Os olhos violetas escrita por Flávia Monte


Capítulo 35
Capítulo 35 - De onde a Sofia veio.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Comentários geram mais capítulos!!!

"Se tudo der errado,
fiquem juntos."



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– Na véspera de natal, quando eu tinha oito anos, homens estranhos invadiram nossa casa. Lá estávamos eu, meus pais, meu irmão mais novo e o mais velho. Havíamos acabado de arrumar a ceia. Quando meus pais perceberam o que estava para acontecer, sorriram para mim e para meus irmãos e nos disseram que era uma brincadeira de natal. Um tipo de pique-esconde que a cidade inteira iria participar, todavia, crianças não poderiam jogar e a família era eliminada se houvessem crianças por perto, logo teríamos que nos esconder até que todos fossem embora.

Na hora eu e meu irmão mais velho nos escondemos dentro do armário do quarto do mais novo. Eu e Brian estávamos discutindo baixinho sobre a brincadeira. Brian tinha nove anos, e não acreditava que podiam estar nos excluindo do jogo. Para o azar do meu irmão mais novo, ele chorou. Pode ter sido de medo, de fome, de vontade de ir ao banheiro, não sei o motivo. Minha mãe correu até a porta do quarto, ela estava toda ensanguentada e mancou até ficar na frente do baú, onde o mais novo estava escondido.

Minha mãe gritou, chorrou e fez de tudo para que os homens estranhos não chegassem perto. Vi seu poder naquele dia. Foi a primeira vez que eu pude ter certeza que era um poder. Ela estava pegando fogo, e o quarto inteiro também. Tudo estava chamuscado, por causa dela. Eu e Brian fomos atingidos também, mas Brian estava por cima de mim, então a maior parte do fogo atingiu as costas dele. Ele não chorou, e tampou minha boca para que eu não falasse nada.

Quando olhamos de novo pelo buraco que tinha na porta do armário, tudo estava preto e cinza. O baú que meu irmão estava escondido tinha pego fogo e agora não passava de pó e meu irmão também. Minha mãe não estava mais dentro do quarto, mas achei que ela poderia estar viva, havia um rastro de um corpo nas cinzas do chão.

Depois do ocorrido ficamos no canto do armário por mais algumas horas, mais ou menos até amanhecer. Brian já havia entendido o que tinha acontecido, mas eu não. Não conversamos direito até sairmos da porta de casa. Tudo lá dentro estava pelo menos cheirando a fumaça, no entanto, pegamos algumas de nossas roupas e colocamos cada um em sua mochila.

A comida já havia estragado por causa do clima, e já que não tinhamos muito dinheiro, não havia mais nada na geladeira. Assim que saímos meu irmão disse:

– Nós ainda estamos brincando. – Depois tossiu muitas vezes enquanto desciamos as escadas até a portaria onde ele continuou a falar. – O objetivo é não sermos pegos.

Apartir dali começamos uma jornada. Apenas com nove anos, Brian teve que assumir o caminho. Durante todo o percusso ele cantava uma canção de ninar que mamãe e papai cantavam para todos nós.

Se tudo der errado

E só der para brincar

Procurem um ao outro

Que juntos têm de ficar

Caso não haja para onde ir

Com a ajuda do leiteiro

Comecem a fugir

Procurem o marinheiro

De cruz no rosto,

Flor na mão

Sem dinheiro nos bolsos

E dor no coração

Diga seus nomes

E de onde vêm

Fale dos homens

E de mais ninguém

Escutem direitinho

Seus olhos são suas chaves

Fujam escondidinhos

Escutem as aves

Para mim era só uma canção, eu não sabia o que aconteceu, ou pelo menos fingia que não. Sempre de olhos bem abertos, seguia meu irmão. Eu reclamava da distância e de termos que ir andando. Reclamava de fome, de cansaço e de sono. Não parava de falar nem um minuto e Brian não ligava. Fingia que tudo estava bem e falava a mesma frase sempre que eu perguntava para onde estávamos indo.

