Sangue Mestiço escrita por Selenis


Capítulo 7
O Bilhete; A Sala Precisa




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O Bilhete

Alguns dias haviam se passado, e durante a aula de Snape (que consistia em experimentos de dissecação de anfíbios e répteis, coisa que a meu ver eram extremamente asquerosos e nojentos), eu, sentado no canto mais escuro da sala, rezava para ver algo que me chamasse a atenção e me libertasse desse tédio.

Snape, como sempre instruindo seus alunos e andando com um ar de superioridade, não prestara atenção no pequenino desenho que Ronald Weasley, à minha frente, fizera de seu nariz; escandalosamente grande e pontudo (fazendo jus ao original). Tarde demais, ele notara. Arrancou o caderno das mãos do garoto, este empalidecendo subitamente, e engolindo um seco. Snape fechou o caderno e o desceu contra o cocuruto do garoto; fazendo-o minguar e esfregar onde fora atingido.

– Menos vinte pontos para a Grifinória. - Disse ele, voltando a dar a sua aula.

Cinco longos e torturantes minutos se passaram lentamente. A vontade de não fazer nada apoderou-se de mim; já que minha cabeça estava direcionada a outra coisa além dos estudos. Ser um Comensal da Morte... que contraposta interessante... Mas devo me dar ao luxo de dizer que sou adequado para isso? Então, fui surpreendido quando Filch entrou de supetão na sala. Todos, inclusive Neville (que fingia estar estudando com o livro repousado em seu colo, cabisbaixo, quando na verdade estava dormindo), olharam - Snape não fizera nada, pois segundo ele, Longbotton era mais útil dormindo que acordado.

– O que quer, Sr. Filch? - perguntou o professor.

– Entregar um bilhete a Draco Malfoy, Senhor.

Rapidamente me virei, incrédulo. Snape me olhou de relance, e andou até o zelador. Pegou o pedaço de papel entre o indicador e o médio, e perguntou-lhe:

– Quem é o remetente?

– Profª. Minerva. - Respondeu.

Ele fez um murmúrio, como se não estivesse gostando do que estava vendo.

– Já pode ir, Filch.

E o homem horrendo saiu da sala, deixando seu cheiro de terra molhada para trás. Severo caminhou pesadamente em minha direção, mantendo um contato visual bastante desagradável. Passou-me o papel, e eu o peguei, quebrando a ligação imposta entre nós.

Desdobrei o papel, e eis o que aquelas letras curvilíneas e declinadas criadas pela ponta de uma pena diziam:

Caro Sr. Malfoy,

Segundo meus cálculos, o senhor deve estar recebendo este bilhete em pleno horário de aula. Sinto muito por isso.

Bem, devo lhe informar que lembrei-me do local onde ocorrerá o aniversário. O senhor e a senhorita Granger deverão encaminhar-se amanhã, dia 12 de setembro, depois do almoço, para a Sala Precisa; que é onde ocorrerá a festa.

Devo acrescentar que, apesar dos dois estarem fazendo isso para reduzir a vossa pena, será proibido o uso de magia para o processo de decoração.

Deverão estarem prontos até as 21:30

Atenciosamente, Porfª. Macgonagall.

Naquela hora, a única coisa da qual me lembrei, foi de baixar a cabeça e me lamentar profundamente por pensar em querer algo que me distraísse. Eu estava errado...

A Sala Precisa

Com o bilhete ainda em mãos, fui até o salão principal onde seria servido o almoço. Sentei-me à mesa da Sonserina, e meu pescoço movia-se para todas as direções; procurando por ela. Quis que nada estivesse acontecendo, que, para começo de tudo, não tivesse aquela confusão no primeiro dia. Ah, como o tempo passa rápido... É quase num piscar de olhos. Já podia sentir o frio do inverno chegando.

