Realeza em tanto escrita por Li


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Estava implícita a ordem no tom de voz do príncipe que nós iríamos conversar quer eu quisesse, quer eu não quisesse.

–Alteza, não vai ser possível. Não deve saber mas eu tive de folga ontem e por isso o meu trabalho está atrasado. – respondo. Eu preciso de tempo, possivelmente vou ser despedida ou presa por agressão a um elemento da família real.

–Não quero saber. Podias ter todo o trabalho do mundo que não me interessa. Nós vamos falar, isto é uma ordem. – ele parecia furioso, talvez por eu não ter obedecido à primeira obrigando-o a repetir. Ele até pode ser o príncipe mas não é mais que os outros. Ai ele está chateado por eu não querer falar com ele? Eu estou extremamente furiosa por aquilo que ele queria fazer comigo e não é por isso que quase grito com ele.

–Quer conversar? Então vamos conversar. O que a Alteza Real vai querer de uma mera criada? – perguntei sarcasticamente e espero bem que ele tenha percebido o meu tom para ver o desprezo que tenho por ele neste momento e me deixar em paz.

–Quero saber o que te deu há dois dias atrás para me agredires? – agressão? Sim até eu considerei que a simples palmada que dei tinha sido agressão mas por amor de Deus foi só uma sapatada na mão.

–Eu não gosto de ser tocada por estranhos, simples. Sei que não o deveria ter “agredido” – fiz aspas com os dedos, não resisti – mas foi puro impulso.

–Então se foi só isso porque fugiste a seguir? – ele era persistente. Esta conversa não acabaria até ele acreditar totalmente nas minhas palavras e eu faria o possível para isso acontecer.

–Fiquei assustada com tudo. Por o ter “agredido” sem intenção e preocupada por poder perder o meu emprego que é muito importante para mim. – o que acabei que dizer é tudo verdade só faltou a parte do “você ia querer algo mais e eu não queria”.

–Não acredito! – ele afirmou e eu abri a boca em sinal de admiração. Estava chocada. Como ele poderia afirmar isso, ele não me conhece de lado nenhum para saber se eu estou a mentir ou a falar a verdade. Eu, apesar de não gostar de mentir nem de mentiras, sei mentir.

–Como…como assim não acredita? – eu nem conseguia falar direito.

–Eu sou uma pessoa muito observadora e consigo ver quase sempre quando uma pessoa está a falar a verdade ou a mentir e neste momento eu digo-te, o que tu falaste até pode ser verdade mas não é a verdade toda. Consigo ver os sinais no teu corpo. Não paras de balançar e de enrolar o cabelo nos dedos. – eu nem tinha reparado que estava a fazer isso até o príncipe falar. Rapidamente larguei o cabelo e pus-me o mais quieta que conseguiu. - São sinais de nervosismo e esse nervosismo não deveria existir se tu tivesses a falar completamente a verdade, por isso quero que sejas completamente honesta comigo e me digas o que realmente se passou há dois dias atrás. – ele estava decidido a descobrir a verdade e eu não tinha por onde escapar. Se ele queria a verdade, ele a teria.

–Quer honestidade? Então eu vou ser honesta. Eu compreendo que ser príncipe não seja fácil e muitas das vezes se sinta sozinho mas daí a seduzir uma criada do palácio é demais até para si.

–Assediar? – ele parecia incrédulo com o que eu acabara de afirmar.

–Sim assediar. E depois há aquelas que aproveitam mas eu não sou assim. Eu estou aqui pelo meu trabalho e por mais nada e por isso peço-lhe, por favor – dei ênfase no por favor – para que não me volte a tentar tocar. A rapariga com quem ficou no outro dia não se vai importar de repetir a dose. – ele parecia cada vez mais chocado ao longo do meu discurso, como era possível. Ou ele não faz a mínima ideia do que estou a falar ou é um grande ator, teria sucesso em Hollywood. Não, ele tem de saber do que estou a falar, por que razão a Alison inventaria esta história. Ela estava a contar apenas à Yara, eu ouvi por mero acaso.

