You Don't Know Anything About Me escrita por Patience Angel


Capítulo 2
2




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Só pode ser brincadeira. Eu devo ter jogado não só pedra na cruz, mas uma montanha inteira. Ter que aguentar essas vozes incessantes no andar de baixo me parece um castigo e tanto. Reviro os olhos pela milésima vez antes de me levantar da minha cama, que parece me olhar pedindo para que eu deite novamente. Antes que eu decida ceder e deitar de novo, desço as escadas rezando para que eu consiga fazê-las calar a boca.

Presencio uma cena não muito agradável ao chegar no andar de baixo. Há uma porção de roupas espalhadas por todo o local, nas camas das duas, no chão, roupas o suficiente para vestir toda a Rússia e um pedaço da Ásia também. Os dois seres causadores dessa baderna, vasculham em meio a pilhas em busca de algo.

Um par de olhos castanhos viram-se para mim e vejo um sorriso se formar em seu rosto.

– Pensei que estivesse dormindo, Lucy. –Kimberly diz, e volta sua atenção novamente para as roupas, mas não para as que estão espalhadas por todo canto, e sim para as que ainda restam em seu armário.

– Eu estava. –Digo simplesmente. Analiso aquele monte de tecido tomando conta do nosso quarto e arqueio as sobrancelhas pegando uma blusa verde cheia de glitter.

– Ah, estamos apenas tentando nos decidir com que roupa iremos à festa do Tyler. –A morena de olhos verdes abre um largo sorriso com dentes que chegam a me cegar. – Você também vai à festa?

– Jess se refere à festa que todos os formandos dão para receber os novos veteranos antes do início das aulas. É quase uma festa de despedida para aqueles que vão para a faculdade, ao mesmo tempo em que comemoramos que nossos dias aqui nessa prisão estão contados. –Kim explica gesticulando com as mãos e revirando os olhos castanhos por trás dos óculos.

– Não gosto de festas. –Dou de ombros pegando o controle da TV e ligando num canal de filmes onde uma comédia chata passa a fim de entreter os telespectadores, o que não é o meu caso já que fico mais entediada do que antes.

– Me ajuda a encontrar algo legal pra usar? –“Jess” suplica com os olhos verdes brilhando. Reviro os olhos.

– Aquele vestido branco, use-o. Vai combinar com seu tom se pele. –Aponto para o vestido jogado em cima da cama, ao lado de outras peças coloridas. As duas arregalam os olhos. Talvez achassem que, só porque não sou uma escrava da moda e não me visto como as outras, não tenho alguma experiência com esse tipo de coisa. Mas quando se tem pais que vivem no meio artístico, a gente aprende coisas sem querer.

Ando até a porta e saio, ignorando as perguntas desnecessárias delas e encontro o corredor completamente vazio. Como faltam mais de uma semana para a volta as aulas, boa parte dos alunos daqui ainda estão aproveitando o fim das férias de verão com os familiares.

E eu estou aqui, presa e tendo que aguentar duas garotas irritantes e um garoto mais ainda. Céus, isso tudo por causa de um pai famoso que, sob a influência da secretária vadia, conseguiu me matricular aqui em menos de um dia. As coisas aconteceram com uma rapidez com a qual eu e minha lerdeza fomos incapazes de acompanhar.

Chegando ao refeitório, me deparo com algumas pessoas sentadas em grupo e até uns caras fumando, mas uma mulher baixinha de cabelos grisalhos passa e recolhe os cigarros deles, que mostram o dedo mediano a ela.

O tal de Thomas com quem divido o quarto também está aqui. Ele conversa animadamente com um ruivo e uma garota de pele escura com belos cachos que vão até suas costas. Sento-me numa mesa vazia apenas observando o momento em que um cara de cabeça raspada, do grupinho dos fumantes, meio drogado invade a rodinha dos três.

As pessoas em volta estão com os olhos ansiando por uma briga que talvez comece logo. Thomas se levanta e encara o sujeito com um olhar durão, que me fez rir internamente pela estupidez dele. Ele não parece nem um pouco amedrontador para mim. Tenho certeza de que o cara de cabeça raspada derruba ele com pouco esforço.

Os dois ficam numa espécie de troca de insultos e ameaças até a mesma mulher de cabelos grisalhos que pegou os cigarros dos carinhas, entrar no meio dos dois e lhes dar uma bronca. O cara fica encarando Thomas com um olhar matador enquanto se afasta do mesmo.

Passa por mim pisando duro, mas não antes de me mandar uma piscada de olho e um sorriso. Respondo com um simples dedo do meio, que o faz sorrir ainda mais largo. Garotos são tão idiotas. Digo isso porque convivi com três imbecis por mais tempo do que gostaria, apesar de eles serem bem mais amigos do que muita garota falsa por ai.

Não posso dizer exatamente quanto tempo passei ali, naquela mesa vazia apenas observando as ações das pessoas e já deduzindo a personalidade de cada um. Acho que tenho um bom futuro como psicóloga ou terapeuta pela frente. Talvez até como serial killer. Só posso dizer que, quando cheguei ao quarto, toda a bagunça de mais cedo estava arrumada e os três seres com quem divido o quarto estavam sentados no tapete assistindo um filme de romance terrivelmente patético.

