Sangue Mestiço escrita por Selenis


Capítulo 5
Piolhos; Quadribol; Um Voto de Confiança




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Piolhos

As pessoas afirmam que cada cor representa seu respectivo significado. Por exemplo; o vermelho é a paixão, o verde é a esperança. A cor-de-rosa significa o amor em si; o roxo, a inveja. O azul, a paz. Mas depois nota-se que não há um significado específico para o cinza; já que é considerado frio e morto. Ou seja, a ausência de cores. É exatamente nessas horas de reflexão que percebo o quão ignorante é o ser humano. Torna-se tão frio por dentro, que nem é capaz de perceber a lógica das coisas ao seu redor. O cinza pode ser a melhor das cores, pois nada mais é do que a fusão do preto e o branco.

Preto significa a verdadeira ausência de cores; o nada, o vazio. Enquanto que o branco representa a união de todas elas. E o que poderia surgir da fusão entre o tudo e o nada; do bem e o mal; amor e ódio; tristeza e alegria, branco e preto? Infelizmente o que muitos imbecis pensam a respeito dessas cores, são significados ridículos. Certa vez já me perguntaram: ''Por que diz coisas contraditórias das dos outros?'' Então as respondo com o mesmo grau de arrogância: ''Porque até agora não encontrei alguém tão inteligente que possua a mesma linha de raciocínio que a minha.''

Às vezes fico doente ao notar a burrice nas outras pessoas; ou melhor, nos piolhos. Posso estar soando como um inculto, um ignaro, um ignorante; mas acredito que não há palavra melhor para classificar as pessoas incultas verídicas, do que esta que acabo de falar: Piolhos. Se me referisse a cães, chamaria-os de pulgas ou carrapatos. E razão para eu batizá-los assim, é simples. Existem dois tipos de pessoas: as burras e as inteligentes. As burras podem receber o pseudônimo desse inseto irritante; pois estas não fazem mais nada do que ir pela cabeça dos outros. Ou seja, elas não tem amor próprio. E então, ao verem um ser andante intelecto, acham-no fascinante e com bastante sangue a oferecer para encher as suas barriguinhas. O que quero dizer, é: As pessoas são demasiadas preguiçosas, considerando-se inferiores aos semelhantes, que, ao verem uma pessoa inteligente, qualificam-na como superior às mesmas. Mas há um proveito de tudo isso; pois os ensinamentos sábios serão carregados para as futuras gerações. Então, somos nada menos que meros parasitas alimentando-se às custas de nossos semelhantes?

Claro que nem todos são assim; porque ainda há os que são corajosos.

Quadribol

O que se pode dizer daquilo que mais sente prazer em fazer? Para muitas pessoas, assim como para mim, um ótimo contentamento que nos faz sentir-se alto, é rebaixar os outros; atingindo aquilo que lhes mais ferem. Então, para outros, que preferem um entretenimento menos ofensivo, é o esporte. Quem não gosta de jogos? Quadribol é, sem dúvida, o melhor de todos já inventados. Sou o apanhador do time da Sonserina, e talvez o melhor já conhecido. Ainda possuía minha Nimbus 2001, encontrada do jeito que fora comprada e usada. Entretanto, o mesmo não poderia ser dito de minhas luvas e botas; todas de couro gasto e envelhecidas, chegando a um estado depravante de causar um possível nó em minhas tripas. O Quadribol era a chance oportuna para garantir um elevado número de pontos para a minha casa; e podendo assim, passar-me de ano e trazer orgulho ao meu pai. Definitivamente, eu não perderia neste jogo.

Sendo assim, vesti meu traje verde sensoriano; apertando um pouco as fivelas das caneleiras. O jogo seria contra a Grifinória, depois do almoço; o que me permitia uma ótima oportunidade de exibir meus talentos. Quando todo o time da Sonserina agrupou-se em duas filas, e o som dos gritos da plateia lá fora foi o suficiente para abafar os batimentos incessantes de meu calcanhar no chão. Gotículas de suor se aglomeravam sob o couro da luva, enquanto me agarrava ao cabo torto da vassoura. Só soube o que sentia - nervosismo - quando as cortinas enfim se abriram, e a luz incidiu em meu rosto. O campo de Quadribol estava simplesmente lotado. Bandeiras esverdeadas e alaranjadas eram erguidas das arquibancadas, e chuvas de confetes dali jorravam. O animador do jogo gritava em seu microfone, animando as turmas. Tambores eram tocados, acelerando os corações dos ouvintes e dos jogadores; e assim que meus pés encontraram a grama do campo, a vassoura pareceu escorrer entre meus dedos como uma massa pegajosa.

