The Heir escrita por Ginny


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

Oi, queridos! Primeiramente, queria agradecer aos reviews divos da Daughter of Hades e Prismatic Queen. Amei os dois :) Agora, boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/568985/chapter/4

Eadlyn

Eu conseguia ouvir o grande alvoroço no andar de baixo. Havia pessoas gritando, máquinas sendo ajustadas e o som de passos apressados. Eu vira os carros chegarem mais cedo, mas os vidros escuros e cerrados me impediram de enxergar os Selecionados. Era estranho pensar que, em algum lugar daquele castelo, estavam trinta e três desconhecidos, um idiota e o amor da minha vida, quase todos eles tão ou mais ansiosos do que eu. Imaginei se algum deles realmente tinha vontade de conquistar a mim, e não apenas conquistar a coroa. Toda essa ideia me deixava realmente amedrontada.

— Você os verá amanhã, querida. — Minha mãe, que também ainda não vira os garotos, tentava me tranquilizar. Normalmente, eu tentaria esconder a qualquer custo o fato de que eu estava nervosa, mas sabia que não precisava fazê-lo quando estava com minha mãe. — O tempo vai passar num piscar de olhos, acredite em mim.

— Espero que sim. — Suspirei, hesitante. — Tem certeza de que não posso espiar? Nem um pouquinho?

— É uma regra, Eadlyn. — Ela encolheu os ombros. — Sei que essa família inteira tem uma fissuração incrível pela violação de regras, mas você é responsável por algo grande agora, precisa... Precisa se comportar como a futura rainha de Illéa.

Pude perceber que dizer aquele tipo de coisa exigia muito esforço para minha mãe. Ela era péssima em dar broncas em mim e Ahren, por mais leve que fossem.

— Tudo bem. — Desisti. — Acho que talvez eu possa esperar até amanhã.

Minha mãe sorriu para mim, agradecendo por eu não protestar — embora, sinceramente, eu quisesse muito.

— Eu preciso ajudar Amelia agora, ela deve estar sobrecarregada, a coitada. — Ela começou a caminhar para a porta, mas então pensou melhor e virou para mim rapidamente. — Eu não preciso te trancar aqui dentro, preciso?

— Não, mamãe...

— Posso confiar que você vai ficar aqui dentro? Quietinha?

— Sim, mamãe.

E só depois de repetir aquilo três vezes é que ela foi embora. Senti falta de Astra, que havia viajado para as províncias do norte junto com os pais na noite anterior. Toda a sua tagarelice sobre cabelo e saltos altos poderia me distrair. Reparei, com certa surpresa, que também sentia falta das provocações de Ahren — e, verdade seja dita, de Alec também. Qualquer um deles serviria para me tirar daquele estado permanente de nervosismo.

Mas consegui ignorar a ansiedade até a noite, quando Lana preparou meu banho e eu finalmente me vesti para dormir. Quando já estava de pijamas (eu nunca gostara das camisolas de seda) e amontoada sob os cobertores, com as luzes apagadas e um silêncio mortal preenchendo o quarto, foi que meus nervos decidiram funcionar de verdade.

Primeiro, foi só o arrepio no estômago, que não passava de jeito algum. Mas então, apesar do frio no quarto, o suor começou a brotar em minha nuca. Minha boca ficou seca logo em seguida, e minha respiração ficou entrecortada, como se houvesse areia em meus pulmões.

— O que você está fazendo? — Perguntei a mim mesma enquanto começava a afastar os cobertores e pular para fora da cama. — Você precisa ficar aqui. — Rosnei para mim mesma. Eu tinha o péssimo costume de falar comigo mesma, sem motivo aparente. Sem me preocupar em vestir um roupão, eu caminhei até a porta. — Eadlyn Schreave... Não ouse girar essa maçaneta.

Girei a maçaneta, e imediatamente senti vontade de me estapear. Mas, quando fechei a porta atrás de mim, meu lado racional já havia desistido de tentar me impedir.

O corredor estava vazio. Os guardas estavam ocupados guardando os muros do castelo — ataques durante a Seleção eram mais comuns do que gostaríamos de admitir. Mais deles chegariam nos próximos dias, mas nesse momento eles eram poucos. Os que encontrei pelo caminho não se incomodaram em me impedir.

