Não Leia Essa História escrita por Just a Teller


Capítulo 31
Capítulo 31 - Um vazio


Notas iniciais do capítulo

Gente, mil desculpas, tá tudo corrido, vou responder os comentários assim que possível, desculpem pela demora em responder e.e



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"Nossa, adoro homem de terno... É tão bonito" Não digam isso mulheres, vocês não sabem como é ruim usar terno, é quente, você se sente totalmente preso, a gravata parece que está te enforcando e a calça fica penicando, mas o pior não é o que o terno faz com o seu corpo e sim o que faz com as pessoas a sua volta.

Aquela segunda-feira seria o primeiro dia de trabalho no escritório do meu pai. Só essa ideia já não era muito animadora, mas como disse uns capítulos atrás coisas ruins nunca vem sozinhas, minha aula terminava ao meio-dia e meu estágio no escritório do meu pai começava ao meio-dia e meia, ou seja, eu tinha de sair da aula e ir direto para lá, é regra no escritório do meu pai que para trabalhar lá deve-se ir de terno, então eu tinha de ir para aula de terno, já imaginaram? Bem, se não imaginaram eu irei mostrar para vocês como foi, mas se rirem, eu juro que… ok, eu não posso fazer nada, mas não riam. Pela nossa amizade, não riam.

Eu cheguei na sala de aula usando um terno preto com gravata preta, tive que tirar o paletó no caminho por causa do calor e a minha chegada na sala não foi nenhum pouco amistosa. Eu entrei e no momento aquele burbúrio comum de sala de aula parou no exato momento, todos ficaram me olhando, ouvi alguns risos baixos, suspirei me sentindo um fracassado e fui me sentar na minha cadeira, Carol não tinha chego ainda então fiquei lá sentado olhando para o nada, pelo menos até alguém vir falar comigo.

Usando uma camiseta vermelha com o simbolo do Chapolin Colorado e uma bermuda jeans se aproximou de mim Juan.

— Henri?

— Oi?

— Que porra é essa?

— O que?

— Você ai vestido de Bob Esponja. Porque tá usando essa roupa, Henri? Vai fazer exame de fezes ou sua avó morreu? — perguntou Juan olhando para trás para ver se os outros alunos riam com ele e realmente estavam rindo, não tiro a razão deles, se fosse outra pessoa na minha situação eu também estaria rindo e zoando da cara do coitado.

— Muito engraçado, Juan. — respondi voltando a me concentrar no nada.

— Não vai querer me entrevistar? Agora que você está trabalhando no CQC. — completou Juan voltando a gargalhar e olhando novamente para trás. — Ou vai ver você já está vestido assim pra ir procurar emprego agora que você vai ser papai e vai ter que sustentar uma casa? Vai ir trabalhar no Mc’Donalds ou em um super mercado?

Eu me levantei e segurei Juan pela camiseta.

— Quer zoar? Pode zoar, mas não vai falar sobre essa porra entendeu? — a sala toda ficou em silêncio depois desse momento, voltei a me sentar e Juan parou de me encher, durante o resto do dia ninguém veio me zoar e a Carol não foi naquele dia de aula, depois fui descobrir o porque, mas naquele momento achei que ela estava doente ou algo do tipo.

No intervalo fiquei sentado na minha classe já que não teria ninguém pra conversar, meu pensamento era direto naquela criança que ia nascer, como eu seria como pai? Seria um pai legal ou um durão? Eu não conseguia me ver assim, queria que alguma forma de que tudo isso acabasse, talvez a Linda descobrindo que eu não sou o pai ou sei lá, nunca fui de acreditar em milagres, mas um agora viria muito bem a calhar, porém meus pensamentos foram interrompidos por um par de pernas lindos que pararam na minha frente, pernas que eu conhecia muito bem, Dhébora havia se sentado na minha mesa.

Dhébora usava uma camiseta cinza com um palhaço com uma granada vermelha no lugar do nariz, o palhaço parecia bravo e tinha os dizeres “Tu é babaca, cara!” o engraçado é que era assim mesmo que eu me sentia naquele momento, ela usava um short jeans e uma meia calça entrelaçada, com umas botas curtas.

— Hey, Henri, tá tudo bem?