Era aula de Umbridge novamente. E durante o ensinamento da mulher-sargento aos seus subordinados, senti o que as pessoas comuns chamam de ausência. Apesar de ter várias pessoas ali, silenciosas, anotando tudo o que estava escrito no quadro negro. Quis (sinceramente) olhar para trás e ver uma certa face rosada escondida pelos cabelos cheios e desalinhados. A concentração totalmente voltada aos estudos. Mas isso era apenas uma mera visão de minha mente; enganado-me e obrigando-me a sentir estes desprezíveis sentimentos que, por não serem constantemente aplicados, pareceram-me como meros intrusos a serem expulsos a qualquer custo.

Precisava avisar Granger sobre o aviso. Então um ideia passou-me subitamente pela cabeça; que talvez não devesse avisá-la. Justamente para poder prejudicá-la. Mas não. Algo me impedia de fazer isso. Deveria ter sido minha consciência alertando-me das consequências que ocorreriam caso eu decidisse tomá-la por impulso.

A única coisa que gosto em ter Unbridge como professora, é que recebo prêmios por ajudá-la a 'espionar' os outros alunos. Era uma das oportunidades de tirar boas notas encher meu pai de orgulho, como venho tentando fazer durante esses meses. E não devo simplesmente ignorar o fato de que ele recebera a carta informando-o de minha detenção. Posso imaginar sua cara retorcida em raiva quando chegar as férias, mas tenho a leve esperança de que este venha a reconhecer meu esforço e, em vez de bater-me, dará carinhosas batidinhas em meu ombro; dizendo:

Parabéns, filho. Estou muito orgulhoso.

Esse é meu sonho: ser reconhecido por aqueles que admiro.

***

Na hora do almoço, encontrei Granger, junto de Weasley. Os dois estavam brigando (que novidade!), e aproveitei a oportunidade que ele deixara em sair emburrado - isolando-a em prantos -, para poder me aproximar de supetão. E chegando perto, não deixei de notar suas lágrimas e não pude evitar:

– Ho,ho,ho! Coraçãozinho partido, Granger?

– Não é da sua conta, Malfoy! - disse ela, rapidamente engolindo o choro.

– O que foi? Ele disse que não te ama? - a vontade incontrolável de faze-la irritar-se...

– E se for? O que você tem com isso?

– Nada. Glória! Não quero me meter nesses assuntos ridículos. Só vim te entregar uma coisa.

Puxei o bilhete de dentro do bolso do paletó, e entreguei-o a ela. Seus dedos, pequenos e macios, ao fecharem-se em torno do papel, tocaram brandamente os meus. Imediatamente puxei de volta a mão e saí, indo para qualquer lugar que fosse.

***

Depois do término das aulas, andei pelos corredores vazios e sombrios. Parei ao ouvir um som desconhecido e ao girar os olhos para a direita, vi um umbral magnífico surgir na parede que antes não havia nada. A Sala Precisa finalmente aparecera e, ao empurrar uma de suas pesadas portas, deparei-me com um extenso salão. Os primeiros enfeites: mesa, balões, confetes; já estavam sendo colocados. E arrumando-os, estava Granger e instruindo-a, Minerva.

– Ali em cima, senhorita. - Dizia ela, apontando o local onde o manto de cor verde que dizia '' Feliz Aniversário'' deveria ser posto. - Ah, Sr. Malfoy! Venha até aqui, por favor. Ajude-a a por o manto.

– Eu não posso fazer outra coisa? Quer dizer, encher os balões ou algo do tipo? Afinal, temos que poupar tempo, certo?

– Sr. Malfoy... - disse ela, lentamente. - Não se preocupe. Temos muito tempo. Poderão sem problemas arrumar tudo. E SEM MAGIA! Eu tenho que ir agora. Por favor, arrumem tudo. Quero tudo perfeito. Estejam prontos antes de 21:30.

E Minerva saiu do salão, deixando um silêncio inquietante para trás. Olhei bem para Granger, ela olhou para mim e fez uma careta. Arregacei as mangas, exibindo um sorriso sagaz.

