Regis em busca de si mesmo escrita por Celso Innocente
Notas iniciais do capítulo
Surpresa:-
Este é o último capitulo para resolvermos para sempre o drama deste jovenzinho.
O próximo e último capítulo mostrará um pouquinho de como Arthur está em Suster.
Pouco depois das seis horas da manhã seguinte, embora com a porta do banheiro aberto, estava tomando meu costumeiro (desde há dezenas de anos) banho matinal. Papai entrou e já se preparava para escovar seus dentes, quando, observando direito meu corpo infantil despido, insinuou surpreso[1]:
— Regis, o que foi isso?
— O que, papai? — Estranhei-o continuando a me esfregar com bucha e sabonete.
— Desligue a água.
Sem saber o porquê, obedeci.
Ele me observou melhor e insistiu:
— Quem mexeu com você?
— Mexeu comigo? — Estranhei — Ninguém!
— Quem mexeu no seu pipizinho?
— Eh, papai! — Protegi meus genitais. — Pare com isso.
Ele chamou mamãe.
Eu, tímido, para não me expor, me embrulhei na toalha.
— O que aconteceu com esse menino?
— Não sei! — Negou ela. — Que eu saiba nada!
— Ele anda com comportamento estranho. Alguém mexeu nas partes íntimas dele!
— Ninguém nunca mexeu comigo, papai! — Neguei, deveras assustado.
— Você mesmo fez isto com seu pipi?
— Não fiz nada com nada! — Neguei ainda assustado.
— Deixe a mamãe ver, filho — pediu mamãe.
— Não! Sou homem!
— E daí? Sou sua mãe e só quero seu bem.
— Não quero!
— Se alguém mexeu com esse menino — alegou papai — Eu já sei quem foi! Pode continuar seu banho.
Então, mesmo na presença de mamãe, tirei a toalha, me expondo a ela (a inocência é diferente da força), retornando normalmente ao banho.
©©©
Assim que cheguei da escola, quase meio dia, papai não teria ido trabalhar no sítio e me encontrou na sala de estar, me puxando pelo braço e pedindo:
— Filho venha cá. Sente-se aqui. Vamos conversar.
— O que é, papai?
Ele me olhou muito sério nos olhos e antes de falar alguma coisa. Sentamos no sofá de tal sala e já imaginado sua intenção, pedi:
— Não quero falar sobre aquilo. Não aconteceu nada com meu...
— Não é sobre isso que quero falar — Negou ele, ainda muito preocupado. — Eu fui falar com o senhor Luciano...
— Ele nunca mexeu comigo — neguei convicto. — Pode acreditar —
— Eu sei! É outra coisa que precisamos falar.
—Oh owh! — Me assustei.
Mamãe sentou-se a nosso lado, me deixando entre os dois.
— O senhor Luciano e dona Sara me contaram uma história muito complicada. O que significa ela?
— É a verdade, papai — confirmei.
— Não é! — negou ele. — Você nunca saiu dessa casa. A não ser pra ir à escola e voltar em quatro horas.
Puxei de dentro da camisa, sobre meu peito, meu aparelhinho de outro mundo e lhe apresentei dizendo:
— Tente encontrar um aparelho igual a este em qualquer lugar da Terra e saberá o que estou dizendo.
— Não pode ser, filho — se preocupou ainda mais, mamãe.
Papai segurou forte em meu rosto com ambas às mãos e forçando-me para que olhasse direto em seus olhos, continuou:
— Quer dizer que você olha direto em meus olhos e não me reconhece?
Comecei a chorar e confirmei:
— Me perdoe, papai, mas não reconheço o senhor, nem mamãe e nenhum de meus irmãos.
— Não pode ser filho! E por que não nos disse?
— Não queria assustar vocês.
— Você não nos ama como família?
Foi então que as lágrimas despejaram com maior força. Preferi não responder. Eu mesmo não sabia a resposta.
— O que faremos por você? — O emendou.
— Sei que vocês dois são meus pais e os meninos são meus irmãos. Só que ao olhar para todos, só vejo estranhos.
— Te amamos tanto, filho — Mamãe chorava quanto eu.
