Delirium escrita por Pandora


Capítulo 2
Capitulo 2- Apenas boas vindas


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, desculpa pela demora!

O capítulo não tava saindo rsrsrsrs Quero agradecer às 46 visualizações e a meu único comentário, de DJDCAL pelo comentário!!!!

Pessoal, comentem. sejam bonzinhos rsrsrsrsrs


Espero que voces gostem desse capítulo! E leitores fantasmas, apareça, eu não sou fã de Gasparzinho rsrsrsrsrs

Ps: Hoje eu tô postando com DJDCAL uma fanfic nova, chamada Dont let me down, quem quiser, da uma passada lá e comenta *-*

Bjs!!!!!!!



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“Tão jovem, e já com ferrugem”

–Clarisse Lispector

O que são essas vozes em minha cabeça...minha perfeita paranóia ou minha incrível ilusão?

–A Senhorita pode demorar algumas semanas para se adaptar mas, com o tempo, a senhorita se acostuma- Vivian falou enquanto me guiava pelos corredores brancos e nem um pouco empoeirados daquela instituição.

Eu ia trás dela, em seu encalço, como um cachorrinho sem coleira, obediente, que sabe a que dono pertence, enquanto olhava as pessoas sorrirem quando passavam por mim no largo corredor.

Algumas me lançavam olhares de estranheza, mas tudo bem, eu sei que eu não pertenço a esse lugar. Eu nunca pertenço a lugar algum.

Sou como um peixinho fora d’água que pula em um novo habitat para sobreviver. A diferença, é que esse habitat mudou, e me adequar me parece estranho demais, do mesmo modo que triângulos e quadrados não se encaixam, parece óbvio para todos.

O tilintar das correntes presas ao cós da minha calça negra como a noite ressoava pelo corredor a cada passo que eu dava.

Eu amo esse som. Ele me lembra a cada momento de que eu tenho que me manter alerta. Eles me provavam que eu ainda estava ali, e que o que eu estava vivendo não era um sonho, um torpor ou um pesadelo.

–Esse aqui é o jardim.

Vivian falou quando passamos por uma porta inteiramente de vidro, que ia do teto até o chão de mármore branco.

Olhei para as árvores que balançavam com o ritmo suave da brisa de inverno. Quando cheguei em Southern Flowers descobri pela janela do vidro embaçado do carro que os invernos são suaves e sutis, diferentes dos outonos, que equilibravam a delicadeza e a brutalidade. O vento forte e as folhas lentas...

–Esse aqui é o refeitório- Vivian disse depois de passarmos por mais alguns corredores. Olhei para um lugar onde havia vários jovens aglomerados, alguns tinham pulseirinhas pretas, azuis, amarelas.

Esperava ver um monte de jovens comportados e certinhos, com expressões deprimentes enquanto reviravam a comidas com desprezo e nojo, mas não...embora alguns fizessem isso, a algo a se ressaltar, eles eram jovens. Ali parecia o antro da bagunça, com muito barulho, e parecia, até agora, ser o único lugar onde não havia tanta melancolia. Uma selva. A maioria parecia ter a idade entre 12 a 17 anos, provavelmente obrigados pelos seus pais a ficar aqui, e uma pequena parte era mais velha, comecei a me perguntar o motivo para eles estarem aqui, afinal, eram maiores de idade e não precisavam passar por isso por obrigação, mas minhas dúvidas sumiram assim que vi as pulseiras de plástico pretas. Esses sim revirava a comida com desprezo e nojo e irradiavam de si uma terna melancolia.

Todos usavam branco.

–Esse aqui é o dormitório- A diretora Vivian disse assim que chegamos em um aglomerado com portas amarelas que se estendiam por todo corredor.Todos os espaços ao lado da porta tinham um quadradinho digital, com alguma cor das pulseiras, e havia uma placa na sua porta, que ao inves de muitas, não indicava seu nome ou um “não pertube” mas sim, a cor da sua pulseira também. Ela me entregou uma pulseira amarela, pegou meu pulso marcado o passando por um tipo de sensor na porta, a fazendo destrancar-se.

