja. Mesmo com o desconto, tudo saiu caro, porém mais barato do que ele esperava. Ele estava feliz, pois poderia comprar um presente melhor para Nicolle. Despediu-se do homem e colocou tudo no porta-malas de seu carro, com exceção da árvore desmontada e encaixotada, que ficou no banco do passageiro. Em seguida, Albert dirigiu mais alguns minutos até um shopping center.

Chegando no local, procurou uma joalheria consideravelmente famosa em Paris. Não sabia o gosto de Nicolle, mas ele poderia imaginar que ela fosse gostar de um colar de ouro. Era uma bela peça, enfeitada com pedras de esmeralda. Muito cara, tanto que Albert fez uma compra parcelada. Torceu para que valesse a pena gastar tanto dinheiro com uma mulher. Ele não podia acreditar que estava fazendo aquilo por alguém que ele conhecia há um dia. Não queria pensar nas consequências, mas só por precaução, confirmou se ele poderia devolver o colar para a joalheria, obtendo uma resposta positiva.

Voltou para seu carro e finalmente dirigiu até o edifício St. John. Já passava da hora do almoço e Albert não podia gastar dinheiro com restaurantes... logo, ele ainda tinha que fazer a própria comida. Seria um dia em tanto. Quando ele chegou em casa, estacionou o carro e abriu o porta-malas. Viu que havia comprado muita coisa e não conseguiria levar todas aquelas sacolas para seu apartamento.

–Poxa vida, não queria ter que fazer duas viagens. – Ele comentou consigo mesmo, em voz alta, acreditando estar sozinho.

–Será que eu posso ajudá-lo, então? – Uma mulher perguntou. Ela estava saindo do carro estacionado próximo ao de Albert.

–Ah, seria ótimo. – O rapaz respondeu, sem nem prestar muita atenção em quem havia lhe oferecido ajuda.

A mulher se aproximou do carro de Albert. Ela deveria ter mais ou menos a mesma idade de Nicolle. Ela tinha pele branca, usava um batom vermelho chamativo, tinha cabelos lisos e dourados visivelmente naturais. Ela tinha um olhar de sensualidade e esperteza, como se estivesse sempre atenta a tudo. O homem a julgou como uma mulher muito bonita, mas nada além disso.

–Fez compras para o natal? – Ela perguntou, olhando o porta-malas cheio de sacolas.

–Fiz. Vou montar a minha árvore só agora. É uma tradição Albertiana. – Ele mentiu, tentando parecer simpático.

–Albertiana? De que país você é? – Ela realmente pareceu não entender a piada.

–Sou da Inglaterra, mas moro aqui há alguns anos. Meu nome é Albert, por isso... Albertiana. – Ele explicou.

–Ah sim. – Ela riu, como se estivesse vendo um stand-up. – Você mora em qual apartamento.

–No 21, oitavo andar.

–Que coincidência! Acabei de me mudar para lá, mas no apartamento 18! – Ela disse, muito exaltada. – Quer dizer, eu me mudei pela madrugada.

–Bom, parece que seremos vizinhos. – Albert respondeu, sem grande entusiasmo. – Se puder, leve estas duas sacolas para o elevador, por gentileza. – Ele entregou dois pacotes para a mulher.

Albert pegou o resto das sacolas e a árvore no carro, fechou o veículo e os dois se dirigiram ao tão famoso elevador. A mulher permaneceu calada durante quase todo o trajeto, mas sempre com um sorriso simpático fixo ao rosto. Ela deveria estar com muita dor no maxilar. Assim que eles chegaram, ele agradeceu pela ajuda.

–Bem, obrigado... Mademoisielle. – Ele hesitou para dizer “vizinha”, porque esse era o apelido de Nicolle.

–Louise – Ela se apresentou. – Mas pode me chamar de Lou, se preferir.

–Ah, claro... Louise. – Ele disse. Não chamaria ninguém além de Nicolle por apelidos. – Muito grato.

