Human World Observation escrita por Lady Pompom


Capítulo 16
Capítulo 15: Está tudo de cabeça para baixo


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem qualquer relação com fatos, pessoas ou lugares da vida real. É uma obra de ficção para divertimento.



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A mulher ainda mantinha um aperto firme no braço de Siv Borghild, impedindo que ele saltasse da sacada do quarto dela.

_Eileen, me largue. –disse sério, encarando-a- Preciso ir agora!

_Mas... Hein...? –ela afrouxou o aperto no braço dele, chocada- Quem é esse Crow- alguma coisa?

_Não importa... Eu resolverei isto pessoalmente... –ele preparou-se para sair-

No momento que pensou em deixar a casa, um forte vento súbito passou por ali, na direção do sítio atrás da casa de Eileen. Siv Borghild ficou paralisado com aquilo, e novamente certo assombro tomou sua expressão, ele virou-se imediatamente na direção daquele vento.

_O que foi isso? Não estava ventando muito agora há pouco...

Ela murmurou esfregando os braços com suas próprias mãos para se aquecer. Siv Borghild sumiu da sacada num instante, andando apressado até o quintal da casa.

_Hey, onde vai? –ela o acompanhou-

_Fique longe de mim.

Disse o alien num tom ameaçador, empurrando-a para trás. Ele nunca havia sido tão agressivo assim, exceto pela vez que se jogou numa queda livre com ela.

Em seguida, ele simplesmente pulou o muro, ou melhor, voou para o outro lado. Eileen ficou abismada, mas cuidou em segui-lo. Foi até a dispensa e pegou uma escada que havia ali, pôs a escada encostada no muro e subiu, pulando.

Caiu desajeitada, e levantou-se com uma dor no quadril, arrependeu-se de tentar pular um muro alto de mau jeito.

Mais importante, para onde ele foi? Eu tenho certeza que... Hã...

Ela olhou em volta, as árvores daquele sítio e a escuridão da noite. Aquilo lhe trouxe algumas lembranças desagradáveis sobre a noite que conheceu aquele extraterrestre.

Andando um pouco, mais à frente ela viu duas figuras, uma a qual reconheceu como sendo o alien fugitivo e a outra, um homem elegante e desconhecido.

Tentou se aproximar sem ser notada, não tinha certeza, mas do jeito que Siv estava concentrado no homem à frente dele, não parecia estar lendo os pensamentos dela. Ficou atrás de um tronco de árvore a alguns arbustos, espiando a cena.

. . .

Siv Borghild estava de frente, um pouco longe, do homem inexpressivo à sua frente e o encarava com o semblante sério, de cenho torcido de irritação.

_(Crow-Hreimdar...)

Siv pronunciou-se primeiro, na língua de seu povo, e continuou o diálogo:

_(O que faz aqui na terra?)

_(Ahcsar... Eu vim aqui em uma importante missão...)

Respondeu o outro com um tom calmo, mas isso não amenizou as preocupações de Siv Borghild. Ele encarou o conterrâneo com um ar de desconfiança e prosseguiu em sua própria defesa:

(Eu já estou cumprindo a missão designada, e não vejo sentido em um mensageiro observado humanos, esta não é sua função... )

_(Sim. É verdade.) –falou sem se importar muito- (Não foi para observar os humanos que vim até aqui, minha missão é com você, Ahcsar)

_(... Não há motivos para ele enviar um mensageiro pessoalmente para falar comigo. Tenho me comunicado regularmente, não há necessidade disso.)

_(Seus relatórios...)

_(Eu os tenho feito propriamente.)

. . .

Eileen ouviu todo o diálogo. Suava frio. Aquele homem era outro alien? Quantos mais deles haviam chegado a terra? Não fazia ideia do que estavam conversando, mas parecia algo bem sério, não entender o que falavam só deixava tudo mais tenso...

Quem é este? Sobre o que falam? AHHHH!!! Eu quero saber!!

. . .

Pigarreando, o alien recém-chegado passou a falar no “idioma humano”.

_O lorde acredita que há erros nos seus relatórios... –Crow-Hreimdar disse incomplacente-

_ Que erros? Está tentando dizer que eu não sei relatar o que vejo? –franziu ainda mais o cenho-

_Falta de imparcialidade, para ser exato.

_Estou sendo imparcial, os humanos são seres complexos, há uma miríade de informações que devo descrever, não é uma tarefa simples.

_... De fato seus relatos começaram de uma forma detalhista e visando os seres humanos de forma negativista, porém, o que tem escrito ultimamente em seus relatórios tem sido leves e positivistas descrições em relação à espécie humana. Levando em consideração seu modo de relatar, nota-se uma mudança considerável nos termos que usa. O que nos levou a conclusão de que não está apto para a tarefa. –explicou pacífico-

_Está me dizendo que Itzala pretende quebrar o acordo que fez comigo? –o rosto do homem escureceu-

_...

. . .

Por que estão falando no nosso idioma agora? E... Como assim ele tem escrito relatórios ruins? Eles mandaram alguém aqui pra avisá-lo disso? Eles são mesmo uma raça rígida... Mas... O que o Siv estava escrevendo nos relatórios afinal...?

