The Heir escrita por Ginny


Capítulo 2
Dois


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu de novo, perturbando. Mas eu prefiro aproveitar o meu momento de inspiração. Então, boa leitura.



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Alec

Mesmo antes de chegar ao castelo para uma visita bastante inocente e sem intuito algum de provocar uma certa princesa, eu já conseguia imaginar toda a cena. Depois de pedir educadamente a seus pais para se retirar e falar comigo pessoalmente, Eady me daria uma bronca e, provavelmente, alguns socos da parte dela se seguiriam. Ela poderia parecer um poço de delicadeza em seus vestidos de cores claras e penteados bem ornamentados, mas, por experiência própria, eu sabia que ela tinha uma certa noção de como fazer as pessoas sangrarem.

— A princesa parece não... apreciar muito a sua presença, querido. — Minha mãe, Lucy, começou, logo depois de insistir que eu comesse uma maçã antes de sair. — Talvez essa não tenha sido a melhor decisão.

— Não importa, de qualquer modo. — Falei. — Eu tenho todas as certezas do mundo que essa Seleção só vai servir para uma coisa do meu ponto de vista.

Meu pai — que eu chamava, muito informalmente, de Aspen — claramente tentou evitar a pergunta seguinte, mas não conseguiu:

— E o que seria isso?

Sorri para ele.

— Irritar a Eadlyn. E, convenhamos, eu sou mestre nisso. Deveria dar aulas.

— Tem certeza que isso tudo não é só para que você possa fugir do treinamento na Academia? — Replicou Aspen, as sobrancelhas franzidas.

A Academia realmente era uma droga. Imagine ser filho de um general do exército. Obviamente, eu fui obrigado a largar a expectativa de cursar a faculdade aos dezoito anos — ou seja, um ano atrás — e matriculado na Academia do Exército de Illéa, onde jovens infelizes ou simplesmente malucos o suficiente para irem para o exército (considerando que estamos em guerra com a Nova Ásia) são treinados para suas futuras profissões.

Encolhi os ombros.

— Talvez, quem sabe? Aquele lugar é mesmo muito... — ao perceber o olhar de alerta de minha mãe, eu reformulei a frase: — Bem, acho que algumas férias não vão fazer mal. Aliás, não tem mais volta agora.

Aspen balançou a cabeça e suspirou, empurrando seu café da manhã para longe de si na mesa.

— Vamos, garoto. Eu te dou uma carona para o castelo.

Eu o segui, depois de dar um beijo rápido em minha mãe. Durante todo o caminho até o palácio, eu levei bronca sobre não pensar em meus deveres na Academia pelo que Aspen descreveu como "um simples ato de infantilidade". Eu apenas balançava a cabeça, pois tinha consciência de que meu pai não estava certo. Havia muito mais envolvido ali do que um simples ato de infantilidade.

— Chegamos. — Avisei. Com toda aquela ladainha, meu pai quase passara da entrada do castelo. Saltei do carro assim que pude. Precisava ver a cara de Eadlyn.

Não demorou muito para encontrá-la. Assim que um dos criados me recebeu, ela chegou. Como de costume, usava um vestido de cor amena. Dessa vez era verde oliva. Seu cabelo castanho-escuro estava desajeitadamente preso na nuca, o que parecia acentuar a expressão de raiva dela.

— Eu vou matar você. — Ela rosnou, mas tinha um sorriso leve e meio psicopata no rosto, como se fosse uma criança diabólica. Eady começou a se aproximar com uma mão erguida, como se fosse, como eu previra, me estapear, mas eu segurei suas mãos longe de mim enquanto falava.

— Já fui informado. — Repliquei.

— Espero que tenha vindo preparado com uma boa frase para a sua lápide. — Ela continuava sorrindo enquanto tentava desvencilhar. seus pulsos das minhas mãos Aquilo era meio perturbador. Ela se parecia um pouco com o Coringa, o antigo vilão de uma série de quadrinhos mais antiga ainda.* — Porque o seu enterro está bastante próximo.

— Na verdade, eu tenho uma coisa para te falar. — Comecei a caminhar na direção do jardim, puxando Eady comigo. Eu tinha uma certa liberdade para perambular pelo castelo.

— E isso seria algo como "Rá-rá"?

— Embora eu quisesse, não, não é.

— Então o que é? — Ela parecia mais curiosa do que irritada agora. Havia até mesmo parado de tentar cortar meu pescoço com as unhas. — Diga rápido, estou prestes a te enforcar.

— Certo, certo. — Revirei os olhos. — Não conte para o Ahren, mas eu...

