Não Leia Essa História escrita por Just a Teller


Capítulo 26
Capítulo 26 - O Beetlejuice de turbante




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/576014/chapter/26

Que enrascada! Eu me senti muito irritado comigo mesmo, talvez eu não tivesse como imaginar que o carinha de óculos e o namorado da Carol eram a mesma pessoa, mas não ter nem cogitado isso me irritava, não que eu pudesse fazer alguma coisa, nunca tratei o carinha de óculos, ou melhor, o Eduardo como um homem, ou melhor eu nunca agi como menina do lado dele, nós éramos bros na minha concepção, porque esqueci de uma regra clássica que tem algumas exceções assim como eu e a Carol: homens e mulheres não podem ser amigos.

— Re…? — me chamou Dhébora enquanto estava abraçada comigo.

— O que? — perguntei.

— Está tudo bem? Você me parece distante...

— Eu tô preocupada com uma coisa, mas não é nada demais…

— Me conta, você pode me contar o que quiser, quem sabe eu posso te ajudar…

— Ok, bem se lembra do carinha de óculos que anda comigo de vez em quando?

— O Eduardo?

— Como você sabe o nome dele? — perguntei assustada.

— Ele me disse quando eu o conheci, você não se lembra?

— Caramba, será que só eu não decorei o nome dele…? Enfim, eu descobri essa semana que ele era o namorado da Carol e que se mudou para cá para ficar com ela, mas acabou se apaixonando por mim e acabou terminando com a Carol por causa disso, mas nem a Carol sabe disso como nem o Eduardo sabe que eu sou amiga da Carol…

— Vish, Re, que complicado… Como você vai resolver isso?

— Não sei, o pior é que eu não sei, se a Carol souber que isso aconteceu é capaz de nós brigarmos novamente.

— Pior é que não sei como te ajudar…

— Peraí, você não tá com ciúmes?

— Ciúmes? Não… você está comigo e não com ele e também, você é lésbica, não bissexual.

— Como você pode ter tanta certeza disso?

— Nunca te vi olhando para um cara sequer, não sou cega…

Fiquei quieta por um instante e Dhébora me beijou, correspondi e voltamos a ficar quietas abraçadas. Meu telefone tocou, fui olhar quem era, era um número confidencial então eu não atendi e guardei o telefone novamente.

— Não vai atender?

— Número confidencial? Não, obrigado, quando a pessoa tiver coragem de colocar seu número, eu a atendo.

Passei até umas duas da manhã com a Dhébora e depois fui para casa dormir, mas fiquei bastante tempo pensando no que eu ia fazer, a decisão que achei mais certa a se tomar era: contar a verdade para o Eduardo, falar para ele que eu me tornava Renata e que na verdade eu era o Henri, não sei se isso resolveria as coisas entre ele e a Carol, mas acho que resolveria os meus problemas com ele.

Liguei para ele e pedi para nos encontrarmos, ele aceitou de boa, fiquei com medo de que ele estivesse achando que eu queria ficar com ele, mas de qualquer forma depois que ele soubesse que eu tinha um pênis, eu acho que ele mudaria de ideia. Então fui encontra-lo do mesmo jeito.

— Oi… — falei me aproximando dele no restaurante marcado.

— Oi, Re.

— Olha, cara, eu sei que você disse que está interessado em mim, mas eu devo te explicar que isso não vai acontecer, eu sei que é estranho e vai ser difícil para você acreditar nisso, mas é a verdade, se quiser amanhã eu provo para você, eu não sou a Renata, ou melhor eu não sou mulher, se lembra do Henrique? O melhor amigo da Carol, então, eu sou ele, um cara maluco, muito parecido com o John Cleese, conhece o John Cleese do Monty Python? Então, esse mesmo! Ele me lançou uma macumba sei lá do que e agora toda noite eu me transformo em mulher, ele fez isso pra eu poder ficar com uma lésbica que eu sou afim, então você entende o que eu quero dizer? Eu sou um homem, a gente não pode ficar juntos, porque eu gosto de mulher e você também, não é mesmo? Mas a gente pode ser amigos, ok? Eu adoraria ser seu amigo e adoraria que você voltasse para a Carol também. Então, o que me diz?

Eduardo ficou me olhando sem falar nada, nem se mexer ele se mexia. Acho que ele ficou em choque.

— Eu sei que pode parecer desculpa, mas é verdade, cara.

Ele continuou me encarando sem dizer nada.