As pernas da mulher tremiam, não de frio, mas pelo nervosismo que aquela situação lhe trazia, tinha outro deles na terra e este lhe passava uma impressão de frieza assombrosa. Calafrios lhe percorriam a espinha de olhar para aquele pseudo humano bem vestido.

. . .

_Não será uma quebra do acordo, a responsabilidade é inteiramente sua da inaptidão para a tarefa.

_Inaptidão?! –disse irritado, controlando o tom de voz para não soar hostil- É assim que o Lorde trabalha? Desiste de acordos e não comunica aos encarregados da tarefa? Não suportou a ideia de me dizer diretamente e teve de enviar um mensageiro só para isso? –despejou suas frustrações num tom maneirado-

_O Lorde acreditava que você não entenderia nossos motivos por estar sendo influenciado por este habitat humano, foi necessário minha vinda para supervisionar suas reações e decidir se é necessário ou não que volte.

_Desejar justiça não é de forma alguma ser influenciado, eu apenas anseio cumprir minha missão e ter meus direitos estabelecidos no acordo cumpridos da forma que me foi dito. –olhou diretamente nos olhos do outro, furioso-

_...

O outro alien encarou Siv Borghild por algum tempo, como se sondasse a mente dele através dos olhos. Com uma expressão imutável. E iniciou mais uma frase:

_É desprazeroso que pense desta forma... Seu comportamento, sua forma de se expressar, tudo foi alterado, não percebeu isto Ahcsar?

_... Se você estivesse no mundo humano entenderia, só conhece o que viu nos relatórios, mas é impossível entendê-los plenamente desta forma... –disse calmo e inconformado-

_Não me agrado de tomar tal decisão, no entanto, não me deixa escolha...

_... Crow-Hreimdar! Eu estou lhe dizendo que me nego a aceitar retornar, se Itzala quer tanto que eu volte, que ele próprio dê satisfações e venha me buscar!

_...

Um incômodo sutil apareceu no olhar do alien recém-chegado, mas nenhum músculo da face dele se alterou, nem ligeiramente. E a voz dele pronunciou num tom frígido:

_Baseado nas suas ações e de acordo com meu julgamento, deve voltar imediatamente.

_Não voltarei, Itzala pode ser o Lorde, mas tem que honrar seus contratos!

_Já chega. –disse o alien de cabelos negros num tom firme que parecia fazer o ar em volta estremecer- De acordo com as leis de nossa raça, suas ações demonstram-se impróprias bem como suas palavras. Sob a autoridade concedida a mim como juiz, eu, Crow-Hreimdar decreto que o réu em questão, Ahcsar Angsaw IV será levado em cárcere e retornará à prisão da nave Brisingamen de onde saiu até ser decidido o que será feito.

Uma fúria sem precedentes tomou a expressão do alienígena Siv Borghild, ou melhor, Ahcsar. Uma sede de justiça se apoderou completamente de seu raciocínio, deixando-o fora de si.

. . .

Espera, que conversa é essa? O que está acontecendo aqui? Não acredito nisso, aquele outro alien veio aqui e já vai levá-lo embora? Isso é mesmo verdade? E... Tenho certeza de que o ouvi dizer que levaria Siv para o lugar de onde ele saiu... Para a prisão...?

Não entendo o que isso significa! Por que a cena parece tão tensa agora? Ele vai ser preso só por causa de uns relatórios? Ahhh! Isso é muito complicado!

Ainda incrédula sobre tudo que havia ouvido, a mulher moveu-se sem pensar muito, saindo de seu esconderijo, ficando visível para os dois “homens” que discutiam.

_Hã...?

Ela engoliu seco quando o alienígena de cabelos negros voltou o olhar para ela, sua espinha se desconjuntava só de receber aquele olhar desprovido de emoção. Siv também avistara ela depois.

Ah, mas que droga! Eu apareci... Será que ele também lê pensamentos? Provavelmente... Esses aliens e suas habilidades... Invadindo a terra e resolvendo os assuntos deles aqui...

Crow Hreimdar fitou-a por longos segundos, olhando dos pés à cabeça, como se a analisasse, inclusive perscrutando os pensamentos e memória.

_Crow-Hreimdar... –Siv Borghild posicionou-se entre Eileen e o alien- Eu estabeleci condições com esses humanos, não pode tocá-los ou a missão estará acabada... –franziu o cenho-

E-eh? Ele ia fazer alguma coisa? Por que o Siv está tão preocupado? Eu não devia estar aqui, não devia mesmo!

O homem olhou despreocupado para Siv, como se não importasse quais palavras ele tivesse a dizer.

_Estabelecer condições, com humanos? Suas habilidades superam muito as deles, poderia ter feito de forma diferente... Além disso, não é mais necessário manter tais condições, já que estará voltando comigo para a nave...

_Estou sendo ético, prefiro não recorrer à barbárie como certos indivíduos de nossa raça.

_Desenvolveu simpatia por esta espécie? –Crow-Hreimdar fitou os olhos do outro- É compreensível já que se trata de você, Ahcsar.

Aquilo soou, de alguma forma, como insulto, embora a tonalidade de voz do outro continuasse completamente isenta de emoções. As sobrancelhas de Siv Borghild se puseram quase juntas, fazendo a testa dele se enrugar, irado pelo descaso do conterrâneo.

_Vamos resolver isso em outro local...

