Parola escrita por


Capítulo 5
O segredo da Milady


Notas iniciais do capítulo

AHOY MARUJOS! Que bom que vocês chegaram ao capítulo 5! O que será que vai acontecer? Argh, não sei, só lendo pra saber... Esse capítulo é dedicado para o Sr. Contraditório que tem me apoiado desde o começo com as contradições dele! Ah, eu recebi uma sugestão de colocar músicas nos capítulos, então aí vai a primeira: https://www.youtube.com/watch?v=qGyPuey-1Jw



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Maya não conseguiu dormir. As faixas que seguravam os seus seios pareciam mais apertadas e as roupas masculinas nunca foram tão sufocantes. A coberta inferior parecia uma grande armadilha de madeira. Virando de um lado para outro em seu beliche de três andares a garota reparou bem o espaço ao seu redor. Cerca de setenta e cinco homens estavam ali, os demais cuidavam da segurança do navio. O ar era abafado e mal cheiroso, o calor a fazia suar. Água penetrava a embarcação pelas frestas da madeira, assim como os sons vindos do convés superior. Ela pode distinguir o som de uma flauta tocando ao longe, provavelmente Benjamin.

Levantou-se e, na completa escuridão, buscou pelo caminho que a levaria para fora. Porém, ao alcançar a escada, notou também um alçapão que levava ao porão do navio. A garota pensou que um pouco de solidão lhe serviria bem, assim poderia pensar melhor sem dezenas de homens a julgando. Nos dias que passara no navio, Maya precisava cortar o rosto usando uma lâmina toda a manhã, simulando acidentes ao barbear-se, uma desculpa para a sua ausência de pelos faciais. Além disso, ela precisava andar como homem, falar como homem, se portar como tal.

Seus olhos já haviam se acostumado com a falta de luz e ela desceu a precária escada sem qualquer acidente, embora a madeira velha e esponjosa tenha rangido a cada passo. Uma vela pela metade descansava acesa sobre um barril e pela fraca luz que emanava dela Maya pode ver caixas e mais caixas de suprimentos, sacas de limões e barris de bebidas. Uma prateleira empoeirada abrigava centenas de velas e muitos metros de corda se espalhavam pelo chão sujo. Ratos e baratas corriam do abrigo da luz. Um pavoroso gemido veio da parte obscura do recinto, seguido de muitos outros mais.

Maya congelou. O pavor em seu rosto era claro e embora sua boca estivesse aberta nenhum som era emitido. As vozes continuaram, aumentando de intensidade a cada novo segundo. Mas a menina não recuou. Pegou uma das velas da prateleira e acendeu usando o fogo da outra, que chegava ao fim. Com passos cautelosos ela seguiu em frente, desviando de uma grande teia de aranha que se projetava do teto. Ergueu a fonte de luz de forma a ver o caminho à sua frente e perdeu qualquer tipo de reação com o que encontrou.

Dezenas de homens se encontravam presos pelos braços às paredes da nau. Eram esqueléticos e muitos não tinham forças para emitir sequer um som. Alguns lançavam sobre ela todo tipo de maldição e outros pediam por ajuda incessantemente.As paredes estavam arranhadas e o cheiro de maresia se misturava a sangue e podridão.O que antes eram vozes confusas agora tomava forma de gritos. Maya se virou para correr, antes que alguém a descobrisse, mas uma voz a fez parar.

— Yo Ho, parece que a moça tem um segredo!

A garota procurou pela voz e se surpreendeu ao perceber que ela vinha de um homem jovem. Ele tinha uma aparência deplorável. O magro tronco estava exposto e coberto de cortes e hematomas. Ele vestia calças imundas e nenhum calçado. Seus cabelos eram loiros, sujos e compridos. Seus olhos azuis não possuíam brilho algum e grandes olheiras roxas marcavam seu rosto. Mas ele sorria.

