O dia em que aprendi a voar e outros contos escrita por Ana Gabriela Pacheco


Capítulo 15
O dia em que vi uma fada.




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Você acredita em fadas? Não em contos de fadas, com sapos e princesas, coroas e tranças, mas em fadas, as fadinhas com o pózinho mágico da cura, varinha de condão e tão pequenas quanto vagalumes, as que se perdem nas florestas, as lendas, de vestidos coloridos e asas mais bonitas que de borboletas.

Nomeados loucos aqueles que acreditam terem vistos, nomeados falsos cientistas aqueles que acreditam terem uma prova de que elas existem, ou que existiram. Mas você, em sua vida, acredita em fadas?

Aquelas luzes pequenas que aparecem no nosso escuro interior pra tirar esse mal de todos nós, elas existem? Desde os tempos antigos, fadas, seres sobrenaturais eram muito comentados entre reinos e camponeses.

Eu, em meu eu interior, acredito em fadas. Exatamente isso. Eu acredito em fadas, as fadas que nos salvam e que são apenas seres de luz, do bem. São nessas pequenas coisinhas brilhantes que eu acredito.

Quando eu era pequena, eu queria ver fadas, a todo custo. Quando cresci, eu realmente não via futuro em nada que eu fizesse, comecei a fumar e beber.

Parei logo depois que engravidei e durante a gestação, não sabia o que era ficar bêbada até o amanhecer. Sofia era uma bebê quieta e mamava pouco, quando ela começou a tomar mamadeira, simplesmente ''joguei tudo pro alto'' e bebia e fumava como um louco cheio de dinheiro em um bar.

Não ligo pra quem era o pai de Sofia, fiz ''amor'' com tantos caras que não poderia imaginar quem seria, nem mesmo pagar testes de DNA, nenhum deles procurou saber de mim depois, e outros morreram de overdose, troca de tiro com polícia, entre outros.

Sofia ganhou uma máquina velha de seu avô, daquelas de tirar fotos Polaroid e vivia tirando foto de bonecos de cigarro divertidos e rostinhos que desenhava em garrafas de whisky.Sofia também ganhou de seu avô um velho tule, bem fofinho e maior que ela, asas que prendiam e uma varinha de plástico de condão.

'Mamãe, fadas existem?

Não, são histórias pra ciranças.

Mas vovô disse que existem e que você acreditava nelas...

Seu vô só diz merda, querida, não ligue, ele está gaga demais pra se lembrar do que realmente existe ou não.

Mas você acreditava?

Pra falar a verdade sim, acreditava que fadas eram do bem e tudo mais.

Quero ser uma fada!Quero ser uma fada!'

Sofia nunca tirava o tule,asas e nunca largava a varinha, nem mesmo para comer ou tomar banho. Quando o gliter dela saía, ela colocava mais. um dia ela pediu pra que eu tirasse uma foto dela, como eu não estava muito bem, ela saiu meio torta.

Em uma conversa entre nós duas, quando eu enchia a cara e chegava a engasgar com a fumaça do cigarro enquanto víamos um desenho velho, perguntei por que ela nunca tirava aquela roupa suja e ela me deu a resposta mais insensata, por assim dizer, e pura que uma criança poderia dar:

'Fadas existem e basta acreditar nelas, você acreditava mamãe, eu quero ser uma fada pra que você acredite em mim.Eu posso, eu consigo qualquer coisa mamãe, só quero que volte a acreditar.

Acreditar em você?

Nas fadas mamãe, aquelas luzes que tiram o nosso mal de dentro, pequenas pessoas do bem, que nos fazem um grande bem. Acredite mamãe, tira o mal...'

Imagine-se no meu lugar, diante daquela criança que eu tinha. Pele rosada, cabelos castanhos ondulados e olhos escuros como a noite, exatamente como eu era, mas diferente de mim, ela tinha pureza no olhar e respostas que nem mesmo um adulto poderia formular.

Sofia morreu de câncer no pulmão três meses depois dessa conversa.

Eu entrei numa clínica de reabilitação para fumantes e também parei de beber. Quando via as fotos que ela tirava, sempre tinham cigarros ou garrafas com rostos tristes no meio. Sabe o quanto me doí, saber que a única coisa a qual eu me agarrava, foi embora? Todas as noites, víamos desenhos juntas, eu havia aprendido a cozinhar e de sexta-feira comíamos os bolinhos de arroz fritos que eu fazia, os prediletos dela.

Sofia era pura, podia-se dizer que saudável. Sofia era comportada e quando bebê, mal chorava. Eu não sei se ela podia ver que eu estava em uma má fase, mas se ela realmente viu, compreendeu até um ponto, ela provavelmente viu que eu não saía da má fase, pra me tirar da escuridão..

Ela foi-se.

Minha pequena luzinha, que me trouxe uma felicidade tão grande.Uma felicidade imensa, parecia que eu ia explodir, quando eu sorria, não estava bêbada, estava alegre. Quando ela dizia que queria ser uma fada, eu realmente queria poder dizer que ela já era uma, tão boazinha quanto.

Sofia, obrigado por iluminar meu caminho como as fadas fazem, a fada que eu procurei a vida inteira, achei em você.

Onde quer que você esteja, em qualquer floresta encantada, voando como uma borboleta, brilhando como um vaga-lume, seja feliz.

Eu acredito, acredito em fadas.Eu acredito em você.


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Notas finais do capítulo

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