_Está resolvido. A sentença é que deverá voltar comigo até a nave-prisão e ficará retido até que se decida como lidar com seu caso.

_... Perdoe minha indelicadeza, mas não me deixa outra escolha...

Num piscar de olhos, Siv Borghild havia sumido da vista da mulher e de Crow-Hreimdar, em seguida, apenas a mulher estava naquele sítio, ambos os alienígenas haviam sumido.

Eh? De alguma forma sinto que deveria estar aliviada, mas... Agora que penso... Como é que vou voltar pra casa?!!!

E que está acontecendo aqui? Uma briga alienígena na terra? Será que o planeta suporta isso? Ah! Isso é uma grande confusão! O que exatamente está acontecendo aqui???!!!

. . .

No longínquo campo desabitado, onde estava a nave de Crow-Hreimdar, o primeiro alienígena a por os pés ali foi Ahcsar. Na gigantesca área coberta de grama verdosa.

Ele deu alguns passos para perto da nave e logo um barulho abafado de algo pousando ali pôde ser ouvido vindo de trás dele.

_... Crow-Hreimdar...

Disse sem virar-se para encarar o mensageiro, que o inquiriu num tom gélido e calmo:

_Decidiu voltar?

Ahcsar deu um leve sorriso olhando para o outro de perfil, em seguida deu um salto, aterrissando em cima da nave.

_Ahcsar Angsaw, o que pretende fazer? Este é um veículo autorizado para viagens espaciais, Brunnehilde.

_É mesmo? Eles me dão uma nave com defeito e lhe oferecem uma nave de batalha? -disse irônico- Não é muito justo...

_Desça agora, este veículo não irá se mover com suas orientações, está programado exclusivamente para esta missão e responderá somente aos meus comandos.

_Comandos?

Ele virou-se para encarar o mensageiro, com um sorriso que continha uma alegria desastrosa.

Num instante, Siv Borghild socou a nave, perfurando com uma única mão a estrutura metálica de tal forma que seu braço inteiro entrou no veículo. Após isso ele foi lentamente puxando o braço e se levantando enquanto segurava algumas placas de metal desconhecido e circuitos da nave.

_Tem certeza de que este veículo serve?

Terminou de desvincular os fios e circuitos presos à nave, depois jogou-os no chão, sem titubear.

_Não acho que sirva mais... –disse sério-

_Ahcsar, isto é uma afronta às ordens e ao patrimônio da nave-prisão central.

_Eu nunca fui um cidadão bonzinho para início de conversa, não foi por isso que acabei na cadeia? –disse ápero com sarcasmo embebido na voz-

_... Reportarei isso ao conselho imediatamente, sua pena será mais dura... –disse frio, com um olhar afiado-

_Eu não tenho medo do conselho, nem de você... –pronunciou com desprezo-

Deu outro golpe, desta vez no que parecia ser uma janela da nave, e entrou por ali. Crow-Hreimdar o seguiria, mas recuou ao ver fumaça saindo de dentro do veículo e o som de uma explosão. Seguido disso, Ahcsar saiu de dentro da nave, com um ar sério.

_Fique um pouco na terra e esfrie sua cabeça enquanto conserta sua nave... Tenho certeza de que entenderá o que tenho escrito enquanto observa estes humanos... –virou de costas e deu alguns passos na grama, calmamente-

_... Ahcsar...

Pela primeira vez o mensageiro demonstrou um traço de fúria no olhar que parecia ficar mais negro com aquele sentimento exposto.

_Ah! A propósito, -virou-se de perfil para encarar o outro- Não será capaz de dar notícias por um tempo... –bamboleou no dedo um tipo de pulseira transparente com um símbolo no meio, dando um sorriso- Até logo, mensageiro.

E dizendo isto, saiu de cena, deixando para trás um alien indignado, com um problema mecânico para resolver e incapaz de se fazer contato com o resto de sua raça, devido a “problemas técnicos” de comunicação.

. . .

Eileen tentava subir no muro, mas era impossível para ela. Estava escuro ainda, era noite, mal conseguia ver a distância que teria que pular.

Como pude ser tão burra? Eu deveria ter colocado algo para escalar deste lado... Hum... Talvez se eu escalar alguma dessas árvores.

Não espera, eu nunca escalei árvores antes! Mas... Se eu não fizer nada vou mofar aqui nesse lugar desolado...

Tem uma bem ali... Perto do muro... Se eu conseguir subir nela, posso pular para o muro...

Determinou-se e foi em direção à árvore mais próxima do muro, nunca lhe passou pela cabeça que um dia teria de escalar uma árvore, se soubesse teria o feito desde criança, assim não teria problemas de fazê-lo agora.

Foi se apoiando em alguns galhos mais baixos e tentando subir o suficiente para se equiparar à altura do muro, conseguiu de alguma forma ficar em pé sobre um galho grosso da árvore.

Agora vinha o problema principal: pular até o muro, era uma distância de aproximadamente dois metros. Era mesmo possível pular aquilo tudo de cima de uma árvore?

Ah! Eu adoraria saber Le parkour agora... Devia ter escutado a Hail quando ela me aconselhou fazer isso...

