Não Leia Essa História escrita por Just a Teller


Capítulo 71
Passado 14 - Pretérito Imperfeito




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Eu queria fazer uma introdução para vocês, mas, eu sei lá, não dá. Minha garganta tá enrolada, como se tivessem dado um nó, eu não acreditava no que eu estava vendo, a Anne estava beijando outro cara.

Ok, vocês devem ficar imaginando que depois de tudo que aconteceu não era algo impossível de acontecer, mas parecia tudo tão certo, parecia tudo tão no lugar e agora… agora eu já não sei mais como as coisas estão.

Eu me sentia perdido no tempo e espaço, me sentia como se estivesse sendo engolido de dentro para fora.

— Anne? — perguntei me aproximando, Anne parou de beijar o cara e se virou para mim.

— Oi Rique… — disse ela ruborizada — Eu preferia que eu tivesse ido falar com você, não era para você ter visto isso…

— Não era? Eu acho que se não era para eu ter visto seria bem mais inteligente você não ter feito isso NA FRENTE DA NOSSA ESCOLA!

— Me desculpa, Rique...

— Olha, se nós queremos que a gente dê certo temos que fazer certo desde o começo...

— Espera, você quer ficar comigo mesmo depois disso?

— Combinamos que íamos namorar e eu quero que isso dê certo...

— Não, Rique. Me desculpa, eu estava confusa e te ver com outra garota realmente fez eu achar que eu queria ficar com você, mas não era verdade, eu estava me enganando e te enganando junto, me desculpa...

— O que?!

— Você se lembra do João? Eu estou apaixonada por ele.

— Eai bro! — disse ele fazendo um cumprimento para mim com a cabeça e naquele momento tudo voltou na minha cabeça e tudo finalmente fez sentido.

As coisas antes aleatórias que juntas formavam a imagem do quebra-cabeça dessa história que até agora eu não conseguia ver... Até agora.

Tudo começou quando fomos naquela festa na praia:

"— Esse daqui é o João.

— E aí, bro? Tudo em cima? — me falou o tal de João fazendo um cumprimento com a cabeça.

— E aí…

— O João é surfista aqui da praia.

— Não só surfista, o melhor daqui. — completou o tal de João, que arrogante ele.

— O melhor… — confirmou Anne.”

A segunda pista foi quando eu fui ao hospital visita-la:

"— Anne? Anne? — disse o pai da Anne, acordando-a, ela despertou. — Seus amigos chegaram…

Anne olhou para mim e para o Guto e sorriu com um tanto de vergonha.

— Oi rapazes…

Ela cumprimentou tanto eu quanto Guto com um beijo na bochecha. Isso me deu uma pontinha a mais de esperança.

— O João não veio?

— Não, querida, ele disse que não poderia vir…"

E a terceira pista veio na minha festa de aniversário:

"— O que tem feito nesse tempo?

— Ah, nada demais, eu terminei com o Guto como te disse e depois não fiz nada demais, só aprendi a surfar.

— Você surfando? Não conseguiria imaginar isso, naquela vez que fomos a praia você mal entrou na água…

— Ah, me ensinaram bem, tive um bom professor, perdi o medo do mar, sabe?

— Uhum."

O que acontece no final das contas é que eu era um plano B, Anne nunca iria deixar o Guto para ficar comigo porque não estava apaixonada por mim, eu era apenas alguém para que ela não ficasse sozinha e ela se apaixonou pelo João, mas não conseguiu ficar com ele e então pensou que eu poderia voltar a ser seu plano B e no fim, eu acabei aceitando isso.

Naquele momento fiquei devastado e não sabia o que fazer, então eu corri, fui embora, não conseguiria bater de frente com eles naquele momento.

Eu já estava a uma semana trançado no quarto sem sair, eu já estava achando que ia ficar maluco, ficava olhando as suas fotos e imaginando que você viria pedir desculpas e me dizer que me amava, OK, eu sei que isso não me ajudava nenhum pouco, mas nem sempre fazemos coisas para ficarmos melhor, as vezes realmente queremos chegar no fundo do poço.

Mas algo importante sobre isso é nós sempre super valorizamos quem nos deixa no fundo do poço quando devemos valorizar mais quem nos ajuda a sair de lá e quem me ajudou a sair do meu foi a Carol.

— Hen? — disse ela entrando no meu quarto.

— Carol? O que você tá fazendo aqui?

— Eu vim te ver, imaginei que você estava precisando...

— Eu prefiro ficar sozinho...

— Não prefere não. A gente fala esse tipo de coisa quando está triste mas se ficarmos em luto eterno pelos nossos problemas é aí que eles vão nos assombrar pelo resto das nossas vidas.

— Eu fui um idiota... Ela só me usou e me enganou...

— Calma... — disse Carol me abraçando — eu sei que isso foi horrível, mas vai passar. Vai ser difícil, mas vai passar.

— Dói tanto...

— Eu sei...