Havia algo peculiar no quarto...nada de objetos cortantes. Nenhum.

Ele era pequeno. Com uma janela de vidro grosso, dificilmente quebrável, que tinha vista para o jardim. Um pequena escrivaninha, com suas pontas serradas, e alguns papéis sem vida em cima da mesma, uma cama com edredom branco, e macios travesseiro que constatei ao tocar, serem de algodão.

Todas as paredes eram brancas, e havia um banheiro também.

Ah, também tem câmeras, e isso embora seja evasivo contra minha limitada privacidade, não me surpreendeu nem um pouco.

–Só um presentinho para você, de boas vindas- Vivian deu um sorriso forçado, um tanto quanto sínico, e apontou para minha cama, que em cima, tinha uma caixa branca, bem pequena, com um laço vermelho enfeitando.

O abri e, surpresa...

Uma tornozeleira, perfeito! Sintam minha ironia...

Agora sim me sinto em uma prisão.

Vivian me deu “privacidade” para me arrumar, assim que me amostrou as roupas que tinha dentro do mini guarda roupa branco.

Roupas brancas.

Mal cheguei aqui e já estou farta da cor branca. Imagina viver aqui seis meses!

Vesti a blusa fina de algodão, com decote v e mangas longas, usando uma regata branca por baixo, e claças longas que chegavam ao me calcanhar e que não eram tão finas assim, mas que voavam ao mais fraco dos ventos.

Me sinto uma interna. Com essas roupas.

“-Para sempre?

–Para sempre!! Eu nunca vou te deixar, nunca!”

Não é real, não é real.

Disse para mim quando aquelas lembranças pueris me abateram.

Ai vocês pensam, que talvez, as lembranças sejam fáceis de matar, de esquecer, mas não...ela são didícieis de apagar.

Elas te nutrem, ai você tenta matá-las e depois elas matam você. O mais lentamente que conseguirem.

Olhei-me no espelho que por razões obvias era colado na porta de puxar do guarda roupa.

Olhei minha pele parda, meio bronzeada com os climas da California, minha casa, se é que pertenço a algum lugar, e com minhas mãos calejadas e nada femininas, toquei minha face, abaixo dos meus olhos, sentindo a pele mais funda nessa região, olheiras, que escondo através de uma forte maquiagem preta, que neste instante, me recuso a retirar.

Meus cabelos castanhos claros, com tons meio avermelhados por natureza e um tanto quanto acobreados por tantas escovas já dadas, estavam bagunçados ao extremo. Meus cachos que não são naturais, estavam para vários lados, se embrenhando em outros.

Meus olhos castanho, que além das olheiras, também estavam meio vermelhos por falta de sono.

–Está pronta?- ouvi Vivian pela porta, sinalizando que o tempo de me arrumar havia acabado.

Assim que me viu, ele amostrou pelo olhar a desaprovação por minha maquiagem preta. Mas não me importei tanto quanto antes.

Vivian me deu uma pulseirinha amarela, que de acordo com ela sinalizava pacientes inofencivos, mas que de alguma maneira demonstravam alguma ameaça, e me conduziu até o refeitório, que como já disse antes, parece mais uma selva.

–Você pode sentar aonde quiser- ela me avisou. Mas uma vontade quase incontrolável de correr e me esonder no banheiro ou em meu quarto tomou conta assim que pisei meu pé no refeitório. Todos olhavam para mim.

E eu sei, o que todos que ali estavam pensavam, carne fresca.

Me senti tão exposta. Como se tivesse um holofote segindo cada passo meu.

Vivian pigarreou com a garganta, e aos poucos, todos foram voltando a suas conversas.

Entrei na fila do lanche, com minha bandeja de plástico branca, observando as variedades que tinham naquela comida, expostas como nos filmes de colégial. Com aquele suporte de metal e bacias de inox dos dois lados do suporte.

Não tinha carne.

Não tinha coisas apimentadas.

Não tinha gordura.

