O dia em que aprendi a voar e outros contos escrita por Ana Gabriela Pacheco


Capítulo 4
O dia em que eu (s/m)orri.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, me dediquei muito e até me emocionei, boa leitura:



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Quero contar hoje a história do dia em que morri.

Sabem, era um dia comum. Literalmente comum, como muitos outros dias foram e irão ser. Era um dia calmo, não diria que bonito, já que hoje não sei diferenciar a beleza de um dia, por que para mim, todos foram.

Nesse dia, lá estava eu, como uma pessoa comum. Quer dizer, eu fui uma pessoa comum a minha vida inteira, nunca fui daqueles de fazer besteiras, ser rico e não estudar, pensar em fugir ou me matar, etc. Fui uma criança comum, um aluno comum, um filho comum, um namorado comum, um pai comum. Na verdade, hoje eu penso no como eu era feliz sendo comum, quer dizer, as pessoas ainda reclamam disso?

Eu sorria muito, desde criança. E meu pai apreciava sorrisos, afinal ele era dentista. Ia mencionar que ele se casou com uma malabarista de circo uma vez, mas acredito que não seja muito incomum também. Em fim, eu sorria muito mesmo e gostava de ver outras pessoas sorrirem, por que meu pai dizia que quanto mais sorrisos, mais luminoso era o dia. E eu gostava muito disso.

Na minha adolescência, não sofri preconceitos por ser inteligente, magro e cheio de espinhas. Tinham muitos outros garotos como eu na época, os valentões não eram tão valentões para dar conta de todos nós. Assim sendo, sem trauma algum, fui um adolescente comum e acredite se quiser eu namorei muito.

Na minha época as meninas adoravam caras que davam valor ao que elas eram e não ao que aparentavam ser. Não importava se ela era bonita, popular ou que tipo de roupa ela usava, ela tinha algo por dentro e as vezes era bom ver.

Teve uma menina que eu me apaixonei perdidamente, o nome dela era Susana. Susana não era o tipo de garota que os garotos iam pra cima, ela vivia de coque, óculos e aparelho. Mesmo assim, Susana era uma boa amiga, uma linda mulher e ótima pessoa.Dois anos depois do nosso relacionamento, nos casamos. Sim, olhe só! Eu me casei com ela, a mulher da minha vida. Tivemos dois filhos; o Pedro e a Clara. Três anos depois que nossos filhos nasceram, Susana adoeceu e morreu de câncer de mama. Foi um ano difícil para meus filhos.

Quando Clara completou cinco anos, começou a apresentar sinais de hiperatividade após ir ao médico, muitas vezes eu a levava para o hospital ou quando ela estava menos elétrica, dava remédios em casa.

Pedro e Clara cresceram normalmente, estudaram normalmente, se casaram normalmente. A ausência da mãe não os afetou em nada, assim como a hiperatividade de Clara. Eu me lembro hoje, que eu gostava muito de fazer os dois sorrirem, meu pai já havia falecido porém eu sempre levava o que ele me ensinou e também ensinei aos meus filhos.

Já debilitado por demais, eu fui levado para um asilo e eu realmente nunca gostei de lá. Era trancado, cheirava a naftalina e algumas pessoas, não só os velhinhos, eram insuportáveis.

Eu resumi bem toda minha vida? Quer dizer, não tem absolutamente nada de interessante nela, a não ser o fato de que eu morri. ( e que meu pai teve seu décimo-oitavo casamento com uma malabarista.)

O fato é que, eu realmente fui uma pessoa comum. Depois de Susana nunca mais me casei por que nunca mais encontrei o amor. Susana tinha me ensinado que só podemos realmente dar um passo à frente, quando tivermos certeza que a outra pessoa não se afastará um passo, porque o amor é como uma dança e para dar certo, os dois precisam estar combinados sem saber que estão.

Agora, o que vocês devem estar se perguntando é; por que você fala tanto que foi uma pessoa comum?

É bem simples meu caro (a), eu nasci saudável, cresci saudável e me apaixonei. Me apaixonei perdidamente por uma pessoa que ainda amo. Depois que me apaixonei não sei se fui comum, eu era um doido ao lado dela. Porém, por mais que eu tentasse ser diferente de todos os homens do mundo, eu sempre fui eu mesmo, ainda sim, fui o cara que ela amou. Que ela ama.

Percebi eu, que hoje em dia as pessoas não gostam da palavra comum. Elas querem tudo que é diferente e que possa chamar atenção delas, escutem o conselho de um velho morto, sejam vocês, sejam comuns, não importa que pareça tão simples, tão monótono, vocês ainda tem algo por dentro não tem?

Ao começar essa história, eu queria na verdade obter a resposta da pergunta, que era; de todos, por que eu? Mas isso, essa pergunta, é tão vazia quanto todos vocês que querem chamar atenção. Não existe um por que eu, não existe um por que comigo e não existem milhões você.

A mensagem que quero passar agora é, não importa que muitas pessoas tenham o mesmo nome que você, que muitas pessoas tenham os olhos da mesma cor que os seus, que muitas pessoas comprem algo que você comprou. O que você comprou, foi por que você gosta disso, os seus olhos tem brilhos diferentes do dos outros e o seu nome é chamado por pessoas que amam você e não as pessoas com o mesmo nome.

No dia em que lá estava eu em leito por demasiado, vi Clara, Pedro e meus netos. Mas ao meu lado, segurando as minhas mãos eu vi duas pessoas muito importantes; Meu pai e Susana. Lá estavam eles, segurando minhas mãos e eu me senti completo pela primeira vez na vida. Me senti livre, desabrochando como uma flor de dentro para fora.

Eu não me lembro minhas últimas palavras. Sei eu que, derramei lágrimas, sorrindo ouvi o bater de asas de uma borboleta e em meu ouvido disse meu pai;

Seu sorriso iluminou do seu modo, mas agora chegou a hora de dar espaço à novos sorrisos.

Acho que eu respondi algo. Eu não sei. Mas sei que, não importa o quão comum eu seja, pareça ser ou fui. Eu fui eu, com meu próprio sorriso e espero que você seja com o seu.

 


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews, espero que tenham gostado e até a próxima!



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