Respirou fundo e fechou os olhos, instintivamente deu um passo para trás, para pegar impulso, mas seu pé escorregou e ela caiu da árvore. Apertou os olhos, quase sentindo a dor da queda daquela alta árvore, tremeu ao imaginar, mas não foi como ela esperava. Quando abriu os olhos, se viu nos braços daquele alien, e ele a encarava com uma expressão indiferente.

_O que estava tentando fazer?

_E-Eu... Não importa! M-Me ponha no chão!

Sentiu-se envergonhada por ser vista numa tentativa falha e vergonhosa de voltar para casa.

Ao contrário de Eileen, Siv conseguiu passar para o outro lado do muro com facilidade, e a largou no chão do quintal da casa dela assim que chegaram ao local. Sem nenhuma delicadeza.

_Ai!

Disse massageando o quadril. O homem iria entrar na casa, mas parou ao chamado da mulher.

_Espera!

Ela levantou-se rapidamente e ele virou-se para encará-la com uma expressão séria.

_O que aconteceu com aquele alien? Por que voltou tão rápido? Onde estava?

Havia muitas perguntas que ela gostaria de fazer, mas sabia que ele não responderia a todas elas, por isso fez apenas algumas, na esperança de que ele desse alguma resposta.

_... Não se incomode com ele, eu já resolvi o problema... Além disso, eu tomarei a responsabilidade por quaisquer danos que ele cause a qualquer um de vocês, isso deve ser o bastante, certo?

Fez uma pergunta sem esperar que ela respondesse e deu mais alguns passos, mas novamente foi interrompido.

_Espere! Ainda tem muito que quero lhe perguntar!

Ela estendeu a mão, como se tentasse impedi-lo, embora ele estivesse longe dela. Ele não se importou e continuou andando, quando pôs mãos no trinco da porta que o levaria para dentro da casa, parou instantaneamente ao ouvir as próximas palavras da mulher:

_Preciso de algumas explicações, Ahcsar...

Ele surpreendeu-se negativamente com a mulher e virou-se para encará-la, com o cenho franzido.

_ Foi assim que aquele homem lhe chamou... Agora há pouco... –disse hesitante, recuando pela reação que o homem demonstrou- Esse é seu nome, certo?

Ele fez uma expressão de desagrado profundo e ela recuou quando ele não respondeu.

_Então... Será que podemos conversar?

_Me deixe em paz. – o mau humor dele era evidente ao dizer a frase-

Ele entrou na casa com um ar negro pairando quase tátil por perto dele, a mulher sentiu-se intimidada com aquilo.

Por causa daquele outro alien ele ficou com todo esse mau humor... Por que isso tinha que acontecer logo agora...? Sr. Gilbert... O que eu devo fazer?

. . .

Siv Borghild, ou melhor, Ahcsar Angsaw subiu até o quarto onde ficava hospedado com a mente conturbada, algo raro considerando que ele geralmente era capaz de manter-se calmo e controlado, independente da situação. Suas emoções estavam tão oscilantes que ele nem mesmo podia organizá-las.

Por que agora...? Por que isso tinha que acontecer agora...? Aquele maldito Itzala... Tentando forçar uma quebra de acordo... Ele prometeu! Ele jurou que iria cumprir contanto que eu também me comportasse...

Meldevich... Será que é errado ter um desejo único? Não importa aonde eu vá, tudo sempre procede da mesma forma... Será que é o destino...?

O mundo irá sempre me rejeitar, não importando onde eu esteja?

Eu segui o mesmo caminho que você... Então por que Meldevich? Por que comigo tem sempre que ser diferente? Como pode tudo que eu faço ruir dessa forma...?

Isso me irrita...

Não consigo me acalmar... Eu...

Ele quase rasgou a camisa enquanto a desabotoava, completamente irado, o cenho franzido e os pensamentos distantes. Ele olhou para a própria mão, refletindo e suas memórias o levaram a um tempo longínquo, e sua expressão esmoreceu...

. . .

Ele estava numa sala escura, com uma janela que dava vista para uma paisagem incomum: Os milhões de estrelas do espaço, reluzindo ao longe, e a poeira cósmica que coloria o céu negro. Ahcsar apoiou-se sobre um dos joelhos, num gesto de respeito.

_Ahcsar... Deves estar se perguntando para saber por que lhe chamei aqui... –disse uma figura sombria que se mantinha de pé, perto da janela-

_...

_Não te aflijas, tenho uma proposta a lhe fazer...

_Sou todo ouvidos, Meu lorde... –ele respondeu sem emoção-

. . .

Ele voltou ao presente, encarando sua mão, com uma expressão que misturava raiva e aflição.

Por quê...?!

Ouviu o som de algo quebrando, olhou imediatamente para a direção de origem do som, era a janela. O vidro da janela possuía um rachão, não o suficiente para quebrar, mas aquilo era um mau sinal.

Balançou a cabeça para varrer aqueles pensamentos de sua mente, as lembranças desagradáveis que começavam a vir à superfície. Aquilo fazia suas emoções tempestuosas, e não era bom que ele perdesse o controle sobre seus próprios sentimentos.

Ele retirou a camisa de botão e jogou em cima da cama. Escolheu outra camisa de botão, vestiu metade, mas antes que terminasse de se compor, alguém bateu na porta e em seguida, abriu-a.

Era Eileen, ela ainda estava com a cabeça baixa quando abriu a porta, e disse com a voz baixa, com certo receio de ser repreendida pelo homem.

