The Heir escrita por Ginny


Capítulo 3
Três


Notas iniciais do capítulo

Sei que não tive nenhum review no capítulo passado, mas estava com tanto tédio (observem como minha vida é interessante) que resolvi vir postar. Espero que gostem desse capítulo, queridos. Boa leitura!



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Eadlyn

O resto dos dias até que os Selecionados chegassem foi uma correria terrível. Certo, admito que eu não corri nem uma vezinha sequer, mas meu cérebro parecia ter competido numa maratona de várias milhas. Tudo o que eu queria era poder descansar sem ter preocupações adicionais, mas sabia que, pelo resto da minha vida a partir daquele momento, isso seria impossível, e essa ideia me assustava mais do que aranhas ou qualquer outro aracnídeo viscoso.

— Todo esse estresse vai fazer mal para o seu cabelo. — Astra vivia dizendo quando me via preenchendo e revirando as papeladas.

Como se o cabelo fosse o meu maior problema. Ela não percebia? Em pouco tempo, o próximo rei de Illéa entraria por aqueles portões. E, sinceramente, eu tinha esperanças profundas de que se tratasse de David Newsome, que, em meus pensamentos, eu havia começado a chamar carinhosamente de Dave, embora nunca o tivesse encontrado pessoalmente na minha vida inteira. Tenho certeza de que me lembraria de tais olhos azuis.

A única coisa capaz de me irritar a ponto de desviar minha atenção da Seleção (embora não tão completamente) era Alec. Como amigo da família, ele, por algum motivo, lhe foi concedido o direito de mudar-se antecipadamente para o castelo. Embora nossos quartos ficassem em andares diferentes e o meu ficasse rodeado por guardas em tempo integral — pais super-protetores são uma droga —, ele sempre arrumava um jeito de aparecer para me azucrinar.

— O que você quer agora? — Perguntei certa vez, sem precisar levantar os olhos para saber que se tratava dele. Era a última noite antes do dia em que os garotos chegariam. Eu estava uma pilha de nervos e cheia de papéis para assinar. A última pessoa que eu precisava ver era Alec. — Não vê que eu estou ocupada?

— Preciso falar com você. — Ele disse, soando hesitantemente sério, o que era incomum demais para ele. Seu tom me fez erguer os olhos da papelada, com uma sobrancelha arqueada.

— Alguém morreu? — Perguntei, estranhando seu comportamento. Alec fechou a porta atrás de si e se sentou na poltrona, sem se incomodar em pedir permissão. — Porque a sua cara está ainda pior do que de costume.

— Você não achava isso seis anos atrás, Eady.

— Cale a boca. — Senti meu rosto queimar. O idiota tinha razão. — Afinal, o que você quer?

Alec hesitou por um momento. Ele contorceu-se na poltrona até estar deitado, os olhos pregados no teto.

— Eu preciso da sua ajuda.

Eu poderia esperar qualquer coisa tratando-se de Alec. Qualquer coisa mesmo. Mas aquilo realmente me surpreendeu. Alexander Leger não era do tipo que pedia ajuda — e muito menos para mim.

Muito cuidadosamente, eu arrisquei a próxima pergunta:

— Que tipo de... ajuda?

Ele suspirou, claramente sentindo o desdém no meu tom de voz, mas, por um milagre, conseguiu evitar rebater de um modo igualmente irônico. Alec pigarreou e, sem expressão, contou:

— Por incrível que pareça, eu não entrei na Seleção só para te irritar. — Ah, claro, pensei. — Sei que não acredita, mas é verdade. Também não quero me casar com você, você fica insuportável nos domingos. E nos outros dias também. Enfim. Antes que você comece a gritar, eu tenho um bom motivo. — Então ele pareceu hesitar novamente, mas apenas por um segundo. — Acho que todo mundo, exceto o meu pai, é claro, sabe que eu odeio a Academia, e ser militar é a última coisa que eu posso querer. Então, eu pensei que...

Mas, antes que ele terminasse a frase, eu entendi.

— Você quer chegar às finais para ter a liberdade de mudar de posição. — Percebi, surpresa. — Sério mesmo? Você correu o risco de ser assassinado apenas pra isso?

Alec pareceu indignado.

Apenas? — Ele falou, um pouco mais alto do que de costume. — Eadlyn, eu não quero ir para o exército. Essa é a última coisa que eu poderia querer na vida. Eu não sou como o meu pai, não mesmo. Nos últimos anos, ele está obcecado por esse negócio de servir como "os punhos do país", seja lá o que isso significa. Eu não quero ser como ele, mas, se não conseguir ir para a final, o sistema me obrigaria a servir ao exército.

