Regis em busca de si mesmo escrita por Celso Innocente


Capítulo 10
Arthur volta à Suster.


Notas iniciais do capítulo

Este é um capítulo adicional narrado por Arthur.
Seria possível ele continuar existindo no passado, já que ele foi criado no futuro?



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tinha certeza de que a primeira surpresa que meu maninho Regis teria chegando à seu tempo, seria o fato de não reconhecer tal local e principalmente sua família.

Assim que o deixei no portão de sua casa, preferi virar e correndo o mais rápido que podia retornar à nossa nave. Não deixei que olhasse direto em meus olhos para que não percebesse as lágrimas.

A vida de um clone não é tão natural, pois a primeira certeza que temos é que não somos realmente humanos. Vou explicar melhor: sou tudo humano. Tenho um cérebro que pensa e aprende, com bilhões de neurônios para armazenar informações; sangue com o mesmo fator RH de meu progenitor (para mim é o que Regis é. Foi ele quem me deu a vida) correndo em minhas veias, todos os órgãos vitais para que eu viva, ande e fale; tenho sede, fome e tenho que me alimentar e depois ir ao banheiro. Tenho um coração que pulsa e às vezes dói de saudades. E mais do que isso. Como sempre diz o maninho, também tenho um coração de sentimentos, que as vezes sofre de amor e... martírio.

E de novo, como ele sempre diz: Existe um Deus Todo Poderoso que rege o universo e a vida. Um Deus que implantou uma alma e uma áurea em cada uma de suas criações; não importa se vive na Terra, em Suster, em Mark Três ou no planeta da menina Mira.

Mas eu não sou criação de Deus. Sou mero experimento de um homem que gosta de brincar de deus. Ele conseguiu me dar vida, mas não conseguirá me dar um céu.

E é por isso que enquanto corria de volta a nossa espaçonave, meus olhos estavam cheio de lágrimas.

Não tenho um coração alma, mas ainda assim, tenho um coração sentimentos. Portanto, eu corria para ir de volta a meu mundo matéria, antes que meu coração fizesse com que eu ficasse junto a meu mundo família, atrapalhando ainda mais a reconstrução de seu passado.

Ofegante, subi os degraus de escada, que foi recolhida imediatamente, lacrando tal porta em forma de mercúrio e me dirigi à cabine, que se abriu automaticamente.

— Podemos ir, Luecy — aleguei.

— A partida já teve início. Menino Arthur está vazando — gracejou com eufemismo o robô.

— Cale a boca!

— Saudades de Regis!

— Cale a boca!

— Fique com ele!

— Não posso! Quem levará este treco embora?

— Realmente não consigo — concordou o robô.

— Não há problemas, Luecy — dei de ombros. Aonde iremos encontraremos Regis.

— Iniciando contagem para retorno ao tempo de origem.

— Nããão! — Neguei assustado — Não voltaremos ao tempo de origem!

— Aonde iremos?

— Suster! — Fui convicto — tempo atual!

— Não é nosso tempo! Não é nosso mundo!

— Eu quero reencontrar Regis e é lá que ele estará.

— Loop no tempo! Duas matérias não podem ocupar o mesmo espaço!

— Um Regis está na Terra o outro em Suster — dei de ombros. — Não é o mesmo espaço!

— Saindo da atmosfera terrestre — afirmou o robô. — Preparar para iniciar velocidade de dobra.

E então nossa nave alterou drasticamente nossa viagem, de poucos milhares de quilômetros por hora para milhões de quilômetros por... segundo. Seguindo como se fosse por um mundo virtual, onde o espaço à nossa frente era encolhido, jogando sua sobra para nosso caminho já percorrido, esticando-o, fazendo com isso com que nossa longa viagem de cento e dezesseis anos luz susterianos (oitenta e sete terráqueos), se parecesse com pouco mais de dez. Mesmo assim, uma longa viagem através do cosmos.

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Esta talvez fôra a viagem mais solitária que eu já fizera em toda minha existência e por isso mesmo, passava a maior parte de meu ocioso tempo dormindo ou fingindo que estudava linguagem terráquea com um Regis imaginário e até conseguia ver seu sorriso peralta, que de repente se transformava por uma sombra de tristeza, que alterava seu semblante.

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Trinta dias por tal espaço, preparávamos para pousar tal nave no gigante astródromo de Malderran, quando, admirado, aleguei:

— Estranho, o senhor Frene tem apenas três naves dessas e elas estão no solo.

— Agora serão quatro! — Afirmou o robô.