– Para o fim do jogo.

E para mim era isso. Um jogo. Um pique-esconde pelo mundo. Nós parávamos de tempos em tempos para falar com adultos e eu questionava Brian e dizia que não podíamos falar com estranhos. Ele ria e afagava meus cabelos. Seus olhos vermelhos sempre brilhavam quando ele ria, então eu também ria. Brian cuidava de mim, todos os dias.

No dia chegamos no cais que tinha perto de casa. Brian pediu para eu não soltar a mão dele, pois era muito perigoso ficar sozinho durante o jogo. Conversando com um cara alto de chapéu, Brian finalmente deixou uma lágrima cair e balançou a cabeça em afirmação.

– Nós vamos nos esconder com nossos tios. – Disse ele olhando agora em minha direção. – O irmão da nossa mãe mora na Grécia. – Brian puxou minha mão e foi me arrastando até perto de um barco mas eu resisti e não quis andar.

– Mas mamãe e papai não vão ficar triste por nos escondermos tão longe de casa? A brincadeira de natal não era só no nosso bairro? Não estou entendendo nada, Brian. – Choraminguei batento a mão na perna e então vi Brian muito sério me encarando.

– Os pais querem que fiquemos com a tia Rita e o Tio Dru, se não fizermos isso de natal pros pais, o que mais poderíamos fazer? – Argumentou meu irmão e eu não pude mais negar nada.

Entramos no barco e eu fiquei tocando na água que caía dentro da proa. Brincava com ela, tocava e via que ela ia de um lado para o outro. Eu ainda não tinha meus poderes. Eu não tinha desenvolvido nada ainda. Brian já.

Estávamos famintos, mesmo que com apenas um dia sem comida. O marinheiro deu comida e abrigo durante a viagem. Quando chegamos em uma terra tão branca e cheia de barcos, não havíamos tido certeza se estávamos no lugar certo. Brian pulou para o cais e me ajudou a sair.

Quando saímos do barco o marinheiro nos deu comida e um papel que vi rapidamente. Tinha letra da mamãe. O marinheiro era estranho, tinha dois ferimento no rosto que se cruzavam e uma tatuagem estranha na mão, parecia uma rosa cheia de espinhos.

Sentamos em um banco que tinha por perto. Era de madeira e super desconfortável, mas dormimos ali mesmo. Não tínhamos nenhum dinheiro, mas Brian disse que não tinha problema. Disse que achamos uma pista da brincadeira que nos dizia que não precisaríamos. Para mim, aquilo não fazia sentido nenhum.

Me perguntava onde estava meu irmão mais novo, Stille. Mesmo lembrando vagamente da noite da véspera de natal, pensar que meu irmãozinho virou pó não parecial real, na época. Porém, depois de Brian pedir para não perguntar mais, preferi ficar calada, mesmo sentindo saudades do mais novo. Seguimos algumas pedras coloridas e paramos na frente de uma parede. Brian sentou no chão e depois me sentei ao seu lado. Enquando eu dormia, meu irmão continuou acordado velando para não sermos descobertos.

Escutei meu irmão perguntando aos céus algumas coisas. Tinha vezes que gritava. O vento soprava mais forte e minha cabeça doía. As vezes eu sentia gotas caindo em meu cabelo. Depois de algumas horas eu acordei. Brian havia dormido, encostado na parede, e roncava baixinho. Eu prendi o riso e me levantei. Ainda estávamos na primeira noite depois do natal. Vi passarinhos voando perto da gente. Na realidade, estavam em torno de nós dois. Eles faziam barulhos irritantes, mas não falavam nada.

Cantei um pouco da canção de ninar enquando eu andava por perto de Brian, mas parei de repente. Em pé, atrás de uma parede tinha um menino, mais velho do que eu, escondido. Nos olhava com curiosidade e quando a luz de um poste, perto dele, acendeu nós dois nos vimos claramente. Nós dois tinhamos olhos vermelhos.

