Dossiê Bellatrix escrita por Ly Anne Black


Capítulo 5
Azaração de Ferretear


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, atualização mais cedo ;)



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As suas colegas de dormitório não paravam de lhe olhar estranho desde o episódio da banheira, e os cochichos eram mais freqüentes do que nunca. Elas estavam sendo tão irritantes que Bella se sentiu tentada em treinar nelas algum dos feitiços para retalhar que achara num livro emprestado por Rodolphos, e temendo agir impulsivamente e ser acusada de esfolar as colegas de casa, a garota preferiu sair do dormitório naquela noite de sexta feira.

Embora soubesse que conseguiria de alguma maneira dobrar Filch se ele a flagrasse andando soturna após o toque de recolher, Bella acreditava que sua cara enrugada a faria sentir enjôos. Afinal quase tudo lhe causava enjoos a essa altura.

Usou uma das passagens secretas ensinadas por Sirius, mas evitou ser aquela do quarto andar, que levava às masmorras, que guardava pesadelos reais demais para serem confrontados àquela hora da noite. Em pouco tempo as botas afundavam na grama fofa e úmida e o cheiro da grama invadia suas narinas, levando todos os outros que a faziam se sentir mal.

Enquanto caminhava, pensava sobre como não gostava de lugares abertos. Nunca à vista, o Lorde lhe dissera. Sempre a surpresa, o esconderijo, a esquina. Atacar pelas costas, sem avisar, atacar os desarmados, os indefesos, os adormecidos. Atacar sempre. Preferencialmente sem se deixar perceber. O sorriso flexionou seus lábios sem que pudesse evitar; era Voldemort, e então aquilo sempre acontecia quando pensava nele.

Parou de sorrir ao perceber onde chegara – o campo de quadribol. Estava entre as duas longas traves que se erguiam na noite como dedos em riste. E ao olhar para os lados, viu o contorno da arquibancada verde e prata. Não pensou muito; lá estava o esconderijo, as paredes que a livrariam do campo aberto sob o céu.

Bella apenas subiu as escadarias, e não sentou num dos bancos, e sim no chão, onde normalmente os torcedores apoiavam seus pés. Dali podia ver sem ser vista, ainda que o que houvesse para ver fosse o campo e suas demarcações, as únicas coisas se destacando na escuridão de uma lua minguada no céu. Abriu o livro sem diferenciar as letras na penumbra. Mas havia uma caligrafia fina e inclinada na borda da página que ela podia ler – Rodolphos deixara recados indicando quais das maldições poderiam lhe interessar mais. Ele normalmente acertava.

Ia acender a ponta da varinha quando ouviu murmúrios. Vinham do vestiário masculino, um bloco do outro lado da quadra. Notou uma fila de grifinórios saírem dali, dando-se conta que aquele de fato era dia de treino e para variar os leões ambiciosos tinham ficado até mais tarde discutindo as suas táticas.

Jamais simpatizara com quadribol – idiotas atrás de bolas, bolas atingindo idiotas, lama, correria, gritaria, voar em vassouras, não podia escolher qual dessas partes era a pior. E mais um pouco de lama e gritaria no final, sem esquecer dos estúpidos bastões.

Enquanto maldizia o esporte mentalmente, seus olhos rebeldemente acharam o contorno que tendiam a procurar. Ele era o mais alto, o de ombros mais largos, o que tinha o cabelo que mais voava com o pouco vento e o que a voz animada mais facilmente era trazida aos seus ouvidos.

Sua barriga deu uma pontada impiedosa – gemeu de dor, xingou, dobrando o corpo sem parar de olhá-lo ir embora. Não tinha nada haver com a presença de Sirius. Ela vinha se sentindo mal em tempo integral, agora com pontadas desagradáveis em pequenas doses distribuídas pelas horas do dia.

– Bella? Olá. Pensei ter ouvido um palavrão vindo de você?

Bellatrix olhou feio para o primo mais novo, sem no entanto se surpreender muito com a sua presença ali. Provavelmente o mais jovem dos Black era o aluno daquela escola que mais vagava durante a noite pela propriedade. Eles todos tinham sorte do diretor Dippet não se importar demais em repreender os hábitos de certos alunos. Alunos com sobrenomes prestigiados, para ser mais precisa.