— Eadlyn Schreave! — Fui interrompido por um grito ensurdecedor que surgiu atrás de nós. Antes que eu sequer pudesse olhar para trás, Astra Orders já estava se pondo entre mim e Eady com uma carranca incomparável. — O que você está pensando? Olhe para o seu cabelo! Como pode sair do seus aposentos reais assim?!

Astra provavelmente era a única pessoa que usava o termo "aposentos reais" sem um tom de ironia.

— Eu tinha coisas importantes para fazer. — Eady tentou.

— Esse idiota não é importante. — Ela apontou um dedo para mim, como se eu não estivesse escutando.

— Ei! — Protestei, mas Astra sequer me ouviu.

— Agora volte para o seu quarto e deixe-me cuidar desse desastre que o seu cabelo está. — Eady começou a protestar, mas foi interrompida. — Sem mais, garotinha. Agora vamos!

Astra puxou Eady com força exagerada. Ela lançou um olhar estranho para mim, como raiva misturada com um pedido de desculpas, e logo depois sumiu com sua prima mais velha profundamente pirada escadas acima.

— Ei, cara! — Virei o rosto ao ouvir a voz de Ahren. Ele havia surgido no corredor segurando um pedaço de torta com cobertura rosa. Torta de morango, adivinhei. — O que é que você tá fazendo aqui?

— Nada. — Dei de ombros. — Só estava entediado, sabe?

— Quando a "equipe de preparação" chega na sua casa? — Ele perguntou, claramente com pena de mim. — Imagine ter as unhas pintadas, o cabelo trançado e ter que escolher um vestido bastante bonito...

— Cala a boca, Ahren. — Resmunguei. Eu não tinha pensado sobre a equipe de preparação. — Acho que eles devem chegar lá em casa amanhã, certo? Depois que os nomes forem anunciados no Jornal Oficial.

— Pois é. — Ele concordou. — Cara, se eu fosse você, eu fugiria para a província mais distante possível. Sei que isso tudo vai deixar Eady muito irritada, mas você vai sofrer muito, também.

Ele tinha razão. Mas, diferente do que todos achavam, eu não estava interessado na Seleção por conta disso. Também não queria ter alguma coisa com Eadlyn, muito menos me casar com ela. Eu havia arquitetado o plano muito cuidadosamente: entrar na Seleção (considerando a relação entre meus pais e os pais de Eady, eu tinha quase certeza de que seria escolhido), chegar entre os finalistas e, automaticamente, ganhar o direito de mudar a minha "posição". Embora as castas houvessem sido dissolvidas algum tempo atrás, estava óbvio em todo e qualquer canto da sociedade que o sistema ainda predominava. Uma pessoa cujos pais viveram durante o sistema de castas (o que, nesses dias, significa toda a população) está automaticamente destinada a seguir a profissão de seus pais. Ou seja, eu estou fadado a ser um militar e lutar as guerras que eu não declarei. E, sinceramente? Não é nada disso que eu quero para mim.

Mas, para concluir o meu plano genial, eu precisava da ajuda de Eadlyn, mesmo que isso significasse contrariar ambos os nossos instintos homicidas um para com o outro.

Eadlyn

— Ouch! Astra, caramba! Isso dói.

Estava quase na hora do Jornal Oficial, e Astra estava decidindo como me arrumar já fazia várias horas. Ela havia feito e desfeito penteados, pintado e limpado minha maquiagem, colocado e descolado vestidos.

— Ficar bonita dói, querida. — Ela repetiu, não pela primeira vez naquele dia. Com um outro puxão, ela enfiou um grampo entre meus fios de cabelo. — Agora, a tiara... — Ela pegou com cuidado minha tiara sobre a penteadeira. Era de prata pura, desenhada de um jeito que a fazia parecer uma flor-de-lótus. Astra a colocou suavemente sobre minha cabeça, com cuidado para não desmanchar o penteado, que baseava-se em duas tranças finas amarradas em minha nuca e o cabelo castanho, quase sempre tão sem graça, enrolado em cachinhos. Ela havia prendido mechas prateadas artificiais em meu cabelo que combinavam perfeitamente com a tiara. — Perfeito.

Olhei para o meu roupão azul.

— Tem certeza de que não esqueceu de nada?

— Ah, certo, o vestido. — Ela virou para uma das criadas, a que era responsável pelos vestidos. Eu gostava dela mais do que das outras. — Lana, querida. Onde está o vestido que eu separei?

Lana sorriu para Astra e girou para o closet. Em seguida voltou com um lindo vestido prateado. Eu não tive tempo de vê-lo antes que eu fosse enfiada dentro dele.

— Você está maravilhosa. — Lana falou. — Olhe no espelho, querida.

