A garota do apartamento à frente escrita por BomDiaPeeta


Capítulo 5
Um beijo com sabor.




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–É bom? – Perguntou Albert, depois de ver a garota se lambuzar toda com o creme de chantilly. – Porque você parece que não gostou.

–Eu amei isso aqui! – Ela respondeu, quase assustada. – Como pode insinuar que eu não gostei? Ainda nem acabei e já quero mais.

–Ah, é que tem mais chantilly na sua roupa e nos seus dedos do que no seu estômago. – Albert brincou.

–Eu não sei comer essas coisas cremosas sem me sujar. É um defeito. – Ela respondeu, lambendo um dos dedos sujos.

Albert estranhamente sentiu certa atração por aquele gesto, como se ela estivesse tentando seduzi-lo de alguma forma. Ele não acreditava que ela teria feito de propósito, porque ela parecia mesmo muito interessada no seu creme de Chantilly com morangos. A ruiva chegou ao fundo do copo, onde a colher grande não alcançava mais. Só então, Albert notou que mal havia tocado no seu próprio doce, ele parecia hipnotizado pela sua vizinha.

–Ainda tem mais? – Ela perguntou.

–Só o meu. – Ele respondeu, levando uma colher cheia à boca.

–Ah, você é muito gentil. Obrigada. – Ela deu um sorriso bobo e tirou o copo da mão de Albert, em seguida, começou a comer o doce.

–Eu não tinha te oferecido. – Albert reclamou, mas no fundo, sabia que teria feito aquilo.

–Acho que é tarde demais para devolver... – Ela disse, comendo mais um pouco. – Isso aqui é melhor que dormir em dia de chuva!

–Não é tarde não, fique tranquila. Pode me devolver. – Ele tomou o copo das mãos dela, mas ela tirou a colher rapidamente e jogou chantilly no rosto de Albert, acidentalmente.

–Oh, meu Deus! Me desculpa, eu posso dar um jeito nisso. Hã... você tem um pano ou algo assim? – Se ela tinha algum plano com Albert, com certeza aquilo não fazia parte dele.

–Não tem problema, porque os seres humanos já inventaram uma coisa muito legal chamada... – Albert tirou a colher do copo e jogou o creme na cara de Nicolle – Vingança.

–Ei! – Ela tirou o chantilly do rosto – Não vale, eu não estava preparada!

–Não é pra estar! – Albert gritou, jogando mais um pouco do creme no rosto dela.

–Espera! Ai! – Ela queria xingar e dar risada ao mesmo tempo – É a minha vez.

Ela tomou o copo das mãos de Albert com força e o encarou, como se estivesse esperando que ele desse o bote. Ela ficou mexendo o creme com a colher, como se fosse líquido, sem tirar os olhos do rapaz à sua frente. Albert tirou o doce que havia estado em seu rosto antes e se preparou para mais um golpe fatal. Mesmo preparado, ele não conseguiu desviar do ataque de Nicolle, mas uma parte do creme acertou o sofá atrás dele.

–Ai! Eu manchei o sofá... ai, ai. – Nicolle começou a entrar em desespero de novo. – Pelo amor de Deus, me dá um pano antes que eu morra.

–Na pia da cozinha tem um. – Albert não ligava para o sofá, mas Nicolle parecia realmente muito desesperada. – Mas não se preocupe com isso.

Ela correu para a cozinha, pegou um pano úmido e limpou o móvel, ignorando os comentários de Albert sobre porque ela não deveria fazer aquilo. Ela finalmente limpou a mancha e levou o pano de volta para a cozinha. Ela ainda estava com o copo de chantilly nas mãos e o mantinha afastado de Albert.

–Meu rosto ainda está sujo. – Ele disse, tentando voltar a brincar.

–Eu sei. – Ela pareceu perder a animação, aquele ataque ao sofá havia cortado o clima. – Tome, pode tomar. – A moça entregou o copo para Albert e se sentou novamente.

–Ei... – Ele falou, baixinho. Se aproximou rapidamente da ruiva. – Ainda tem um restinho no seu copo, pegue com os dedos.

–Não é muito educado fazer isso. – Ela disse, como se Albert não soubesse que ela estava louca para passar os dedos no resto de creme. – Aquela hora eu só lambi os dedos porque era mais bonito do que deixar eles sujos.

–Eu não ligo para educação. – Albert respondeu, colocando o dedo em seu copo de creme e o levando a boca em seguida. – Viu?

