Não, não e não. Eu realmente não podia aceitar que Dhébora não queria nada comigo, isso nunca tinha acontecido antes, eu realmente não conseguia entender o que estava acontecendo.

Pensei por varias vezes na aproximação que usei com a Dhé, repeti palavra por palavra daquela conversa e não conseguia descobrir onde errei. Imaginava as vezes que aquilo era uma pegadinha da Carol, que ela pagou aquela garota para não aceitar sair comigo, mas sempre acabava considerando uma besteira, afinal ela teria que gastar muito dinheiro para que alguém não quisesse sair comigo e ainda existia a possibilidade de a garota querer devolver o dinheiro, antes que falem nos comentários, não estou me achando, não sou convencido, é apenas uma verdade.

No fim, eu chegava na mesma conclusão de sempre: não chegar a conclusão alguma.

Como Carol costumava dizer eu era uma criança que foi acostumada a receber muitos presentes de natal, sempre que recebia um presente já estava interessado em pegar o próximo e agora que estou sem poder pegar aquele presente gigante e com um embrulho bonito, eu choro, esperneio e fico rabugento... e olha, eu realmente fiquei, parecia TPM, nos próximos dias passei sempre com a cara fechada, pensando numa forma de conquistar aquele dhémonio.

Já fazia uma semana desde que chamei Dhébora para sair, não conseguia parar de pensar nisso, eu não comia, seja comida ou não, eu não dormia e bebia mais do que devia.

Novamente, após uma semana resolvi tentar mais uma vez uma aproximação com Dhébora. Usando as palavras de uma das leitoras da história, ainda estava “estarrecido” com o fato de não saber o porque que ela não quis nada comigo. E agora, cada vez mais eu tinha certeza de que minhas chances diminuíam.

Dhébora estava sentada na sua cadeira com os pés em cima de outra. estava com uma camiseta preta sem mangas que pelo corte parecia ter sido feito em casa pela própria Dhébora, na camiseta tinha uma estampa do Groot do filme Guardiões da Galáxia jogando “forma-palavras” com Hodor de Game of Thrones, a piada da camiseta era as palavras formadas pelos dois serem sempre “I am Groot” e “Hodor” , por ser sem mangas era possível ver uma tatuagem com um gato preto correndo em seu braço esquerdo, ela usava uma saia jeans curta, sim ela adorava usar roupas curtas e na minha concepção isso era uma sacanagem desgraçada, nas pernas uma meia calça preta deixava aquelas coxas mais sexys ainda, seus pés pequenos tamanho 35 (não me perguntem como eu sabia o tamanho do pé da Dhébora e não, eu não estou obcecado por essa menina) ela usava botas curtas de couro, ela estava de fone e ouvindo The Hunger da banda The Distillers, como eu sei? Eu meio que consegui a playlist que ela ouve... ah e como eu pude quase esquecer! Ela estava de óculos, cara, eu tenho uma coisa louca por meninas de óculos...eram óculos grandes, a armação era grossa e preta o que contrastava muito bem com a pele bem clara que a Dhé tinha, meu deus, que garota linda. Minha conversá com a Dhé foi em meio a música, ela ouvia tão alto que eu de longe conseguia ouvir o que a Brody Dalle, vocalista dos The Distillers cantava.

“Holy eyes, I never knew I'd beg down at your feet”

– Oi Dhé… - disse eu me aproximando.

– Oi - respondeu ela, tirando os fones e colocando nos ombros e olhando de volta pra mim… aqueles olhos, nossa…

“Hold on tight I never knew I'd know much more than this”

– Gostei da camiseta… bem engraçada.

– Obrigada, comprei em um site na internet.

– Eu ia perguntar se você gosta de Game of Thrones, mas seria uma pergunta besta, todo mundo gosta de Game of Thrones né?

Dhébora só concorda algumas vezes com a cabeça.

“Open sky, the wave of pain the scent of you is bliss”

Ela me olhou, esperando que eu dissesse alguma coisa, eu entrei em pânico, tinha que encontrar algo pra falar com ela para ontem!

“Hungry eyes, they stare at me I know, I know

Don't go!”

– Quais séries você gosta de assistir? A minha favorita é How I Met Your Mother.

Ok, abrir um espaço aqui para explicar, HIMYM é foda. Barney é o cara. Mas, não, não é minha série favorita, eu nem tenho uma série favorita, eu já vi muitas desde Lost até Friends. Mas deixa eu explicar porque eu disse How I Met Your Mother. Mulheres amam How I Met Your Mother, pois é a série de um cara bonito e bem sucedido que apenas busca a mulher para ele casar... consigo ouvir daqui as moças suspirando.

“Summertime, the taste of saint secretes of perfume mist”

– Minha série favorita é “The L Word”, mas assisto de tudo. - me respondeu Dhébora.

“Console the mind, I take it in lips of pink I kiss”

E droga, Houston, nós temos um problema, nunca ouvi falar dessa série, nenhuma garota das quais eu fiquei já citou, em nenhum lugar dos meus grupos de pesquisa sobre mulheres eu achei algo que falasse sobre isso, será que era um spin off de Death Note? Afinal o detetive da série se chamava “L”, o segundo filme live action de Death Note se chamava L change the World, será que ela falava disso e acabou errando o nome? Do que eu estou falando? Isso é um filme, ela está falando de séries… cara, o que eu devo responder? Eu não conheço essa série! Como vou puxar assunto assim?! Isso acaba me deixando alguns segundos em silêncio, logo a situação fica mais que constrangedora. A única voz que ouço é a da Brody cantando, cantando uma parte da música que me faz engolir em seco.

“Lonely sky, the more you take the more that I give in”

– É uma série boa… - eu comento me sentindo o cara mais idiota do universo, ela ficou olhando para mim e dava para ver nos olhos dela que ela estava pensando. No que? Boa pergunta...

“Holy eyes, I never knew, I know, I know

Don't go!”

– Você quer sair comigo, não é? Quer ficar comigo?

“Hold on to the memory, it's all you got”

– Sim, é isso que eu quero - falei de supetão e só quando acabei a frase notei, cada vez mais eu estava sendo idiota, cai na armadilha da Dhé. Uma vez um sábio me falou, antes de mais nada desculpem o palavrão, mas estou citando outra pessoa “Sabe o que que o idiota tem mais que eu e você? Ele tem mais é que se foder!” e bem, nessa situação, o idiota era eu e adivinha o que aconteceu...?

“I know you'll be there to soak up blood lost”

– Então, Henrique, é Henrique né? Como eu te falei da última vez… podemos ser amigos, mas eu não quero sair com você, não nesse sentido. Não quero ficar com você, entenda, isso não vai acontecer, não importa que assunto você puxe comigo, não importa que tática use, o que fale ou que fique quieto, não vai rolar, você entendeu? Por favor, me diga que entendeu.

“Blood lost”

Eu confirmei com a cabeça, estava totalmente atordoado.

– Obrigado - diz ela sorrindo com a boca fechada para mim - quando tiver pronto para sermos amigos, pode vir falar comigo, vou adorar conversar com você.

“Blood lost”

Eu me levanto e saio, ainda me sentindo como se tivessem me dado uma porrada bem forte na cabeça, Dhébora voltou a colocar os seus fones, não dando tempo de eu ouvir a última frase da música dos The Distillers, não ouvi a Brody cantar o último “Don’t Go” e muito menos ouvi a Dhébora dizer isso.