— Como pode? — estranhei — a mesma nave se replicou?

— Volte apenas um segundo no tempo e se encontrará lá.

— Como pode? A nave é um objeto inanimado. Não tem vida!

— O mistério do universo é tão complexo que não existe apenas um deles e sim multiversos.

— Hem? — Não compreendi.

— O que está acontecendo aqui, é o mesmo que estivéssemos visitando um universo paralelo. Estamos trazendo a nave de um universo para outro.

A nave acabou de pousar ao lado das demais, que já ficava cercada por dezenas de pessoas, que se aglomeravam de alguma forma espantadas com o que estava acontecendo.

A porta se abriu e os cinco degraus de escada desceram até próximo ao solo. Luecy desceu sendo observado cautelosamente pelas pessoas, surpresas.

Ao também descer, cautelosamente, assim que pisei o solo vi o senhor Frene, que tão admirado quanto todos, se aproximou dizendo:

— De onde você vem, Regis? Que nave é esta? O que está acontecendo?

Maior ainda seu espanto, quando percebeu, vindo há alguns metros, Leandra quase arrastando pela mão, o verdadeiro Regis da Terra.

— Quem é ele, senhor Frene? — Especulou o outro menino, que teria chegado a tal local, a menos de uma hora antes.

— Calma, Regis — pedi rindo — Sou seu maninho idêntico.

— Não tenho nenhum irmãozinho idêntico! — Negou ele assustado. — O que o senhor está fazendo, senhor Frene?

— De onde é você? Regis? — continuou o homem. — E quem é esse robô?

— Este é Luecy! Quer dizer... o nome de verdade dele é Mark Três. Luecy é pseudônimo batizado pelo maninho Regis.

— Nunca vi esse robô! — Negou o maninho, fazendo careta.

— Mark Três é um projeto de construção na cidade de Merlin — emendou o homem. — Ainda está sendo fabricado.

— A história é complicada eu concordo — dei de ombros. — Mas posso explicar.

— O que há? — Insistiu o homem. — Por que existem dois Regis? O que aconteceu de errado?

— Meu nome não é Regis! Sou Arthur e também fui batizado por ele — apontei para o maninho.

— Nunca vi você! — Negou o maninho, se segurando em Leandra, como gatinho assustado. — Como posso ter-lhe dado um nome?

— Já disse que vou explicar! — Gesticulei. — Só tem uma coisa, antes que seu coraçãozinho se apaixone, já vou dizendo que quem ama Leandra sou eu!

— Hem! — fez careta o tal inocente.

Ninguém realmente entendeu nada e eu, em gesto desleal com o maninho, concordo, me aproximei e forçando para que se abaixasse um pouco, dei um demorado beijo nas lindas bochechas de encantadora menina grande.

E assim, o que vai acontecer com dois Regis “realmente idênticos”, comigo no passado, com o futuro de Suster e da Terra, somente o tempo poderá saber.

Pontos a ponderar.

(A narração não é de Regis e nem de Arthur e sim do próprio escritor)

Será que voltar ao passado realmente alterará o destino da Terra, de Suster, da família Araújo e de outras famílias?

Agora temos dois Regis idênticos na Terra. Claro! A família deles passa a ter mais um filho gêmeos, ganhando com isso novas despesas como educação, alimentação, médicos, roupas… Além de problemas a resolver, como e principalmente a documentação deste novo habitante da Terra.

Quanto a Elizabeth, que teria se casado com outro homem, Peter para sermos exato e desta união se tornara mãe de Letícia e (outro) Regis. O menino que acaba de chegar do futuro já se apaixonou por ela e fará de tudo para mantê-la consigo, além de termos o outro pequenino que embora em seu tempo real, também está de volta e sim, seria ele o eterno apaixonado por tal linda menina de cabelos longos. Espero que não briguem entre irmãos pelo amor da mesma princesa.

Como são dois, quem sabe um deles (o sapinho) talvez, faça as pazes com Regina que acabe o aceitando como seu “principezinho francês” e no dia, quando chegar a hora, possa usar da mesma cerimônia religiosa para dois casamentos simultâneos.

Nada disso poderá acontecer de fato, pois os dois meninos acabaram de chegar de um mundo que depositou em seus organismos uma espécie de “fonte da juventude em forma de radiatividade” e ambos, apesar de ainda não terem se dado contas, se manterão criancinhas de “cara lavada” por centenas de anos. O coraçãozinho de Regis deverá sofrer nova desilusão amorosa e Elizabeth acabará mesmo se apaixonando por outro príncipe encantado chamado Peter.

