Andy acordou sobressaltado quando ouviu o seu celular tocar. Ele pegou o seu smarthphone que não era de muito luxo, já que ele não achava necessário um aparelho de mil e uma coisas cujo real objetivo, ao menos para ele, era apenas para telefonar.

Ele se assustara por causa da musica alta que o seu celular sempre fazia quando ligavam para ele. Era Highway to hell, de AC/DC. Ele próprio achava irônico a escolha dessa musica como toque de celular, já que ele mais parecia uma pessoa calma e silenciosa. Mas Andy adorava quebrar expectativas, e além do mais invejava a letra.

Ele olhou no visor para saber que estava ligando e seu coração pulou.

Ele rapidamente se ajeitou em sua cama, se sentando em uma postura ereta e aprumou a sua farda, na qual não tinha tirado antes de cair no sono. Ele fizera tudo isso como se houvesse alguém muito importante a sua porta.

Ele atendeu ao telefone.

– Oi – Ele disse com a voz baixa, dando um suspiro triste.

– Andy... Eu... Olha me desculpa pelo que eu fiz – Emilly que estava do outro lado da linha suplicara.

– Não, eu é que peço desculpas. Aquilo que eu fiz, eu apenas estava cansado... Não queria realmente fazer aquilo – Ele falou isso assumindo sua postura mais séria e fria possível.

– Ah não? – Ela indagou parecendo indignada – Bom... E u também não queria aquilo.

– Melhor assim então. Acho que talvez eu deva me afastar de você, apenas para que ninguém mais saia machucado nessa historia – Ele falou isso com o maior aperto no coração – Vou desligar, tchau.

– Espere...

Ele jogou o celular do outro lado do quarto. Fora uma das coisas mais difíceis que fizera na vida.

Ele se lembrou de quando Emy o obrigara a passa-la o seu numero. Ela queria que ambos pudessem se falar mais. Também queria que ele instalasse o Whatsapp, assim não precisariam ficar se encontrando toda hora.

Andrew recusara veementemente essa ultima proposta. Não só porque não queria ser escravo da internet, mas também porque preferia ver sua amada de frente, poder sentir seu perfume de rosas e de morango e tocar a sua pele suave e macia.

Ele queria agora cavar um buraco e se jogar nele.

O celular tocou novamente, agora do outro lado do quarto. Andrew prometeu a si mesmo que ignoraria todas as chamadas dela. Enquanto isso o som do velho e bom Rock and Roll invadia o quarto.

Passado alguns segundos de teimosia Andy não resistiu e correu para o seu celular. Atendeu.

– Eu... Eu gosto de você – Ele falou repentinamente e logo tapou a boca com força como se isso pudesse retirar o que ele tinha falado.

– Precisamos conversar – Ela falou suspirando. Ele notou que ela pareceu um pouco mais triste depois que ele falou isso.

– É melhor eu te deixar em paz.

– Por favor, venha pra minha casa – Ela desligou o telefone.

Ele ficou parado olhando chocado para a tela de seu celular. Nem ao menos sabia aonde era a casa dela.

Mas uma mensagem chegou, vinda da garota. Nele estavam contidas as informações para encontrar sua casa, incluindo um link para o GPS em que ele viu o caminho exato que precisava percorrer para chegar ao local.

Ele ficou por algum tempo pensando, mas então se decidiu e foi trocar a sua farda e calça, por uma bermuda jeans e uma camisa preta.

Pegou a sua corrente que estava na pia do banheiro. Esquecera-se de colocar nessa manhã, era a primeira vez que fizera isso. Na corrente estava contida uma pequena pedra de cor lilás e um pouco arredondada. Podia parecer estranho, mas ele se apegava muito a essa ametista. Lembrava-se de ter ganhado de alguns hippies na rua quando ainda era criança e fora mostrar a seus pais. Na época ainda achava que eles lhe escutariam, mas tudo que fizeram fora gritar com ele e jogar a pedra no lixo. Ele recuperara e passara a usar em seu pescoço desde então.

Ele pegou o resto de suas coisas e se dirigiu a casa de Emy.

Quando saiu notou que ainda era inicio da tarde. O sol ainda estava forte, o que fez começar a transpirar. Podia sentir o cheiro de seu perfume exalando de toda parte de seu corpo. Ele gastara grande parte do perfume, nervoso com o que Emilly pensaria caso ele estivesse cheirando mal.