Ele tinha razão em tudo o que havia acabado de dizer, mas eu não disse isso em voz alta. Pensei sobre o assunto por um momento. Deixar Alec ir para a final seria a pior experiência da minha vida, mas eu sabia que me sentiria péssima se não o ajudasse — havia um minúsculo resquício quase inexistente dentro de mim da pequena Eadlyn, a que achava que Alexander era o máximo, e essa parte queria que ele se sentisse melhor.

— Certo. — Bufei, revirando os olhos. — Mas você vai me pagar por isso. Parceladamente e com muitos juros.

Alec estreitou os olhos.

— Você está falando sério? — Assenti para ele. — Sério mesmo? Eady, não ouse brincar comigo.

Revirei os olhos, tentando conter um sorriso.

— É sério, Leger. Nós temos um trato. — Falei. — Eu vou ajudar você, porque, talvez, eu precise de certos favores um dia...

Eu não consegui terminar de falar, porque, no mesmo momento, Alec praticamente saltou sobre mim. Por um momento pensei em gritar, antes de perceber que aquilo se tratava de um abraço. Mas aí fiquei com mais medo ainda. Tratei de me levantar, empurrando Alec com a maior força que consegui reunir.

— Seu idiota! — Gritei, mas não soou muito convicto, porque eu estava ocupada demais rindo. — Qual é o seu problema? — Ele finalmente se afastou, sorrindo muito além de seus frequentes sorrisos tortos. — Alec, eu tenho muita coisa para fazer. Você precisa ir embora. Agora. Antes que eu chame seu pai pessoalmente para te arrancar à força daqui.

— Já estou indo, pode deixar. Também tenho um bocado de coisas para preencher até amanhã. — Ele começou a caminhar para porta. Quando estava prestes a sair, parou na soleira da porta e virou para mim. — Obrigado, Eady.

Tentando controlar o rubor nas bochechas, eu voltei à carranca usual e resmunguei:

— Não me chame por esse apelido ridículo.

Alec sorriu uma última vez e saiu.

***

Meu rosto estava um desastre quando acordei, mas Astra conseguiu consertar com a maquiagem excessiva. Meu estômago revirava, dava saltos e girava, tudo de uma vez só. O vestido era de verão, pois a temperatura era a mais alta do ano: ia até abaixo dos meus joelhos e era tomara-que-caia. O tecido verde-oliva com detalhes ainda mais claros era leve, combinando perfeitamente com a minha pele morena sem graça e com os grampos enfeitados que Lana prendera no meu coque.

— Está linda, senhora. — Ela disse.

— Pare de me chamar de senhora, Lana. — Sorri. — Você me conhece desde que eu era uma bebê banguela. Pode me chamar de Melequenta se quiser.

Ela deu uma risadinha e assentiu antes de abrir a porta para eu sair. Eu me sentia totalmente artificial, com toda a maquiagem os sapatos altos expostos pelo vestido curto. Ao pensar nisso, tentei imaginar como estaria Alec, sendo arrumado por estilistas e cabeleireiros. Seria realmente uma cena hilária vê-lo mudar das jaquetas de snowboard velhas para ternos e gravatas.

— Por aqui, senhorita. — Disse Amelia, a principal organizadora da Seleção. Ela parecia bastante aflita, seus passos mais apressados do que meus pés cansados conseguiam acompanhar. — Ainda temos que fazer algumas gravações, então é melhor estar pronta, senhorita.

— Eu estou pronta. — Afirmei, sorrindo com o ímpeto de tranquilizá-la. Às vezes, o fato de que as pessoas se sentiam incomodadas e aflitas com a minha presença me deixava irritada. — Eu tenho um texto?

— Sim, sim. Aqui está. — Ela me entregou fichas escritas em caligrafia cuidadosa.

Nós fomos até o estúdio onde as gravações geralmente eram feitas no castelo, e encontrei meus pais e Ahren (Ele parecia realmente entediado. Com certeza, meu irmão, sete minutos mais jovem que eu, se considerava muito sortudo por ter a liberdade de escolher a própria esposa.) lá, com seus sorrisos brilhantes e roupas impecáveis. Fiquei imaginando se eu estaria no nível da beleza da minha família. Eu havia puxado tudo da minha avó materna, a falecida rainha Amberly: tinha o mesmo cabelo castanho-escuro, mesmos olhos castanho-claros e a pele cor de oliva. Se eu e Ahren não fossemos gêmeos e ele não fosse ruivo, as pessoas suspeitariam, já que eu não pareço com nenhum dos meus pais.