_S-Siv, quero dizer, Ahcsar... –ela levantou o olhar e arregalou os olhos-

O homem também reagiu rápido, virou-se imediatamente, mas já era tarde. A surpresa dela não vinha do fato dele não estar completamente vestido, mas de algo perturbador.

Cicatriz? Por que ele tem uma... Cicatriz?

Esse foi o primeiro pensamento que surgiu na mente dela. Fora o fato do corpo dele ser perfeitamente igual ao de um humano, o que mais surpreendeu foi a marca que começava no canto do abdômen chegava até as costas, uma cicatriz em forma de corte.

_Ah... –ela deu um passo para trás- Eu não... Me...

Tentava achar as palavras, mas seus olhos não desgrudavam daquela marca que ele possuía no corpo.

Por que ele tem essa... Cicatriz? Ele tinha isso antes ou foi recente? Por que é tão grande? Parece de cirurgia...

Onde ele ganhou essa cicatriz? Quem conseguiu ferir ele assim?

Ao ler o pensamento da mulher, memórias desorganizadas e cenas confusas despertaram no homem, que ficou profundamente alterado com as lembranças.

Eh? O que são essas imagens? Por que eu estou vendo isso?

Um misto de cenas desordenadas e sem sentido invadiram a mente da mulher de súbito, passando como um filme, de forma rápida. Ele sentiu sua cabeça latejar, não entendia o que estava acontecendo. O que eram aquelas imagens? Quem eram as pessoas que viu? As cenas eram confusas demais para que compreendesse.

O que está acontecendo? O que são essas imagens na minha cabeça? Isso dói...

_Eileen...

Ele disse puxando ar para os pulmões, como se se preparasse para gritar. Ela finalmente teve coragem para fitar o homem nos olhos, porém, não foi a melhor opção... Ele tinha o semblante tomado de fúria.

_Me desculpe, eu não quis...! –ela tentou gesticular, mas era tarde- Eu não queria...

_Eu lhe disse para me deixar em paz!

Ele bradou furioso, fazendo um gesto brusco com a mão. Com o grito dele, os vidros da janela se quebraram, assustando a mulher, que tremeu. O que foi aquilo? Pareceu uma onda sônica, e vindo de um alien, ela não se maravilharia se fosse realmente algo do tipo.

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Era a primeira vez que ela presenciava tal acontecimento, uma fúria tão grande a ponto dos poderes dele explodirem. Nem quando o governo fez todas as tentativas de assassinato, nem quando usaram aquele truque sujo com a criança bomba. Era incrivelmente assustador.

Ela gostaria de não estar amedrontada pela presença forte que o homem exercia, pelo peso que parecia cair sobre seus ombros, quase a obrigando a se ajoelhar ali mesmo, no entanto era impossível.

_ O que acha que está pensando?! Suma da minha vista!

Ele aproximou-se gritando com todo ar que tinha em seus pulmões.

E-eu não deveria ter visto isso? P-Por quê? Eu não entendo.

_Desapareça antes que eu destrua você!

A voz dele mudou para o tom grave, apavorante de sua forma real. Por um instante o coração de Eileen ameaçou falhar, quando ela foi encarada por o par de olhos descontrolados de ira, sem fundo. E ela teve a certeza de que se permanecesse por meros segundos ali, seria despedaçada pelos poderes dele. A enorme presença que ele exercia fazia o corpo dela tremer, quase dobrar os joelhos.

Lágrimas começaram a se formar nos cantos dos olhos e quase chegaram a cair, ela não podia evitar o desespero. O coração acelerado, o suor frio, o pavor, ela já havia sentido aquilo mais de uma vez, mas desta vez, foi ainda pior. Era mais doloroso, embora ela não entendesse o porquê.

Ele fez um gesto brusco enquanto estava com os olhos fixos nos dela, e ela pode prever o futuro, o final daquele gesto. Por um segundo imaginou sua própria vida sendo extinta por aquela criatura furiosa, mas repentinamente ele parou antes de completar seja lá o que estivesse tentando fazer.

_Tch! –grunhiu rangendo os dentes-

Deu as costas e com o punho cerrado, pulou da sacada do primeiro andar, sumindo ao longe em seu voo.

Eileen caiu de joelhos, pondo a mão em seu coração parecia tentar sair do corpo. Olhou apavorada para os cacos de vidro espalhados no chão. Não podia acreditar, tinha sido mesmo efeito do poder dele?

Respirava fundo, ainda aterrorizada, e fitou o chão. Ficou ali, tentando se recuperar até ter coragem de engolir a situação e limpar aquela bagunça.

. . .

Por quê?! Eu não fiz nada, ainda assim meus poderes...

Está tudo conspirando contra mim agora? Não apenas esses humanos, mas Crow-Hreimdar, todos eles querem me ver morto ou preso?

Eles se acham superiores?!

E eu nem consegui matar uma humana! Eu decaí tanto assim desde que vim para cá?! Responda-me, Meldevich!!

Enquanto sobrevoava uma área perto do mar, ele subitamente perdeu altitude, seus poderes falharam e começou a cair, em alta velocidade.

O corpo dele colidiu violentamente no chão e foi arrastado longe, o impacto foi tão forte que ele despencou de um penhasco de rochas até o grande e livre oceano.