— Ora, veja só, parece que eu acertei, não é mesmo? Pode fugir o quanto quiser, vadia, mas nós dois sabemos que quando te pegarem o seu destino será pior que o meu. Morrer de fome pode ser difícil, mas pense bem, — Ele fez uma pausa e umedeceu os lábios rachados, seu sotaque britânico ecoava em meio a tantas outras vozes. Maya olhava petrificada. — uma bela garota como você em um navio com centena de homens? Isso me dá ideias bem... interessantes, milady.

Maya deu as costas, correu para a escada e voltou à coberta inferior. Procurou por seu irmão em meio a tantos outros homens, mas sua cama estava vazia. Subiu até o convés e o avistou sentado junto a Po, Trad e Benjamin, eles cantavam uma música sobre um pirata bêbado pela manhã. Correu até ele, tentando aliviar a preocupação de seu rosto.

— Túlio, eu preciso falar com você. É urgente! — Ela gagejou, em sua melhor voz masculina. Apontou uma extremidade vazia do convés e se dirigiu até ela, seguida pelo irmão.

— Qual o problema, Diego? — Túlio disse em tom brincalhão, não entendia o porquê de a irmã estar tão agitada

Maya descreveu o evento em detalhes enquanto o irmão a encarava pensativo. Por um momento ele nada disse até que sorriu de forma tranquilizadora.

— Ele estava blefando. Não há como ele saber, você parece muito mais masculina do que muitos aqui. Sem ofensas... Além do mais, mesmo que ele conte isso para alguém, quem acreditaria em um prisioneiro à beira da morte? Mi Luna, não há razão para se preocupar. Em breve estaremos fora do navio, isso se o prisioneiro não morrer antes. Confie em mim, seu plano é infalível.

☠☠☠

No dia seguinte pela manhã Maya e Túlio se apresentaram para receber suas designações. Ele recebeu o posto de "rapaz da pólvora" e sua função principal era limpar e carregar as armas. Era uma posição de baixo nível, mas ele se contentou com a mesma. Despendindo-se da irmã, foi procurar o Mestre de Armas. Seu nome era Héctor, porém todos da tripulação o chamavam de Sinojo, pois ele usava um tapa-olho do lado direito. O acessório, ele explicou para Túlio, era usado para acostumar um olho à escuridão. Assim, durante ataques noturnos ele teria vantagem sobre um inimigo despreparado.

Maya foi escolhida como criado-de-bordo. Sua função era limpar os aposentos do capitão, levar mensagens e ajudar na distribuição das rações diárias. Po e Trad também eram criados-de-bordo, o que a animou um pouco. O trabalho passava rápido com eles. Po vestia os casacos e chapéis do capitão durante o trabalho e Trad cuspia nos alimentos daqueles que não gostava. Ambos se tornaram mestres no furto e presentearam a garota com uma adaga da cabine de Casto.

— Um homem precisa ter uma arma na cintura! — Brincou Po na ocasião. Trad riu escandalosamente enquanto Maya fazia de tudo para esconder o seu rubor. A adaga tinha um cabo branco de marfim, entalhado com imagens de guerra. A lâmina era afiada e não possuía sequer um arranhão.

O sol se punha quando o capitão ordenou que todos os homens se reunissem no convés. Um momento de murmúrios confusos se passou até que Casto ordenasse silêncio. Segurando um mapa nas mãos ele anunciou:

— Vermes, a nossa próxima parada é Tortuga. Espero que consigam se conter até chegarmos lá, planejo interceptar um navio português que traz ouro de sua colônia em alguns dias. Se tudo der certo com esse saque, poderão juntar moedas suficientes para se comer, beber e foder em Tortuga. Ahoy marujos, o tesouro nos espera!

Uma flauta feliz soou e foi seguida pela multidão que comemorava. O que animava mais um pirata do que um bom saque? Porém, naquela multidão vibrante, dois pequenos ratinhos estavam pensativos. E se algo desse errado?


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Notas finais do capítulo

Ahoy! Obrigada para quem leu, o esquema é o mesmo de sempre, estou aberta para qualquer tipo de comentário! Até conselho amoroso eu dou se for o caso u.u
E sobre a música, tem essa aqui também, ó: https://www.youtube.com/watch?v=ZSS5dEeMX64 Maya tem muito o que aprender com a Mulan ainda! haha