Saiu de seu prédio e foi parando constantemente no caminho toda vez que via um carro estacionado na rua. Ele olhava pelas janelas para poder observar seu reflexo. Não parava de pensar em quanto o seu cabelo estava bagunçado. Era de um tom castanho claro e era um pouco curto, apesar de não o suficiente, já que a toda hora insistia em cachear em cima.

Apesar de seus pequenos contratempos de vaidade ele conseguiu chegar a seu destino. Era um edifício um pouco menos luxuoso do que o dele e um pouco menor também. O porteiro o deixou entrar imediatamente, provavelmente porque Emy o falara para liberar sua passagem. Ele notou que o apartamento dela ficava no primeiro andar, o que já estava bom para a garota, que tinha medo de altura.

Andrew bateu na porta, tentando ao mesmo tempo regular a sua respiração. Ele decidiu dar uma olhada para a tela do celular apenas para ver seu reflexo de novo, mas parou no ato...

O quê está acontecendo comigo? - Ele se perguntou, já que estava tão preocupado com a aparência, coisa que nunca fizera antes.

Mas sua pergunta fora respondida quando a porta se abriu de repente. Emilly apareceu mais resplandecente do que nunca. Estava usando uma camiseta branca e curta que favorecia seus seios, um short curto que deixava a vista suas pernas e havia prendido seu cabelo em um rabo de cavalo. Andy ficou boquiaberto e ao mesmo tempo excitado ao vê-la, mas teve vergonha dos pensamentos que passaram por sua cabeça.

– Entre – Ela disse, dando um sorriso triste.

Ele andou um pouco hesitante. Ao estar dentro reparou na decoração simples e com as paredes pintadas de branco, ele ficou rapidamente confortável nesse local, pois não tinha a complexidade que estava acostumado a ver em sua casa.

Ela o guiou para seu quarto, que ficava na ultima porta a direita. Era um quarto bem iluminado, mas não muito grande. Ela o indicou para sentar na cama de solteiro que ficava no canto. Ela se sentou ao seu lado.

– Por que você fez aquilo? – Ela falou colocando seu rosto entre suas mãos.

Andy teve vontade de colocar sua mão sobre seu ombro e conforta-la. Mas decidiu se focar na pergunta, que se referia ao beijo de mais cedo.

– Porque eu sou um idiota. Porque eu nunca senti aquilo na vida – Ele a olhou nos olhos.

– Você me machucou – Ela disse resentida.

Ele lembrava agora que praticamente forçara aquele beijo, mas fora egoísta e pensara apenas em si.

– E isso só piorou a condição que estou agora. Eu nem ao menos consegui dormir ontem à noite.

– Nem eu

Ambos se olharam.

Andy foi o primeiro a baixar a cabeça.

– Sua mão está bem?

– A sua cara está? – Ela falou em tom de desafio, mas logo se arrependeu e suspirou – Está boa, mas minha nuca ainda está doendo na parte que você forçou.

– Posso ver? – Ele realmente não sabia o que fizera.

Ela retirou seu cabelo das costas e mostrou um hematoma roxo que se formava na parte direita de sua nuca. Andy passou um tempo olhando para a monstruosidade que fizera.

– Me desculpe – Ele falou amargurado e agora decepcionado consigo mesmo – Eu prometo nunca mais tocar em você.

– Esse é o problema – Ela falou – Eu gostei daquele beijo.

O coração de Andrew deu um salto. Ela falara aquilo com tamanha naturalidade que ele achara que estava brincando.

– O... O Que?

– Me deixa só fazer uma coisa? – Ela perguntou tapando a boca de Andrew com dois dedos enquanto se aproximava de seu rosto.

Ele só pôde acenar afirmativamente com a cabeça. Ela poderia fazer o que quisesse com ele.

Ela se aproximou levemente com seu cheiro de morango e rosas preenchendo o nariz dele.

Ela o beijou. Mas fora rápido demais, algo como um selinho. Apenas para deixar Andrew desejando mais após ela retirar os lábios vermelhos e provocantes de perto dele. Pôde sentir então o quanto necessitava daquele carinho, a garota virara uma droga para ele.

– Sim... – Ela confirmou algo em sua própria cabeça, mas depois retraiu seu nariz – Que cheiro é esse?

