Não Leia Essa História escrita por Just a Teller


Capítulo 50
Capítulo 47 - É que a piada era eu




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Eu contei uma piada, essa piada é que eu conseguiria ser alguém melhor, que eu conseguiria evoluir e me tornar um cara legal, eu entendi que precisava aprender que não adiantava, eu nunca seria um cara responsável, nunca conseguiria evoluir e parar de ser um cara idiota que fica correndo atrás de garotas por aí, um patético, nojento e idiota cafajeste.

Não existe mérito nisso, existe mérito em montar uma família e ser feliz, existe mérito em encontrar a mulher da sua vida e conseguir mantê-la ao seu lado, mesmo com todos os problemas, mesmo com as brigas, mesmo com todas as confusões. Esse cara é um verdadeiro herói, eu sou só um babaca que fica falando de si mesmo para outros.

Esse não é o homem que eu esperava me tornar, esse não é o cara que eu queria ser, eu agora só estou fingindo ser alguém mais responsável, só estou tentando parar o sangramento de uma ferida que já está aberta a dias.

E tudo isso se provou verdade, todos meus problemas, tudo que vai acontecer, eu não sei como explicar, só sei que eu senti que merecia isso. Henri, Renata, Rique, Neto, todas as minhas faces, todos os meus eus são apenas álibis, mentiras contadas para tentar esconder uma verdade clara e simples: Eu não sirvo para nada.

Naquele dia seria minha segunda tentativa de ajudar Eduardo a reconquistar Carol, a primeira tinha sido um desastre, mas se bem organizada, era dificil para não dizer impossível que dessa vez alguma coisa acontecessem de errado.

– Repete o plano mais uma vez, Henri…

– O plano é simples, eu aluguei um cavalo e uma roupa de principe…

– Um cavalo?

– Sim, um cavalo.

– Plano simples?

– Calma, tu vai ver que é sim. O plano é, tu espera o final da aula, quando tu ver que a Carol saiu da aula, tu vai com o cavalo e para na frente dela, diz que é o principe encantado que tá vindo buscar ela, puff, ela vai subir no cavalo e vocês vão ir embora.

– Henri, eu não sei andar de cavalo…

– É simples, cara, é só bater as cordinhas onde tu segura e o resto é quase uma bicicleta.

– Isso não vai dar certo…

– Vai sim! Deixa de ser descrente, confia…

Eduardo ainda que contrariado aceitou o que eu dizia.

O cavalo que eu trouxe na verdade era uma égua, ela foi emprestada de um amigo de um amigo que me devia um favor, Era uma égua bonita, todo o seu pelo era branco bem branco, sem nenhuma mancha ou qualquer coisa do tipo, era realmente linda, esguia, imponente. Carol era apaixonada por contos de fadas, tenho certeza que ela ia amar que o cara que ela ama venha vestido de principe buscar ela na escola.

E assim passou a manhã, Carol assistindo a aula normalmente e eu ansioso para o fim da aula, tão ansioso que essa conversa aconteceu.

– Oi, Henri…

– Oi Dhé - disse eu roendo as unhas da mão.

– Tudo bem com você? Faz tempo que a gente não conversa direito…

– Pois é…

– Então, você tá namorando? - me perguntou Dhébora.

– O que? Não… - respondi sem entender a pergunta da Dhébora.

– E aquela garota que estava no shopping aquele dia? A tal de Julianne?

– Como você sabe que ela se chama Julianne? Eu a apresentei como Anne…

– Não… apresentou como Julianne, mas isso não importa, ela é sua namorada?

– Não, Dhé, ela é… uma história complicada.

– História complicada?

– É.

– Me conta ué!

– Digamos que ela fez merda no passado e agora está querendo consertar as coisas…

– E você vai dar a chance de ela conquistar as coisas?

– Não sei…

– Eu invejo…

– Me inveja? Porque?

– Você? Ah sim… eu te invejo porque minha namorada não fala comigo a semanas, acho que terminamos e eu ainda não fui avisada.

Me lembrei daquilo, esse foi um problema que fui empurrando com a barriga deixei pra lá, nunca terminei com Dhébora, mas também nunca dei satisfação sobre isso pra ela.

– Hm…

– É, tá foda...Você é um cara legal, Henri. Merece ser feliz, fico feliz que você tenha essa oportunidade com alguém que possa aproveitar isso plenamente…

– Como assim?

– Ah, você entendeu…

– Não entendi não… O que você quer dizer?

– Nada.

– Fala, Dhé.

O sinal do colégio tocou, era hora de ir embora.

– Vamos embora, tá na hora - Dhébora pegou suas coisas e foi embora o mais rápido que pode. Como eu queria ver o que ia acontecer com a Carol e o Eduardo, deixei para lá e fiquei esperando a Carol para irmos embora.

– Vamo, Carol! - falei apressando ela para guardar suas coisas.

– Calma, garoto! Não tem pressa de ir embora não…

– Claro que tem, vamos vamos! - quando estávamos saindo da sala liguei para Eduardo para que ele entendesse que daqui a pouco apareceriamos na frente da escola e assim foi.

Quando chegamos na frente da escola já pudemos ouvir o barulho dos galopes, olhamos para o lado e lá vinha Eduardo todo pomposo vestido como um principe em cima da égua, o grande problema é que andar a cavalo não é a mesma coisa que andar de bicicleta.

Eduardo não sabia como a fazer parar e assim a égua continua chegando a parar na frente de um murro onde levantou as patas da frente tentando refrear a velocidade e com isso fez que Eduardo caísse de cima dela caindo em uma poça de lama.

