Não Leia Essa História escrita por Just a Teller


Capítulo 12
Capítulo 12 - Dhésesperada




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Eu sei… sim, eu sei muito bem o que você está pensando, eu poderia explicar tudo, mas acabaria explicando duas vezes, então vou apenas mostrar para vocês como foi a conversa que tive no dia seguinte com a Carol que acredito estava tão incrédula quanto vocês.

— Você o que? — gritou ela no meio da aula fazendo todos olharem na nossa direção e eu fazer um “facepalm” por causa da reação exagerada dela, a professora nos olhou com cara de reprovação, a mesma reprovação que eu tinha medo de ter naquela matéria no final do ano.

— Porque você gritou? — perguntei pra ela entre os dentes.

— Desculpa, mas você me deixou putamente irritada.

— Irritada? Porque?

— Eu estou te aguentando, Henrique, faz quase um mês, falando sem parar por essa guria — disse Carol apontando pra Dhébora e eu puxando o braço dela para que ela não apontasse diretamente para a menina, quando Carol estava irritada ou muito animada ela tinha a mania de gesticular sem parar e eu tinha que controla-la para que não fossemos obrigados a sair da sala.

— Eu não fiquei falando sem parar da Dhébora…

— Sim, ficou! Eu não aguento mais ouvir falar o dia inteiro sobre a Dhébora e você nunca poderia ficar com ela, porque ela é lésbica e agora que você conseguiu mágicamente virar uma mulher e finalmente ter a chance de ficar com essa garota que você estava obcecado e então isso está acontecendo vocês estão prestes a se beijar e você simplesmente foge e desiste?! É sério isso, Henrique!

— Em primeiro lugar, nunca fui obcecado por ninguém… — Carol me olhou com uma cara que eu entendi muito bem o que ela quis dizer — por ela, nunca fui obcecado por ela, mas você deixou claro exatamente o que estava acontecendo, eu estava interessado nela, eu queria ficar com ela, eu não conseguia conquista-la, me transformei e mulher e aí tudo iria mudar, mas quando fui beija-la notei que não seria eu que a estaria conquistando, seria Renata, ela não estava afim de mim e sim da Renata e me desculpe, mas eu estaria me traindo se aceitasse isso.

— Que orgulho, Henrique! — Carol deu um grunido baixo e ia dar um soco na mesa, mas eu consegui segurar o braço dela.

— Se eu ficasse com ela, não seria real, seria outra pessoa, seria como se ela tivesse pegando qualquer uma dessas garotinhas que ela pega daqui da escola, não quero que a Renata fique com ela, eu quero ficar com ela.

— Henrique porque você tem que ser assim, hein? Você tem que ser tão cabeça-dura, você nunca me ouve! Foi assim quando a Dhébora surgiu, foi assim quando eu lhe disse para deixar ela pra lá, foi assim quando você disse que ia virar o pegador da escola, foi assim quando…

— Não — eu disse interrompendo-a — você sabe muito bem o que prometemos sobre esse assunto, não falamos mais dele, é passado, passou…

— Passou como tudo passa, Henrique, mas algo em tudo que passa fica e você sabe muito bem o que tudo isso fez com você.

Eu me levantei, pedi para a professora para ir ao banheiro e sai olhando com cara feia, ok, feia não é a palavra, nem que eu quisesse minha cara ficaria feia, mas olhei com uma cara de desaprovação para a Carol.

Quando voltei acho que ela se tocou muito bem que eu não queria falar daquele assunto mais mas trocou para um outro que acabaria se tornando tão irritante quanto.

— Hen, amanhã tem a festa, você vai né?

— Que festa?

— Eu sabia que você ia esquecer! Você sempre esquece! Vai ter uma festa túnel do tempo tocando só músicas dos anos oitenta! A-ha, Tears for Fears, Gun’s n Roses, Michael Jackson, Queen, só os clássicos!

— E você não pode ouvir tudo isso em casa, Carol?

— Henrique, você prometeu que iria!

— Não prometi, não.

Carol puxou seu celular e colocou para tocar uma gravação.

“Henrique, você jura pela minha vida, que sou a pessoa mais importante da sua vida, que vai na festa dos anos oitenta comigo?” — disse a voz da Carol que saía do celular.

“A Dhébora tá ficando com outra menina, você acredita? Não sabia que tinha tantas bissexuais nessa escola… Isso parece um pesadelo! Um pesadelo!”

“Henrique!”

“O que?”

“Promete?"

"Tá prometo… prometo, eu preciso arranjar um jeito de mudar isso com a Dhébora…”

No fim da mensagem deu para ouvir um suspiro da Carol antes que a mensagem se acabasse.