Ela riu e fez a mesma coisa. Albert ficou feliz porque ela estava animada novamente, passado o susto de ter manchado o sofá alheio. Ela com certeza conhecia Albert muito pouco, assim como ele também mal a conhecia. Mas desde aquele momento no elevador, uma conexão muito forte havia se estabelecido entre os dois, ele só não sabia se poderia definir aquilo como paixão. Tentando esquecer isso, ele levou o indicador ao creme de chantilly e ao invés de comê-lo, encostou o dedo sujo no rosto da vizinha.

–Ei! – Ela reclamou. – Já deu dessa brincadeira.

–Tudo bem... – Albert pensou que o clima havia sido cortado pra valer.

Quando ele menos esperava, ela meteu o próprio dedo com creme na bochecha dele.

–Pensei que a brincadeira tinha acabado. – Ele disse, imitando a voz dela.

–Acabou agora, porque estamos quites.

–Mas... eu sempre ganho. – Ele respondeu, sujando o rosto dela de novo.

–Não, eu ganho. – Ela revidou o ataque, com mais um golpe sujo.

Logo, os dois começaram uma guerra de creme. O sofá foi manchado várias vezes, mas eles não ligavam para aquilo. Já era quase meia-noite e eles estavam fazendo guerra de chantilly no apartamento 21. Nicolle acabou vencendo a batalha mortal, ao imobilizá-lo no sofá e virar um resto de creme que havia no copo de Albert em cima do peitoral de seu alvo. Ela nem havia percebido que estava em cima dele, apoiada em seu abdômen, enquanto ele estava deitado no sofá, com as mãos para cima.

–Seu rosto está sujo... – Ela comentou, olhando para ele.

–O seu também. – Albert riu, sem nem imaginar o que aconteceria.

–Está... sujo, bem aqui. – Ela colocou o dedo indicador no lábio inferior dele. A única coisa que ele via era o rosto da vizinha. Ela parecia estar em uma espécie de transe.

–Então... eu deveria limpar? – Ele perguntou, tentando entender o que ela queria.

–Eu acho que... – Ela respondeu e foi aproximando seu rosto do de Albert. Os dois fecharam os olhos ao mesmo tempo.

Finalmente os dois lábios se tocaram. Aquele beijo tinha gosto de creme de chantilly, morangos e... tinha um sabor que nenhum deles saberia explicar. Para Albert, era o sabor do beijo de Nicolle. Aquilo parecia o resultado de uma daquelas “Receitas para uma boa vida” que se vê na internet, onde os ingredientes são “Uma pitada de carinho, um pacote de paixão e uma xícara de felicidade” e o modo de preparo é “Misture tudo com muito amor”. Nicolle mordeu o lábio inferior dele e suas línguas se tocararam. Era um beijo intenso, cheio de sentimentos fortes e de fontes desconhecidas. Ele não ligava para a posição desconfortável em que se encontrava. Aquilo mal durou quinze segundos, mas para Albert, parecia que seria uma eternidade de prazer. Ele se sentia no paraíso... tinha certeza que aquilo que havia sido aberto em seu peito, finalmente havia sido preenchido. Quando Nicolle afastou o rosto, ele abriu os olhos lentamente.

–Me desculpe, eu... eu não pude... Argh! – Ela saiu de cima de Albert e dirigiu-se até a porta do apartamento. – Preciso ir pra casa. Quer dizer, eu... ai! Obrigada pelo doce... e por... deixa pra lá.

Ele ainda não havia visto Nicolle tão atrapalhada, o rapaz estava tão “nas nuvens” com aquele beijo que a saída súbita dela não importara. Ele acabou adormecendo no sofá, com o rosto cheio de chantilly rosa, mas com um sorriso estampado.

–-x--x--x--

Nicolle correu para casa, corada e sem jeito, mas no fundo, extremamente feliz. Assim que ela abriu a porta, sua vergonha desapareceu e ela deu um salto de alegria como uma garotinha que acaba de ganhar um presente enorme no Natal.

–Obrigada, meu Deus! – Ela berrou, com certeza os vizinhos de cima ouviram. – Miranda, ele é meu!

Ela tinha mania de falar com a amiga morta quando ficava empolgada, mas procurava manter isso em segredo. Já havia muitas pessoas que pensavam que ela era louca. Ela tinha um sorriso de orelha a orelha e se passasse uma maquiagem mais pesada, seria confundida com o Coringa. Ela se jogou no sofá e abafou um grito com uma almofada. Saltou do móvel e foi para o banheiro, limpar o rosto. Em seguida, deitou-se na cama e pensou novamente no rosto de Albert, no gosto de sua boca e na intensidade de seu beijo. Tudo o que os homens haviam feito de ruim para a vida dela já não importava mais. Porque ela finalmente havia encontrado alguém por quem valia a pena lutar, e ela não desistiria. Naquela noite, ela sonhou com um anjo... um anjo chamado Albert Smith.

