Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 9
Temporariamente sem juízo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a linda da Lola, que fez uma recomendação muito linda para a fic!!! Nem acredito que a fic já tem QUATRO recomendações, é muita felicidade para uma autora só!



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— Tsc, tsc, tsc, este prato está sujo, limpe isso direito!

Peeta me envia um daqueles olhares “ainda vou matar você”. Eu apenas sorrio, olhando para o monte de pratos, panelas e copos que está em cima da pia. Trabalhar nunca foi tão divertido. Além disso, ele está bem engraçado usando um avental branco, luvas e uma toquinha também branca, devido a sua expressão, “o que fiz para merecer isso?”.

— Aqui está o pedido da mesa 7 — diz Greacy Sae, a cozinheira do restaurante.

Ela realmente é ótima na cozinha, faz pratos incríveis e pode transformar qualquer coisa em algo muito saboroso.

— Obrigada — pego a bandeja. — E limpe os pratos direitinho, louro oxigenado — digo saindo da cozinha.

Peeta resmunga alguma coisa. Ele está furioso. Dei um jeito de fazer o louro oxigenado trabalhar bastante. Ser assistente da cozinha é um dos trabalhos mais pesados por aqui. Greacy Sae é tão exigente, quanto é uma excelente cozinheira. Eu não ia deixar ele com um trabalho leve não. Por isso tratei de arrumar um dos trabalhos mais pesados para ele. Peeta, você mereceu isso. Agora vai ter que lavar mil e um pratos.

Levo o pedido até a mesa 7. Madge também está ajudando com as mesas.

— Ufa! — diz ofegante, limpando uma das mesas. — Hoje, as coisas estavam agitadas por aqui.

— Eu estou com meus pés doendo — afirmo.

— Já está terminando.

O restaurante já está quase vazio, apenas uns três ou quatro clientes ainda estão aqui.

— Podemos tirar um descanso — Madge aponta uma mesa vazia. Não é preciso que ela ofereça duas vezes.

— Descansos sempre são bem-vindos! — como eu adoro cadeiras. Meus pés estão bem agradecidos.

Me esparramo toda na cadeira. Sorrio ao pensar que enquanto eu posso descansar um pouco, aquele louro oxigenado está lá trabalhando. Finalmente, um pouco de justiça nesta vida, já estava na hora.

― Katniss... ei, Katniss! ― Madge me chama.

― Ahã?!

― Te chamei um monte de vezes e você nem me ouviu! ― me repreende.

― Desculpa, eu só estava...

― Pensando no Peeta ― completa Madge sem pestanejar.

― Não! ― me apresso em negar.

― Eu te conheço, Katniss Everdeen! Nem adianta fingir que não estava pensando no Peeta! ― droga, tenho uma melhor amiga que pode ler pensamentos!

Resmungo algo.

― Eu não posso te culpar, se alguém como Peeta Mellark tivesse me beijado, eu também não conseguiria parar de pensar nele ― diz maliciosamente. Estou pensando seriamente se contar sobre o beijo para Madge foi uma boa ideia.

― Já está na hora de voltar ao trabalho! ― digo, me levantando da cadeira.

― Katniss! Volte aqui!

Não a escuto, sei que se eu voltar, ela irá perguntar mais que os jornalistas na primeira coletiva de impressa da Mockingjay após Josh e Jenny anunciarem que estavam namorando. Além disso, não quero ficar relembrando aquele maldito beijo. Chega de pensar naquilo.

Vou até a cozinha. Pensei que encontraria Peeta resmungando pelos cantos. No entanto, o encontro bem concentrado, observando Greayce Sae confeitar um bolo. Preciso esfregar meus olhos para me certificar que não estou vendo uma miragem.

― Nunca havia visto essa cobertura... ― fala apontando para o bolo. ― O que você usa nela?

― Hum... ― ela olha para Peeta. ― É um segredo de família.

Ele faz uma cara de decepcionado. Greacy Sae ri.

― Tente descobrir! Você tem um ótimo paladar! Sabe que sua intimidade com a cozinha é muito grande, mais um pouco e pode virar um cozinheiro profissional.

― O louro oxigenado, um cozinheiro? ― falo sarcasticamente. Ficar ouvindo o quanto Peeta é magnífico, não é meu programa favorito. ― Vai envenenar todo mundo! Eu não deixaria Peeta perto da comida, Greacy Sae!

― Você só está com inveja porque eu sei cozinhar, enquanto os fogões até fazem protesto quando você chega perto deles, porque têm medo de serem incendiados.

― Você tem razão, meu jovem! Temos que deixar Katniss bem longe dos fogões, precisamos salvar os pobres coitados ― concorda Greacy Sae.

Maldito louro oxigenado, ele recrutou Greacy Sae para o team Peeta. Enquanto, o team Katniss está as moscas. Será que ninguém tem compaixão de uma pobre garota sem sorte na vida?

― Katniss, leve a sobremesa para a mesa 4 ― diz Greacy Sae me entregando uma bandeja com um pedaço do bolo que ela acabou de confeitar.