— Boa sorte, querida. — Minha mãe sussurrou para mim, um segundo antes de as câmeras piscaram acesas.

Eu falei o que havia em minhas fichas sem nem mesmo prestar atenção. Falava algo sobre como era uma honra ser finalmente capaz de ter minha própria Seleção, assim como meu pai. Também falei sobre outras coisas entediantes, como a guerra e o novo sistema de Illéa. Tudo terminou como um grande suspiro de alívio, e nós fomos levados para o café da manhã.

— Pronta para ter sua mão disputada? — Ahren me deu um empurrãozinho com o ombro, ameaçando meu equilíbrio sobre os saltos.

— Ora, não desanima, maninho. — Estreitei os olhos para ele. — Talvez um dos garotos tenha uma irmã super bonita e tonta o suficiente para se casar com você.

Ahren fechou a cara.

— Muito engraçadinha.

Abri o melhor sorriso que consegui com todo o nervosismo que escorria entre meus nervos.

— Eu sei, Ahren. Eu sei.

David

A sala de preparação era um pesadelo. Eu nunca havia me preocupado em parecer atraente — na verdade, eu nunca tivera esperanças —, mas, talvez, se eu tivesse me preocupado antes, não teria que passar por aqueles sacrifícios.

E tudo isso por uma princesa que eu sequer conhecia pessoalmente. Para mim, parecia exagero demais, toda aquela puxação de cabelo e tudo o mais. Os outros caras pareciam tão incomodados quanto eu.

— Cara, você por acaso tá tentando arrancar meu couro cabeludo? — Perguntou um deles. Eu me lembrava de vê-lo na televisão, e não apenas durante o sorteio. Ele estava sempre acompanhado do príncipe Ahren. Alexander Leger, queridinho da família real. Ele parecia extremamente irritado. — Qual é? Acho que todo mundo sairia ganhando se você desistisse.

O cabeleireiro não se deixou atingir pelo comentário. Ele continuou tentando manter o cabelo loiro-escuro de Alexander no lugar, e ele continuou reclamando.

— Fico me perguntando como Ahren aguenta isso todos os dias. — Ele resmungou mais baixo, como que apenas para si mesmo, mas, como eu estava ao seu lado, escutei.

— Bem, ele teve o couro cabeludo torturado desde que o primeiro fio ruivo nasceu. — Falei. — Aposto que está acostumado com tudo isso. E com os ternos cheios de goma.

— E com aquela coroa ridícula. — Alexander riu. Ele olhou para mim pela primeira vez. — Sou Alexander.

— É, acho que todo mundo nessa sala sabe disso. — Informei, sorrindo. — Sou Dave.

Alexander levantou uma sobrancelha.

— Bem, parece que eu sou famoso, então. — Ele estreitou os olhos. — Mas pode me chamar de Alec. Todo mundo me chama assim.

Nós ficamos em silêncio até que, aparentemente, nossos cabelos não tivessem mais jeito. Fomos despachados para salas particulares, e eu fui vestido com um terno verde-escuro com uma gravata especialmente ridícula. No caminho para o carro — nesse ponto, meu nervosismo já estava num nível indescritível —, um dos garotos que viera comigo no avião, um que se chamava Luke Montrillo, comentou:

— Aposto que aquele cara, Alexander, tem uma ótima vantagem sobre o resto de nós. — Seu rosto estava sério e aparentemente irritado. — Ele viveu quase a vida inteira no castelo. É injusto. Ele conhece a princesa.

Pensei que, caso houvesse mesmo alguma coisa entre os dois — Alec e a princesa Eadlyn —, aquilo não poderia ser mais justo. Afinal, qual é o sentido de se casar com alguém que você sequer conhece? Não fosse por minha família, me pressionando desde que me entendo por gente para participar da Seleção, eu nunca teria me inscrito. De qualquer modo, eu pretendia sair na primeira oportunidade que visse e voltar para a minha própria província. Casar-me com a princesa Eadlyn Schreave era a última coisa que eu desejava.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Mandem reviews com a opinião de vocês, pois, dependendo do número de comentários, eu postarei o próximo capítulo mais tarde ou amanhã durante o dia. Beijos, queridos.