Não Leia Essa História escrita por Just a Teller


Capítulo 42
Capítulo 42 - Cada Escolha, uma perda


Notas iniciais do capítulo

Engraçado como a história tomou formas diferentes, era para no episódio 42 ter a resposta para um dos mistérios da história, mas as coisas meio que mudaram AUHSUASHAUSUHAS

PS: Queria no episódio 42 exatamente pela simbologia e se não entendeu você deveria ler mochileiro das galáxias.



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Um sábio uma vez me falou uma frase que se encaixa muito bem na situação do capítulo de hoje, chegando até certo ponto que vou colocar isso como nome do mesmo: Cada escolha, uma perda.

E realmente minha vida estava sendo assim, cada escolha que eu fazia, certa ou errada, fazia eu perder alguma coisa. É da vida, eu acho. Pensem na vida de vocês, como cada vez que vocês decidiram fazer X acabaram perdendo Y.

Eu realmente estava apaixonado pela Dhébora, apaixonado o bastante para deixar o meu egoísmo de lado e terminar com ela para que parasse de a enganar. Como eu disse antes, essa coisa de cada escolha uma perda, é uma merda.

Eu tinha de escolher: ou seria uma pessoa justa e faria o certo terminando com a Dhébora e mantendo minha fibra moral ou jogaria minha fibra moral no lixo apenas para ficar com ela mesmo sabendo que estaria sendo o pior dos caras ou a pior das garotas, no caso.

Então naquela noite marquei de sair com ela, era uma noite de lua cheia e fomos passear em um parque, era estranho, cada coisa que fazíamos, me deixava mais triste.

Ter de pensar: "Essa é a última vez que andaremos de mãos dadas" ou "Esse pode ser nosso último beijo". Cada minima coisa que eu sabia que faria eu perder o fôlego de tanta saudade, mas o que eu poderia fazer?

Dhébora estava usando uma jaqueta de couro preta, calça jeans, bota e com aquele batom vermelho que me deixava louco. Seria uma coisa difícil terminar aquele relacionamento.

— Faz tempo que não nos vemos — disse Dhébora se aproximando para me abraçar e beijar, eu correspondi sentindo meu coração se cortar todo. Sentir seu perfume perto de mim me fazia querer ficar perto dela o tempo inteiro.

— É...

— Re... aconteceu alguma coisa? Você tá quieta...

— Eu preciso falar uma coisa com você...

— Ok, aconteceu alguma coisa? — me perguntou Dhébora.

Eu olhei nos olhos dela e entendi que eu não conseguiria fazer isso, se eu a visse chorando, teria quase que vontade de me matar. A triste realidade é que eu não conseguiria terminar o namoro com a Dhébora, eu estava totalmente apaixonado por ela e não tinha como eu conseguir olhar naqueles olhos e dizer que não queria mais ficar com ela, mas não queria mais engana-la também. Então o que eu faria?

Dhébora ainda me olhava esperando que eu falasse algo, mas as palavras não saiam, então engoli e seco e corri. Sim, você leu muito bem, eu sai correndo. Ela gritou por meu nome, mas eu nem olhei pra trás, continuei correndo e correndo sem parar. Fui para casa e me deitei, passei a noite toda pensando na situação fodida que eu estava. Realmente não sabia o que fazer.

No outro dia, fui para a escola, fui bem cansado porque não tinha dormido nada na noite anterior, havia decidido que não tinha como terminar com a Dhébora, então tentaria fazer ela terminar com a Renata, o plano era uma bosta, mas era o melhor que eu consegui bolar, então iria evitar Dhébora ao máximo, não responderia mais ela e não a veria mais, passaria todas as noites trancado em casa e me segurando para não ir vê-la, a saudade seria gigante, mas era o melhor a se fazer e os dias se seguiram assim.

As aulas estavam ficando cada vez mais chatas, não podia conversar com basicamente ninguém, já que Carol estava hospitalizada e todas as vezes que conversava com Dhébora tinha vontade de lhe beijar, então, por incrível que pareça, comecei a prestar atenção nas aulas e vou dizer para vocês, nem é tão chato assim quanto parece, fiquei abismado com algumas coisas da história do mundo, gostei bastante da cultura egipicia e essas maluquices aí, os gregos também são maneiros.

No final daquela manhã, guardei minhas coisas para ir embora e na frente da escola encontrei Dhébora com uma garota sorridente ao seu lado.

Era uma garota mais baixa que ela com o cabelo castanho, era bem magra e parecia ser bem nova, as duas olhavam diretamente para mim, então decidi que era melhor ir até elas.

— Oi, Henri... — me disse Dhébora sorrindo.

— Oi... — respondi sem entender o que acontecia.

— Essa é Julia, eu falei muito bem de você pra ela e a trouxe aqui para te conhecer.

— Ahn?

— Oi, Henri — disse a garota ficando na ponta dos pés para me dar um beijo na bochecha, eu a beijei de volta e fiquei sem reação por um instante e resolvi chamar a Dhébora pra falar sozinho por um instante a puxei para um canto e perguntei:

— Dhé, que merda é essa?

— Uma menina, ué, faz tanto tempo que você não fica com ninguém que esqueceu o que é isso?

— Cara, porque você tá fazendo isso?

— Notei que faz tempo que você não fica com ninguém, daí achei que seria uma boa ideia trazer...

— Mas não foi! — respondi interrompendo ela, minha vontade era dizer que estava completamente apaixonado por ela, óbvio que não queria conhecer outra menina.