–Eu não admito que levantem falsos testemunhos sobre mim. – gritou. Parecia…irritado? Então ele envolve-se com as criadas do palácio e agora está a fazer-se de vítima.

–Mas eu não estou a levantar falsos testemunhos. Se alguém me tivesse contado que ouviu tal coisa eu até poderia duvidar visto que não foi ouvido por mim mas eu ouvi muito bem uma das criadas dizer que a sua Alteza Real a tinha seduzido e, como era isso que ela queria, aproveitou.

–Eu ordeno que me digas quem foi a criada que disse essas barbaridades sobre mim. – o tom dele assustou-me. - Eu sou o príncipe, não admito que sejam espalhados boatos sobre mim.

–Para quê? Para a despedir? Eu não gosto da pessoa em questão mas neste caso não foi só ela a culpada. Para fazer o que fizeram são precisas duas pessoas. – apesar de o príncipe me ter assustado eu teria de manter o meu tom firme para não demonstrar medo. Medo seria a última coisa que ele veria.

–Claro que é para despedir. Eu deveria mandar prendê-la por injúrias contra um elemento da família real mas sou bondoso o suficiente para a mandar somente embora.

–Uma pessoa que é bondosa não admite que o é. – talvez agora tenha abusado e isto pode-me custar o emprego e todo o objetivo de levar a minha mãe e os meus irmãos para longe do meu pai mas foi mais forte que eu. – Desculpe lá mas se ela somente contou o que aconteceu que culpa tem ela a mais que Vossa Alteza Real? Se não queria que isto se soubesse não se teria envolvido com ela.

–Não aconteceu nada do que tu estás a dizer, isso é tudo uma grande mentira. Eu nunca me envolveria com uma criada. – disse o príncipe. Ele parecia completamente sincero no que acabara de dizer.

–Bom saber que o futuro rei de Lusitana vê o seu povo pelas classes sociais a ponto de não socializar com as classes mais baixas. – eu estava completamente indignada com o que ele afirmara. Sim, ele tinha acabado de dizer com todas as letras que não se envolveria com uma criada e parecia-me honesto mas também dizer que nunca se envolveria é demais, ele não sabe o dia de amanhã e o amor da vida dele pode ser uma criada do palácio ou uma simples cidadã de Lusitana. Um príncipe ou uma princesa poderia se apaixonar perfeitamente por um plebeu e ficar com ele sem olhar a classes. Isto faz-me lembrar a conversa que tive há uns dias com Selena sobre casamentos arranjados.

–Eu não te admito que fales comigo nesse tom, eu sou teu soberano. E eu não quis dizer isso. O que eu quis dizer é que nunca me envolveria com uma criada por simples desejo. Isso só aconteceria se houvesses algum sentimento de mim para ela. – a cada palavra que o príncipe dizia parecia-me sincero. Seria possível que Alison tenha inventado toda esta história?

–Suponhamos que eu acredito nessa história que acabou de me contar. Que razão teria a Al... – quase me descaía no nome – a pessoa em questão para inventar tudo isto? – esta história estava cada vez mais confusa.

–Não sei e é por isso Alexia que eu preciso de saber o nome da criada. Preciso de saber porque ela inventou tudo isto. – ele parecia cansado desta história.

–E depois despedi-la?

–Sim, depois de conversar com ela, despeço-a.

–Não faça isso. Eu posso não gostar dela mas tenho a certeza que, se ela se sujeitou a este emprego, tem uma família que está a contar com o dinheiro ao fim do mês e eu não posso permitir que toda a família paga pelos erros dela.

–E o que sugeres então?

–Sugiro que em troca do nome vossa Alteza me prometa que não a despedirá. Peça para que a mudem de posto e assim nunca mais olhará para ela e vice-versa. – era o melhor que eu poderia fazer por Alison e já estava a fazer muito até porque eu não gostava minimamente dela.

–Está bem, posso fazer isso e espero não me vir a arrepender mais tarde. Agora o nome. – pediu-me o príncipe.

–Alison, não sei o apelido, mas consegue descobri-la rapidamente. Ela faz a limpeza do seu quarto. – acabei contando tudo.

