Várias coisas passavam pela minha cabeça enquanto Jack me beijava. Primeiramente eu fiquei muito, muito confusa. Tentei por alguns segundos entender o que estava acontecendo, deixando meus braços parados como pedras ao lado do corpo. Depois, lentamente, comecei a retomar meus pensamentos e ter consciência de que Jack estava me beijando.

Eu estava tendo meu primeiro beijo.

E Jack era o menino que estava me beijando.

Eu queria matar ele.

O que eu posso dizer é que meu primeiro beijo foi muito desajeitado e estranho. Meio babado também. Isso é nojento, mas é a verdade! E totalmente do nada, diga-se de passagem. Depois de a surpresa passar, eu fiquei realmente chateada com Jack. Ele não devia ter feito isso! Quer dizer, ele não tinha o direito de fazer isso. Era pra ser especial.

Então eu o empurrei.

– Você tem o que na sua cabeça?! – Limpei minha boca com o torso da mão, com cara de nojo. – Eu peguei herpes! Que horror!

– Não seja boba. Eu não tenho herpes. – Ele rolou os olhos.

– Tanto faz. Você não deveria ter feito isso. – Me irritei com ele, e um sorrisinho pretensioso surgiu nos seus lábios quando ele levantou uma sobrancelha. Eu também levantaria uma sobrancelha se eu soubesse como.

– Jackson, você não entende? Você me prometeu que não haveria beijo algum. – Ele pareceu fazer com que o seu único neurônio funcionasse, e depois me encarou novamente.

– É verdade. Só não sabia que você ia ficar tão irritada por causa de apenas um beijo. – Jack se justificou e eu rolei os olhos. – Não é muita coisa.

– Jack, eu não sei como são as meninas com quem você costuma ficar, mas pra mim um beijo é sim muita coisa. Não foi feito pra não significar nada. Agora você, por favor, pode me deixar em paz? Eu só quero ir embora. – Bufei e saí de andando sem olhar pra trás. Entrando na festa novamente, fui procurar Sici.

Ela não estava muito longe, sentada no sofá conversando com Dave. Ela o olhava como se ele fosse um príncipe, quando ele não passava de um plebeu.

Ok, isso foi muito brega.

Mas continuando, aquela culpa bateu novamente e eu a chamei.

– Oi, Ally. – Ela sorriu. – O que houve?

– Eu só vim avisar que já estou voltando pra casa. – Tentei esconder quão confusa eu estava.

– Mas já? – Ela franziu o cenho. – É uma pena! Eu vou com você.

– Não, não se preocupa. Eu só estou meio enjoada. – Eu realmente não ia deixar com que Sici fosse embora só porque eu estava mal. Ela estava se divertindo!

– Tem certeza? Não precisa de mim? – Ela levantou uma sobrancelha. Porque só eu que não consigo fazer isso?!

– Não, tá tudo bem. – Sorri e a abracei. – Se divirta. Eu envio uma mensagem pra você.

E saí da festa depois de nos despedirmos. Jack não estava em lugar algum e de certo modo fiquei aliviada por isso. Estava cansada de todas aquelas ironias e implicâncias, e eu só queria conversar com alguém. Não contar a verdade pra Sici nem pros meus pais estava me deixando meio pirada naquele momento.

Peguei meu celular e liguei pra meu pai pra me buscar.

–

Chegando em casa, eu tomei um banho e tirei toda a maquiagem, colocando calças de moletom e colocando uma blusa velha que dizia alguma coisa sobre matemática.

Me joguei na cama e fiquei pensando o que havia acontecido. Talvez eu não devesse ficar fazendo de tudo aquilo uma tempestade no copo d’água, mas eu realmente estava irritada. Jack havia ultrapassado um limite que a gente tinha estabelecido, e eu nem conseguia entender o porque ele havia me beijado!

Quero dizer, eu nem sei o que eu tinha sentido. Tinha sido rápido, e em toda duração eu estava quase catatônica.

Esfreguei minhas mãos nas minhas têmporas. Tudo que eu devia fazer naquele momento era dormir e ponto, chega de Jack. Desliguei o abajur ao lado da minha cama e me ajeitei na cama. Depois de rezar, eu não conseguia dormir de jeito nenhum. Os olhos cor de mel de Jack ficavam aparecendo na minha cabeça toda hora, aquele sorriso de canto, e aquela sobrancelha que ele conseguia erguer. Porque diabos eu não consigo fazer isso?!

Porque diabos eu estou pensando nele?

Involuntariamente eu peguei meu celular debaixo do travesseiro e entrei no nosso chat de conversas. Fiquei lendo as poucas mensagens que havíamos trocado várias e várias vezes, e de certa maneira isso só me deixava mais desconfortável. Seja lá o que estava acontecendo, eu não gostava mesmo disso.

–

POV. Sici.

Dave estava conversando comigo. Eu, sinceramente, estava nas nuvens. Per La Madona, porque ele tinha que ser tão hipnotizante.

– Você vai pro jogo amanhã, não é Ceci? – Dave perguntou.

– Ah, claro! Eu estou... – Espera um segundo. Ele realmente me chamou de Ceci? – Dave, do que você me chamou?

– Ceci. – Ele franziu o cenho. – Algum problema?

– É Sici. Com SI, não CE. – Isso me machucou. O garoto estava conversando direto comigo fazia uns dois dias e ele não sabia nem falar meu apelido.

– Ah, me desculpa mesmo, Sici. – Ele bateu na testa. – Você me desculpa?

– Tá, tanto faz. – Meneei com mão.

– Sicilia, você viu a Ally? – Jack brotou de repente do lado de Dave. Sim, eu havia visto ela e não fazia muito tempo. Mas... o que era aquilo? Será que era arrependimento no rosto de Jack Mills?

– Sim, ela foi embora não faz nem dez minutos. – Jack bateu o pé no chão em frustração, passando as mãos pelos cabelos. Mama Mia, esse menino havia feito alguma coisa errada, e era por isso que Ally havia ido embora.

– Jack, eu estou conversando aqui. – Dave olhou significativamente pra Jack. Um sorriso involuntário brotou nos meus lábios.

– Dane-se, Dave. Eu preciso conversar com você. – Jack puxou o amigo. Esse garoto era um insensível! – Desculpa mesmo, Sici, é importante.

– Fazer o quê né. – Revirei os olhos.

Meninos feitos com massinha diferente mesmo.