Não Leia Essa História escrita por Just a Teller


Capítulo 52
Capítulo 48 - Tornei-me um ébrio




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Surpresos? Tristes? Imaginem eu. Como eu havia falado no capítulo anterior, eu realmente estava tentando me modificar, eu realmente estava tentando me tornar uma pessoa melhor, mas fazia isso apenas para que um dia meu filho pudesse se orgulhar de mim. Fazia isso apenas para que um dia eu pudesse ser o pai que meu pai não foi para mim.

A piada é que eu nunca poderia ser o pai que meu pai nunca foi para mim, pois eu nunca poderia ser pai. Se voltássemos para o primeiro capítulo dessa história e me perguntassem se eu queria ser pai eu diria com toda certeza que não e que iria querer fugir disso como o diabo foge da cruz, mas hoje... ah hoje... eu trocaria o amor da Dhébora, da Anne e de todas as mulheres do mundo para que aquela criança fosse minha, porém nada que eu fizesse mudaria a verdade: eu nunca seria pai.

Eu estava guardando dinheiro para comprar as coisas para a criança, quase todo o salário que eu recebia trabalhando no escritório do meu pai, mas agora não havia mais criança para eu guardar dinheiro, então eu gastei todo ele garganta abaixo.

Por mais ou menos uma semana, ninguém soube de mim, por mais ou menos uma semana, não fui a escola, ou trabalhar, não vi Anne, Dhébora, Carol, meu pai, ninguém.

Só passava em bares e dormia na sarjeta, não me sentia bem assim, mas sentia que era certo estar assim.

Por mais ou menos uma semana passei sem querer ser Henri ou Renata, ou como qualquer um quisesse me chamar, neguei meu nome, como só andava nos bares e sempre bebendo, ao invés de me darem um nome, me apelidarem de Ébrio.

De acordo com o dicionário, Ébrio significa embriagado ou bêbado. O termo é utilizado para designar aquele indivíduo que se embriaga por hábito, que é dado ao vício de beber. É o mesmo que beberão, cachaceiro. É também um adjetivo que qualifica o estado de embriaguez . Ébrio é o oposto de sóbrio.

E no fim, era verdade, eu realmente havia me tornado um ébrio e era na bebida que eu buscava esquecer todos os meus problemas, me sentia apedrejado pelos olhares das pessoas na rua, claro que por escolha própria, não tinha mais parentes ou amigos ou um lar, só nos bares e tavernas é que me sentia abrigado junto a um copo de algo bem forte, cada pessoa no bar mesmo que não trocasse uma palavra comigo se tornava um grande amigo, claro como eu eles tem seus problemas, sem fazer nada aliviam meus tormentos.

Se estão preocupados que eu morra por causa de tanto beber, peço que não se preocupem, peço que se realmente acontecer, não deixem nenhum epitáfio onde eu for enterrado, não tenho porque ser lembrado. Apenas deixem que os vermes venham terminar o trabalho que a vida já começou a fazer faz bastante tempo com este ébrio que vos fala. Quero somente que ela esteja pronta para abrir espaço para que ébrios loucos como eu venham depositar todas as suas tristezas no meu lar derradeiro.

Mas enfim, vocês ainda devem estar bastante confusos, pulei uma semana da história, estou meio bêbado, então fica um tanto difícil de me lembrar exatamente de tudo que aconteceu na minha vida nesses últimos tempos. O que me lembro bem e acho importante vocês saberem agora é como continuou de onde paramos. O que aconteceu depois que meu pai me contou que eu não poderia ter filhos.

— Estéril?

— Sim… Me desculpe…

— Desculpar? — perguntei rindo — Você deve estar feliz com isso…

— Claro que não, Neto!

— Claro que sim, você sempre teve vergonha de mim, sempre me quis ver por baixo, nunca viu valor em mim. Eu não sou o melhor cara do mundo, eu sei que não sou perfeito, sou mais um na multidão, mas porra eu ainda tô crescendo, sou apenas um adolescente que faz parte do padrão de estar fora do padrão

— Neto..

— Com quase dezoito anos, por muito tempo inconsequente, eu sei que por muito tempo nada me preocupou, que por muito tempo parecia que tudo nunca estava errado pra mim, mas não estava, pai, esse sorriso que tu via o dia inteiro era apenas uma ilusão.

— Tudo que eu sempre fiz foi para ver o seu melhor, Neto. Todo o trabalho, todo o dinheiro…

— Hipocrisia e falsidade, os únicos valores que você presa e tentou me ensinar foram os valores das notas de dinheiro. — respondi interrompendo ele.

— Você vai entender tudo que eu fiz quando for mais velho, Neto. Quando você for adulto, verá que as vezes você precisa negar uma coisa para ter outra.

— Se ser adulto é ser que nem você, então me desculpe, pois eu nunca vou querer crescer.

E depois disso, obviamente foi embora.

Eu estava totalmente desinteressado no que o meu pai poderia falar depois, eu não sabia se o que ele havia falado era verdade, mas eu sentia dentro de mim que era, eu não queria ver ninguém, mas tinha que passar no médico para saber se aquilo era verdade, mas isso é história para outra hora.

A noite chegou e o ébrio deu lugar a ébria.

Eu me via atravessando o bar, quem me guiava era a tristeza e o rancor, chego na frente do barman e peço a bebida mais forte que ele tem, ele pergunta se eu tenho dinheiro pra pagar, tiro as últimas notas que tenho no bolso e entrego pra ele.

Não tem como eu sair do fundo do poço tendo a âncora que é essa dor me trancando, então tomo mais um gole pra tentar esquecer o que andou me acontecendo.

Queria que não ficasse nenhuma história sobre isso pra contar, ou qualquer lembrança habitando de mim sobre isso.

— Ei, me dá mais uma aí — falei pro garçom

— Tem mais dinheiro? — perguntou ele me encarando.

Mexi nos bolsos novamente, já estava bem bêbada, Renata era mais fraca que o Henri para aguentar o álcool.

— Não tenho mais nada.

— Então acabou! — disse o garçom batendo o copo na minha frente.

Nem fiz questão de reclamar, apenas me levantei e fui embora, o último gole que engoli o mais amargo, a lembrança de tudo que passou.

Fui embora, ainda bastante tonta, não tinha para onde ir ou o que fazer, então imaginava que seria mais uma noite andando até desmaiar em alguma sarjeta onde iria acordar apenas para repetir a bebedeira da noite anterior.

Cai com a vista turva no chão e achei que ali seria o lugar que eu dormiria hoje, mas estava bem enganada…

Ouvi o barulho de alguém se aproximando, minha vista estava nublada então não conseguia ver quem era.

— Eu disse que você seria minha e agora você não vai escapar.

Não conseguia reconhecer aquela voz, mas sabia que a reconhecia, era uma voz masculina, o dono da voz masculina me segurou no colo e me colocou no banco do carona de um carro, ele fechou a porta e sentou do lado do motorista e começou a dirigir, quando minha visão ficou menos embaçada consegui reconhecer quem era, era o Juan, ele já tinha tentado estuprar Renata uma vez, parece que agora as coisas estavam mais favoráveis para ele conseguir.


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Notas finais do capítulo

Gostei de fazer isso e vou começar a falar as músicas que peguei como referência para esse capítulo: Ébrio do Vicente Celestino, sim a música é bem antiga D:
Passa e Fica da Scracho, Terra do Nunca da Forfun e Retrato Falado da Rock de Mentira.

Espero que tenham gostado do capítulo.