Lá estava eu, passando na ponte que me trazia más lembranças. Lembranças essas que eu gostaria de esquecer. Quando tudo ao meu redor estava desabando, quando eu já havia desistido e não via esperança.

Eu apenas ia passar, seguir meu caminho, viver essa vida que eu ainda tentava consertar e dar sentido, mas vi um garoto alto na beira da ponte, com uma faca na mão. O garoto olhava para o chão que parecia tão longe, o chamando. Eu entendia ele, naquele momento, eu fiquei chocada.

No dia em que tentei me matar, eu chorava. Meus cabelos estavam soltos e escondiam meu rosto, a única coisa que eu podia ver era o chão e minhas lágrimas caindo até ele. Eu não via mais nada, eu não conseguia e nem queria, eu queria achar algo que pudesse me tirar dali e eu achei.

Ao encontro dos meus olhos, uma borboleta saindo de um casulo. No ano em que minha mãe morreu, ela havia dito que a borboleta era o símbolo da felicidade e transformação, uma esperança, uma ressureição. Era engraçado como a natureza trabalhava, abaixo da ponte, dois casulos. Um aberto e outro abrindo na minha frente. Quando ela finalmente saiu, eu me prendi na grade e sequei minhas lágrimas, ela me rodiou e voou pra longe.

Mamãe dizia que quando uma borboleta passava por você significava que um ente querido sentia saudade. Naquele dia eu vi, mamãe sentia saudade, mas precisava que eu ficasse. Por que eu precisava ficar? Qual era o motivo de tudo isso? Eu realmente ainda tinha uma vida pela frente? Alguma esperança?

Eu fui até o garoto o chamei e ele se virou lentamente dizendo:

—Você não pode fazer nada pra me impedir, vá embora.

—Eu não vou te empedir, quero te dizer uma coisa antes que faça isso.- respondi.- Há três anos eu tentei me matar exatamente onde você está, eu chorava muito, mas então uma borboleta veio até mim. Ela me mostrou que ainda existe esperança, que ainda existe vida dentro de nós e que não existe motivo pra parar. Qualquer que seja seu motivo pra fazer isso, esqueça-o.

Num impulso, sem pensar nem por um segundo, coloquei meus braços em volta do pescoço dele e o puxei contra mim. Fechei os olhos e beijei-o. Lentamente, eu comecei a ver que ele reagia, ele tinha um beijo tão doce, tão calmo. O gosto se tornou agridoce logo depois, quando vi que ele havia deixado cair algumas lágrimas.

Soltei ele e sorri de forma sincera, pois naquele estado, era o que ele precisava, de esperança, eu apenas disse:

—Eu entendo você, de verdade. Só não desista de viver.

Eu não sei o que as pessoas esperem que eu diga, algo como: ele agradeceu e pulou. Não, não é assim que o destino trabalha.

Eu sei como a vida funciona, fui aprendendo pouco a pouco, com toda a esperança que a vida me deu, essa esperança que requer esforços.

Shen Yu o nome dele.' A chuva que nos faz refletir.'

Eu não sei muito bem se ele é como a chuva, mas suas lágrimas são salgadas. Eu reclamo com ele as vezes, ele apenas ri.

Huan Yue nosso pequeno e alegre menino, que brinca no parque e que nos dá esperança todos os dias. Ele perguntava toda vez que ia na ponte, mesmo eu contando milhões de vezes;

—Como você e papai se conheceram?

E eu sempre contava, do mesmo jeitinho;

—Seu pai, Shen Yu é um grande homem, o melhor que eu conheço. Quando tudo estava ruim, ele não desistiu.

—Mas isso foi por que você salvou ele, não foi mamãe?

—Acredito que não tenha sido só por isso, ele viu esperança. E dessa esperança veio você.

Quando Huan Yue, meu pequeno menino acha que deve desistir, seu pai lhe dá um beijo na testa, e diz:

Quando há esperança, há vida. Não desista nunca.

Ele não vai desistir, mesmo quando formos. Assim como lagartas entram no casulo, assim como viram borboletas com lindas asas, assim como rodeiam as pessoas mostrando a esperança, Huan Yue não vai desistir.

Eu; Liu Wenxiu, vejo no fundo do meu coração, esperança em todas as pessoas.

Você! Não desista, as borboletas estão por aqui.