Não Leia Essa História escrita por Just a Teller


Capítulo 30
Capítulo 30 - Almoço em família


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpa ter que explicar para vocês depois de acontecer, mas tive muito trabalho semana passada e não tive como parar pra escrever, então não teve capítulo semana passada, mas agora estou de volta ao ritmo normal. E algo que sempre acabo esquecendo de pôr aqui: Muito obrigado a Danyzinha pela linda recomendação que ela fez para a história.



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Eu estava prestes a fazer uma coisa que eu temi ter que fazer a minha vida inteira, eu me sentia como uma pessoa que faz um contrato com o diabo em troca de sua alma e de certa forma era isso que eu estava fazendo, afinal naquele dia, eu ia pedir para o meu pai que conseguisse um estágio para mim na sua empresa. Aquele era o sonho do velho e o meu pesadelo, eu sabia que depois daquilo eu não teria mais paz, ele ia querer falar de eu trabalhar na empresa o tempo inteiro e embora eu sentisse muita vontade de passar mais tempo com ele, não era esse tipo de tempo que eu imaginava. Eu também sabia que era uma escolha sem volta, se eu entrasse na empresa, meu pai nunca mais me deixaria sair, ou iria me jogar isso na cara sempre que possível, mas eu não tinha escolha, com um possível filho meu a caminho eu queria me tornar um adulto que essa criança pudesse se orgulhar. No momento que eu falasse sobre querer o estágio com o meu pai, minha alma já estaria vendida. E vendida a preço de banana.

Meu pai já havia decidido toda minha vida profissional, eu iria fazer direito na mesma faculdade que ele, iria me formar e seguir como chefe no escritório de advogados da família. Como eu tinha decidido minha vida profissional? Não tinha. Nem imaginava o que queria para o meu futuro. Eu até aquele dia seguia um estilo meio Zeca Pagodinho de ser, um "deixa a vida me levar" maroto de ser só meu, mas com a possibilidade de meu pai virar avô, tudo isso mudava, eu tinha de ser responsável como nunca fui. Notaram que eu tô repetindo bastante isso? Não é erro e nem estou tentando convencer vocês de que consigo ser um cara maduro e responsável, eu tô tentando me convencer, não sei se isso é possível. O que vocês acham? Consigo ser maduro e responsável? Como assim não? E eu pensava que éramos amigos...

Era almoço de sábado quando resolvi falar, meu pai tinha uma mania que nos finais de semana a família tinha sempre que almoçar junta, família que no caso representava eu, meu pai e minha mãe.

Naquele dia minha mãe tinha feito bife de figado acebolado com purê de batatas, a comida favorita do meu pai, eu não tenho nada contra bife de figado, mas prefiro outras carnes, acho meio amarga, talvez seja por isso que meu pai goste, combina com ele.

Na minha casa era estritamente proibido durante o almoço mexer no celular ou falar ao telefone, todos deveriam ficar juntos, acredito que a lógica é que conversássemos mas ficávamos quietos, o som que reinava era o da televisão, minha mãe gostava muito de ver esses programas de auditório: Gugu, Sílvio Santos, até o do Celso Portiolli, ela não gostava do Faustão e seu favorito era o Raul Gil.

O que eu achava uma pena porque o Faustão tinha os melhores memes da internet como o "Errou" e o "Tá pegando fogo, bicho" se você não conhece, procura no YouTube, não vai se arrepender. A minha mãe gostava de ver coisas com crianças, achava fofo as crianças fazendo bobagens ou sendo sinceras demais na televisão, eu realmente ficava na dúvida se ela ficaria feliz ou triste com ideia de ser avó.

Mas não era a hora de falar disso com eles, a dúvida seria se existiria uma hora boa pra eles descobrirem. Meu pai não iria reagir bem e com certeza iria me prender no escritório para conseguir manter a criança, minha mãe eu não sei como reagiria, imaginar isso me dava um frio na espinha.

— Neto, me passa o sal. — disse meu pai mastigando seu pedaço de bife de fígado enquanto começava a cortar outro pedaço. Meu pai era organizado e alinhado até no seu jeito de comer. Em primeiro lugar era quase como prova de caráter para ele: Toda pessoa de bem colocava o arroz por cima do feijão. O pior é que essa regra faz sentido, toda pessoa que conheci que não fazia isso era meio maluca.