Ele afundou no mar, lentamente submergindo, enquanto seus olhos fitavam os raios de luz lunar invadindo a água, e à medida que caía, a luz, o som da água, a visão, tudo sumia enquanto seus pensamentos vagavam, se perdendo na imensidão do azul.

Selou os olhos, sem se importar com a profundidade que estava submergindo, decaindo cada vez mais. Sua mente estava suscitando todas as cenas de sua memória lentamente, como se o hipnotizasse e o tragasse cada vez mais fundo no mar, e ele não reagiu sem despertar de seu transe mental.

Perdeu a noção do tempo, num estado de sono profundo, como se os sonhos pudessem se fazer uma realidade alternativa, um mundo só de lembranças amarguradas que faziam a escuridão dentro dele crescer...

Até que...

Ahcsar...

Uma voz masculina chamou em sua mente, fazendo-o abrir os olhos imediatamente, acordando de seu transe.

Essa voz...

Motivado por aquela voz, ele saiu das profundezas da água num minuto, completamente encharcado, ainda perdido, voou até a costa que não estava muito longe dali. Ele estava cansado, mal pôde se levantar, caiu na areia, perto de algumas formações rochosas. Rolou deitado para encarar o céu.

... Meldevich...?

Ele respirou fundo, encarando o alto. Era manhã, os raios de sol ainda estavam começando a aparecer. As nuvens que lentamente caminhavam pelo azul-celeste, deixando um livre espaço para que ele pudesse apreciar a cor, e o vento que soprava varrendo a areia que o acalmara o suficiente para pensar.

Isso é frustrante... Meus poderes estão fora de controle... Isso é porque essa situação está me deixando desconcertado.

Irmão, o que você faria?

Eu herdei essa mesma afeição que você tanto tinha pelos humanos... É por isso que não querem aceitar meus relatórios...? Ou desde o início aquela proposta foi uma mentira...?

_Eu sou tão incapaz a ponto de se quer conseguir lidar com essa situação...?

Ele torceu o cenho. Uma solidão profunda, e uma tristeza inigualável abateram seu rosto quando ele pronunciou aquelas palavras para si mesmo.

. . .

Num prédio,

No meio da cidade

. . .

O soldado Blake entrou na grande sala. Ao fundo, bem longe, havia um homem sentado à escrivaninha, com os vidros espelhados como plano de fundo. Era possível enxergar a cidade através dos enormes vidros.

_Cabo Blake, é você? –o homem sentado na cadeira falou-

_Sim...

_... Pensei que... –não completou a sentença-

_Vim o mais rápido que pude, mas era perigoso sair do hospital, mesmo assim, vim para lhe dar notícias... Senhor... – o soldado fiel reverenciou-

_Se você está aqui, significa que...

_Senhor... –o cabo Blake baixou a cabeça e engoliu seco antes de contar- Não... Não conseguimos... De novo...

_Como assim...?-a mão do homem começou a tremer, de raiva- Aquele monstro não morre nunca? –exasperou-se- Idiota! É culpa sua! Não fez o serviço direito! Não é possível que ele tenha sobrevivido! Aquele veneno deveria tê-lo matado! –cuspia saliva, descontando sua fúria no soldado-

_Mas, Sr., -ele tentou se explicar com receio-

_Devia ter morrido ao invés de voltar de mãos vazias!

O cabo Blake encolheu com o comentário do homem, surpreso com a falta de coração. Não iria adiantar falar nada no momento. Porém, ele tomou coragem e tentou se explicar:

_Senhor... Ele ajudou a todos dentro do voo... Ele nos tirou do avião, mesmo que estivéssemos tentando matá-lo... –disse hesitante-

_ Hum... –o chefe ponderou- Ele ajudou? Por que ele faria isso? Aquela criatura nojenta mudou de lado agora? –roeu as próprias unhas, impaciente-

_Não sei Sr... Eu só soube disso depois que acordei no hospital, os outros membros do governo que estavam a bordo comentaram...

_Ele continua intervindo, se agrupando com humanos... Eu pensei que matá-lo num voo funcionaria se ele estivesse ocupado tentando proteger os humanos que tanto adora, mas ele... –o homem cerrou o punho e bateu na escrivaninha, fazendo um estrondo- Ele conseguiu sobreviver e ainda salvou aquelas pessoas!

_Sr...? –o cabo suou frio com a perversidade do homem-

_Reúna mais informações sobre essa “bondade” insana dele... Isso está certamente sendo um belo ponto fraco... –sorriu maldosamente- Agora saia, você só será útil quando me trouxer informações... –murmurou-

O soldado não ouviu a última parte e saiu com uma incerteza pesando em sua consciência. Seria realmente a melhor opção ajudar o ministro a livrar-se daquele alien? Ou será que ele estava perseguindo o vilão errado?

. . .

Enquanto isso,

Em campos verdejantes...

. . .

Siv Borghild, o pseudo-humano havia se arrastado da praia para os verdejantes campos para os quais sempre fugia quando queria se comunicar com seus superiores ou quando queria estar sozinho. Aquele lugar foi testemunha de muitos de seus relatórios. Ele sempre passava horas a fio ali e o governo nunca foi capaz de descobrir que era lá o local onde ele estava todas as vezes que desaparecia.