— Foi bom o senhor saber. Quanto mais pessoas que são ligadas a mim souber, melhor pra ajudar a me reencontrar. Prometo que serei feliz e que vou reconhecer ao senhor e a mamãe e a meus irmãos.
— É por isso que você está um pouco diferente? — Insistiu mamãe.
— Me perdoe, mamãe. E me ajude, por favor.
— É claro que ajudaremos você, filho! Mesmo que você esteja um pouco perdido e nem se lembre direito da gente, continuamos te amando do mesmo modo. Aliás, o amamos ainda mais, de todo nosso coração.
Ainda estava chorando.
— Você acredita que foi nesse período que fizeram tal cirurgia em você? — Questionou-me papai.
— É! Há algum tempo fiz a tal cirurgia que me fez esquecer coisas da Terra.
— O senhor Luciano me falou dessa cirurgia no cérebro — confirmou-o. — Mas lhe perguntei da outra cirurgia. No genital.
— Não sei nada! Ninguém mexeu comigo.
— Não se preocupe, filhinho — riu entre lágrimas mamãe. — Tudo se resolverá.
— Posso ir trocar de roupa? Estou suado.
— Claro! — Riu forçadamente ela — Poe camiseta também tá!
— Já sei disso! — Ri disfarçadamente — Não se pode almoçar sem camisa. Aprendo depressa.
Já em meu quarto me despindo, eles me seguiram e continuavam me observando:
— Não conte a ninguém sobre isso, por favor — pedi.
— Lógico que não! — Concordou papai.
— Eu deveria ter pedido isso ao senhor Luciano. Não quero que pessoas fiquem sabendo, se não vou ter problemas.
— Como assim?
— Gente do governo estrangeiro. Não quero ir pra lá.
— Ninguém ficará sabendo — confirmou papai. — Não conte nem pros meninos. Já falei com o senhor Luciano e ele sabe que não deva contar.
— Obrigado!
Com roupas de ficar em casa, seguimos juntos para o almoço.
Como mamãe seguiu direto à cozinha para preparar a refeição, levando-as sobre a mesa, a acompanhei e na porta chamei:
— Mamãe, você acha que sou mais feio do que um sapo?
— O quê? — Achou graça ela.
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Após o acostumado descanso de todos os começo de tarde, levantei-me e estando apenas de short, devido o calor que fazia nessa região do Brasil, fui direto ao banheiro lavar o rosto e depois, vestindo inclusive outro short mais bonito, resolvi, para me descontrair, visitar a coleguinha de escola, Elizabeth.
Em seu portão, gritei seu nome e fui recebido em poucos segundos por sua mãe, dona Joana, que como da outra vez, com muita simpatia me convidou a entrar e me levou até o quarto da menina, que de novo, estava deitada de bruços com um livro nas mãos.
Ao perceber minha presença, jogou o livro e se levantou, me cumprimentando com o sorriso mais belo de qualquer mundo:
— Oi, Regis, que legal que você veio.
— Estava fazendo tarefas?
— Não temos tarefas hoje. Lembra?
Dei de ombros como a nem me recordar.
— Estava só lendo um livrinho. Sente-se aqui na cama.
Sentei-me a seu lado e fazendo careta questionei-a:
— Você acha que sou mais feio do que um sapo?
— Credo, Regis! — Riu ela com certo nojo — O que é isso?
— Fala... Eu sou?
— Você não é tão feio assim! Pelo contrário, é até muito bonitinho.
— Você seria minha namorada?
— Que isso? — Se espantou ela — Somos crianças!
— O que que tem? — Dei de ombros. — Seria?
— Você tá diferente mesmo! Até outro dia era mais tímido do que um coala, agora quer até me namorar!
— O que é um coala?
— Uma espécie de ursinho tímido.
— O que é um ursinho?
— Para de ser bobo, Regis!
— É um animal?
— Claro, ué!
— Ele é feio?
— Coala? Não! É até muito bonitinho! Bem mais bonito do que um sapo. E tímido! Como você. Quer dizer, você tá deixando de ser tímido. Parece um garanhãozinho.
— O que é isso? — franzi o nariz.
— Acho que você ficou burro de vez.
— Não sei mesmo! — Dei de ombros. — E nem sei o que é burro.