Outra coisa que ele fazia era tirando o arroz que devia de ir sob o feijão nenhuma outra comida poderia se encostar e isso valia para até ela entrar na sua boca, no garfo só poderia ter uma coisa de cada vez. O bife deveria ser cortada para cada vez que ele fosse comer aquele pedaço e não cortar todo antes de começar a comer. Meu pai também não bebia nada enquanto comia depois de acabar o almoço ele tomava um copo de água e somente isso.

Eu alcancei o sal já preparado para puxar o assunto mortal.

— Então pai...

Meu pai me olhou curioso enquanto colocava pitadas de sal na sua comida.

— Henrique, chega de sal, você já tem problemas no coração, não pode ficar exagerando nisso. — criticou minha mãe para meu pai. Era verdade, já fazia alguns anos que meu pai vinha tendo problemas do coração e o médico já havia deixado claro que era para ele diminuir o sal, inclusive, de acordo com o médico, isso era hereditário e eu deveria me cuidar também.

— Para, mulher, eu não vou ficar comendo comida sem gosto.

— Você tá chamando a minha comida de sem gosto?

— Você sabe que não foi isso que eu disse, porque você gosta tanto de complicar, hein?

— Eu não estou complicando. Foi o que você disse ué...

— Não foi não, estamos na mesa precisamos brigar agora? Não se briga na mesa.

Minha mãe virou o rosto contrariada.

— Eu vou ver o Raul Gil que eu ganho mais.

— Esse velho pedófilo.

— Pedófilo?

— Um homem com essa idade cercado de crianças só pode significar uma coisa... — disse meu pai rindo enquanto colocava uma última pitada de sal em seu prato.

— Claro que ele não faz uma coisa horrível dessas, Henrique! Porque você fica sempre querendo me irritar? — disse minha mãe se levantando e saindo da mesa.

— Ei, eu tava só brincando, onde você vai?

— Eu vou ao banheiro, não sou obrigada a ficar ouvindo esse tipo de coisa. — disse minha mãe saindo da mesa batendo os pés.

— Mulheres... — suspirou meu pai para mim — elas sempre reclamam, principalmente quando estão reclamando. — completou meu pai, eu tentei sorrir.

— Então, pai...

— O que? — perguntou meu pai me olhando.

— Então...

— Desembucha, garoto!

— Aquele estágio lá no escritório...

— O que tem?

— Ele ainda tá de pé?

— Como assim de pé? Para de falar essas gírias de hoje em dia e fala com o seu pai que nem gente, Neto.

— Eu ainda posso trabalhar com você?

Meu pai largou os talheres e me olhou com os olhos arregalados, acho que nem ele acreditava nisso.

— O que você disse?

— Eu tô precisando de uma grana, daí eu pensei em trabalhar com você, conhecer os negócios da família e tal...

Meu pai se levantou da sua cadeira e eu juro que acho que ele se segurou pra não chorar, ele se aproximou de mim e parou na minha frente.

— Levanta, garoto!

Eu me levantei e meu pai me abraçou forte.

— Seja bem-vindo a empresa que será sua um dia. Precisamos brindar isso! — me respondeu ele dando batidinhas nos meus ombros, eu sorri para ele, eu imaginava que ele ficaria animado, mas não tanto.

Meu pai vai até a cozinha e volta com dois copos nos quais eu esperava alguma bebida decente mas era a água.

— Água, pai? — perguntei desacreditando.

— Sim, água.

— Porque não pega aquele uísque que é mais velho até que eu, que você deixa em cima da mesa da sala.

Meu pai sorriu como se saboreasse uma lembrança.

— Aquele uísque não é meu, garoto. Nós não vamos beber ele.

— Poderia ser uma cerveja então, sei lá.

— Na rua eu não posso fazer nada, mas aqui dentro não vou te ensinar a beber.

Meu pai passou a tarde feliz, falando sobre mil coisas sobre o escritório pra mim e depois me levou para comprar alguns ternos e roupas do tipo para trabalhar no escritório, por mais que meu pai fosse uma pessoa dura e aquela não fosse a situação ideal, eu gostava de passar um tempo com meu pai, era difícil a gente ter esse tempo juntos porque ele passava o dia todo trabalhando.


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