— Oi Dhébs, tudo e com você? — disse suspirando.

— Normal. Soube da coisa de você se tornar pai…

— Acho que é o assunto da escola dos últimos dias né?

— Parece que sim. Você tá bem com isso? Com certeza não é algo que você esperava.

— Ninguém quer ser pai com dezessete anos né? Eu sou um garoto ainda, como vou cuidar de outro garoto?

— É, deve ser difícil…

— Pra caramba.

— E esse terno? — disse Dhébora rindo baixinho, lhe olhei com um olhar do tipo “não ri” e ela levantou os braços como se quisesse dizer “ok, parei”.

— Eu vou começar a trabalhar no escritório de direito do meu pai, lá só pode usar terno e eu não tenho tempo de ir em casa trocar, se eu deixasse o terno na mochila ele ia ficar todo amassado, daí tenho que usar.

— Vai começar a trabalhar por causa do bebê?

— Sim, não tenho escolha né?

— Na verdade tem, mas fico feliz em saber que você escolheu certo. Acho que você vai dar um ótimo pai.

— Talvez se fosse daqui a uns 15 anos, eu daria um ótimo pai, não me sinto preparado agora…

— Será que algum dia a gente fica realmente preparado? Eu acho que não, se tá acontecendo agora na sua vida, pode ser um sinal de que você está preparado e se não está, se prepare para ficar preparado — disse a Dhébora piscando pra mim.

Pensei por um segundo no que a Dhébora me disse e perguntei:

— E você? Como está sua vida agora que está namorando?

— Complicada… Não tão complicada quanto a sua, mas complicada.

— O que houve? — perguntei curioso.

— Ah, então, eu tô namorando a mais ou menos um mês e mesmo assim ela nunca quer dormir lá em casa, sempre inventa uma desculpa pra sair, ela parece que me esconde algo sabe, me sinto sempre como se ela tivesse duas vidas, nunca a encontro de tarde e bem…

— O que?

— Ah, deixa, você não vai querer saber isso…

— Conta logo! — retruquei rindo para ela.

— Sexo! A gente nunca fez sexo!

— O que?! Cadê aquela Dheaba que eu conheci devoradora de pepecas alheias?

— Deixa de bobagem, Henri — respondeu Dhébora pra mim rindo — Eu gosto dela de verdade, não quero apressar as coisas, mas eu tenho vontades né e toda vez que eu tento ela me para, duvido que ela seja virgem ou algo do tipo, nunca perguntei também.

Eu não sabia o que falar, eu podia aconselha-la da forma que eu pensava ou tentar enrola-la bem para que ela não tentasse forçar isso comigo quando a noite chegasse, afinal eu sabia muito bem porque a Renata não tinha transado com ela ainda. Acabei resolvendo ser verdadeiro, mesmo sabendo que isso poderia me foder depois, seja figurativa ou literalmente.

— Olha, Dhé, eu não conheço ela muito bem, mesmo sendo amiga da Carol e afinal é a sua namorada não minha, então posso estar errado, mas se isso está te incomodando, eu acho que você deveria conversar com ela, tentar resolver isso de uma forma que fique bom para as duas, talvez esteja acontecendo algo com ela que você não sabe ou sei lá, o importante é: você só vai saber se perguntar.

— Você está certo. Valeu, Henri.

— De nada.

Dhébora se levantou e ia sair da sala quando a chamei.

— Dhé…

— Oi?

— Porque você veio falar comigo?

— Eu achei que você precisava de alguém pra conversar…

— Mas você não precisava vir…

— Não, mas eu quis, somos amigos né, amigos são pra isso…

— Senta aqui — pedi puxando uma cadeira, Dhébora se aproximou e se sentou.

— O que foi? — ela me perguntou se aproximando e logo em seguida sentando na cadeira.