Mas Andrew não escutando o que ela disse, comentou – Por que você fez isso?

– Eu sinto algo no estomago quando nos beijamos, não sei o que é. Também sinto como se tivesse deixado uma parte de mim em sua boca, e estou constantemente querendo recuperá-la.

– Espere um pouco – Ele falou se levantando da cama e elevando o tom de sua voz – O que é que você quer afinal? Uma hora você me bate e outra quer me beijar? O que está acontecendo?

Emilly olhou para ele e depois começou a soluçar. Logo depois pôs seu rosto entre as mãos para que pudesse chorar.

– Ei, não, espera – Andy falou, quase sussurrando agora. Ele instintivamente se sentou de volta na cama e passou os braços em volta dela.

Ela desabou em lagrimas indo de encontro ao seu ombro. Se acomodando ali como se fosse um velho e conhecido local para se confortar.

– Você não entende – Ela disse por sobre as lagrimas – Eu não posso ficar... Com você. Talvez eu tenha que ir embora de novo...

– Você vai embora?

– Talvez – Soluçou.

– Mas e quanto a mim?

– É por isso que não posso estar com você. Não quero ter que te perder depois.

– Mas prefere perder agora?

– Melhor antes de eu te amar.

– Então você não me ama?

Ela agora o olhou nos olhos, uma mistura de melancolia e determinação estavam estampadas naquelas retinas castanhas.

– Estou fazendo isso exatamente agora.

Seu coração rompeu em uma alegria extrema ao mesmo tempo em que entrava em uma profunda tristeza.

– E se eu me responsabilizar pelo que acontecer com a gente? E se você não precisar me perder?

– Como assim? E se eu for embora?

– Então eu irei com você. Ou então farei o maximo que puder para mantê-los aqui, mas a gente pode ver isso depois. Apenas vamos aproveitar o momento.

– Você realmente faria isso?

– Há menos de 2 meses atrás eu estava sozinho em meu quarto, sem nada pelo que viver. Agora eu estou aqui, eu estou feliz. Eu tenho um objetivo na vida.

Ela sorriu e o beijou novamente. Seus lábios úmidos se tocaram formando um som estranho porem gostoso. Suas línguas novamente puderam ser encontrar, como velhas amigas que a muito tempo não se viam. Dessa vez o beijo foi mais demorado e ninguém se feriu.

Quando se afastaram, ela observou atentamente o rosto de Andrew. Ele possuía feições comuns, nada que pudesse destaca-lo. A única coisa que marcava realmente em sua aparência eram seus olhos tão escuros quanto à noite, da mesma cor dos cabelos de Emilly. Seu cabelo agora se espalhava diante das pequenas mãos de Emy, que o acariciavam docemente. Ela gostava dele, mesmo não sendo um galã.

– Hum – Ela novamente contraiu seu nariz – Você está sentindo isso?

Ela seguiu o cheiro que a levou até ele – Andrew, você se jogou em uma banheira de perfume?

– É... Eu passei um pouquinho a mais, só pra você não perceber que eu estava suando.

Ela riu – Seu bobo. Não precisava desse exagero. Além disso, seu cabelo está bem bagunçado.

– Vai criticar agora é? – Ele fingiu indignação.

– Não, mas eu estou querendo te levar para o banheiro – Mas ela notou que como Andy ficara constrangido após o comentário – Hum... Não, não é isso. Estou apenas dizendo para você ir tomar um banho.

– Estou tão sujo assim?

– Não, mas está fazendo muito calor e como você vai ficar aqui a tarde toda me ajudando a estudar para as provas de amanhã. Então acho melhor...

– Peraí, eu vou?

– Sim, amanhã temos as provas de Geografia, Física, Biologia e... Filosofia. E quem melhor para me ensinar do quê você?

Então Andy foi literalmente empurrado para o banheiro. Ele tomou um banho curto e bem quente, ainda não acreditando no que acontecera nesse dia. Ele usou uma toalha que estava pendurada por perto e notou que provavelmente seria do pai de Emilly. Ele esperou que este não se incomodasse quando chegasse em casa. Andy então penteou seu cabelo e logo após tentou seca-lo.

Ao sair do banheiro percebeu que estava sem a camisa.

Emy deu um assobio assim que o viu, estava com sua camisa em suas mãos.

– Como você conseguiu?

– Olá senhor musculoso – Ela fingiu surpresa ao vê-lo.