— Sério que você não vai falar nada? — olhei para os lados irritado e notei que todos estavam parados, parece que o mundo todo parou naquele instante, como se algo tivesse parado o tempo, olhei pela janela do restaurante e no meio da rua como se tivesse brotado estava a a barraca do cara de turbante, imaginei que isso só poderia ser coisa dele então fui em direção a cabana, ao entrar nela notei que ela continuava igual a outra vez, nada de diferente só tinha uma coisa de diferente, dessa vez o John Cleese de turbante não era o John Cleese de turbante, usando um terno listrado em preto e branco, com a cara maquiada como um morto-vivo e com o cabelo mais desalinhado que uma vassoura, um dos meus personagens favoritos estava sentado a minha frente, mas eu não poderia repetir o seu nome três vezes, afinal quem estava na minha frente que o enigmático Beetlejuice, do filme Os Fantasmas se divertem, e essa já foi a primeira que falei seu nome.

— Quanto tempo hein, Henri?

— Cadê o John Cleese?

— Sou eu também, só mudei de forma, não tem o mesmo impacto se eu for sempre a mesma pessoa, então peguei a forma de outra pessoa ou no caso personagem que você admira.

— Você veio aquela vez não me explicou nada e foi embora e agora voltou, eu tenho muitas dúvidas ainda.

— Que obviamente eu não irei responder, eu vim lhe dizer uma coisa muito mais importante, você estava prestes a fazer algo que você não pode fazer. Você não pode contar para ninguém que Renata e Henri são a mesma pessoa, isso é um segredo absoluto, entendeu? Se você contar, eu terei de lhe punir gravemente, por isso você não poderá falar nada disso para o Eduardo.

— Qual a punição? Porque eu já contei para a Carol.

O cara agora Beetlejuice ficou estático por um instante, sem resposta, revirou os olhos e respondeu:

— Ok, essa eu vou deixar passar, mas para mais ninguém, entendeu bem?

— Eu tenho muitas perguntas e preciso das respostas. Quando isso vai acabar? Eu vou ficar assim para sempre?

— Calma, um dia isso acaba, agora que dia, bem, isso depende de você…

— Como assim de mim? Você não fez isso para que eu ficasse com a Dhébora? Pronto, eu fiquei com ela.

— E quem disse que se tratava disso? Aliás, você quer mesmo que isso acabe agora?

— Bem, não…

— Vamos para fora da barraca e lá eu te explico tudo… — disse ele segurando as minhas costas e me levando para fora, passamos da entrada da barraca quando eu disse:

— Mas eu ainda tenho muitas dúvidas então eu preciso dessas respostas, entende?

— Que respostas? — me perguntou Eduardo. Eu sem entender olhei para os lados, estava novamente sentado na mesa do restaurante com Eduardo a minha frente, parece que aquele maldito do turbante me enganou de novo.

Meu telefone começou a tocar, no caso o do Henri, pedi um instante para o Eduardo e olhei para a tela, era um número confidencial de novo, não aceitei a chamada e voltei a olhar para o rapaz.

— Que respostas você precisa, Re, para que perguntas?

— Hm… — eu precisava pensar em algo para dizer — Para o que eu quero da minha vida, não podemos ficar juntos porque eu não sei o que eu quero…

Sim, eu sou muito burro, eu também pensei isso depois que acabei de falar, mas depois de falado não tem como se voltar atrás.

— Então você quer ficar comigo, mas não sabe com certeza se quer?

— Não! - exclamei logo em seguida baixando o tom — Eu estou apaixonado pela Dhébora.

— Apaixonado?

— Apaixonada, ah você entendeu, não complica, Eduardo! É melhor sermos só amigos, ok? Só amigos.

— Peraí, você se lembrou do meu nome? Pensei que para você eu seria o carinha de óculos para sempre…

Ferrou de vez.

— Cara, não, por favor, eu me lembrei do seu nome sim, mas isso não tem nada demais ok? Eu lembro do nome de muita gente… Você devia de tentar voltar com a sua ex.

— Eu pensei nisso, mas você lembrar o meu nome provou que eu estava certo. Pode ser que a gente nunca tenha nada, Re, mas eu gosto de você, eu ainda gosto da minha ex, mas gosto mais de você, se eu ficasse com ela não tendo mais o sentimento que tinha antes, ou seja, não amando ela, seria errado, você entende? Ela é uma garota sensacional e eu me sentiria um idiota se eu a enganasse, jamais poderia mentir para ela, não os meus sentimentos.

— Você é um bobão mesmo, cara.

— Vindo de você eu acho isso um elogio.

— Vamos jantar, ok Eduardo? Amigos, apenas amigos.

— Ok, amigos. Mas pode me chamar de Dudu.

— Vontade de te chamar de carinha de óculos novamente…

Eduardo riu e tivemos uma boa refeição, ele era um cara legal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Não Leia Essa História" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.