***

– Isso não está como devia. - Disse eu, corrigindo o enfeite que Granger pusera na parede. - Faça direito.

Ela se equilibrava na escada, me enviando um olhar cansado. Girei o indicador, mostrando como deveria ficar. Mas suponho eu que ela tenha me fuzilado mentalmente, pois me olhou como se tivesse uma faca escondida sob as vestes e pronta para enfiá-la em meu peito.

– Por que você não vem e faz, já que é tão...

– Claro que não. Eu...

– Ah, me desculpe. Esqueci que você não tem coordenação motora, e que é um completo inútil.

Rangi os dentes e, sem pensar, peguei a varinha e gritei:

– Estupefaça!

Um lampejo de luz saiu da ponta e atingiu a base da escada, fazendo com que esta fosse arremessada para longe. A garota despencou, mas foi rápida. Enquanto caía, um segundo antes de colidir com o chão, ficou inerte no ar; e recompondo-se, agitou a sua varinha e um raio de luz azul veio em minha direção. Esquivei-me, rolando para o lado. A magia acertou em cheio a mesa que estava atrás, fazendo os milhares de doces sobrepostos voarem desordenadamente. Senti minhas roupas ondularem, os fios curtos também.

Ficamos ambos encarando um ao outro. As armas apontadas, esperando algum movimento súbito... Então batalhamos. Ela enviava seus ataques, enquanto que eu os bloqueava. Ergui a varinha e gritei:

– Estupefaça!

Granger bloqueou o feitiço, agitando a sua arma num giro horizontal. A luta foi demorada, resultando no final um cansaço extremo. Paramos e olhamos em volta; tudo destruído. Nossas roupas rasgadas, tudo... Olhamos novamente um para o outro, deparando-se com o estado depravante. O relógio preso à parede marcava: 21:20.

Senti o pavor percorrer meus braços e a sensação de um cubo de gelo deslizar pela pele.

– Anda, temos que arrumar isso! - disse Hermione, apanhando os copos de plástico do chão.

– Nós? - balbuciei. - Foi você quem começou isso!

Ela explodiu:

– EU?! FAÇA-ME O FAVOR! VOCÊ NÃO FEZ NADA ALÉM DE FICAR ME DANDO ORDENS! NÃO PRESTA PRA NADA, NÃO SABE FAZER NADA! Sua coisa nojenta e asquerosa.

Quis naquele momento soltar milhares de palavrões para cima dela, pois a cólera me dizia isso. Mas ignorei-a; pois sons vindos do outro lado da porta me impediram.

– Depois falamos disso, agora temos que ajeitar essa coisas.

– Ótimo! - falei com raiva, apontando a varinha para o manto, mas ela segurou o meu braço e voltou a gritar:

– Idiota! Você ouviu a professora. Não podemos usar magia.

– Então quer que eles cheguem e vejam tudo isso? - estendi os braços, mostrando a bagunça; ela fez uma careta retorcida, mas acabou assentindo.

Sendo assim, ambos balançamos as varinhas e as coisas iam sendo reposicionadas em seus devidos lugares. Com a ajuda dela, a mesa foi consertada e criei um novo banquete posto sobre esta. Os balões foram enchidos e subiram até bater no teto. Os passos e murmúrios ficavam tornando-se frequentes e mais audíveis. Apressamos o processo e, quase num relance, tudo estava belo de novo.

A porta foi aberta e mais ou menos oito bruxos entraram conversando, não reparando de imediato em nós. O aniversariante, um homem baixo e carrancudo, expressou surpresa em seus gestos e agradeceu a todos; apertando-lhes as mãos. Todo mundo estava feliz, menos, é claro, Profª. Minerva. A mulher nos olhos de cima e a baixo e não gostou do que viu: dois adolescentes sujos e acabados, os cabelos despenteados e cobertos pela poeira.

– Mas o que aconteceu a vocês? Será que podem me explicar?


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