Desci as escadas rapidamente. Sabia que não precisava me incomodar em encontrar um Selecionado pelo caminho. Afinal, eles estavam proibidos de sair do castelo sem permissão, e, provavelmente, todos eles estavam dormindo. Foi por isso que caminhei até o jardim, onde havia um lago artificial construído a pouco tempo. Sentei-me na margem, os pés descalços tocando de leve a água fresca. O ar era quente, e o verão estava no auge.

Não sei quanto tempo se passou até que eu ouvisse o barulho de algo pesado indo contra o chão. Levantei-me, assustada, e olhei para trás, no mesmo momento em que alguém dizia "Ai".

Havia uma sombra escura de alguém que começava a se levantar do chão. Fiquei paralisada por um segundo antes de começar a andar naquela direção, curiosa. Era claramente uma pessoa, e não parecia exatamente perigosa.

— Quem é você? — Perguntei, ainda alguns metros longe. A pessoa, oculta pelas sombras do castelo, começou a se levantar, e ficou calado de repente, parecendo assustado. — Está me ouvindo?

— Desculpe. — A pessoa, que naquele momento era apenas uma voz, respondeu. — Alteza. Eu sou Dave... Quero dizer, David. David Newsome, Alteza. Sinto muito por... por isso.

Arregalei os olhos. Minha mente voou imediatamente para os pijamas que eu estava usando, e eu senti vontade de nunca ter deixado o quarto. Eadlyn, você é tão estúpida.

David deu um passo à frente, sua postura reta como um fio esticado. Ele pareceu nervoso ao fazer uma reverência desajeitada, mas eu não entendi por que, até perceber. Ele estava fora do castelo no meio da noite, violando tantas regras quanto possível.

— Sinto muito. — Ele desculpou-se, mas eu só prestava atenção parcialmente no que ele falava. A maior parte da minha mente estava centrada em sentir vergonha e encarar seus olhos, que eram ainda mais azuis ao vivo. — Sei que não deveria estar aqui fora, mas eu simplesmente não...

— Não se preocupe. — Me apressei em dizer. — Você precisa ter permissão para sair, e, já que eu estou aqui, posso fazer isso.

— Está dizendo que eu posso ficar aqui fora?

— Claro. — Falei. Precisava me esforçar ao máximo para soar como uma princesa enquanto usava aquelas roupas ridículas. — Mas só se me responder uma pergunta.

Ele hesitou, mas sua curiosidade venceu.

— Com certeza, Alteza.

— Antes de mais nada, pare de me chamar assim. — Cruzei os braços. — Eu sou Eadlyn, então me chame desse jeito. Quanto à pergunta, eu só queria saber: como você chegou até aqui embaixo se há guardas em sua porta?

Ainda um pouco envergonhado, ele apontou para algum ponto atrás de si.

— A janela, Altez... Eadlyn. — Falou, mas então sorriu. — Eu costumava fazer isso em casa quando ficava de castigo.

Não consegui evitar um sorriso também, apesar de estar a ponto de explodir. Ainda não conseguia acreditar que estava frente a frente com o próprio David Newsome. Mas havia algo sobre seu olhar que me deixava confortável, como se eu o conhecesse há anos.

— Ouvi dizer que você é músico. — Falei. David assentiu. — O que você toca?

Começamos a andar para longe do castelo, na direção do pequeno rio artificial mais uma vez. David relaxou os ombros e sorriu ao ouvir falar sobre a música.

— Um pouco de tudo, mas, principalmente, piano. — Disse. — Eu gosto do som que faz.

— Eu tentei tocar violino certa vez, mas era como um gato gritando desesperadamente. — Suspirei, lembrando-me do trágico acontecimento em que eu descobrira não ter aptidão alguma para a música. David riu. — Não tenho o mesmo dom da minha mãe. Só Ahren puxou isso dela, junto com o cabelo ruivo e tudo mais.

O comentário fez com que David risse mais ainda, e logo eu estava rindo também. Nós paramos em frente ao lago e eu encarei a água.

— Minha família não ficou muito feliz quando descobriu o que eu desejava fazer da minha vida. — Ele falou. — Quero dizer, minha mãe é escritora e meu pai ator. Nenhum deles aprecia muito a música.

Isso, por algum motivo, me fez lembrar de Alec, mas eu empurrei a imagem dele de lado.

Eu estava prestes a abrir a boca para falar alguma coisa quando uma outra voz me interrompeu:

— Senhores, sinto muito em incomodar, mas vocês não podem ficar aqui embaixo a esta hora.

Primeiro, pensei que fosse um dos guardas.

