Realeza em tanto escrita por Li


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Cheguei à porta de minha casa pouco antes do jantar. Estava cheia de saudades deles e só me apetecia correr para os abraçar a todos. A todos, exceto o meu pai, porque a única coisa que sinto por ele é desprezo. Sim, porque eu não conseguia compreender como é que um homem que diz amar uma mulher consegue trata-la da maneira que o meu pai trata a minha mãe. Porque não há justificação possível para isso acontecer.

Entrei em casa e só senti quatro braços a abraçar-me. Eram os meus irmãos. E eu retribuí. Abracei-os com muita força como se fosse a última vez.

–Xia, estava cheia de saudades. – disse Maria quando se afastou de mim. – Quando é que voltas para casa?

–A tua irmã precisa é de trabalhar Maria para sustentar a família. – disse o meu pai aparecendo vindo da cozinha – Daqui a poucos anos perceberás do que falo. Olá Alexia, não vens dar um abraço ao teu pai? – fui até ao meu pai e ele abraçou-me como se realmente estivesse cheio de saudades minhas, o que eu sabia que não era verdade. O único interesse dele é o dinheiro. – Espero bem que tenhas trazido o dinheiro. – sussurrou o meu pai ao meu ouvido.

–Não te preocupes, eu trouxe. – respondi afastando-me dele. Eu só tinha vontade de lhe dizer que ele não merecia dinheiro nenhum, que este dinheiro era para a minha mãe mas eu também sabia quais eram as consequências de uma resposta dessas.

Por fim abracei a minha mãe com muita força para demonstrar quanta falta ela me fazia. Mas reparei que ela queixou-se baixinho em sinal de dor. Olhei para ela completamente preocupada e ela mexeu com os lábios a dizer que mais tarde falávamos. Eu já suspeitava o que aquilo seria. O meu pai voltou a exagerar. Não que eu não achasse nojento cada vez que ele levantava a mão à minha mãe mas havia vezes que eram piores que outras.

Jantamos normalmente. No fim o meu pai saiu logo o que foi um alívio. Matei todas as saudades dos meus irmãos e fui deitá-los. Como fazia antes de ir trabalhar para o palácio, li-lhes uma história. Desde pequenos que sempre os habituei assim, tanto que, quando eu não podia e a minha mãe vinha ler, eles não queriam.

Voltei até à cozinha onde a minha mãe acabava de lavar a loiça. Peguei num pano e comecei a secá-la. Durante esse tempo, eu e a minha mãe mantivemo-nos em silêncio. Acabado o serviço, sentamo-nos para pormos a conversa em dia.

–O que é que ele te fez desta vez? – perguntei referindo-me à dor que ela sentiu mais cedo.

–Nada de mais, Alexia. – respondeu a minha mãe. Mas a resposta dela não foi nada convincente porque eu sabia que a minha mãe sempre tentava ocultar as coisas que o meu pai lhe fazia. Ela não queria que os filhos descobrissem que tipo de pai tinham. Os meus irmãos ainda não sabiam o que o nosso pai fazia com a nossa mãe e ainda bem porque eu não quero que eles passem por esse sofrimento. Eu descobri quando tinha dezasseis anos. Nessa altura, desobedeci a algo que o meu pai disso e nesse dia, ele empurrou-me fazendo com que eu caísse das escadas abaixo. A minha mãe nunca soube disso. Na altura quem tratou de mim foi o Ethan. Foi aí que eu lhe contei o que o meu pai fazia com a minha família. Foi aí também que eu e Ethan descobrimos que os ferimentos mais graves que o meu pai provocava na minha mãe era a Diana, mãe do Ethan, que tratava deles.

–Deixa-me ver. – pedi à minha mãe aproximando-me.

–Não é nada Alexia, já te disse. – disse a minha mãe. Mas eu fui mais rápida que ela e consegui levantar um pouco a camisola dela de maneira a ver um curativo na barriga.

–Eu sabia que ele te tinha feito alguma coisa. – disse completamente irritada. – Tenho de vos tirar daqui o mais rápido possível, isto não é vida para vocês.

–Mas…

–Mãe, chega de mas. No próximo mês tiro-vos daqui. – disse convicta. Eu tinha de os conseguir tirar daqui, tinha medo do que o meu pai pudesse fazer.

–Não temos dinheiro suficiente, Alexia. É necessário mais tempo. – dei um soco na mesa como sinal da minha irritação. Eu sabia que não havia dinheiro suficiente para dar entrada para uma casa. Se ao menos eu não precisasse de dar dinheiro ao meu pai para o enganar…

–Haveremos de dar um jeito. Mas está fora de questão vocês morarem aqui por muito mais tempo. Eu tenho medo do que ele possa fazer com vocês. – disse tentando segurar o choro.

–Oh querida, tu sabes que ele não faria mal aos teus irmãos. – disse a minha mãe. Mal ela sabia o quanto estava enganada. Até agora, ele nunca fez nada à Maria nem ao David mas não sei até quando isso vai acontecer. A mim, ele já tinha feito mal, mas como eu não contei à minha mãe, ela pensa que ele não fará nada aos filhos.

–Mesmo assim, faz mal a ti e isso eu não posso permitir.

–Alexia, a mãe sou eu, eu é que vos devia proteger e tratar de vocês.

–Não quero saber mãe. Eu vou tirar-vos daqui nem que tenha de pedir à Selena…

–Selena? A princesa? – perguntou a minha mãe desconfiada e aí eu percebi o meu erro. Como é que me fui enganar? Tratei a Selena pelo primeiro nome. Como vi que não tinha alternativa e a minha mãe não descansaria enquanto não soubesse a verdade, contei-lhe tu. Contei sobre a amizade que eu construí com Selena. Acabei por contar também sobre a minha ida ao baile.