Peeta apenas sorri com aquele arzinho de superioridade e com aquela expressão: “sou perfeito em tudo o que faço”. Solto um suspiro, preciso ganhar um Nobel ou algo do tipo. Estou fazendo um serviço enorme para o planeta me contendo para não começar a terceira guerra mundial aqui.

Como Madge havia falado, não demora muito para terminarmos com o trabalho. Voltamos para o apartamento, completamente exaustos, obviamente, Peeta está mais cansado do que eu, fiz o louro oxigenado trabalhar muito hoje. A melhor parte é que tenho meu dinheiro de volta.

― Satisfeita em obter dinheiro por meio do meu corpo? ― fala, abrindo a porta do apartamento.

― É, seu corpo me foi bem útil! ― digo, contando as notas de dinheiro.

― Aproveitadora!

Dou os ombros. Estou cansada demais para discutir com o oxigenado. Mas incrivelmente, ele está menos insuportável do que pensei que estaria após fazê-lo trabalhar daquele jeito. Talvez, trabalho duro seja o que ele precise para deixar de ser um pouco menos babaca.

― Vou tomar um banho ― anuncio antes que ele tenha a mesma ideia que eu.

― Não demore, também quero tomar um banho! Como pode um apartamento ter apenas um banheiro para quatro pessoas? Como alguém pode viver assim? ― diz como se estivesse falando de um grande absurdo.

― Ainda vou descobrir de que planeta você veio! Cara, as pessoas podem muito bem viver em um lugar com apenas um banheiro! Escuta, quantos banheiros têm sua casa?

Peeta coça a cabeça.

― Hum... uns... cinquenta ― fala com a cara mais normal do mundo. Enquanto meu queixo quase vai ao chão.

― O quê?

― Ou era sessenta? Não lembro. Nunca contei os banheiros da minha casa ― dá os ombros.

Haymitch trouxe para a casa um ser de outro planeta. Como alguém pode viver em uma casa deste tamanho, com mais de cinquenta banheiros? Isso é um absurdo. Enquanto, nós vivemos em uma caixa de sardinha, há pessoas que vivem em casas tão grandes que mais parecem estádios de futebol. Isso é tão injusto.

Pego uma muda de roupa e vou para o banho. Estou tomando um relaxante banho, quando ele é interrompido por fortes e apressadas batidas na porta.

― O que é?

― Não vai sair daí? Eu preciso ir ao banheiro! ― grita Peeta.

Não respondo e trato de continuar calmamente meu banho.

― Não me ouviu? Preciso ir ao banheiro! ― diz exaltado.

Pela voz dele, dá para perceber que está em uma situação critica. A cara dele deve estar ótima de se ver. Ignoro seu apelo.

― Vai logo! ― continua a bater na porta.

Calmamente, visto minhas roupas e abro a porta.

― Você! ― ele está furioso. Porém, deve estar mais apertado do que furioso, já que nem consegue me dar uma bronca e entra no banheiro mais rápido que o Flash.

Preparo um sanduiche de queijo para mim. Pego um livro de biologia e me jogo no sofá. Enquanto Peeta usa o banheiro, penso como minha vida seria bem mais fácil se ele não estivesse aqui. Viver diariamente com o senhor supremo da beleza / sou demais em tudo o que faço não é nada fácil. E ainda tem aquele beijo. É lamentável que não exista um remédio que nos faça esquecer certas coisas. Minha vida seria bem fácil se existisse algo do tipo.

Entretanto, minha paz não demora muito. Peeta sai do banheiro. Seus cabelos estão molhados e a água escorre e cai sobre seu pescoço, seu ombro e seu peito. Mas que o que ele está pensando em não colocar uma camiseta? O oxigenado está vestindo apenas uma calça moletom e nada para cobrir sua parte superior.

Peeta passa por mim, mas ele não segue para o quarto, em vez disso, senta-se no sofá (já disse que o sofá não é grande?). Tento ignorar sua presença e me concentrar no livro. Um livro muito interessante, diga-se! Ler sobre as células nunca foi tão interessante como agora.

Ele liga a TV.

― Ei, alguém está tentando estudar aqui! ― protesto.

Como era de se esperar, falar com Peeta é como se estivesse falando com uma porta, é óbvio que ele não me ouvi. Tento voltar totalmente minha atenção para o livro. O barulho da TV não ajuda em nada, o barulho da TV e o fato que tem um garoto seminu perto de mim. Um cara seminu que possui abdômen “tablete de chocolate” (não me julguem, eu também tenho olhos!). Um cara seminu que possui abdômen “tablete de chocolate” (meu sanduiche de queijo não foi suficiente para matar minha fome e por isso só de pensar em chocolate minha barriga ronca) e que está olhando para mim.

― Agh! ― me levanto do sofá. ― Vou para o quarto estudar, já que aqui não tem como!

Ele sorri, enquanto se deita no sofá. Não acredito que ele fez aquilo tudo, só para ter o sofá só para ele! Como quero dar uma voadora nele, uma voadora tão forte que faça a raça dos Mellark cair em extinção.

― Seu... idiota!

Peeta sorri.

― Não tenho culpa, se você não consegue resistir ao meu lindo corpinho...

