Os olhos violetas escrita por Flávia Monte


Capítulo 45
Capítulo 45 - Eu matei diferente


Notas iniciais do capítulo

Faz tempo que eu não posto, mas ai está.
Espero que gostem! E aguardo nos comentários!!!!



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*- Não me lembro de quando começaram. – Logan sussurra, mas continua a me olhar. – Eu devia ter um pouco mais de três anos quando meus pais perceberam que eu era diferente. Sou como meu avô, pai de meu pai. Então, nenhum dos meus pais achou isso. – Ele aponta para os olhos dourados. – Ou qualquer outra caracteristicas dos Olhos, normais. Na realidade, só meu avô me entendia, contudo, seus olhos dourados eram escuros e pareciam mais castanhos do que ouro como o meu.

Meu avô contava histórias de sua época e eu sempre soube que era verdade. Não era como se inventasse. Primeiro veio o dom das visões. Foi bem tranquilo a principio, eu só sabia o que alguém pensava em dizer, entre outras coisas. Contudo, eu não sabia controlar e aos cinco anos tive que ir para o psicólogo por ter gritado de dor no meio da sala de aula. Ao contrário do esperado, eu não era visto como estranho pelos meus colegas.

Eles gostavam dos meus olhos e , lá na escolinha de Las Vegas, me fizeram gostar também. Um dia eu descobri que uma garota sardenta de maria chiquina estava interessada em mim. Tínhamos apenas seis anos e qualquer garoto nessa idade ver as meninas como nojentas. Já vocês nos vem com muito carinho, e agora sinto pena dela, mas na época não.

Eu recebi um bilhetinho dela. Eu não sabia, afinal surgiu dentro da minha lancheira. Porém, ela sempre passava por mim e pensava em dizer que tinha sido ela. Um dia tive que apresentar uma música no meio da aula de músicas e suas tecnologias. Mas a menina sardenda não parava de pensar em dizer que me amava e aquilo estava me deixando louco.

Então no fim da música me virei para ela e falei alto suficiente para qualquer um ouvir.

– Você é uma menina sardenda nojenta. Tenho nojo, ouviu? Você tem que parar de me seguir por aí! – Eu vi uma lágrima cair dos olhos dela, mas continuei. – Para de chorar, menina! Qual o seu problema? Além de ser esquisita, é claro. Ah, e me amar? Que história ridicula é essa? Eu não te amo e nunca vou amar, Samantha! Então pare de me seguir por ai!

Eu gritei essa última parte, mas ela não saiu correndo, apenas olhou para baixo com lágrimas nos olhos e sussurrou.

– Você não entende. Mas sou a única que realmente te entende por aqui. – Escutei a menina dizer e depois pensar em dizer algo como. – Eu sou como você, mas você nunca irá saber disso.

Desde daquele dia na escola, nunca mais tinha visto a menina. Ela foi morar no campo, depois que se perdeu da família ou algo assim. E foi assim até eu chegar no acampamento, mas estou pulando a história... Então, naquela mesma noite eu tive um pesadelo. Minha previsão era horrivel. Meu cachorro ia morrer atropelado. E morreu no dia seguinte. Depois acabei sonhando que meu professor de violão ia cair da varanda. Ele também morreu.

Cada noite eu gritava, surtava e chorava. Minhas previsões estavam mais detalhadas e meus pais não sabiam o que fazer. Não acreditavam em mim. Eles morreram depois de serem assaltados e eu não pude fazer nada. Avisei a ele é claro, mas não me ouviram. Quem ouviria?

Fiquei nos cuidados de uma tia, depois fui mudando de casa em casa, pois sempre alguém morria. Acabavam me culpando disso. Como se uma criança de sete anos fosse quem fazia todo aquele caos aparecer. Um dia, com sete anos ainda, eu tentei fugir. Meu avô me achou no parquinho. Eu estava brincando com as plantas, tentando não pensar em nada.

Quando eu o vi... Gritei para meu avô se afastar, eu podia acabar matando-o. Sabe o que ele disse?

– Você não é o causador disso, meu filho. Você é o único que pode deter esses acontecimentos.