Posicionamos cada vassoura ao lado de seu respectivo dono. Ao horizonte, estava o time adversário: Grifinória. Meu olhar foi direto ao Santo Potter; que por sua vez, me devolveu com a mesma intensidade. Montamos as vassoura, e a Sra. Hooch caminhou até o meio do campo e, depois de fazer seu breve discurso ao que se resumia em um jogo limpo, assoprou o apito preso entre seus lábios e o jogo deu-se início.

Eu só fui me dar conta disso, ou melhor, que estava flutuando sobre a vassoura, quando algo passou numa velocidade absurda à minha frente. E fora tão forte, que balançou a minha vassoura (o que demorou um pouco para recuperar o equilíbrio).

Logo os jogadores voaram feito balas em direção aos aros. Os grifinorianos fizeram uma formação bastante ensaiada, que provavelmente tivera levado dias para ter sido realizada com perfeição. Eram cinco jogadores ao todo, formando uma seta com seus corpos. E todos tiveram o cuidado de permanecer o corpo abaixado, para que impedisse aos outros jogadores de visualizar qual deles segurava a Goles. Não me importei muito com isso, pois o meu objetivo não era passar aquela maldita bola por um daqueles aros; e sim alcançar a mais difícil de todas: O Pomo de Ouro.

Então avistei aquele pequenino raio de luz dourada passar rapidamente ante meus olhos. De imediato, voei em sua direção; seguindo o rastro luminoso que a bola veloz dava. Ziguezagueei no ar, seguindo-a; como se a bola quisesse me despistar. Esta obrigava-me a dar giros absurdos, círculos e voltas que poderiam me jogar certamente para fora da vassoura. Mais distante de mim, a Goles foi arremessada e o um artilheiro da Sonserina a apanhou, entretanto mais dois jogadores o encurralaram; ambos vindo de direções opostas, criando uma emboscada adotando a ideia de um sanduíche. Entretanto, a ação que a vítima fez, acabou por salvá-lo daquele possível choque esmagador, e garantir assim um sinal de vitória ao time sensoriano.

Ele ganhara espaço e velocidade suficientes para poder ter seu campo de visão limpo de inimigos. Eram apenas ele e o goleiro. Quanto a mim, ainda me encontrava atrás do Pomo de Ouro. Levantei a ponta do cabo torto, e fui erguido a cerca de cem metros. Avancei como um míssil, os olhos semicerrados devidos às gotículas de água que pingavam sobre. Estendi o meu braço vacilante, forçando-o a manter-se ereto em meio ao desvio brusco do vento gelado. À medida em que a distância entre o solo e eu aumentava, e o clima tornara-se tão frio, que chegava a penetrar em minha carne e congelar os ossos. Quando meus dedos estavam prestes a agarrar a bolinha dourada, percebi que estava acompanhado.

Ao meu lado, escondido entre as nuvens, feito um borrão de pintura, pude visualizar apenas suas vestes laranjas. O apanhador da Grifinória, Harry Potter. Encaramo-nos, vendo num relance de memórias todas as nossas desavenças. O alvo era o mesmo, o único. Declinei a coluna, jogando o peso do corpo para frente. Potter, entretanto, fez o mesmo. Não demorou muito para nossos ombros se chocarem, numa alta pressão. Ele também estendera seu braço; e vi que e alcançaria o Pomo antes de mim. Então, imaginando uma face enrugada que demonstrava sinais claros de decepção e raiva, os globos faiscando para cima de mim; resolvi que faria qualquer coisa para não profetizar minha visão.

Tomei coragem e com força, dei uma forte cotovelada em Potter; acertando o seu nariz. Ele primeiramente voltou-se para trás, e saiu dando giros no ar, eu vendo seu corpo desconectar-se da vassoura e despencar numa velocidade impressionante em colisão ao solo. Na minha frente estava o Pomo de Ouro, a atrás, estava um garoto prestes a morrer.

O que aconteceu a seguir, é com certeza algo que recordarei em meus últimos momentos de vida. E sem um pingo de hesitação, prendi a bolinha entre meus dedos. A vitória estava garantida.