Ele vai começar de novo. E eu, como não consigo controlar meu gênio, sempre caio no jogo dele. Mas dessa vez, vai ser diferente.

― Quem, ontem, estava dizendo que só faz as pessoas o odiarem? Está aí a sua resposta! As pessoas te odeiam porque você é um babaca! ― chupa essa Mellark! Everdeen 1 X Mellark 0.

Peeta me olha, por um breve segundo, sua expressão me parece estranha. Sei lá... Ele se levanta do sofá e vem em minha direção. É melhor eu começar a correr, sinto que minha vida está em perigo. Mãe, cadê você?

― Eu sou babaca? Por isso as pessoas me odeiam?

Começo a andar para trás à medida que ele se aproxima de mim. Mas, como a sala não é muito grande, não tem muito espaço para andar. Quando percebo, tropeço no sofá e caio em cima dele. Peeta acompanha meu movimento e fica em cima de mim. Ele coloca as mãos sobre o sofá, para apoiar seu peso.

Socorro, tem um cara seminu com abdômen “tabletes de chocolate” em cima de mim!

― Sai daqui! ― tento o afastar, colocando minhas mãos em seu peito (eu juro que foi sem querer!).

― Olha só, a tampinha está querendo tirar uma casquinha de mim! O beijo de ontem não foi suficiente? ― como um ser humano pode ter uma voz tão sexy? Isso não é humano! Tenho certeza absoluta disso.

― Já disse que aquele beijo não foi nada legal! ― me apresso em responder.

― Por que eu estava bêbado? Você quer que eu te beije sóbrio, não?

― Não!

― Mesmo? ― ele passa a ponta da língua pelo lábio superior, o umedecendo. Sua voz é baixinha, praticamente um sussurro. Seu rosto se aproxima do meu. ― Tem certeza?

Como ele pode ter uns olhos tão azuis assim, e uns lábios tão... apetitosos? Céus, no que eu estou pensando? Aquele beijo de ontem deveria estar com algum vírus, tipo o vírus da estupidez!

Peeta é lindo, sexy e tudo mais. Não é atoa que as garotas se jogam aos seus pés. Mas eu não sou assim. Não, definitivamente, eu não sou assim. O que está acontecendo comigo?

Ele olha para meus lábios e se aproxima mais um pouco, seus lábios estão a pouquíssimos centímetros de distância dos meus. Tão perto.

― Peeta...

Ele sorri. Um sorriso de garotinho travesso.

Não, ele não vai me beijar. Ele só está brincando comigo. É isso. Quer saber de uma coisa, vou mostrar para ele que não caio tão facilmente em seus joguinhos.

Lanço meu olhar desafiante. E ele sorri ainda mais.

Seus lábios tocam os meus. Peeta está... está... me beijando? Os lábios dele são quentes e macios. Sinto seu corpo pressionando o meu, e suas mãos escorrendo pelo meu corpo.

Sem querer (não me pergunte se foi sem querer, eu não tenho resposta para isso) entreabro meus lábios. E sua língua suavemente escorrega para minha boca, levando o pouco de juízo que ainda me restava. Socorro! Cadê meu bendito juízo em uma situação desta? Ele está lá, escondidinho, em um local que não consigo alcançar. Enquanto, ele grita: “sai daí, garota”, meu corpo não o obedece. Meu corpo não quer obedecer nada, ele quer apenas... quer apenas sentir o corpo de Peeta.

Os lábios de Peeta tem um gosto bom. É um sabor único, que eu nunca antes havia provado. Meus lábios estão dormentes, formigando, queimando. Sei lá mais o que. São tantas as sensações que não consigo me ater a nenhuma ao mesmo tempo em que sinto todas. Isso é um paradoxo. Nunca que vou conseguir explicar o que está acontecendo comigo.

Sei que isso é errado. E como isso é errado. Peeta está me beijando, e eu... eu estou gostando. Minhas mãos tocam seu ombro. Mas em vez de afastá-lo como meu juízo grita, elas o trazem ainda mais para perto de mim.

Isso é tão errado, tão errado.

Um barulho, a chave girando na porta. Meu juízo volta a funcionar. Empurro Peeta. Ele se senta no sofá ofegante. Respirar para mim também não está sendo uma tarefa fácil. Pego meu livro de biologia que está jogando no chão. E rapidamente sento no sofá. Peeta vai para o quarto. Ele deveria ser algum ninja em sua vida passada. Nunca vi alguém desaparecer tão rápido.

Haymitch entra.

― Ei, docinho! Trouxe alguns chocolates para você ― fala me dando uma sacola.

― Isso é... ótimo. Vou... vou levar para a cozinha ― me apresso em sair da sala.

Não sei se Haymitch notou algo de estranho. Se notou, ele resolveu não comentar. Mas, eu não estou preocupada com Haymitch, estou preocupada com minha saúde mental, já que eu fiquei temporalmente insana. Tudo culpa daquele Mellark.

Passo as mãos por meus lábios. Eles ainda estão dormentes. E o pior, tenho o gosto dos lábios dele na minha boca.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Depois desse beijo... é melhor eu ficar quietinha aqui e não dizer nada rsrsrsrsrs