–Eu não acredito! Aproveitou o facto de ter essa função para dizer que se envolveu comigo. Inacreditável! Vou imediatamente falar com ela. – o príncipe preparava-se para sair do quarto de Selena mas eu impedi-o.

–Só mais uma coisa Alteza.

–Diz. Não me digas que é agora que vais pedir desculpa? – perguntou-me com um sorriso de lado. Apesar de estar completamente desconfiada desta história também sou mulher e continuo a dizer que qualquer sorriso do príncipe, quer este quer aquele simpático que ele deu quando nos vimos pela primeira vez são maravilhosos.

–Ainda não pois eu não sei se está a falar a verdade. Eu quero ir consigo. – pedi.

–Ir comigo? – perguntou chocado o príncipe. Para mim aquilo era um simples pedido.

–Sim consigo. Quando for falar com ela eu quero estar lá. Mas para ter a certeza de quem falou a verdade, eu estarei escondida para a Alison não saber que eu lá estou e falar de livre e espontânea vontade. – algo me dizia que quem falava a verdade era o príncipe mas eu precisava de tirar esta história a limpo.

–Tudo bem, se para acreditares é preciso fazermos assim, assim faremos. Agora vamos que eu ainda tenho muito que fazer.

–Está bem. Ela a esta hora já deve estar no seu quarto. –deduzi.

–Muito bem. Então é para lá que iremos.

Saímos e seguimos até aos aposentos do príncipe que se situavam no fundo do corredor no mesmo andar que o quarto de Selena. Como Alison se encontrava dentro do quarto, esperamos que ela saísse para que assim entrássemos sem sermos vistos, o que aconteceu pouco depois de termos chegado. Eu fui para o closet do príncipe deixando a porta um pouco aberta para que eu pudesse ouvir a conversa. O príncipe sentou-se na poltrona enquanto analisava uns papéis. Pouco depois ouvi a porta abrir-se e vi que quem tinha acabado de entrar fora Alison. Agora ia começar o espectáculo e eu iria descobrir a verdade.

–Alison preciso de falar contigo. – falou o príncipe no seu tom autoritário.

–De que precisa Vossa Alteza Real? – perguntou Alison.

–Chegou-me aos ouvidos que a senhorita disse que se tinha envolvido comigo. Eu pergunto-me como é que isso foi possível? – vi Alison a ficar tensa com a pergunta que o príncipe acabara de fazer.

–Desculpe? – Alison fez-se de desentendida.

–Ouviste muito bem. Que história é essa? E quero a verdade, não vale a pena mentir pois eu saberei se isso acontecer. – disse o príncipe. Eu ainda me perguntava como é que ele notava quando uma pessoa mentia ou falava a verdade. É verdade que às vezes dá para notar isso, mas não acontece sempre.

–A…hum…

–Fala Alison. – ordenou o príncipe. Notei que ele estava a perder a paciência.

–Sim é verdade. – murmurou Alison o suficiente para que eu conseguisse ouvir.

–E posso saber porque fizeste isso? Qual o teu interesse na invenção desta história? – o príncipe estava completamente irritado.

–Eu queria que sentissem inveja de mim por eu o ter conseguido só para mim por pelo menos uma vez. – respondeu Alison.

–MAS ISSO NÃO ACONTECEU! - berrou o príncipe. - Como foste capaz disso? Podias ser presa por proferires falsos testemunhos contra a família real!

–Desculpe Alteza. Eu não deveria ter inventado esta história. – e aqui estava a confirmação de que, até agora, o príncipe falara a verdade. E eu, desde o princípio, fui injusta com ele não acreditando na sua palavra. Mas também, como o poderia fazer depois do que tinha acabado de ouvir Alison falar, era muito difícil acreditar nele. Eu sabia que Alison não era flor que se cheire mas daí a ter inventado toda esta história mirabolante era demais. Até para ela. Agora só me restava, no fim da conversa entre o príncipe e a Alison, pedir desculpas ao príncipe.


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Notas finais do capítulo

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