***

Uma multidão formou-se ao meu redor. Era pelo motivo de eu carregar uma pessoa; Harry Potter. Sim, eu o havia pego. Enquanto que o levava sobre meu ombro, Potter caminhando com dificuldade e ao mesmo tempo enxugando o nariz que sangrava, não emitia uma única palavra. Carreguei minha vassoura com a mão livre, a terra se acumulando nas pontas das botas de Potter. Aquela onda de gente banhou-nos; Weasley vindo ao socorro de seu amigo. Prfª. Minerva, andando o mais rápido que podia para não perder a compostura, Longbotton limpando o catarro do queixo. Uma roda formou-se, envolvendo-os com os seus comentários ininterruptos, criando várias versões do que poderia realmente ter acontecido.

– Deixem-me passar! Deixem-me passar! Menina, sai da minha frente! - disse a voz da Sra. Hooch lá de trás, que foi aumentando assim que se aproximava.

A mulher de olhos felinos finalmente surgiu, afastando dos alunos. Foi em direção a Potter, avaliando de primeira o seu nariz quebrado. Minerva veio em seguida, acompanhada de Granger. Ambas as mulheres palparam-no, a garota demonstrando uma preocupação fora do comum; como se fosse a mãe do próprio. Ela o abraçou, pegando um lenço e enxugando cuidadosamente o sangue de Potter.

– Harry! Harry! - gritou o Weasley, me empurrando para lado e se juntando ao enojado grupinho. - Você está bem?

– Acho que sim... - Potter respondeu baixo, me olhando de esguelha; certamente não compreendendo minha atitude generosa (nem mesmo eu compreendo).

– Espere, esperem! Menino,como se machucou? - perguntou a Sra. Hooch.

Todos fizeram silêncio, esperando a resposta do garoto. Engoli um seco, temendo por qualquer palavra miserável sua que poderia indubitavelmente me condenar. Potter me olhou várias vezes, mas para não dar uma impressão de que eu fosse o culpado, olhou para os outros.

– Eu... - começou ele, todos aproximando os ouvidos para escutar melhor. - Eu...Quer dizer, um pássaro bateu em mim.

– Hã? - disseram todos, em uníssono. Disfarcei um sorriso no canto dos lábios.

– É, ele meio que surgiu do nada, sabe?

– Enfim, o importante é que está machucado. - Disse a Profª. Minerva, os alunos olhando-a com um leve espanto nos olhos. - Quer dizer, de qualquer forma, ele se machucou. Malfoy o trouxe, e há uma pergunta que ainda queremos saber. Qual de vocês dois pegou o Pomo de Ouro?

Mais uma vez o silêncio. Sra. Hooch, desconfiando seriamente de mim, palpou minhas vestes, e não encontrando nenhum volume suspeito em seu revistamento, desferiu-me um olhar penetrante.

– O Pomo não está com ele. - Disse ela.

Fiz uma cara de espanto, olhando por debaixo da capa, e procurando em todos os bolsos. Não havia o sinal que comprovaria minha vitória. Bufei de raiva, vendo a mulher ajoelhar-se perante ao garoto ferido e fazer-lhe a mesma pergunta de Minerva. Potter fez um gesto de que estava confuso, e não soube responder. Mas ao tentar se levantar, sentiu um desconforto na caneleira e, voltando a cair sentado no chão, enfiou a mão dentro da veste e tirou de lá o que tanto o importunava: O Pomo de Ouro.

Seus olhos faltaram sair para fora da caixa craniana. Granger ficou séria, e me fitou.

– E o vencedor é Grifinória!- gritou Sra. Hooch.

Houve uma salva de palmas, gritos delirantes e uma chuva de confetes. Joguei minha vassoura no chão, enfurecido.

Um Voto de Confiança

Depois do jogo, eu me dirigi sozinho para o meu quarto. Enquanto que andava pelo corredor, dei de cara com uma garota; e não fique surpreso ao saber que se tratava de Granger. Ela estava de braços cruzados, tamborilando um dedo. Ao mesmo tempo me olhava como se soubesse de um segredo meu. Olhei para o teto e para o piso.

– O que você quer? - perguntei.

– Respostas.

– Seja mais clara. - Andei em sua direção oposta.

– Eu vi você colocando o Pomo de Ouro na caneleira de Harry, Malfoy. E ainda mais, eu vi você salvando-o daquela queda.

Gelei. Para evitar que a vergonha fosse maior, menti todas aquelas afirmações. Mas isso não pareceu de fato afetá-la. Passei por ela, mas parei a um metro ao ouvi-la dizer:

– Eu não sei por quê fez aquilo, mas ainda bem que fez. Draco, talvez você não seja como age que é.

Mais uma vez uma relação aos Piolhos. Ao que tudo indicava, essa praga estava proliferando com mais rapidez que imaginava.


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