E a NASA, receberá a visita de um ou dos dois meninos viajantes da galáxia?

Com certeza não. Como tal viagem não teve repercussão na Terra, ninguém ficou sabendo, ninguém precisará saber e a família das crianças vão preferir assim, a NASA ficará “sem querer” omissa a isso.

E o destino de Suster? Sofrerá alterações?

Pelo menos Regis jamais retornará a tal planeta imortal. Eles não precisam mais deste inocente. Arthur o substituirá com as mesmas peraltices e lhes dará seu mesmo DNA para que os outros vinte e tantos mil (vinte e sete mil quatrocentos e quarenta e quatro) sósias sejam criados com muita saúde, enchendo o mundo com o belo sorriso infantil, tirando o mesmo do perigo de extinção de sua espécie animal racional. Além disso, eles acabaram se beneficiando de uma nova nave espacial e um robô prontinho. Claro que Suster do futuro acabou perdendo tal nave, tal robô e o menino Arthur, mas eles estarão lá na data correta, quando a história for reescrita.

E quanto a Erick? Ele ficou lá no futuro. Mas o futuro ainda não existe e ele está mesmo agora é na Terra e jamais irá fazer uma viagem espacial para tal mundo. O futuro de Suster será alterado por isso? Talvez não significativamente, pois ele mesmo, em tal mundo futuro só servia para ser um adolescente de enfeite. E ele foi apagado do futuro? Claro que não! Ele não saiu de lá, portanto é matéria viva lá.

E na Terra?

Será que ele acabará fazendo amizade com Regis, já que não se encontrarão em sala de aulas. Regis passou de ano para a quarta série. Mas temos o outro Regis que com certeza reprovou e terá que estar na sala do “infeliz menino desprezado pela família cruel”. Poderão sim se tornar amigos e quem sabe, até indo depois morar na sua mesma casa, aumentando ainda mais os gastos da família Araújo.

E será que algum dia ele se apaixonará e se casará, alterando o destino de alguma linda mulher, que deveria ter se casado com outro e seria mãe naturalmente como manda o destino da raça humana?

Se casando com Erick, ela também terá filhos, pois ao contrário dos dois Regis, ele não será estéril e lhe dará filhos, que não serão os mesmos e estes filhos, depois de muitos anos, também se casarão com alguém que não estaria assim destinada a eles. É! Acho que essa sim será a principal mudança no destino da Terra. Mas… como a história ainda não foi escrita, ninguém jamais notará a diferença.

E o senhor Frene, observando a viagem dos dois de volta ao passado? O que aconteceu no visor de seu monitor durante o momento da reentrada?

Em um segundo ele observava claramente a imagem das duas crianças e do robô em sua tela, no segundo seguinte, ele simplesmente perdeu o contato com ambos e se apavorou:

— O que aconteceu? — Gritou consigo mesmo tal homem. — A nave se desintegrou!

Apavorado apertou tudo quanto é botões de seu computador em busca de imagens de seus pupilos.

— Eles morreram no espaço! O que foi que eu fiz? As crianças morreram!

E assim, ele se manteve sentindo culpado por várias horas. Tomando seu costumeiro chá na cozinha da mansão, já estava planejando mandar as imagens e coletiva a sua imprensa anunciando o triste ocorrido, quando de repente chegou a sua conclusão real:

— Como sou idiota! — Pensou sozinho. — É claro que a nave não se desintegrou! Como ela voltou ao passado, é claro que eu perderia o contato com eles! Não estão mais aqui!

E correndo de volta à sua sala de computação, tratou de imediatamente observar a Terra e assim se deparou com, ainda com a mesma fisionomia infantil, os três… Três?!!! …peraltinhas aos setenta anos de idade, em uma história que não vou contar.

Fim

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Notas finais do capítulo

E assim encerramos de vez a tal saga "Um menino no espaço". Infelizmente jamais conseguiríamos criar uma solução plausível na vida destes jovenzinhos, devido as consequências de terem sido tirados de seu mundo e alterado de vez seus destinos.
Se o homem conseguisse realmente voltar no tempo, as consequências seriam drásticas, pois, mexer no passado altera o presente e destrói o futuro.
E para conhecer a sequência desta estória, use a sua imaginação.

Ah! Minha próxima estória vai narrar a vida de outro Regis que pode ser um pouquinho mau. Convido-o a conhecer "menino anjo" clicando no link acima.



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