–Ai querida, tu podias ter sido apanhada. Tu sabes o que podia ter acontecido. – disse a minha mãe. Eu compreendia a preocupação dela, afinal ela era minha mãe. Por isso não me importava com o sermão que ela dava.

–Eu sei, mas não fui. – disse para a acalmar. Mas ela não sabia que eu tinha sim sido apanhada por Ethan aos beijos com Killian… - Mãe?

–Sim querida?

–Eu apaixonei-me. – acabei por desabafar. A minha mãe olhou para mim e sorriu.

–Isso é completamente normal na tua idade, Alexia. Toda a adolescente se apaixona.

–Não mãe, tu não estás a compreender a gravidade da situação. – fiz uma pausa. – Eu apaixonei-me pelo príncipe. – disse e o sorriso que a minha mãe tinha antes desapareceu e tomou um olhar de surpresa.

–Mas ele acabou de ficar noivo…

–Pois foi. E foi nesse dia que eu percebi quais os meus verdadeiros sentimentos por ele. – fiz uma pausa para respirar fundo e reparei que estava a chorar. – No dia do baile, no dia que ele oficializou o noivado… - a minha mãe olhava para mim e encorajava-me a continuar – Ele beijou-me. – confessei e a minha mãe conseguiu ficar ainda mais estupefacta.

–Ele…beijou-te?

–E queres saber? Não foi a primeira vez porque ele já me tinha beijado quando a Selena foi envenenada. E eu na altura rejeitei porque achei um absurdo, mas a verdade é que eu nunca mais deixei de pensar nisso. E, no dia do baile, eu vi ele e a princesa Eva a passearem sorridentes e fiquei cheia de ciúmes…mas mesmo assim não percebi. Não percebi o que realmente sentia por ele. Até à hora do baile. Até à hora do anúncio do noivado. Mas mesmo assim não queria admitir. Não queria admitir que podia estar apaixonada por ele. Logo por ele? Com tantos homens no mundo eu tinha de me apaixonar logo por ele?

–Querida, isso é uma coisa que não se escolhe. O amor surge quando menos esperamos. E eu sei que é complicado…

–É mais que complicado. Mãe, ele tinha acabado de oficializar o noivado e veio fazer uma cena de ciúmes. – a minha mãe olhava para mim como quem não entendia o que eu queria dizer – Eu estava a dançar com um homem que eu conheci no baile e o Killian chamou-me para conversarmos a sós. E eu fui. E quando estávamos completamente sozinhos, ele começou a perguntar-me o porquê de eu estar a dançar com o Lorenzo e acabou por me beijar. E foi finalmente aí que eu admiti para mim mesma que estava apaixonada.

–E ele também está apaixonado por ti? – perguntou a minha mãe. Nesta altura já estávamos as duas no sofá, eu deitada com a cabeça nas pernas da minha mãe enquanto ela mexia nos meus cabelos.

–Não sei. Acabamos por ser apanhados. – a minha mãe preparava-se para falar mas eu impedia – Foi o Ethan, mãe. E depois disso ele acabou por voltar para o baile. Ainda não tivemos uma conversa sobre tudo que aconteceu. – terminei de contar.

–Oh querida, tu sabes que vocês têm de resolver tudo. Se isto seguir para a frente, tu sabes o que tens de enfrentar. E tens também de saber se ele quer isto. Vocês têm de ter uma conversa definitiva. – aconselhou-me a minha mãe.

–Eu sei. Falarei com ele quando voltar ao palácio. – disse e o assunto terminou ali.

Tanto eu como a minha mãe acabámos por nos ir deitar. Andei às voltas na cama, a pensar em tudo. A pensar no Killian, no que ele estaria a fazer neste momento. Será que estava com a princesa Eva? Será que agora que a conhecia, podia interessar-se realmente por ela? Será que quando eu voltasse, Killian já não quereria falar sobre o que aconteceu? Não! Killian falaria comigo e esclareceríamos tudo.

No dia seguinte acordei cedo, fruto do hábito do trabalho. A minha mãe pedira-me, na noite anterior, para levar os meus irmãos à escola porque ela tinha de sair mais cedo. Mas quando cheguei à cozinha não acreditei no que vi. O meu pai estava com a mão levantada prestes a bater na minha irmã.

–Para. – gritei chamando a atenção do meu pai. Corri e coloquei-me à frente da minha irmã. – O que pensas que estás a fazer? – perguntei horrorizada ao meu pai.

–A ensinar a tua irmã que não deve desrespeitar o pai.

–Maria – voltei-me para a minha irmã que estava a chorar – Pega no David e vão para a escola. Eu resolvo isto. – a minha irmã correu dali para fora. – Como é que foste capaz de fazer isto à Maria? Ela tem doze anos! – gritei.

–Alexia estás a abusar. – falou o meu pai.

–Eu não quero saber! Nunca mais tentes tocar com um dedo sequer na Maria e no David, percebeste?

–Tu estás a desafiar-me? – perguntou o meu pai sarcasticamente dando-me um estalo.

–NÃO TENHO MEDO DE TI, SEU PORCO. – gritei. O meu pai, completamente fora de si, empurrou-me fazendo com que eu caísse em cima de uma mesa de vidro e a partisse. Estava zonza e a única coisa que reparei foi que estava a sangrar.


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Notas finais do capítulo

Comentem :)
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