— Sabe, eu tenho esse sério problema com orgulho, é muito difícil eu falar dos meus problemas com as outras pessoas, eu meio que sinto que se eu falar os meus problemas para os outros eu vou estar me inferiorizando pra elas, que as pessoas vão me achar algo menor do que elas pensavam ao verem que eu tenho problemas, inclusive eu vou me sentir assim em relação a você depois de eu falar isso, mas eu preciso falar disso com alguém e não vou me sentir bem falando isso pra Carol, então acho que vou acabar alugando você por um tempinho, porque depois da Carol, acho que você é minha melhor amiga, isso é estranho, nem somos tão próximos assim e ao mesmo tempo somos, não acho que você entenderia isso, mas pra mim, nesse momento, isso faz bastante sentido. Faz um tempo eu passei por uma coisa com uma guria que acabou me modificando, me tornando algo que eu acho que não sou, algo que eu tentei ser, tentei de verdade, essa guria me magoou muito, mas nem é esse o problema, eu notei que eu me tornei vazio, pelo menos me sinto vazio e eu sinto que esse vazio está engolindo eu e tudo a minha volta, eu não me reconheço mais e muito menos consigo imaginar o meu futuro, me sinto como se estivesse desesperado pra me apegar em alguma coisa, encontrar algo porque na verdade eu tô tentando me encontrar, como se eu precisasse de algo pra me dizer quem eu sou, me sinto em depressão, mas sou esperto o bastante pra saber que não estou, as vezes eu queria ser burro, eu não sofreria tanto.

— Henri, que bom que você não é burro. Olha, você é um cara muito legal, quando eu te conheci achei que você era só mais um babaca que quer ficar pegando as menininhas e eu fico feliz de te dizer que eu estava enganada, você é um cara muito mais interessante que isso. Não tente ser outra pessoa, seja você mesmo, ok? Eu gosto do que você é.

O sinal tocou e em breve os alunos iriam voltar pra sala. Dhébora me deu um abraço apertado e confesso que aquilo me acalmou bastante, era estranho, eu estava muito apaixonado pela Dhébora, mas estava com ela como Renata, quando eu era Henri eu não podia fazer nada e isso era muito injusto.

— E detalhe, você fica bem gatinho de terno hein? — disse Dhébora rindo e logo em seguida mordendo a língua pra mim, sorri pra ela.

O resto da aula passou tranquilamente, sai da aula e fui direto para o trabalho no escritório do meu pai só parei para comer alguma coisa, notei que isso me atrasaria um pouco, mas era melhor do que ficar com fome, quando cheguei no escritório, meu pai estava na porta me esperando.

— Oi pai. — disse eu girando o trinco da porta do escritório.

— Onde você pensa que vai? — disse meu pai trancando a minha passagem.

— Entrar no escritório, ué…

— Você está vinte minutos atrasado.

— Eu sei, tive que parar pra comer, não é nada demais.

— Aí que você se engana, é sim. O horário é certo e vale para todos aqui dentro.

— Eu sou o filho do dono. — retruquei.

— Não, você aqui dentro é o estagiário e deve chegar no seu horário ou antes.

— Qual é, pai?

— Pai não. Aqui eu sou seu chefe, você deve me chamar de senhor.

— Porque você sempre quer complicar as coisas pra mim hein? Porque sempre tenta ser assim?

— A vida vai complicar sempre as coisas pra você, Neto e não sou eu que vou facilitar tudo.

— Você não queria tanto que eu trabalhasse com você e agora que eu estou aqui você faz isso?

— Faço o que? Você aqui é um empregado, você tem que entender isso!

— Então eu não quero mais ser seu empregado, senhor. Eu me demito!

— É isso então? Você entra em um dia do nada e sai no mesmo dia? Você quer ser um fracassado? Eu não criei um filho para ser um fracassado!

— Fracassado? O que você tem na cabeça?

— E não é? Você nem parece que queria trabalhar aqui!

— E não queria mesmo!

— Então porque me pediu pra entrar? Porque, Neto? Responde!

— Tem uma garota esperando um filho meu, pai! E eu preciso ser responsável, não ser um fracassado!

— Um filho? Porra, Neto! — era muito difícil eu ver meu pai falando palavrão, isso mostrava o quanto a situação desagradava ele — Quantas vezes eu não te falei sobre isso!

— Não importa agora quantas vezes você falou, aconteceu e não podemos mudar isso...

— E você pretende ser responsável desistindo no seu primeiro dia?

— Eu pretendo ser responsável sem ser que nem você é.

Dei as costas ao meu pai e sai dali, estava realmente muito irritado, meu pai como sempre precisava estragar tudo.


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