— Você gravou? Não acredito que você gravou…

— Se eu não gravasse, você tentaria me enrolar…

— Eu não quero ficar saindo como Renata, Carol, prefiro ficar quieto no meu canto até que isso acabe.

— Henrique, você prometeu que ia ir comigo! Então você trate de amanhã as vinte horas chegar na minha casa para que nós dois juntos possamos ir a festa e eu não aceito um não como resposta, se não eu mesma vou ir até a sua casa arrancar seu pinto e daí você vai passar vinte e quatro horas do dia sendo mulher, o que você acha? Hein?

— Ok, ok… mas da próxima vez não precisa ser tão gentil e doce assim não, ok?

Naquela noite, por volta das nove da noite, eu estava na casa da Carol, os pais dela não se importavam que a Renata dormisse lá quase todo dia e eu avisei meus pais que ia passar uns tempos fora de casa, não queria que eles vissem uma garota no meu quarto e não me achassem, minha mãe podia acabar achando que era uma namorada minha e isso era o que ela mais queria nos últimos tempos, eu não teria paz.

Carol tinha ido tomar banho e eu estava com fome e a fim de tomar uma cerveja, obviamente não poderia fazer isso dentro da casa da Carol, até porque os pais dela achavam a Renata uma santa. Coloquei uma camiseta qualquer e uma calça jeans, peguei minha carteira e fui para a rua, tinha que andar um tanto para encontrar um bar ali perto que não fosse daqueles botecos de bêbados velhos e sujos, era nojento passar por esses lugares, principalmente como Renata, esses carras não tem respeito nenhum pelas garotas, eles poderiam ser meus avôs, mas ainda assim falam coisas que são totalmente degradantes, que nojo.

Cheguei a parte central da cidade, caminhava a procura de um bar, sabia que ali seria tranquilo de achar porque no centro tinha vários desses bares, até que vi algo que sabia que seria um problema: Dhébora.

Ela me viu também e parou na hora o que estava fazendo e veio na minha direção, eu comecei a andar mais rápido, não adiantou muito pois ela me seguiu e me chamou.

— Renata!

Eu continuei seguindo como se não tivesse ouvido, até que senti um puxão no meu braço, me virei e era Dhébora, linda como sempre, com um rosto que misturava irritação com confusão.

— O que houve? — ela me perguntou.

— Oi, Dhébora.

— Oi, Re. O que houve?

— Como assim?

— Você sabe muito do que eu estou falando, nós iamos nos beijar e você saiu correndo?

— Não iamos não, voce deve ter entendido errado, Dhébora.

— Tenho certeza que não.

— Eu não quero ficar com você.

Dhébora me segurou pela cintura e me puxou para perto dela ficamos uma olhando para os olhos da outra, eu fiquei vermelha, conseguia sentir quando ficava assim, conseguia sentir o hálito de hortelã da Dhébora e o seu perfume.

— Diz agora que não quer ficar comigo…

— Eu não disse que não quero… eu quero… — respondi bem baixinho, Dhébora tocou uma mecha do meu cabelo que estava no meu rosto para trás e se aproximou para me beijar, eu coloquei a mão na sua boca — mas não posso.

Tirei o braço dela da minha volta e sai, Deus sabe como eu estava louca para beija-la, mas não como Renata, eu tinha que conquistar a Dhébora e isso significava Henrique, não Renata. Ela continuou me seguindo, pelo jeito estava bastante obstinada.

— Me conta o porque então?

— Porque o que?

— Porque você não quer ficar comigo, ué!

— Esquece isso, Dhébora…

— Não vou!

Eu olhei para os lados e suspirei, vi um cara tirando umas malas de um táxi e olhando para um edificio na sua frente, era um cara até que baixo se comparado a mim como Henri, ele tinha cerca de um metro e setenta e era bem magro, cabelos escuros quase pretos, tinha uma barba por fazer no rosto e uns óculos quadrados e bem grandes, usava uma camisa de algodão listrada de azul com preto, no braço uma tatuagem tribal que eu achei bem legal e usava uma calça jeans surrada, era disso mesmo que eu precisava.

Me aproximei do rapaz e segurei ele pelo braço, era um ato desesperado mas que se ele fizesse o que eu pedi, daria tudo certo.

— Dhébora, esse é o meu namorado…

Dhébora se assustou ao ouvir eu falando isso, talvez tanto quanto o cara que estava ao meu lado, eu olhei para ele com um olhar de carinho, acho que ele entendeu a mensagem de desespero que eu mandava que era “salve-me, por favor”, ele olhou para Dhébora sorrindo amistosamente e se apresentou, olha eu tenho um sério problema com guardar nomes e naquele momento eu juro que esse cara não era nenhum pouco importante, então para mim ele sempre foi o carinha dos óculos.