— Tá bem, desculpa. Peraí... — Dhébora foi até a garota e falou alguma coisa, a menina parece que ficou um tanto triste e logo em seguida foi embora, Dhébora voltou para vir falar comigo.

— Não te entendo, Henri. Quando te conheci você era o maior garanhão dessa escola, ficava com todas as garotas e agora você nem quer ficar uma?

— Eu mudei, Dhébora.

— Homens não mudam.

— Pensamento bem errado esse seu, garotos podem até não mudar, mas homens mudam e eu mudei. Poderia ficar pegando quantas garotas eu quisesse, mas eu cansei disso, agora tenho um trabalho e até um filho à caminho, não posso me dar mais ao luxo de ficar fazendo esse tipo de coisa.

— É verdade... desculpa.

Coloquei as mãos no rosto e me acalmei:

— Eu não vou ir trabalhar hoje, você quer passar o começo da tarde comigo?

— Ué, não vai ir porque?

— Pedi folga pra ir ver o primeiro ultra-som do meu filho.

— Que legal, Henri!

— Legal? Ficar olhando pra um borrão numa tela de computador? Se é pra ver filme em preto e branco eu prefiro ver os três patetas.

— Exagerado...

— Não vejo graça nisso, sério, só vou pra não deixar a Linda sozinha, os pais dela não estão muito felizes com a ideia de ela estar grávida, entendo que é algo problemático mas acho ela precisa de apoio da mesma forma, né?

— Sim, com certeza. Eu passo a tarde com você sim, relaxa.

— Valeu.

Fomos até a praça que tinha na frente da minha escola e ficamos lá deitados na grama olhando para o céu.

— Olha para aquela nuvem. — apontei uma nuvem.

–O que tem?

— Parece um pinto, não? — respondi rindo.

— Ai Henri, como você é bobo. — disse ela me empurrando e rindo também.

— O que, Dhédhézinha? Não gosta de pinto? Senhorita Lésbica!

— Só dos bem grandes, daqueles negões dos filmes pornôs, sabe?

— Sério? — perguntei abismado.

— Claro que não, seu panaca. — respondeu ela rindo na minha cara.

— Quem é panaca? Você vai ver! — pulei em cima da Dhébora e comecei a fazer cosquinhas nela.

— PARA! — respondeu ela rindo e tentando me tirar de cima dela.

— Quem é o panaca agora?

Dhébora me empurrou e me virou, ficando agora ela por cima de mim. Fui tentar tirar ela de cima e acabei fazendo ela cair, ficando deitada por cima de mim, nossos rostos ficaram bem próximos e não sei se foi só eu ou se pra ela foi igual, mas rolou um clima.

— Ah… — eu não sabia o que dizer, queria muito beija-la.

Nos olhamos nos olhos e por um segundo me movimentei para frente para beija-la, mas ela se levantou antes.

— Eu acho que eu vou indo, pra não perder a hora e tal… — falei antes que ela falasse.

— Hm… o que? Ah sim, ok. Vai lá e boa sorte no ultra-som.

— Não preciso de sorte pra ver um bagulho que eu não vou entender nada não é mesmo?

Saímos, sem dar tchau direito, cada um para o seu lado. Cheguei até o hospital e fui até aonde estava a Linda, ela já estava com a médica passando algum tipo de gel na barriga dela.

— Senhor, agora é só familiares, ok?

— Ele é o pai. — respondeu Linda.

— É, eu sou o pai — falei meio encabulado.

— Ansioso para ver seu filho? — me perguntou a médica.

— Sim, mas acho que ainda vai demorar alguns meses né? — respondi rindo.

— Ou você pode ver agora no ultra-som...

— Nada contra o seu trabalho e nem querendo desrespeitar nem nada, mas não dá pra ver nada nessa coisa, é só um borrão.

A médica riu para mim e respondeu:

— Claro, eu vou ali pegar o resto do equipamento.

A médica saiu do quarto e eu me virei para falar com a Linda.

— Tá tudo bem com você?

— Sim sim.

— Como estão as coisas com os seus pais? Estão aceitando melhor?

— Tudo na mesma, pelo menos não me expulsaram de casa né?

— Você tá precisando de alguma coisa? De dinheiro, sei lá. Comecei a trabalhar pra isso. Não vou deixar faltar nada pra essa criança.

— Já disse, não preciso que você me sustente, não quero que você seja pai dele pra isso, não deixe faltar amor pra ele.

— Não vou, não.

A médica retornou e colocou uma máquina na barriga da Linda, então naquela tela preta apareceu um borrão, todas as outras vezes que eu vi esses exames ultra-som eu não conseguia ver nada, era apenas um amontoado de coisas estranhas em uma tela estranha. Isso não mudou muito, eu ainda não conseguia entender direito o que estava vendo na tela, mas como em uma arte abstrata quando vi, admito, comecei a chorar.

Não sei explicar, mas eu estava feliz como se estivesse vendo um amigo que não via a anos, na verdade, acho que ainda não éramos amigos, mas eu tinha certeza dentro de mim, no meu coração, de que seríamos amigos para sempre.

E esse é o lance no final das contas, sobre o que falei no começo de cada escolha uma perda. Eu poderia ter ficado a tarde com a Dhébora e talvez perdi uma chance de ficar com ela, cada escolha uma perda.

Não sei se vocês pensam como eu, mas mesmo perdendo coisas, eu não arrependo das minhas decisões, não devemos nos arrepender por perdermos coisas. Porque no final das contas, a gente sempre perde alguma coisa, mas o que podemos ganhar em resposta é simplesmente maravilhoso.


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