Olhei. O vestido tinha um tom prateado incomum. Era como se houvessem cortado um pedaço da lua e costurado um vestido. Ele tinha apenas uma alça de manga longa, com um adorno de flores delicadas nos ombros. A cintura era apertada, parecendo acentuar o quanto meus quadris eram do tamanho da Rússia — era como se eu estivesse travada na puberdade em plenos dezoito anos —, mas descia num caimento perfeitamente suave nas pernas, com mais flores de tecido na bainha. Era realmente lindo.

— Uau, Lana. Você é mesmo demais. — Murmurei, girando como uma criancinha em frente ao espelho. — Merece um prêmio.

Muito modesta, ela respondeu:

— Sei disso, senhora.

Dei uma risada para ela. Astra trouxe saltos altos. Eu odiava sapatos altos, mas era como uma regra para princesas, como vestidos ou uma postura perfeita.

Depois de estar pronta, eu fui escoltada por um guarda até o andar de baixo. Mesmo sem olhar, eu saberia que se tratava do Sr. Leger, pai do Alec, que era como guarda-costas para todas as horas da nossa família.

— Está formidável, senhorita. — Ele elogiou.

— Obrigada. — Agradeci, sentindo meu rosto corar, como sempre acontecia quando alguém me elogiava. Nós chegamos rapidamente à sala.

Meus pais ainda não estavam lá, apenas Ahren, vestido num smoking cinza que o fazia parecer realmente patético. Para a minha total infelicidade, ele estava acompanhado de Alec. Olhei em volta para os criados e para as câmeras que circulavam. Havia testemunhas demais ali. Teria que esperar para matá-lo.

— Está bonita, Eady. — Alec falou, seu rosto no tom mais debochado possível.

Respirei fundo.

— Pena não poder dizer o mesmo de você, Alec. — Resmunguei. — Aliás, não me chame por esse apelido patético.

Meus pais chegaram antes que uma discussão pudesse começar entre nós. Eles estavam vestidos num azul-escuro discreto, muito diferentes dos trajes de Ahren e dos meus. Sem mais delongas, nós fomos rapidamente enviados para o estúdio.

No caminho, eu finalmente me dei conta do que estava realmente acontecendo naquele momento. Eu estava tão centrada em arquitetar um homicídio para Alec que sequer me dera conta de que, dali alguns dias, eu estaria cara a cara com o futuro rei de Illéa e, mais importante, meu futuro marido. A ideia era tão perturbadora que me deixou atônita.

Quando finalmente chegamos ao estúdio, Alec ficou para trás nos bastidores e nós (meus pais, Ahren e eu) nos sentamos lado a lado e esperamos. Eu já estava prestes a desmaiar: minhas mãos suavam, meu estômago revirava e eu precisava morder a língua para não gritar. Só naquele momento foi que eu percebi a grande importância da Seleção.

Pouco tempo atrás, tudo parecia um evento impossivelmente distante. Mas agora era real e assustador. Eu supostamente estava prestes a conhecer o amor da minha vida, mesmo que, muito sinceramente, eu não acreditasse no amor.

Quando eu já estava quase vomitando sobre o meu próprio vestido, o apresentador anunciou que os concorrentes da Seleção seriam "apresentados" para a realeza. Então, como eu não prestara atenção antes, decidi olhar com atenção. Afinal, "o amor da minha vida" estava entre eles.

Um especialmente me chamou a atenção. David Newsome. O sobrenome parecia familiar. Ele era artista, ele era um músico, assim como minha mãe. Falando em minha mãe, ela pareceu desviar o olhar quando David Newsome foi anunciado, seus olhos, sempre tão firmes, perdidos no chão. Não tive tempo ou vontade de pensar sobre o que isso significava. Estava completamente perdida nos olhos do garoto que sorria na tela, pois, mesmo na foto, eles eram tão azuis quanto o céu nunca poderia ser.

E então a imagem mudou para um cara chamado Andrew Marshall, e eu imediatamente senti falta dos olhos de David. Aquilo se espalhou do meu peito até meu pescoço e pelo meu rosto, fazendo-me corar. Eu me lembrava de ter sentido aquilo apenas uma vez na vida, numa época e numa realidade muito distante, onde Alexander Leger não era um idiota irritante.

Estava claro como água para mim. Fora à primeira vista. Amor à primeira vista.


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Notas finais do capítulo

* Eu sei que vocês devem estar pensando que o Alec, vivendo no futuro, não teria como saber do Coringa. Mas, segundo a Kiera, a história de A Seleção começa em 2024. Acho que os quadrinhos do Batman tem a total capacidade de sobreviver até lá.

Entããããooo... Gostaram? Mandem reviews, seus lindos :3 Beijos!