— Namorado, Renata? Sério?

— Sim, ele é o meu namorado.

— Não é, não. Provavelmente você nem o conhece.

Ele levantou sua mão e mostrou um anel de compromisso na mão.

— Sim, a Renata é minha namorada — respondeu ele para Dhébora e logo em seguida se virando pra mim — Ela está te irritando, amorzinho?

— Não, até porque está de saída.

Voltei a olhar para Dhébora, mas agora eu estava com cara de vitoriosa, meu plano funcionou. Ela estava com uma cara de totalmente surpresa mas em um momento isso mudou para uma cara de decidida.

— Se vocês são namorados, então podem se beijar, não é mesmo?

Meu primeiro pensamento foi “fodeu!”, nem a pau que eu ia beijar um outro cara, entrei em pânico, por mais que quisesse ter um jeito de fugir da Dhébora, não ia beijar um cara, nem pensar, nem pensar, acho que o carinha de óculos notou meu desespero e respondeu por mim.

— Nós não temos que te provar nada, ok? Agora por favor, vá embora, antes que eu, mesmo que não bata em mulheres, tenha que fazer você nos deixar em paz.

Dhébora estava estarrecida, totalmente sem reação, ela se virou e foi embora, quando ela se afastou, eu suspirei, o rapaz se virou para mim e disse:

— Então quer dizer que eu namoro com você? Acho que a minha outra namorada não vai gostar disso, não…

— Mil desculpas por te meter nisso, estava desesperada…

— O que houve?

— Bem, ela quer ficar comigo e eu não quero ficar com ela e ela fica me perseguindo e daí acabei usando você para conseguir fazer ela parar de me seguir.

— Bem, parece que funcionou… Quer tomar uma cerveja? Eu não conheço muito daqui e eu realmente gostaria de uma companhia.

Eu olhei para ele por um instante desconfiada, mas lembrei que ele usava um anel de namoro, então seria tudo ok. Aceitei o pedido e nos sentamos para tomar uma cerveja em um bar. Foi uma conversa agradável, o carinha de óculos era realmente um carinha legal e para quem está “shippando”, é assim que vocês falam né? Que palavra estranha… enfim, para quem está fazendo isso, saiba que eu não sou gay, por isso NUNCA vou ter nada com um homem e isso inclui o carinha de óculos como qualquer outro cara. Podem sonhar o quanto vocês quiserem, isso não vai rolar.

Depois umas três cervejas, eu fui embora, o carinha de óculos ia ficar em um hotel ali perto e eu ia voltar para a casa da Carol, coloquei um pé para fora do hotel e vocês não vão adivinhar quem estava lá me esperando. Ok, não é dificil de saber que era a Dhébora.

— Ele não é seu namorado…

Devo dizer que eu não sabia que como Renata, eu não era tão forte para bebida como quando Henri, então eu tava meio tonta, virei para olhar quem falou isso e era a Dhébora, ela parecia bem irritada.

— O que você faz aqui — perguntei pra ela.

— Esse cara não é o seu namorado, você nem tem namorado, porque você assim como eu gosta de mulher.

— Dhébora, para… claro que ele é meu namorado…

— Ah é? Qual o nome dele mesmo?

— Ele é o… o carinha de óculos — disse eu rindo por causa do alcool.

Dhébora se aproximou de mim.

— Você me quer, assim como eu te quero, porque fugir disso?

Eu estava bem bêbada então não controlava muito bem as minhas atitudes, eu queria a Dhébora, mas não queria como Renata, meus sentimentos se misturaram e me aproximei para beija-la, mas aquele dia estava bem conturbado então mais uma pessoa apareceu, para minha sorte para fazer aquele beijo parar.

— Pare! — disse Linda se aproximando — Isso tudo é uma mentira! Ela é uma mentira, você não devia nem de pensar em beija-la. Pois tudo isso é uma fantasia, é um jogo que essa coisa faz para conquistar você, fazer sexo com você e depois te jogar fora, já fez isso com várias, com quase todas as meninas lá do colégio e agora fez isso que sinceramente é o cúmulo, eu nem sei como fez, mas eu não vou deixar que essa coisa aí te engane, está na hora de todas nós nos juntarmos para acabar com isso.

Meu pensamento na hora foi parecido com o que citei antes para vocês: “Eu não sei como ela descobriu que eu sou o Henri, mas fodeu!”


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