Meu avô me abraçou e eu vi a morte dele. Avisei em seguida e ele parecia preocupado. O primeiro a mostrar que acreditava.

– E o que você vai fazer? – Meu avô perguntou se ajoelhando para ficar de frente para mim.

– Proibir você de andar de barco! – Gritei, mas meu avô não se assustou, apenas suspirou.

– Eu sou marinheiro, meu filho. Não posso não andar de barco.

– Pode sim, vovô – Chorei em seus braços com medo de perder minha última família.

– Eu preciso te avisar que todas as histórias que te contei quando criança eram reais. – Ele alertou e eu avisei que já sabia. – Então realmente existem pessoas que não gostam da nossa liberdade. Faz uns dias que até levei para outro país, ilegalmente, crianças que fugiam dessas pessoas.– Disse meu avô. – E eu quero que você seja livre. Me promete uma coisa, meu filho?

– Eu prometo o que você quiser, mas só se me prometer também! – Gritei aos prantos. – O que você quiser!

Logan respirou fundo, mas sua voz não combinava com seu olhar tempestuoso.

– Prometa que você vai proteger todos que conseguir. Nunca mais faça ninguém chorar, como fez com aquela menina só por que você não a entendeu. Aprenda a controlar seus dons. Sim, filho, dons no plural. Vai descobrir que tem mais do que essa terrivel dor de cabeça. – Meu avô me abraçou forte. – Você vai aprender a ser um herói. Ser aquele que todos precisam. Seu pai não sabia a sorte que teve ao ter um filho como você. Entenda que você não é pura dor. Você não é amaldiçoado, filho. Logan, querido, você não nasceu para ser uma praga! Nem pense nisso. Não afaste as pessoas de você! Porque você, meu filho, é especial e encantado, assim como eu.

E como para provar que estava falando a verdade, meu avô fez o vento a nossa volta ficar muito forte e as folhas nos circulavam.

– Eu quero que me prometa ser o que você nasceu para ser. – Sorriu triste meu avô. – Não interessa o que acontecer.

Eu sorri e confirmei para o meu avô que iria sim cumprir a promessa, se ele ficasse longe de barcos. Depois daqueles dias sai de Vegas e vim parar aqui.

– Seus sonhos? Seus pesadelos... voltaram a acontecer? Seu avô ele está...?

– Morto. Sim, antes deu sair de Vegas, na verdade. Mesmo depois da promessa, meu avô teve que voltar ao barco, mas não como trabalho. Havia um menino afogando-se no mar e o salva-vidas não estava no posto. Meu avô estava na praia naquele dia. O menino nunca tinha prendido a nadar mas estava lá no fundo, e a culpa foi dele do meu avô ter voltado ao barco.

– Que merda. – Suspiro e volto a me encostar na cadeira.

– O menino se sentiu culpado e acabou voltando ao mar varias vezes naqueles dias. Ele aprendeu a nadar e não voltou a se afogar. Nunca mais errei dentro do mar. – Logan deixou uma lágrima cair mas fingiu que não. Log é o tal menino. – Assim comecei a surfar. Para me lembrar do meu avô. Contudo, após aquilo tudo, e principalmente a morte dele, eu descobri sobre a terra... – Com um suspiro alto, Logan continuou. – Se me arrependo de algo? Hum, acho que não. Cheguei até aqui e tento fazer meu melhor para cumprir minha promessa. Meu avô foi me salvar e por isso minha previsão aconteceu.

– E depois daquela vez? Deve mais previsões ruins?

O meu amigo acenou com a cabeça concordando. – Tive algumas até perceber que eu realmente podia impedir que minha visões se realizasem. Foi a pouco tempo na realidade. Era para uma coisa acontecer, mas não foi bem assim. Apesar do fim ter sido o mesmo, a visão não foi cumprida

– Quando você descobriu que conseguia alterar sua visão?

Após alguns segundos em silêncio vejo que meus músculos estão tensos e eu estou um pouco mais perto dele. A voz que antes narrava algo, de uma forma impessoal, parecia mais viva, mais realista. Logan me olhou nos olhos e deu um sorriso frio. – Quando matei Kevin com uma flecha e não com uma espada.


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