...

Nicolle levantou-se com o gelo caindo sobre o seu rosto. Ela havia esquecido de fechar as cortinas quando foi dormir. Olhou no relógio que ficava no criado-mudo ao lado de sua cama: eram dez horas da manhã. O chão do quarto dela estava coberto de neve e ela ainda estava com as roupas de seu vizinho... talvez por isso ela não tenha sentido tanto frio pela noite. Ela levantou e tirou o gorro que usava.

–Legal... acho que vou ter que fazer faxina em pleno sábado de férias. – Ela comentou consigo mesma, saindo da cama.

Foi até o armário de limpeza e pegando pá e vassoura para limpar a neve que havia entrado por todas as janelas do apartamento. O chão havia molhado, mas ela não queria se preocupar com aquilo. Ainda estava na dúvida se aquele beijo havia sido mesmo real... mas logo ela confirmou que era verdade, porque ela ainda sentia o gosto da boca de Albert e só de lembra daquilo, seu coração disparava. Ela jamais conseguiria comer morango e chantilly sem estar na companhia de Albert.

–Preciso devolver essas blusas para ele... – Ela comentou, olhando para a vestimenta que usava. – Mas elas tem um cheiro tão bom... como ele.

Ela tirou as duas blusas que ele havia emprestado e as encostou em seu rosto. Sentia o cheiro dele e isso chegava a dar tonturas nela, porque era como se ela estivesse recostada em seu peito. Ela realmente queria furtar aquelas roupas, mas não poderia. Respirou fundo e saiu do apartamento, tocando a campainha do vizinho.

Albert abriu a porta alguns minutos depois. O rosto dele estava inchado e molhado, assim como a ponta de seus cabelos totalmente desarrumados. A roupa dele estava totalmente amassada e havia uma enorme mancha de chantilly na blusa dele.

–Ah, oi Nicolle. – Ele cumprimentou, sorrindo. Era um bom sinal.

–Desculpa te acordar, vim só devolver isso aqui. – Ela entregou as blusas sorrindo simpaticamente, como se aquela noite anterior nunca tivesse acontecido. – Eu só não as lavei porque bem, não estão sujas.

Que tipo de comentário era aquele? Ela realmente queria que ele se apaixonasse por ela depois de ela ter dito que gostaria de lavar as roupas dele? Nicolle se deu um tapa mental.

–Eu não estava dormindo e... Ah, nem me lembrava dessas blusas. – Albert pegou as vestimentas. – Obrigado.

–Dá pra saber que você estava dormindo. Eu também estaria se não fosse a neve que entrou na minha casa durante a noite. Não sei porque as pessoas associam o natal a uma coisa tão horrível quanto esse gelo ralado. – Ela comentou.

–Eu associaria. Ano passado, fiquei todo o natal sozinho... vejo meus familiares pelo computador. Não gosto de sair com meus amigos, porque eles bebem muito e... enfim. Você vai passar a véspera com seus pais?

–Não, não. Desde que eu me mudei, meus pais vão passar o natal na América e me largam aqui. Eu acho que minha família me odeia.

–Mas você não tem irmãos ou algo parecido?

–Até tenho, mas eles se deram melhor na vida do que eu e passam o natal com seus maridos, esposas e filhos. Eu passo o natal como passo qualquer outro dia. Nem montei minha árvore esse ano.

–Bem... parece que estamos na mesma situação. Falta uma semana ainda... você poderia passar o natal aqui.

–Mesmo? – Ela perguntou, muito entusiasmada. – Que legal! Eu aceito o convite.

–Então... depois nós discutimos o que compraremos. – Ele disse. – Tenha um bom dia.

–Você também. – Ela falou, meio boba.

A primeira parte do natal perfeito havia dado certo... agora ela só precisava desmontar a sua árvore de natal e se desconvidar para a ceia da sua família. Claro, ela estava triste por ter trocado seus pais, mas se lembrou da sua avó, que era uma velha tão fofoqueira quanto Mlle. Fontaine e de suas primas que adoram esfregar seus maridos na cara de Nicolle. Por isso, ela considerava que havia matado dois coelhos numa cajadada só.


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