— Nós não... — Comecei a me virar no mesmo momento em que reconheci a voz. Só para me certificar do que já suspeitava, lá estava Alec, se esforçando para não rir. Quando viu minha expressão, porém, sem conseguir mais se conter, ele riu, dobrando-se para frente. — Alexander! — Gritei, cruzando os braços novamente. — Eu vou matar você dessa vez, pode apostar.

David pareceu tão surpreso que não conseguiu falar por um tempo.

— Eu vi uma reunião aqui fora, e achei que deveria me juntar a vocês. — Alec falou num tom casual. — Então, isso é uma pequena festa? Onde está a diversão?

— Alec... — comecei.

— Como você conseguiu sair? — David perguntou, sorrindo de repente.

Como assim? Ele não percebia o quanto Alec era idiota?

— Bem, os guardas me conhecem, então... — ele deu de ombros, sorrindo também. — E você?

— Janela. — David falou.

— Qual parte do "Eu vou matar você" você ainda não captou, Alec? — Perguntei, sentindo meu rosto corar de raiva.

— Você diz isso desde que tínhamos treze anos. — Ele fez uma careta. — Enfim, acho melhor nós voltarmos. Todos nós. Os guardas não sabem que você está aqui fora, Dave. — O modo casual como Alec chamou David pelo apelido me deixou particularmente intrigada. — Isso renderia uma bela bronca dos seus pais, não acha, Eady?

Cerrei os punhos. Ele tinha razão, mas ainda assim era um estúpido.

— Não me chame assim. — Grunhi, começando a andar na direção do castelo. Estava com raiva tanto de Alec, por estragar meu primeiro encontro cara-a-cara com David, quanto do próprio David, por ser amigável com Alec (embora minha raiva por Alec fosse certa e imensamente maior).

— Certo. — David parecia confuso. — Acho melhor eu arranjar um jeito de subir pela janela de novo. — Ele me lançou um olhar culpado. — Nos vemos no jantar amanhã.

Não consegui evitar que um sorriso desmanchasse minha carranca.

— É. Até lá.

Então ele correu para sua janela, enquanto eu ia na direção da porta principal, acompanhada de Alec. Entre esganá-lo e ficar quieta, preferi o silêncio. Até que ele o quebrou.

— Você está tão caidinha por ele. — Ele murmurou. Quando olhei para ele, pensei que encontraria um sorriso malicioso, mas era quase como se ele me acusasse de alguma coisa.

— Cale a boca, não é verdade. — Resmunguei. — Eu só estava tomando um ar e ele apareceu.

— Dava para ver o brilho do amor nos seus olhos, Eady. Você estava olhando para ele como se fosse um anjo ou algo assim. — Ele continuou. — Aposto tudo que tenho que você está apaixonada por David Newsome.

Comecei a ficar verdadeiramente com raiva.

— E daí? Você não tem nada a ver com isso.

— Mas você mal o conhece. Só conversou com ele uma vez na sua vida inteira. E se ele for um psicopata maníaco? E se gostar de matar filhotinhos por diversão?

Revirei os olhos. Nós começávamos a subir as escadas para o terceiro andar, onde ficavam os quartos da família real.

— Continua não sendo da sua conta. — Falei. Antes de me virar e subir os últimos degraus que restavam, eu falei, baixo o suficiente para que minha voz não passasse de um sussurro: — E, se quiser que eu continue ajudando nessa sua droga de plano, é melhor não agir feito o idiota que você é, Alexander Leger.

Então me virei e subi.

— Eu só estava tentando ajudar! — Alec gritou às minhas costas, parecendo indignado.

— Eu não preciso da sua ajuda. — Respondi no mesmo tom, no mesmo momento em que fechava a porta, com força suficiente para que o barulho se espalhasse por todo o corredor.

Tive certeza de que meus pais e Ahren ouviram os gritos, mas não consegui me importar. Tranquei a porta para não ser incomodada e afundei na cama, pensando se, em algum momento, aceitar deixar Alec participar da Seleção fora uma boa ideia. Eu não me importava se estava exagerando, mas algo no modo como Alec suspeitava de David me deixava transtornada — e, pior ainda, despertava a confusão em cada pequena parte do meu cérebro. Tudo o que me passava pela cabeça naquele momento era mandá-lo embora, para que eu nunca mais precisasse vê-lo outra vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mandem reviews, queridos! Talvez eu poste amanhã ainda. Beijocas :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Heir" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.