Não Leia Essa História escrita por Just a Teller


Capítulo 66
Capítulo 55 - Elas tudo contém, mas em nada estão contidas




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O motorista suspirou.

— Ok, garoto, sentem-se, vou ajudar vocês, mas é melhor que ele reconquiste mesmo essa garota.

— Vai sim, pode ter certeza!

Voltamos a nos sentar, eu estava animado, tudo estava dando muito certo, eu estava confiante de que iria conseguir resolver as coisas entre o Eduardo e a Carol, ainda restavam nove horas para que essa história acabe.

— Viu, carinha de óculos! Eu sabia que tudo ia se resolver, daqui a pouco vamos chegar na formatura e você poderá reconquistar a Carol.

Eduardo me olhava com uma cara abismada.

— O que foi, cara? Porque tá me olhando assim? — foi quando notei minha voz, olhei para a rua e já estava de noite, olhei meu reflexo na janela do ônibus e eu era a Renata. — Oh, merda...

— Calma, Eduardo, não é nada disso que você está pensando…

— O que eu estou pensando?

— Eu não sei… — respondi nervoso, quer dizer, nervosa.

— Eu também não… — me respondeu Eduardo ainda abismado.

— Calma, eu vou te explicar, mas peço que mantenha a calma e acredite em mim, porque é uma história bastante maluca.

— Certo…

— Eu sou o Henri…

— Errado. Você é a Renata.

— Sim, eu sou a Renata, mas a Renata é o Henri. É difícil de explicar…

— Tente.

— Eu era afim de uma garota, mas eu não podia ficar com ela porque ela era lésbica, daí apareceu um cara que era muito parecido com o John Cleese, ele disse podia resolver isso e fez com que de dia eu fosse homem e de noite eu fosse mulher. É, não foi tão difícil assim…

Eduardo ficou um tempo parado tentando captar tudo aquilo.

— Quem é John Cleese?

— Sério? De todas as coisas que você pode perguntar é isso que você vai perguntar? Você quer me perguntar quem é John fucking Cleese?

— Eu não sei…

— Porque você não me falou isso antes?

— Eu não podia e também, você acreditaria? Acho que não.

Descemos do ônibus e agradecemos ao motorista, estávamos parados na frente do lugar onde seria a minha formatura, e eu estava vestindo um canguru e uma calça jeans sendo uma mulher, acho que estava bem preparado para a cerimônia…

— Aqui estamos…

— Isso vai dar certo, cara?

— Não, Dudu, isso vai dar muito certo…

— Ok — suspirou ele.

— Vamos lá?

— As damas primeiro — afirmou ele, abrindo espaço para eu passar, respondi como se puxasse um vestido invísivel em um gesto de agradecimento e entrei na frente.

— Peraí, eu te beijei?

— Não vamos lembrar disso, por favor…

Entramos no local e eu expliquei tudo que o carinha de óculos teria que fazer, por onde ele deveria entrar e onde ele conseguiria o microfone. Tudo estava certo e assim, Eduardo se foi no meio das pessoas para ir fazer com que a garota dos seus sonhos voltasse para ele, mas antes que isso pudesse acontecer, todos ouviriam um discurso importante, um discurso da Carol, que era a líder da turma, sobre a nossa formatura.

“” O que que você quer ser quando crescer?” Eu sempre ouvi isso desde que eu era pequena e acho que demorei demais para conseguir uma resposta correta, no fim todos queremos ser a mesma coisa: alguém importante, alguém que mudará o mundo, mas o que seremos quando crescermos? Mas no fim, essas perguntas não valem de nada, nós acabamos até que todos bem parecidos, um emprego normal, uma pessoa normal ao nosso lado, uma vida normal.

Ouvimos dos outros que está cada vez mais difícil de se vencer, que o mundo conspira para a gente perder, que para quem não nasceu sortudo é bem melhor sonhar do que tentar conseguir, que é melhor se manter preso a ideais velhos do que se reinventar.

Todos vão passar a sua vida inteira tentando te dizer do que você não é capaz, todos vão tentar te colocar para baixo e tentar te fazer desistir dos seus sonhos. As pessoas importantes, as pessoas que mudaram o mundo provavelmente não são as mais inteligentes ou as mais espertas, as pessoas importantes foram aquelas que não desistiram, foram aquelas que foram ao máximo para alcançar seus resultados, nunca deixe alguém te parar, pois a única forma de se alcançar a felicidade é querendo ser feliz por si mesmo.

É difícil, com toda certeza, mas não é impossível, impossível foi uma palavra criada por quem desiste e eu desejo do fundo do meu coração que nenhum de nós desista, que todos possamos fazer de hoje o primeiro dia das nossas vidas, das nossas novas vidas.”

Ouvia aquilo parada perto do bar, pensativo e feliz em saber que meus dois amigos ficariam juntos novamente, mas ainda assim achando uma merda que eu estava daquele jeito na minha formatura.

— Precisa de mais bebida, senhorita — me disse um garçom se aproximando, ele era estranhamente parecido com o Heath Ledger no filme O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus.

— Hm, eu vou aceitar, o que você tem aí?

— Nada. — me respondeu ele sorrindo — Estava tudo no fim e está cada vez mais perto de acabar.

— Ahn?

— Eu acho que sem o turbante fica difícil de você me reconhecer né?

— Pera, é você?

— Uhum. Como vai, Henrique?

— Afeminado até demais.

Ele riu.

— Como se sente sabendo que essa é a noite?

— A noite?

— Não se faça de desentendido, eu sei que você vem cuidando no calendário, que você sabe que hoje é o dia que essa história acaba.

— Tudo tem que ter um fim um dia, não é mesmo?

