A dor que estava a sentir na barriga era horrível, só me apetecia gritar.

–Isto é para aprenderes a respeitar o teu pai. – berrou o meu pai. Saiu em seguida deixando-me sozinha e a sangrar.

Voltei a olhar para a parte do meu corpo que sangrava e percebi o porquê daquilo. Era possível ver um dos fragmentos da mesa de vidro espetado na minha barriga. Levantei-me gemendo de dor. Eu tinha de chegar a casa da Diana. Era a minha única hipótese. Pensei nos meus irmãos. Pensei na minha mãe. O que aconteceria com eles se eu não voltasse ao palácio? Viveriam para sempre nas mãos do meu pai e isso eu não podia permitir. Reuni toda a minha força e segui até à casa da Diana cambaleando. Bati à porta e por sorte Diana rapidamente a abriu.

–Mas o que se… - apontei para a minha barriga fazendo com que Diana entendesse a gravidade da situação.

Levou-me rapidamente para dentro e deitou-me no sofá.

–Querida eu vou ter que te tirar o vidro da barriga. Vai doer um bocado. – disse Diana e eu apenas concordei.

Quando ela tirou o vidro da minha barriga, eu berrei bem alto devido à dor alucinante que senti. Diana acalmou-me e continuou. Desinfetou o corte e por fim colocou um penso.

–Alexia o que é que aconteceu? – perguntou Diana preocupada. Eu ainda estava a recuperar das dores alucinantes que senti nos últimos momentos mas mesmo assim respondi.

–Apenas caí. – menti.

–Alexia não mintas. Eu ando há muitos anos a cuidar da tua mãe. Foi o teu pai que te fez isso? – perguntou Diana. Eu apenas desviei o olhar em sinal de confirmação. – A tua mãe precisa de saber.

–Não! – gritei.

Nesse momento Anita entrou na sala.

–Mamã vi a dona Maryanne chegar a casa. – disse Anita. Ela olhou para mim assustada devido, possivelmente, aos meus gritos.

–Por favor Diana, não lhe conte. – supliquei a Diana. A última coisa que eu precisava neste momento era que a minha mãe ficasse a saber o que o meu pai tinha feito.

–Desculpa querida mas não posso esconder uma coisa destas à tua mãe. – disse Diana e virou-se par Anita – Amor, ficas aqui um bocadinho com a Alexia? A mãe precisa de falar com a Maryanne.

–Claro mamã. – respondeu Anita sorridente ao sentir que podia ajudar.

Diana saiu para falar com a minha mãe. Pouco tempo depois, vi a minha mãe entrar a corredor pela casa de Diana ajoelhando-se ao meu lado.

–Alexia, oh Alexia. – chorava a minha mãe – O que é que aconteceu?

–Aquele porco levantou a mão à Maria. Ele ia bater-lhe mãe. – disse chorosa. – E eu impedi. Eu não conseguiria ver e ficar parada sem fazer nada. Ele ia bater-lhe…

–Oh querida. – a minha mãe abraçou-me e choramos juntas. Era inacreditável ao que um homem podia chegar. Bater na própria mulher. Bater nos próprios filhos. Bater numa criança de apenas doze anos. Agora tinha certeza de uma coisa, eu precisava de tirar os meus irmãos e a minha mãe o mais rápido possível daquela casa se não algo de ainda mais grave aconteceria.

–Mãe. – chamei-a. Ela afastou-se e olhou-me nos olhos – Vocês têm de sair daquela casa o mais rápido possível, ele está cada vez pior.

–No próximo mês Alexia, no próximo mês nós saímos. – disse a minha mãe – Eu garanto-te que ele não tocará com um dedo que seja nos teus irmãos.

Passamos o resto do dia em nossa casa. Apenas eu e a minha mãe. Por sorte, o meu pai não apareceu. E foi melhor assim porque não queria dar de caras com ele.

Ao fim do dia, a minha mãe foi buscar os meus irmãos à escola. Mal entraram em casa, Maria veio a correr até mim.

–Xia estás bem? – perguntou Maria completamente preocupada.

–Estou. – respondi. Eu e a minha mãe tínhamos combinado ocultar o que realmente se tinha passado aos meus irmãos, era melhor que eles não soubessem que tipo de pai tinham.

–Mesmo?

–Sim Maria. Senta aqui. – indiquei o sofá onde estava deitada para ela se sentar. Sentei-me também, a custo, evitando qualquer evidência de que estava ferida – Maria preciso que faças uma coisa.

–Diz Xia, eu faço tudo o que pedires. – disse Maria olhando para mim com os seus grandes olhos azuis.

–Enquanto eu não estiver cá obedece sempre ao pai, está bem? – pedi. Era a única hipótese de ele não lhe fazer nada. – E sempre que quiseres pedir alguma coisa, pede à mãe nunca ao pai, entendido? E diz ao David para fazer o mesmo.

–Sim Xia, vou fazer tudo como disseste.

–Ainda bem. – consegui ficar um pouco mais aliviada. Assim o meu pai não teria razão para lhes fazer mal, apesar de ele às vezes não ter justificação para o fazer – Só mais uma coisa, o que estavas a falar com o pai hoje de manhã?

–Eu só estava a pedir dinheiro para mim e para o David. – respondeu Maria. Estava esclarecido o mistério. Ele estava prestes a bater na filha por que ela lhe estava a pedir dinheiro. Cada vez sinto mais nojo daquele homem.

–Pronto a partir de agora fazes como te disse. Agora tenho de voltar para o trabalho.

Já era de noite e eu tinha de apanhar o autocarro para o palácio. Despedi-me dos meus irmãos e da minha mãe e segui viagem.

