Delirium escrita por Pandora


Capítulo 1
Capítulo 1: Apenas branco.


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer:
Bom, espero que vocês gostem e tenham um tempinho para comentar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/575853/chapter/1

“Por trás das máscaras, rostos sofrem de solidão.”

-@frasespsiico

Capítulo 1: Apenas branco

-Já posso ir agora?

Perguntei já me levantando da cadeira de aço, pintada de cor branca.

Na verdade, tudo naquele escritório era branco. As cortinas eram brancas, as cadeiras, a mesa, as estantes, o sofá e até as roupas. Tudo resplandecia calma e paz, embora o que ocorresse ali fosse totalmente paradoxo àquilo.

-Não, você não pode ir agora Senhorita Mayer.

Uma mulher sentada à minha frente, que descobri ser Vivian, falou.

Olhei para meus tios sentados em um sofá branco no fundo da sala, apelando com os olhos que me tirassem dali, de toda aquela loucura. Mas eles apenas deram aquele sorriso sem mostrar os dentes, enquanto me pediam com os olhos para manter a calma, para ser paciente.

É fácil falar, quando os monstros que gritam dentro de você, não fazem parte da sua loucura.

Olhei novamente para a mulher sentada na minha frente, que remexia vários papéis na mesa, que falavam sobre mim, obviamente.

Sua pele é extremamente enrugada, tão pálida que chegava a ferir meus olhos e tão frágil e fina, que se assemelhava à textura do papel. Seu cabelo é curto, tão raso que chegava à nuca e tão ralo que podia ver facilmente sua raiz. Os seus cabelos brancos, não eram tão visíveis em seus fios castanhos claros, mas eles existiam, eles existiam como se para lembrar que a juventude acabou, e que os delírios da mocidade, são apenas lembranças.

Ela me olhou com aqueles olhos azuis gélidos, que pareciam ler minha alma e me açoitar por cada gota dos meus pecados, quase cobertos pela sua franjinha, e entrelaçando suas mãos finas, proferiu o que eu já estava cansada de ouvir:

-Seja paciente Senhorita Mayer.

Respirei fundo, saciando meus pulmões com mais uma dose daquele ar deturpado, reciclável e tóxico. Com cheiro de álcool, remédios e melancolia.

Tudo ali parecia tóxico, perigoso, embora fosse o contrário.

-Olha...eu sei que eu tenho que ficar neste lugar- comecei a dizer, já mentindo. Eu não tinha que ficar ali, eu sou não como os outros, nunca fui e nunca vou ser- quer dizer, seria melhor eu ficar neste lugar- apontei para o escritório em que estava, com um olhar de “eu não quero”- mas...eu não sou louca.

Eu não podia ficar ali, de maneira alguma.

Minha sanidade tinha que prevalecer, e eu tenho certeza que ela não sobreviveria se eu passasse algum tempo naquele hospital psiquiátrico.

-Eu entendo- ela disse, tentando suavizar o gelo em seus olhos. Em uma tentativa de, sei lá, parecer compreensiva, mas não...ela não entende, na verdade, ninguém entende.

Dizem que é normal, é só uma fase ou que já passou por isso, e até mesmo o famoso “vai ficar tudo bem”, mas como acreditar em tais frases, se para mim, até as mais polidas verdades parecem mentira?

Eu queria pular daquela cadeira e gritar que ela não me entendia, que meus psicólogos, não entendiam e que muito menos meus tios entendiam, e que não, nada ia ficar bem. Nunca fica.

Mas eu só pude ficar sentada, sem conseguir me mexer, guardando mais um insulto em minhas memórias, enquanto acenava com a cabeça, como um cachorrinho obedecendo à seu dono.

Estou gritando nas paredes de um quarto escuro, bagunçado, sem ouvir minha própria voz.

-Vamos fazer assim então- Vivian falou, me fazendo aguçar meus olhos castanho-escuros de curiosidade, e me fazendo inclinar mais na cadeira, para perto dela, a fim de conseguir ouvir sua voz- eu te proponho, uma experiência. Passe seis meses aqui, apenas seis meses, aceitando todo o procedimento dado, os remédios, as aulas, a auto-ajuda, as amizades- ela enumerou o que eu deveria fazer com os dedos, enquanto me olhava com um olhar desafiador e com o rastro de sorriso nos lábios, percebendo que eu estava interessada em sua proposta – aceite tudo isso e algumas outras coisas, e assim, você sairá dentro de seis meses, indo contra o tempo que você deveria sair que seria de três anos. Se depois de todo esse tempo, você provar ter melhorado seu estresse, comportamento explosivo- ela olhou de relance a ficha, verificando minhas “qualidades”-...e outros quesitos, aí sim, poderemos quem sabe, aceitar sua “condição mental”- ela fez aspas no ar e em seguida entrelaçou novamente as mãos, fazendo a expressão mais séria que já havia visto em minha vida, finalizando com aquela dúvida fatal e silenciadora- então, o que me diz?

Tentador.

Enrolei com meu dedo indicador uma mecha do meu cabelo castanho-escuro enquanto pensava olhando para minha calça preta.

Ai é que está.

Eu sou tão...inversa, à tudo isso, à todo esse lugar. Esse escritório é tão, leve, tão diferente de mim. As paredes de vidro, as cortinas brancas e algumas paredes de tijolo, brancas também, obviamente, parecem caçoar de mim, como se dissesse que o meu lugar não era ali.

Eu, com essas roupas escuras e pesadas, que transpareciam dor e luto, eu, com essa maquiagem que contrastavam todos os tons de preto e cinza, eu...tão assim, como eu, poderia me encaixar ali?

Mas, pensando melhor, o que eu tinha a perder?

Minha liberdade.

Eu a tinha?

Suspirei, vencida pelo cansaço e a falta de escolhas, e sem cogitar mais, estendi minha mão calejada e com unhas roídas sobre a mesa branca impecável, proferindo as palavras que eu sabia que marcaria o início de uma etapa de loucuras em minha vida, que marcariam o prólogo do meu caos total.

E eu sabia, que de minhas palavras, mais cedo ou mais tarde, eu me arrependeria.

-Aceito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Delirium" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.