— Como eu faço pra passar agora?

— Vamos em uma festa! — exclamou Carol.

— Carol... Não... Eu detesto festas...

— Ah, vamos. Vai ser divertido e quem sabe você não ache uma garota para te fazer esquecer a Anne.

— Não, Carol. A próxima garota que eu tiver alguma coisa vai ser a garota, sabe? Não quero ir tentando até acertar, eu quero encontrar a garota certa e ficar com ela para sempre.

— Talvez ela esteja na festa...

— Carol...

— Por favor...

— Tá bem — concordei relutante.

— Isso! Agora vamos ver alguma coisa para você vestir...

Fiquei sentado olhando para Carol com um sorriso.

— O que foi? — me perguntou ela.

— Porque você não fez como o Sony? Porque não desistiu de mim?

Carol sentou do meu lado.

— Eu nunca desistiria de você. Você é o meu melhor amigo e eu te amo muito, não vou te deixar sozinho quando você mais precisa de mim, Henrique.

— Henri...

— Henri. — respondeu Carol para mim, eu a olhei com um sorriso no rosto — Agora vamos para a festa.

E assim nós nos arrumamos e eu admito que estava me sentindo bem, estava esperançoso de que as coisas seriam melhores agora, mas eu estava errado.

Na frente da festa parada junto com João ao seu lado estava Anne e ve-la tirou o sorriso do meu rosto.

Eu pensei em ir lá falar com eles, pensei em mostrar que não me importava que ela estivesse com outro cara, mostrar que eu poderia até ficar com outras garotas na frente dela para ela ver o que perdeu, eu realmente queria fazer todas essas coisas, ou eu apenas gostava como isso parecia que ia ser bom.

Eu entrei na festa mas não estava aproveitando nada, fiquei apenas encarando a Anne dançando com o João, eu demorei a notar que várias garotas tentaram me tirar pra dançar e ficavam me encarando, porém enfim, notei.

— Carol, porque tem tanta garota na minha volta?

— Bem, parece que Anne espalhou por aí que você é bom de cama e agora essas idiotas ficam interessadas, claro...

— Ei, Henrique, você quer dançar? — me perguntou uma garota se aproximando de mim.

— Pode ser... E me chama de Henri.

— Essa é a certa? — me perguntou Carol antes de eu sair.

Sussurrei em seu ouvido.

— Acho que não é não, mas enquanto não acho a certa porque não me divertir com as erradas?

E assim fui dançar e fiquei com a garota, depois fiquei com outra e depois outra e assim por diante. Naquela noite o número total foram sete. E aí você me pergunta: sete garotas, Henri? O que você tem na cabeça? Ora, amigos, se a branca de neve pode, porque eu não posso?

Eu naquela noite entendi que a vida não é um filme. Não vamos todos ter um final feliz, vamos apenas ter uma vida qualquer e só nos resta aproveitar ela ao máximo, o amor é apenas algo que está nos filmes, na vida real é apenas um sentimento egoísta e possessivo que temos sobre outras pessoas e quando esse sentimento passa nós nos livramos dessa pessoa como se fosse uma casca de banana.

Estamos todos sozinhos no final das contas e estamos todos destinados a ficar assim, eu não posso mentir que a Anne não me machucou, sim, sai machucado porém aprendi uma lição muito importante, aprendi que sempre que eu amar, sairei assim e que não vale a pena isso, amor sem sexo e diversão é uma bosta, mas sexo e diversão sem amor, bem... Esse é o meu novo lema.

Cansei de querer ser o cara ideal buscando a garota ideal, na verdade notei que as garotas não buscam isso, elas querem o cara com defeitos, querem aquele cara que elas vão ter que consertar. Não o príncipe encantado, mas o sapo e cara... Eu vou me tornar o rei dos sapos.

No final, da festa encontrei a Carol novamente.

— Se divertiu? — me perguntou Carol.

— Bastante. Fiquei com sete garotas né? Como não se divertir?

— Se divertiu mesmo?

Suspirei.

— Não, mas ainda assim foi bom, eu me esqueci dela enquanto fazia isso. Então valeu a pena.

— Tenho certeza que um dia você vai superar a Anne, Hen.

— Não...

— Não?

— Isso eu não sei, Carol, mas eu quero que você me prometa uma coisa.

— O que?

— Nunca mais falaremos sobre a Anne, eu não quero mais tocar nesse assunto e nem me lembrar que ela existe, ela é um passado morto e enterrado do qual nunca mais falaremos, fechado?

— Ok...

E assim termina essa história, não, ela não teve um final feliz, mas todo mundo menos eu já sabia que ela iria terminar assim, o engraçado é que confesso, mesmo dando esse discurso sobre o amor ser uma merda e tudo mais no fundo, um pequeno pedacinho de mim ainda tinha a esperança de conhecer uma garota, me apaixonar por ela e ser feliz para sempre. Ter o que eu sempre quis: apenas um final feliz.


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