Andrew tinha um corpo típico de um adolescente magro e com os músculos em crescimento ainda.

– Não tem graça isso – Ele pegou a camisa todo vermelho – Depois eu que sou o tarado.

– Há há, sim tem muita graça. Vamos logo estudar então? – Ela apontou para sua cama que estava cheia de livros – Mas creio que teremos que nos apertar um pouco.

Eles riram.

–Hum, sabe – Andy comentou – Você não falou nada em inglês durante toda nossa conversa hoje.

– Ah sim, acho que agora já sei tudo sobre sua língua – Ela falou em um duplo sentido.

– Interessante, pois acho que você que você não vai mais deixa-la – Ele respondeu rindo ironicamente.

O resto da tarde foi perfeita para ambos. Estudaram o suficiente para ter conhecimento do assunto e ainda compararam respostas dos testes da manhã. No meio desse tempo aproveitaram para comer restos de uma pizza do almoço, junto com um refrigerante e com umas maçãs que apenas Andrew comeu. A quantidade de beijos foi diretamente proporcional ao nível de distração em ambos, que estava muito alto.

Quando já era de noite, ambos já estavam bastante cansados. Tanto que estavam deitados, tentando terminar o conteúdo de Filosofia. Como a cama era pequena, Andrew teve que ficar ao lado de Emilly, estando tão próximos que seus ombros estavam totalmente colados.

– Acho que vou dormir um pouquinho – Ela disse bocejando, e se virando para a esquerda, dando as costas a Andrew.

– Emy... – Ele começou a reclamar, não tinha tempo para esperar ela dormir.

– Você não quer descansar também? – Ela perguntou enquanto pegava o braço de Andrew com sua mão direita e o trazia para sua cintura.

– Emy... Não... – Andy falou constrangido.

– O que foi? Vamos apenas dormir juntinhos – Ela sussurrou para ele com um sorriso malicioso.

– Emy... – Mas ele desistiu de contestar. Apenas apertou seu braço um pouco mais na cintura de Emilly e descansou sua cabeça naqueles cabelos escuros e cheirosos.

Estava deitado atrás dela e seus corpos estavam tão colados que não pode deixar de ficar excitado, o que o fez congelar – Desculpa, desculpa, desculpa – Pensou sem ter coragem de falar para ela.

Mas ela não esboçou nenhuma reação, o que significava que ou não tinha percebido, ou então fingira não perceber. Ele não soube se ficava aliviado ou constrangido.

...

Foram acordar no inicio da madrugada.

– Já é meia noite? – Emilly falou surpresa e ainda sonolenta, se desvencilhando do braço de Andrew. Olhou em seu relógio despertador.

– O que? – Andy resmungou infeliz por terem quebrado o bom momento que estavam.

– Já está muito tarde – Ela se sentou na cama – Acho melhor você ir embora.

– Tudo bem – Ele se espreguiçou – Precisa desse estresse?

– Meu pai deve chegar a qualquer minuto.

– Ah, ok. Acho melhor ir então.

– Espere – Ela o puxou para um beijo demorado – Estamos bem, não estamos?

– Claro – Sorriu – Bem ferrados se seu pai chegar.

– Então nos vemos amanhã? – Ela disse rindo.

Mas foram interrompidos pelo som da maçaneta da sala se abrindo.

– Shit – Ela falou gelada. Merda.

– Little monkey? Sorry, was on duty – A voz de um homem veio da entrada. Macaquinha? Desculpe, estava de plantão.

– Father, I have something to tell you – Emy gritou olhando para Andrew com medo. Pai, eu tenho uma coisa para te contar.

– What? Are you still awake? – Ele falou da sala enquanto deixava sua maleta em um canto. O quê? Você ainda está acordada?

– Vai, vai – Ela empurrou um Andrew amedrontado para o local em que seu pai estava – We got company. Temos companhia.

– Who are you? – Ele perguntou olhando com desconfiança para o garoto que estava a sós com sua filha a meia noite em sua própria casa. Quem é você?

– Hum... Sorry, we were just studying for the text tomorrow – Andy tentou se explicar constrangido – My name is Andrew and I'm her colleague... Desculpe, nós estávamos apenas estudando para o teste de amanhã. Meu nome é Andrew e eu sou colega dela...

– Pai – Emy interrompeu – Ele é meu namorado.