— Garanhãozinho é menino namorador...
— Então quer ser minha namorada?... Quando formos grandes.
— Acho que sim! Já gosto mesmo de você. É meu melhor amigo. Podemos namorar já. Mas só de faz de conta!
— Tá bom! — Concordei sério. — Então precisamos de um beijo!
— Regis! — Se espantou ela. — Você tá assanhado mesmo!
— Tá bom! — Fiquei sem jeito — Eu espero quando você quiser.
— Te dou um beijo — concordou ela. — No rosto!
Então beijei o rostinho dela, sentindo o sabor de sua pele muito delicada e macia.
Em poucos segundos ela retribuía tal beijo, me deixando sentir em minha pele, o sabor e delicadeza de seus lábios bonitos.
E eu não queria que aquele beijo se acabasse.
E meu coraçãozinho de criança recomeçou ali, a marcar nossa pequena história de um grande amor.
Era isso.
Aos poucos as coisas iam voltando ao normal em minha simples vidinha infantil.
Se a cirurgia fôra como der um delete ou formatar em meu cérebro, assim como em um “agá-dê” de computador, meu coração sabia que tinha que refazer esta história, reescrevendo o que se apagara em meu tal “agá-dê” humano.
As pessoas que foram esquecidas, aos poucos iam sendo recolocadas de volta em seu devido lugar e se da outra vez eu tinha Elizabeth ou Regina como namorada, ou talvez nenhuma delas, desta feita, mesmo sendo ainda muito criança, já queria reservar neste tal coração de sentimentos, o nome Elizabeth como aquela que viria a ser minha eterna companheira, ou, a princesinha deste “princepezinho francês”, até o dia em que, sendo bem velhinhos e com um monte de filhos e netos, fôssemos sim levados a outro mundo, mas o mundo de um Paraíso, construído por um Deus Pai Todo Poderoso.
©©©
Nas provas finais daquele ano, assim como Elizabeth, também fui aprovado com mérito para a quarta série primária, continuando com ela, no ano seguinte, tendo então como mestra dona Izabel, que adorava se vestir e usar batons de um vermelho tão forte que às vezes até doía nossos olhos.
No dia dezessete de fevereiro do ano um mil novecentos e oitenta e um, quase dez meses depois de ter retornado a meu verdadeiro tempo de criança, era quase onze horas da noite e em nossa casa, estávamos todos dormindo, pois na manhã seguinte, quarta feira, todos teriam que acordar cedo, quer para a escola, quer para o trabalho.
De repente, assim como praticamente todos de nossa casa, acordei com fortes batidas sobre a porta da sala de estar.
Levantei-me assustado e me dirigi até o local, em tempo de assistir mamãe abrindo-a e ao se deparar com alguém, insinuar:
— Regis, o que você tá fazendo aí fora? Achei que já estivesse dormindo!
Só então, seus olhos se voltaram, percebendo que eu estava parado na porta que levaria à copa.
— Mamãe! Não tá com saudades de mim? — Questionou-a o recém-chegado.
— Arthur! — Me surpreendi — O que faz aqui?
— Eu não sou Arthur! — Negou o menino, tão surpreso quanto eu e todos os demais. — Você é Arthur! E o que você está fazendo aqui? Eu te deixei no mundo do senhor Frene.
“Ah não!” Pensei muito assustado. “Vai começar tudo de novo!”
[1] Desculpe-me se o assunto é tabu, mas está no livro número 1 da trama e se faz necessário que o tema seja abordado.
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Uma pergunta que eu gostaria de respostas:-
Ficou compreensível o reencontro de Regis com seu outro eu, quase um ano depois?
Foi possível compreender que quando chegaram à Terra, outra nave estava saindo levando consigo o mesmo menino do início da estória, lá do vol.1?
Este não é Arthur e a sequência desta trama ficará por conta da imaginação do leitor. O convívio de Regis com seu outro eu, quem será o amor de Beth (o outro poderá se apaixonar por Regina) e de ambos que jamais poderão envelhecer. O leitor decidirá.
Quem sabe um dia, este escritor receba uma mensagem de um leitor narrando em poucas palavras o que aconteceu aos dois.
Enfim... Falta apenas um capítulo.