O cheiro da grama e da terra, o vento forte que circulava, as poucas árvores ao longe e o céu. Tão límpido, o sol estava ali presente também, surgira há pouco tempo, e fazia seus olhos doerem quando ele ousava encará-lo.

Ouviu o som de passos abafados, leves ao tocar no chão, mas pela presença que aquele ser emitia, reconheceria mesmo sem ter ouvido som algum. Logo uma sombra se projetou sobre o alien e sua vista foi ocupada por uma figura reconhecida.

_Ahcsar...

Era Crow-Hreimdar quem o chamava, encarando-o de cima com a mesma passividade e frieza de sempre, fazendo Ahcsar estreitar os olhos.

_O que veio fazer aqui? Pensei que precisava consertar uma nave...

Siv levantou-se calmamente para falar frente a frente com o sujeito que estava ali de pé, com uma expressão vazia e um ar de rispidez.

_Minhas intenções continuam sendo as mesmas, Ahcsar Angsaw IV, deverá ser levado e mantido sob custódia até ser julgado e uma decisão seja tomada por seus atos.

_Não irei voltar. –disse firme-

_... Pretende continuar neste planeta, se misturando com os humanos que deveria observar?

Siv franziu o cenho e cerrou o punho, ele sabia que o outro tinha razão quando dizia que ele estava sendo afetado pelos humanos. De fato, Ahcsar nunca sentiu-se tão incontrolado quanto agora.

_Sua ruptura emocional é evidente. E com tais emoções, seus poderes ficarão rebeldes, pois uma vez que sua mente esteja poluída com esse mundo, seu corpo não lhe obedecerá... Está quebrada, sua mente...

_...

_Seu corpo não lhe obedeceu? Perdeu o controle de si mesmo? –ele dizia frio- Um verdadeiro Tarantiano não perde o controle sobre as emoções, independente da situação na qual se encontra, mas Ahcsar, você...

_Veio aqui listar razões para me levar de volta? –cerrou os punhos ainda mais-

_Seus poderes estavam “vazando” desastrosamente, mesmo de longe fui capaz de sentir... Este ambiente lhe faz mal... Está deixando-o perturbado e deturpando sua mente. –continuou o monólogo- Esse descontrole emocional é causado pelo ambiente ao qual foi submetido, não estava preparado para uma tarefa desgastante... É algo extremamente nocivo para você...

_Crow-Hreimdar, não preciso de suas críticas, sei muito bem aonde quer chegar, não vai me convencer a voltar!

_Se permanecer na terra, suas emoções ficarão cada vez mais instáveis, e essa instabilidade afetará não somente a você, mas também aos humanos ao seu redor e a todo este ecossistema... Poderá ferir estes humanos e destruir tudo que há aqui com facilidade, tal é o poder que possui... –fixou o olhar nos orbes do outro- É isso que deseja? Não tinha acordos com estes humanos? O que fará se quebrar o acordo num episódio de descontrole?

_...

_Sabe que falo a verdade, sua instabilidade é perigosa... Tanto quanto foi para nossa raça há tempos atrás... –disse com um olhar afiado-

_Está tentando me testar? Quer saber quantas vezes pode me atingir com palavras antes que eu me perca em fúria?

_Não estou lhe testando... Estou apenas constatando a realidade, e se realmente lhe incomoda tanto, é porque sabe qual o lado justo deste enredo... –disse em seu tom calmo e cordial- Você está afixado a emoções humanas… Porque eles o lembram de um lado que vive dentro de você, que nem mesmo conhecia... Consegue ver-se refletido nas ações destes humanos, em seus pensamentos, em suas emoções...

O alien de cabelos negros discursava frio, com os olhos despidos de qualquer tipo de emoção, mas suas palavras eram perfurantes.

_Queria ser livre, no entanto, você mesmo se acorrentou a este lugar... Porém... Mais do que eu, sabe que não será possível se manter aqui em seu atual estado, e que breve esta pequena ilusão de liberdade que está vivendo, irá se desfazer... Um vínculo oscilante que pode ser facilmente quebrado nunca poderá suportar para sempre, Ahcsar... Contudo, não precisa se afligir, quando se afastar deste habitat inóspito, será mais fácil se estabilizar emocionalmente. Então, -ele estendeu uma das mãos- Acabe com essa hesitação, está na hora de retornar, para seu verdadeiro lugar... Aquele ao qual pertenceu desde que se tornou assim... Vamos voltar Ahcsar, mesmo na prisão, eles lhe darão o tratamento e orientação necessários para que você volte a ser como era antes de ser confundido por essa raça inconstante.

_Eu não irei voltar!

Cerrou forte o punho, a ponto de cortar sua própria pele com as unhas e fazer com que sua mão sangrasse.

O mensageiro observou o gesto de inconformidade do outro e como ele negava com uma convicção inabalável as ordens de retorno, ao menos neste ponto sua insegurança e desorientação haviam desaparecido. Todavia, para aquele alienígena que nunca havia convivido com humanos, os relatos de Ahcsar não passavam de palavras vazias de um louco, sem conteúdo, inexplicáveis.