— Você parece bastante tranquilo…

— Tranquilo? Não, eu estou apavorado.

— E porque não demonstra isso?

— Bem, com o passar do tempo a gente aprende a levar a vida de frente, corajoso não é a pessoa que não sente medo e sim aquela que enfrenta os medos e segue sua vida.

— Entendo…

— E como você vai seguir a sua vida?

— Eu não sei… estou pensando em fazer faculdade de direito.

— Pelo seu pai?

— Não — respondi rindo — por mim mesmo. Ainda não sei bem, mas mesmo que não me torne advogado, eu vou ter uma empresa que meu pai me deixou e precisarei tomar conta dela, não quero ficar lá como um leigo.

— Entendi.

— Mas então, e você? Veio aqui para se despedir?

— De certa forma sim, lhe falei que ainda haveria mais uma última visita.

— Quem é você?

— Gita.

— Ahn?

— Você deve se perguntar porque eu falo tão pouco. Henri, eu sou a luz das estrelas, eu sou o luar, eu sou o medo das pessoas, a força da imaginação, a confiança do jogador convicto, sou o sacrifício das pessoas, o sangue dos guerreiros, eu sou o Sol que se acende, eu sou a luz que calmamente se apaga, sou a beira do abismo e quem olha pra ele, sou o telhado das casas, sou o machado do carrasco, sou a mosca na sopa, o tigre que caça a gazela, os olhos do céu e a cegueira de quem não quer ver, eu sou o inicio, o fim e o meio.

— Era para eu entender quem você está querendo me dizer que você é?

Novamente ele riu.

— Acho que não tem uma forma de você conseguir entender completamente quem eu sou, você não deveria se preocupar com isso.

— Não estou preocupado, era só uma curiosidade, mas consigo viver com ela.

— Ótimo, fico bastante feliz que todo esse tempo em que passamos juntos tenha te feito evoluir tanto. Pois quando você achava que estava sozinho, eu estava lá. Eu sei tudo que aconteceu com você e o que você sentiu, por isso sei que essa noite é a mais importante até agora.

— Como assim?

— Eu conheci esse garoto que depois que deu tudo errado com a garota que ele era apaixonado, ele se trancou, absteu-se de todos os seus sentimentos sem notar, achava que assim seria mais feliz, fugia de qualquer cobrança ou regra que tentavam impor a ele. Não queria saber da opinião dos amigos, queria fugir de casa porque não tinha espaço para falar com seus pais.

— Sim, eu sei que eu era assim.

— O engraçado de vocês hoje em dia é que vocês estão o tempo inteiro conectados na internet, mas é muito difícil ver vocês conectados com outras pessoas, tudo é tão mais acelerado, os seus amores, até suas felicidades e as tristezas. O tempo não pode ser gasto mais, tudo tem que ser rápido e por isso todos querem falar ao mesmo tempo e no fim ninguém consegue escutar os outros.

— Eu chamei você…

— Sim. Você pedia por ajuda sem precisar falar uma palavra. Mas calma, que sempre vai ter alguém pra te completar a alma.

Vi a Dhébora no meio da festa.

— É…

— Hoje você vai ter que escolher, Henri.

— O que?

— Entre a Dhébora e a Julianne.

Parei por um segundo.

— É disso que se trata essa noite? Se vou escolher a garota certa ou errada?

— Não existe garota errada ou certa, existem futuros diferentes e nenhum dos dois é bom ou ruim, são apenas escolhas, como já te falei.

— O que devo fazer?

— Ah, meu amigo, essa é uma coisa que apenas você poderá decidir. Mas relaxa, tenho certeza que uma hora você decidirá, afinal é essa busca por respostas que dá sentido a vida, no final das contas e a graça de tudo está nisso.

— No que?

— Nas respostas.

— O que tem?

— Elas contém em tudo, mas em nada estão contidas.

— Porque você gosta tanto de falar assim? Sério, é de propósito? Você fala para que eu não possa entender né? É pegadinha…

— É mais divertido falar assim.

— Eu não acho, uma vez você disse que eu e a Dhébora não ficaríamos juntos no final, isso é verdade? Ainda será assim?

— Henri… qual seria a graça se eu te falasse? Não é melhor ver como as coisas vão acontecer?

— Caramba… essa história daria um bom livro, afinal ninguém acreditaria que algo assim aconteceu de verdade.

— Eu não indicaria ninguém a ler.

— Sério? Poxa vida, valeu hein?

— Essa não é uma história para qualquer um ler, ela é uma jornada maluca e cheia de desventuras que no fim se mostra um ponto de evolução humana gigante, por isso eu indicaria: Não Leia Essa História, se você não está preparado para mudar.

— A dúvida final é só se o mocinho ficará com a mocinha

— E quem é a mocinha?

— A Renata, óbvio… — nós dois nos olhamos e rimos.

— Vou te dar meu último presente, Henri. Quando nos conhecemos, você queria fazer de tudo para conquistar a Dhébora, as coisas mudaram, você não pensa mais assim, virar garota não te serve mais de nada, por isso hoje é a última noite que isso poderá acontecer, mas preste bastante atenção, nada de água no seu rosto, ouviu? Ou tudo isso será em vão e as coisas voltarão a como estão agora. — me disse ele olhando para a festa ao nosso redor — Aproveite a festa. — começou a andar para sair de perto de mim — Adeus e belo terno.

Quando olhei eu usava um smoking bem alinhado e eu era Henrique novamente, essa noite prometia e estava apenas começando.

Olhei para o palco e vi Eduardo entrando, ele parecia bastante nervoso e envergonhado.

— Agora é com você, garoto — falei pegando uma cerveja para acompanhar o que estava prestes a acontecer.


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