Ele tirou as sacolas do elevador e as deixou na frente de sua porta, pegou as chaves e abriu o apartamento 21. Deixou tudo em cima do sofá e quando estava para fechar a entrada, Louise apareceu subitamente, com seu olhar fixo, parecendo um robô. Dessa vez, o sorriso simpático tinha desaparecido, para se tornar um pouco mais amigável e sedutor.

–Esqueci alguma coisa? – Perguntou Albert.

–Não, não. É que... sabe, eu também não montei uma árvore esse ano. E meu natal está sendo incompleto e eu vi que você vai decorar tudo agora e tal... – Ela parecia sem graça. – Será que eu poderia ajudar?

–Desculpe, eu acho que... – Albert não tinha entendido direito se era aquilo mesmo que ela queria.

–Ah, tudo bem. Eu deveria ser um pouco mais tímida. Me desculpe, esqueça que eu estive aqui... eu sou só a moça que mora ali no 18. – Ela começou a recuar e se afastar lentamente.

–Espera, pode ficar. Não tem problema nenhum. – Albert respondeu. Na realidade, tinha problema sim, porque ele iria chamar Nicolle para fazer aquilo, mas acabou ficando com muita pena de Louise.

–Mesmo? Poxa, obrigada! Posso entrar? – Ela perguntou.

–Pode, à vontade. – Ele deixou a mulher passar.

O rapaz esqueceu-se de fechar a porta, mas não tinha problema nenhum. Ele tirou a árvore da caixa e começou a encaixar os ramos do pinheiro no “tronco”, enquanto ela abria os pacotes com bolas coloridas e brilhantes e desenrolava os pisca-piscas. Albert colocou a árvore em pé e logo a decoração dela já estava pronta para ser colocada nos ramos. As mãos dos dois se tocaram algumas vezes enquanto eles pegavam as bolinhas e aquilo criou um clima constrangedor.

Finalmente, a árvore estava enfeitada. Os dois se afastaram e admiraram o trabalho bem feito. Realmente, o pinheiro de natal estava lindo e digno de um prêmio... o que era merecido, depois de Albert ter gastado tanto dinheiro.

–Muito obrigada por ter praticamente salvado o meu natal – Disse Louise, encarando Albert com emoção.

–Foi só uma árvore, não é nada demais. – Ele disse.

–Pra mim, significou muita coisa. – Ela segurou as duas mãos dele. – Você é um anjo.

–Ora, o que é isso? – Ele agradeceu, mas estava extremamente sem graça.

Naquele momento, a mulher puxou as mãos dele e as entrelaçou em sua cintura. Antes que o rapaz pudesse reagir, ela já havia feito o que Albert temia. Aproximou rapidamente o seu rosto do dele e o beijou, na boca, como Nicolle havia feito. A grande diferença é que Albert não fechou os olhos para receber o “prêmio”, ele se sentia num inferno e aquele beijo tinha gosto de... veneno. Ele ia se afastar, até que ouviu uma voz conhecida se aproximar.

–Albert, você deixou sua porta... – Era a voz de Nicolle, interrompida por um susto. Ele afastou Louise de perto de seu corpo, mas a ruiva já havia visto.

–Nicolle... – Começou a falar. Mas ele encarou os olhos dela vermelhos e lacrimejantes.

–Você deixou sua porta aberta. – Ela concluiu, com voz chorosa e com o rosto vermelho. Em seguida, bateu a porta.

–Era sua namorada? Oh, me desculpe... eu não sabia. – Disse Louise, claramente fingindo arrependimento.

–Não era minha namorada, mas você não deveria ter feito isso. Agora volte para o inferno de onde saiu. – Albert gritou, abrindo a porta com raiva. – E nunca mais se aproxime do meu apartamento, sua puta!

A mulher saiu, completamente chocada. Albert fechou a porta com muita força, tanto que provavelmente quebrou a fechadura. Ele gritou para o teto, como se ele fosse o culpado de tudo aquilo e chutou a árvore recém-montada, derrubando todas as bolas no chão. Ele chutou mais uma vez o objeto e se sentou no sofá. Levou as mãos ao rosto... e pela primeira vez, ele chorou por uma mulher.


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