Se algo não podia ser explicado por palavras, não existia. Os sentimentos eram algo tão abstrato que poderiam ser simplesmente alguma disfunção do cérebro. Esta era a visão de mundo de Crow-Hreimdar. Esses humanos não eram tudo aquilo que Ahcsar os fazia parecer em seus relatos, criaturas simplórias, descritas com poucas palavras, era o que o mensageiro julgava. Por esse motivo, não importava como Siv Borghild, que conviveu com humanos durante meses, tentasse explicar, era algo que ele só poderia entender por experiência.

Ahcsar tentava mantê-lo o máximo de tempo possível na terra porque sabia que em algum momento, ele cruzaria com algum humano e seria capaz de tirar suas próprias conclusões. E torcia o pseudo-humano de cabelos castanhos que o julgamento final do mensageiro estivesse a seu favor, mas isto não aconteceu.

E agora, bem de frente a ele, o mensageiro estático esperava uma mudança de atitude de sua parte, na esperança de que voltasse à terra natal para se tornar um prisioneiro. Um cão enjaulado, esquecido pela sociedade, sujeito a experimentos inumanos.

Não iria acabar assim, não para Ahcsar. Ele não veio todo o caminho de sua nave até a terra e teve o trabalho de observar os humanos para no fim, ser arrastado de volta como um fracassado para passar o resto da vida por trás das grades.

_Bloquear as vias possíveis de comunicação com a nave principal, destruir uma nave autorizada pelo governo, recusar ordens diretas do líder de sua nave e desacatar o mensageiro oficial... –Crow-Hreimdar listou friamente os erros do outro- Está tentando se soterrar em seus próprios crimes?

_Não importa quantos eu cometa, já sou tratado como um prisioneiro, minha pena não vai mudar por causa disso... –disse irritado com um leve tom de ironia na voz- Já estou fadado à prisão perpétua, desde o início...

_...

_O quê? Não tem argumentos para isso? Sei que tem um bom senso de justiça, então isso deve ser claro para você... Não é? A “justiça” impregnada nessa história deve ser bem clara para você...

_Ahcsar Angsaw, caso considere que seu julgamento não foi correto, pode recorrer ao conselho, se necessário eu darei meu testemunho e o juízo final será dado pelo júri...

_Tolice. –Siv fechou os olhos dando um sorriso de incredulidade- O júri não irá nunca favorecer alguém como eu, mesmo que você testemunhasse a meu favor.

_Duvida da imparcialidade das partes?

_Se fossem só dúvidas, eu seria mais feliz... –disse com a voz seca- Mas você não conhece o lado apodrecido que ele tem...

_... Vejo que se comporta como um verdadeiro criminoso. –certa decepção apareceu levemente na voz do mensageiro- Insultando o líder da nave... É natural que cultive ódio por todos daquela nave que não sejam prisioneiros... As torturas talvez tenham despertado este sentimento em você...

Siv franziu o cenho pelo comentário indelicado do outro.

_Não utilizarei violência, não gostaria que fosse levado de uma forma brutal para seu lugar, seria desrespeitoso, mas... Seria ainda mais desrespeitoso se eu desobedecesse às ordens do Lorde...

_Então vai me arrastar à força no fim das contas...?

O alien enrijeceu a postura, se preparando para se defender qualquer investida do outro.

_... Eu lhe darei mais tempo para refletir sobre suas ações e repensar sua fidelidade ao Lorde... Quando a nave estiver em condições suficientes para viajar, eu voltarei para buscá-lo, quer esta seja sua vontade ou não... –ele virou-se de costas-

_...

_Ahcsar Angsaw IV, isto é um conselho: obedeça. Se possuir alguma queixa quanto às ordens, eu mesmo reportarei ao Lorde e ao conselho como mensageiro, mas se sua justificativa não for válida, então aquiete-se e mantenha silêncio.

_...

E após dizer aquelas palavras, Crow-Hreimdar sumiu dali, como se nunca houvesse estado naquele campo, deixando para trás um companheiro de mesma espécie, imerso em seu próprio mundo interior.

. . .

Na Residência de Eileen Sanders...

. . .

Ela acabara de terminar a limpeza do chão, não havia mais nenhum caco de vidro, mas a janela continuava avariada. Tinha arrepios de lembrar o que havia acontecido ali, o olhar frio daquele alien a assustava não importa quantas vezes ela relembrasse.

Ela foi até a vidraça da janela e começou a retirá-lo, com as mãos nuas, e se cortou. Ardeu um pouco e sangrou, mas sua mente estava ocupada demais para que ela se importasse com um corte. Ela continuou retirando os pedaços restantes.

Ah... E ele sumiu de novo...

Sinto a falta daqueles agentes do governo, eles sempre vinham correndo para apaziguar a situação, e tentavam lidar com isso da melhor forma possível... Já eu... Realmente não sei como lidar com isso...

O que se diz para um alienígena profundamente irritado que tem poder para te matar a qualquer momento que quiser?

Tem horas que eu adoraria que isso fosse apenas uma alucinação minha...

–suspirou desanimada-

A mão incomodou, estava latejando. Havia mais cortes agora, como é que ela tinha se cortado tanto afinal?

Seu momento de distração foi rompido pelo som de passos leves se aproximando, a porta do quarto rangeu quando foi aberta lentamente, e Eileen virou-se para observar quem era:

_Siv...?

Foi a única frase que conseguiu pronunciar enquanto seus olhos espelhavam a imagem do homem.


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Notas finais do capítulo

Finalmente postado, com imagem!



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