Apenas salada, salada, salada e mais salada.

Peguei uma garrafinha de suco de maracujá, e depois de colocar um punhado de salada no meu prato redondo de isopor, e obter os talheres de plástico branco, fui me sentar, como melhor opção, em uma mesa vazia.

Peguei um potinho de vidro, bem pequeno, que continha sal, e comecei a temperar minha salada.

Não havia vida naquele lugar? Estavámos todos fadados a vivermos juntos em um acúmulo de tristeza?

–Se você quer se matar, existei maneira mais fácil que pela hipertenção- uma voz debochada soou perto de mim.

–De tédio talvez? Se for assim, preparem meu velório para amanhã- falei ainda sem olhar a pessoa a minha frente, apenas salgando a salada.

Olhei para cima, e vi-me encarando um garoto de pele muito pálida, cabelos cobres bagunçados, dono de lindos olhos azuis. Com um porte fisico evidente apesar de suas folgadas roupas brancas.

Ele se sentou com algumas pessoas na mesa em que eu estava, me lançando um olhar que tentava me desvendar.

–Não me lembro de ter deixado você sentar- disse com uma sobrancelha levantada, com o garfo de plástico remexendo enfiado em algum talo de alface.

–Não me lembro de ter perguntado- ele respondeu também levantando uma sobrancelha- a senhorita tem um nome?

–Meu nome é me deixa em paz- eu disse com acidez, levando à boca um pouco de alface.

–Olá “me deixa em paz” meu nome é Matt, sou aquele que ajuda as pobres pessoas que vem para cá a se adaptarem. Sou meio que o orientador- ele meneou a mão que tinha uma pulseira azul se vangloriando enquanto revirava os olhos como se isso não fosse nada, em sinal de falsa modéstia- a proposito, as carnes são servidas às sextas- ele disse, apontando com o dedo indicador, assim que viu minha cara se contorcer ao comer a salada. Ele fez um cara de nojo e pena- é, eu sei, é ruim mas depois você acostuma.

Engoli a comida.

–Valeu espertão, algum outro conselho?- eu perguntei com uma sobrancelha erguida, deixando que minha voz se enxarcasse de ironia e uma dose de humor.

–Sim, não...quer dizer, um aviso.

Então ele fez algo inesperado, subiu na mesa e começou a pedir por silêncio.

Desci mais no acento ao perceber a besteira que ele ia fazer.

Vernha. Vergonha. Vergonha. Vergonha.

–Pessoal! Pessoal!Ô seu bando de animais!- aos poucos todos ficaram em silêncio, respeitando a autoridade que Matt parecia ter naquele antro de folia.

Comecei a sorrir minimamente com o que ele estava fazendo. Aquele menino era doido...e eu estranhamente gosto de pessoas doidas. Autênticas. Únicas.

–Pessoal, tenho um aviso! Temos carne nova- todos olharam para mim, como se nunca tivessem me visto.- e como sempre, nós, pessoas educadas, queremos dar nossas mais...singelas boas vindas a mais uma criatura indefesa que se infiltra em nosso antro.

Nesse momento todos começaram a bater seus copos de plástico na mesa e seus pés no chão, causando grande barulho ao meus tímpanos. Eles gritavam, e faziam um grande escarceu, transformando aquele lugar em um pandemônio. Mas aqueles gritos, de alguma maneira me faziam bem, me faziam sentir acolhida. Embora eu não senti-se que ali era meu lar.

Matt que estava de lado, se virou para mim, que ainda sorria minimamente quase sumindo por debaixo da mesa, de tando escorregar na cadeira pela vergonha.

Ele se se apoiou em um joelho, e com o outro apoiou o antebraço, ainda em cima da mesma, e assim, com aqueles olhos azuis estreitos e aquele sorriso de canto, ele proferiu as palavras que colocavam inicio a uma história, que começara a ser escrita. Sua voz baixa e rouca, ecoou em meus ouvidos, e eu sabia, que jamais esqueceria aquelas boas vindas.

–Bem vinda ao inferno.


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