Entrei pela cozinha onde muitos dos criados jantavam. Entre eles estava Ethan. Fiz-lhe sinal para falar mais tarde com ele. Segui para o meu quarto para guardar as poucas coisas que tinha trazido. Infelizmente dei de caras com Alison.

–Olha se não é a sonsa. Pensei que tinhas sido despedida. Era um bem para a humanidade. – provocou Alison.

–Ao contrário de ti que andas para aí a inventar histórias com o príncipe, eu trabalho. – respondi. Alison ia respondeu mas felizmente Ethan apareceu. Alison não disse mais nada e saiu. – Cada vez detesto mais esta gaja.

–Esquece a Alison e diz-me o que querias. – pediu Ethan. Pelo tom de voz notava-se que estava curioso. Contei-lhe que o meu pai levantara a mão à minha irmã e que eu intrometi-me no meio acabando por ser eu a ser agredida. Mostrei-lhe o que o meu pai tinha feito. Contei-lhe que tinha sido a mãe dele a fazer o curativo e, consequentemente, a minha mãe descobrira que o meu pai me batera.

–Não acredito que o teu pai tentou bater na Maria só porque ela lhe pediu dinheiro. - disse Ethan incrédulo.

–Ele está completamente louco, eu tenho de os tirar de lá.

–Se precisares de ajuda, já sabes. – disse Ethan e eu abracei-o. Fomos interrompidos pela chegada de Malia.

–Fiquem à vontade, tenho de ir falar com a princesa.

Saí e encaminhei-me até aos aposentos de Selena. O que eu falei foi uma desculpa para deixá-los porque eu sabia que eles não tinham muitos momentos para ficar sozinhos. Aproveitei também para ver se conseguia falar com Killian, afinal tínhamos uma conversa pendente. Mas todos os meus planos saíram furados. Quando estava a virar para o corredor onde ficavam os quartos de Killian e Selena, avistei Killian acompanhado pela princesa Eva. Virei rapidamente retornando ao quarto. Tinham-se passado dois dias mas parece que foi o suficiente para Killian se apaixonar por Eva. Até ao quarto dele, ele já a leva. QUE RAIVA!

Entrei sem dar quaisquer explicações a Ethan e a Malia. Eles bem tentaram saber o que se tinha passado mas eu não queria falar com ninguém.

No dia seguinte acordei à hora habitual, preparei-me e fui até ao quarto de Selena. Mas quando entrei, não era Selena que lá estava mas sim Killian sentado numa das poltronas.

–Isto está a começar a tornar-se repetitivo. – disse fazendo referência à primeira vez que Killian me procurou no quarto de Selena.

–É verdade. Eu tenho tendência para vir atrás de ti. – corei com o comentário dele mas rapidamente me recompus ao lembrar-me da noite anterior. – Lembraste que temos uma conversa pendente? – perguntou Killian levantando-se e aproximando-se de mim. Quando estava perto o suficiente, esquivei-me e afastei-me dele. – Que se passa?

–Acho que devias de estar com a tua noiva. – Killian não percebeu a onde eu queria chegar com aquela conversa e eu prossegui sem me conter - Vocês ontem estavam muito animados.

–A sério Alexia? Ciúmes a estas horas? Tu sabes bem que ela é minha noiva e eu sou obrigado a conviver com ela.

–Mas vocês ontem estavam tão animados…

–Lá por eu não estar apaixonado por ela não quer dizer que não a ache simpática. E não acredito como é que podes achar que eu estou apaixonado por ela quando no dia em que anunciei o noivado não era a ela que eu estava a beijar. – voltei a corar com mais um comentário dele.

–Isso não quer dizer nada.

–Não quer dizer nada Alexia? – perguntou Killian incrédulo – Alexia, tu deves te ter esquecido completamente desse dia só pode.

–Não te atrevas a dizer isso Killian!

–Que queres que eu pense? Eu não pensei num só segundo no noivado quando te tirei de perto do Lorenzo. Não me interessei se alguém nos apanhava ou não, a única coisa que eu queria era tirar-te de ao pé dele e sabes porquê? Porque não é pela Eva que eu estou apaixonado mas sim por ti. Aqui tens a confissão Alexia, eu estou completamente apaixonado por ti. – declarou-se Killian. Eu não sabia o que dizer. Killian dissera com todas as letras que estava apaixonado por mim. Aquilo que eu sonhei nas últimas duas noites estava finalmente a concretizar-se. – Sabes esta era a parte em que dizias alguma coisa. – falou Killian notando-se a insegurança na sua voz. Ele estava com medo do que eu pudesse dizer, estava com receio que eu não sentisse o mesmo.

–Eu também estou completamente apaixonada por ti. – falei sorrindo para ele. Killian, a princípio, pareceu não ter entendido o que eu disse mas depois a felicidade estava estampada na sua cara. Veio até mim e beijou-me. Um beijo de dois jovens apaixonados. Sem dar conta, fomos caminhando até à cama de Selena e caímos em cima dela. Mas com o impacto do corpo de Killian no meu, queixei-me por causa do corte que tinha na barriga. Killian apercebeu-se da minha dor.

–Que foi? magoei-te? – perguntou Killian preocupado.

–Não é nada. – mas veio outra pontada de dor e eu, involuntariamente, levei as mãos à zona da barriga que estava magoada. Killian percebeu de onde vinha a dor que eu sentia e tentou levantar a minha camisola para ver. Eu afastei-me pois não queria que ele visse.

–Alexia deixa-me ver. – pediu Killian calmamente.

–Não é nada Killian. – mas Killian não ficou convencido e sem eu esperar, ele conseguiu levantar a minha camisola e ver o curativo que estava na minha barriga.

–O que é que aconteceu Alexia? – perguntou Killian apreensivo.