– Ah, oi Lucy. Já de volta? –Jess pergunta com um sorriso idiota no rosto.

Dou de ombros e subo as escadas, ignorando-a. Ou essa garota é realmente sonsa ou ela se faz mesmo. Às 8 e meia da noite, ouço um sino ecoar pelo quarto e interromper “Helena” do My Chemical Romance bem na metade. Bufo, desligando e desconectando os fones de ouvido do celular.

Encontro tudo vazio e silencioso ao descer as escadas. Ótimo, eles fugiram e nem me convidaram. O sino toca novamente me fazendo querer arrancar a cabeça do infeliz que está tocando essa merda.

– Lucy? –Uma voz grave me desperta dos meus devaneios. Viro-me e encontro dois pares de olhos azuis me encarando de uma forma desagradável. Quem foi o idiota que permitiu que esse otário andasse pelo quarto sem camisa? Acho que o mesmo cara que trás anabolizantes contrabandeados para o Jake também tem Thomas como cliente.

O mesmo sino irritante toca pela terceira vez e estremeço em resposta. Thomas ri e mando-lhe um olhar frio.

– Isso é conhecido como “ou você janta agora ou vai morrer de fome”. –Aponta para o teto, se referindo ao som. Reviro os olhos e dou de costas pronta para ir para a porta, mas ele segura meu braço, me forçando a olhar para trás. – Você se importaria de me esperar?

– Sim, me importaria. –Encaro seus olhos azuis que me olham com um leve tom de divertimento e estapeio sua mão. Ele ri, me soltando.

– Vou apenas colocar uma camiseta e já volto. –O encaro incrédula. Ele está me fazendo perder a hora da comida. Eu o mato se não sobrar nada para mim. – O quê? Não achou que eu fosse ir assim para o refeitório, achou? –Aponta para o peito nu.

– Apenas se vista logo. –Digo impaciente. Ele dá de ombros e some, voltando logo depois devidamente vestido com uma camiseta preta.

O corredor me parece bem mais vazio do que antes e a fraca brisa que sopra é o suficiente para fazer meus braços se arrepiarem. O idiota caminha ao meu lado quieto e agradeço-o mentalmente.

– Ainda acho injusto te colocar no lugar da Lily... –Murmura baixo para si mesmo, mas escuto mesmo assim.

Chegamos ao refeitório e me separo dele assim que algumas pessoas nos mandam olhares maliciosos devido ao nosso atraso. Consigo pegar comida o suficiente para me abastecer por pelo menos umas 4 horas e me sento numa mesa vazia. E quando eu penso finalmente estar sozinha sem ter ninguém para me perturbar, uma cabeça ruiva invade meu campo de visão.

– Podemos nos sentar aqui? –Kimberly sussurra para mim enquanto Jess, Thomas e os amigos dele de mais cedo, se acomodam.

Dou de ombros e mordo minha coxinha de frango, saboreando o sabor maravilhoso dessa pequena coisinha que antes fora uma galinha cheia de penas. O garoto ruivo se inclina sobre a mesa na direção de Kimberly, que cora levemente, e pergunta:

– Quem é a gatinha, Kim? –Seus olhos verdes alternam entre mim e ela. Kimberly responde meio sem graça:

– Essa é nossa nova colega de quarto. –Gesticula em minha direção, então se vira para mim e faz as devidas apresentações: - Lucy, esses são Johnny e Alice. Pessoal, essa é a Lucy.

– Lucy, você assaltou a cantina? –Jess pergunta, arregalando os olhos verdes ao máximo que pode. Dou de ombros novamente.

– Estou com fome. –Minha voz soa meio rouca e fria, mas não me importo. E essa foi minha última fala antes que voltássemos para o quarto e nos preparássemos para dormir.

Faz mais de meia-hora que Thomas está no banheiro. Já pensei em arrombar a porta e invadir, mas a possibilidade de flagrá-lo no banho me apavora. Quando eu já estou decidindo em qual terreno baldio irei jogar o corpo dele depois de o matar, o infeliz resolve sair.

Entro bufando, jogando meu ombro contra seu corpo de propósito apenas para descontar minha raiva. Tomo um banho rápido e visto meu blusão do “Jake” de Hora de Aventura e um short preto curto e justo logo em seguida.

Me jogo, literalmente, na cama e Thomas se vira para me encarar.

– Belo pijama. Deveria usar isso mais vezes. –Ri maliciosamente. Deita na própria cama e se vira para me encarar novamente. Ficamos alguns segundos nos encarando até eu revirar os olhos e lhe dizer:

– Não se preocupe, não irei te estuprar no meio da noite nem nada do tipo. –Ele sorri em resposta.

– Em outras circunstâncias eu não me importaria nem um pouco se você fizesse isso.

Mostro-lhe o dedo do meio e me viro de costas para Thomas.

– Boa noite, Lucy. –Sussurra.

– Vai dormir. –Sussurro de volta. A última coisa que ouvi antes de cair num sono profundo, foi o som da risada do idiota. Se minhas pálpebras não estivessem tão pesadas e quase se fechando, eu juro que o socaria até ficar com o rosto deformado.


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