Ela fez todos rirem todos rirem do coitado e logo em seguida saiu galopando sem direção, Carol se aproximou do rapaz que estava todo sujo de lama.

– Tomando banho? - perguntou ela se aproximando.

– Carol…

– Porque é isso que porcos fazem, sabe, eles chafurdam na lama.

– Eu fiz isso por você…

– Por mim? Queridinho, eu não pedi para você fazer nada por mim, você inclusive deveria parar de tentar.

– Fala pra ela o que eu te disse - falei encorajando Eduardo.

– Ok… Caroline, eu sou o principe encantado que você estava esperando.

– Eu esperava um principe todo sujo de lama? Com certeza não, isso não é a minha cara. Isso combina exatamente com o que eu imaginava de você, Eduardo, sabia? Eu achava que você era um principe encantado, mas você se sujou, ficou imundo e agora eu nem quero chegar perto de você.

Eduardo baixou a cabeça em um tom bastante triste.

– E você, Henrique - falou Carol virando-se para mim - Quem te deu o direito de ficar ajudando um idiota como esses a tentar ter alguma coisa comigo?

– Ele não fez por mal os erros que cometeu com você e acho que você deveria perdoá-lo.

– Pois eu não acho… e você deveria respeitar isso.

– Carol, você deveria dar uma chance pra ele.

– Não!

– Mas Carol…

– Chega! Eu tô indo embora ok? Vocês dois podem ficar juntos, bem juntinhos, na real, vocês até se merecem, dois cafajestes!

– Eu não sou mais assim, Carol! - gritei para ela que ia embora.

– Seu amigo é! - respondeu Carol me mostrando o dedo do meio.

– Você tá bem? - perguntei para Eduardo ajudando ele a se levantar, seu rosto estava sujo de lama e lágrimas.

– Eu não vou conseguir conquistar ela, cara. Não tem como. Ela não me ama mais.

– Você não conhece a Carol? Ela é assim mesmo, se faz de durona, mas por dentro é mole mole.

– Não parece isso, não tem o que eu fazer. Eu devo ouvir o que ela disse, eu devia desistir…

– Não, carinha de óculos! Você merece ser feliz! A Carol merece ser feliz! E a única forma de vocês serem felizes é estando juntos…

– Você acha isso?

– Eu tenho certeza disso! E relaxa, o próximo plano não tem como falhar.

– Mais um plano, Henri?

– Claro! Temos sempre que bolar alguma coisa para que você consiga alcançar o seu objetivo.

– Cada vez isso me parece mais dificil.

– Relaxa que agora não vai falhar.

Novamente, contrariado, Eduardo acatou o que eu falei, eu adorava isso nele, eu adorava isso nele.

Depois do caso Eduardo e Carol fui para o trabalho, aquele parecia um dia normal, mas o que não percebi é que com toda certeza não seria, quando cheguei a primeira coisa que ouvi foi que meu pai queria falar comigo na sua sala e então fui lá para falar com ele. Quando entrei ele fez um sinal com a mão para eu esperar, ele estava no telefone.

A sala do meu pai era bem simples, uma sala com vários diplomas e fotos com pessoas importantes emolduradas, nenhuma da família, uma estante cheia de livros das quais eu tenho certeza que ninguém nunca lerá.

Quem olha da entrada da sala dá de cara com a sua mesa grande e que ocupa quase toda a sala, ela estava cheia de papéis e documentos enquanto meu pai reclamava com alguém no telefone sobre algum contrato que provavelmente não fora cumprido. Fiquei ali parado esperando ele sair do telefone.

Meu pai desligou o telefone e olhou para mim com uma cara de tristeza mas ao mesmo tempo bastante severa:

– O senhor patrão queria me ver? - perguntei.

– Neto, para com essa besteira.

– Não senhor. Eu sou seu empregado, devo lhe tratar com o devido respeito.

– Neto…

– Por favor, o que o senhor queria comigo?

Meu pai soltou um suspiro e pegou uma pasta, uma das mesmas pastas que vi com ele naquele dia no hospital.

– Eu recebi de volta os exames de urina daquele dia e precisamos conversar sobre o seu exame.

– Eu sabia!

– O que?

– Era bom de mais para ser verdade, não é mesmo?

– O que você está falando, Neto?

– Todos esses anos você ficou me falando de vir trabalhar aqui, mas a verdade é que você nunca quis que eu trabalhasse aqui, você só queria que eu fracassasse!

– Do que você está falando, garoto?!

– Esse exame! É tudo uma fachada! Você fez ele pra dizer que eu estava usando drogas para poder me demitir e sair como o pai bonzinho e eu o filho ruim!

– Não, Henrique Neto! Como você pode pensar isso do seu pai. O exame deu negativo para o uso de drogas.

– Então porque diabos você me chamou aqui?

A próxima frase que meu pai disse mudaria minha vida para sempre e ela que começa a fazer tudo que eu construi até agora desmoronar, ela que faz o castelo da minha responsabilidade que parecia firme como rocha, se tornar um castelo de cartas.

Eu contei uma piada…

– Você… Você….

...ela fez todos rirem…

– Fala logo!

Uma lágrima escorreu do rosto do meu pai, não me lembro de já ter visto ele chorando.

... o que não percebi…

– Você é estéril, meu filho… você não pode ter filhos, Neto!

… é que a piada era eu.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo eu estava realmente ansioso que chegasse, desde que eu bolei a ideia da Linda estar grávida, eu bolei isso, meticulosamente tudo bem calculado para que chegasse nesse clímax, desse jeito e dessa forma, espero que vocês tenham gostado.

PS: As frases que dão título para os quatro último capítulos fazem referência a uma música dos Bee Gees, I Started a Joke. Esse era o puzzle.



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