Com um susto eu cheguei para trás. Ficar com Brian era o mais seguro. E com o susto, dispertou uma curiosidade fazendo com que o menino chegasse mais perto. Sem se esconder mais atrás da parede, o garoto ruivo veio rápido, nos olhando. Chegou a mais de dois metros de distância e parou. Me olhou de cima a baixo e depois olhou para Brian.

– Não existe ninguém mais por aqui com esses olhos. – Falou o menino alto o suficiente para acordar Brian, que se levantou e ficou na minha frente de um jeito protetor. A voz do garoto tinha um sotaque estranho, parecia que não sabia como falar direito nossa língua.

– Nossos olhos são nossas chaves. – Disse meu irmão calmamente, depois de ter visto os olhos do menino. Não tinha jeito, eramos maioria, mas estávamos em uma terra distante e desconhecida. Não sabíamos o dialéto da Grécia e o dialogo era quase impossível. Nada parecia ser uma boa resposta. Tento apenas nove anos, Ruan teve que ser corajoso para não fugirmos, pois o menino mais velho era meio estranho. – Precisamos escutar as aves.

Vimos que os olhos do garoto subiu para o céu e depois voltou para nós dois. Sorriu de uma forma gentil e pediu para que o seguísemos. E não tivemos muita escolha. Descemos por algumas avenidas até chegarmos em uma casa de pedra, semelhante a todas as outras em volta. Após bater na porta de madeira um homem alto e parrudo abriu. Olhamos em seus olhos e foi o que bastou para entrarmos.

Descobrimos que era o tio Dru. O menino era o filho dele, também tinha uma menina sentada no sofá. Não perguntei seus nomes. Só tio Dru falava nossa lingua. Quando enfim amanheceu uma moça saiu de dentro de um dos quartos. Olhou para meu irmão e depois para mim, nos examinando. Deixou lágrimas caírem com uma rapidez e nos abraçou.

Era nossa tia. Ela tinha entendido a situação. E pelo o que eu soube depois, a música era um combinado entre o tio Dru e a mamãe. Tio Dru tinha uma tatuagem com pássaros.

– E foi assim que você conheceu o Ruan. – Interrompi Sofia.

– No final, os olhos de fogo vieram até a Grécia também. Meu tio era considerado um Normal, não tinha nossos olhos apesar de sermos realmente parentes de sangue, mas Ruan e Cain tinham. Já havia se passado dois anos desde que chegamos aqui, eu já sabia a verdade. Então fugimos pela ilha de novo quando soubemos que os homens estranhos tinham vindo. Eu, Brian e Ruan fugimos. Mas Cain não foi com a gente. Disse que tinha que esperar os pais dentro de casa. Nossos tios estavam trabalhando e iriam voltar tarde, minha prima disse que não podia sair. Cain foi levada quando eles vieram.

– Mas como vocês sabiam sobre o clã dos olhos de fogo? Que eles haviam chegado a Grécia? – Perguntei enquanto abraçava e afagava Sofi. – E por que estavam atrás de vocês?

– Eles queriam um exército.- Murmurou Sofia. – Os olhos de fogo ainda querem um exército de jovens Olhos. Por isso foram atrás de nós. Também acredito que eles andam fazendo o que fizeram com a minha família por aí. O marinheiro nos contou assim que os olhos de fogo chegaram aqui. E nos avisou para onde ir, onde nos escondermos. Ruan tem o dom de cura, pela água e curou as costas de Brian. Meu irmão tinha o dom do cliclone, e usou para nos proteger. Eu não tinha nada na época e era a mais nova. Eu não servia para nada, em uma estrada dificil. Foi realmente um caminho longo, mas conseguimos. – Sofi ficou muda por um tempo. – Menos Cain. E Stille.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!! Beijos!! Até os comentários!



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