Regulus como sempre sentou ao seu lado sem permissão e pegou o livro que andara lendo. Ele próprio acendeu a varinha para ler o título:

– Feitiços Para Retalhar e Outras Calamidades. – sua sobrancelha muito negra levantou-se – E você nem se preocupa em ocultar o título?

Bellatrix estava ocupada em manter trancada a boca para nada retornar do seu trato digestório, e não lhe deu atenção.

– Vim espionar o treino da Grifinória. – comunicou orgulhoso, folheando o livro ao acaso – Descobri que eles estão tramando um arranjo diferente para a final. Ao que parece Sirius e Kelvins vão ficar atacando Dolohv, ao invés de proteger Potter a partida inteira como cães de guarda estúpidos. Então se conseguirmos... uau! – o quartanista enfim achou algo interessante numa das páginas e interrompeu a ladainha quadribolística, para o alívio de Bella – você já conseguiu fazer este?

Ela olhou de relance para a Azaração de Ferretear o Fígado, e então para Regulus, cujos olhos brilhavam mais que as estrelas que pontilhavam o céu atrás dele. Os meses se passavam e os maxilares do rapaz se alongavam, deixando o rosto cada vez mais próximo do de Cygnus Black. No entanto o cabelo que insistia em ondular nas pontas mantinha o ar infantil, ou ainda, o aspecto inócuo com que a olhava, embora seu interesse fosse óbvio.

Regulus tinha sorte, porque aquela noite Bella estava aberta para acordos.

– Esse feitiço é uma das minhas especialidades. Eu poderia ensiná-lo se quisesse.

Ele sorriu avidamente.

– O que quer em troca? - como um bom seguidor dos princípios dela, conhecia bem as regras de qualquer jogo com Bellatrix.

– Um livro – disse, sentindo uma pontinha de orgulho dele por ter herdado a perspicácia familiar. – do acervo pessoal de Madame Pomfrey. Ela não deve saber quem pegou, acho bom ser discreto.

– É Milord quem precisa dele? - perguntou com uma ponta de esperança.

Bella suspirou com tamanha insipidez. Como Regulus podia pensar que ela confiaria a ele qualquer missão que o Lorde lhe passasse?

– Indiretamente sim. – mentiu, no entanto, para mantê-lo interessado.

– E porque eu que tenho que fazer? Porque você mesma não pega?

– Porque você é a pessoa mais capaz de se fingir de doente que conheço. Acho que tem uma inclinação para parecer seriamente incapacitado. – disse com sinceridade. Regulus de alguma forma tomou aquilo como um elogio e pareceu satisfeito.

Bella conjurou um pedaço de pergaminho e escreveu o nome do volume que desejava. Odiava ter que roubá-lo da enfermeira enquanto tinha um exemplar perfeitamente bom na biblioteca da mansão Black, mas certamente não conseguiria pôr as mãos nele sem despertar a atenção de Tia Walburga. Regulus guardou o pedaço de papel no bolso com todo cuidado, levantando-se e apagando a ponta da varinha.

– Então amanhã trago o seu livro e você me ensina a azaração?

– Amanhã? - ela ergueu uma sobrancelha, incredula.

– Pode apostar. Estou indo pegar o livro agora mesmo.

Regulus se foi, seus passos ecoando no esqueleto oco da arquibancada. Um minuto depois ele estava atravessando o campo de quadribol e ela acompanhou o caminho do jovem primo, lamentando vagamente por sua displicência. Agia como se os planos, as missões, o credo, tudo fosse um jogo. Ele tinha recebido uma carta do pai, lhe parabenizando por “seu recente compromisso com uma luta ativa pelos direitos dos puro-sangue”, e até onde ela sabia ele carregava aquele pedaço de pergaminho orgulhosamente, para onde quer que fosse. Mas Regulus não estava preparado para Voldemort, e ela se viu pensando que ela teria gostado de tê-lo poupado de humilhar a família futuramente.

Era tarde demais agora. Ele tinha feito sua escolha.

–BD-

Bella vinha sendo deixada em paz para dormir até mais tarde por suas colegas de dormitório, desde que acordara gritando um dia para “pararem com um barulho infernal”, e tinha destruído com fogo o perfume de Deisdre, que ela decidira ser a coisa mais fedorenta desde bosta de tronquilho.

Então ela vinha pulando as refeições, não sé porque acordava enjoada, mas porque odiava o barulho das corujas e dos colegas na mesa pela manhã. Ela não entendia porque todo mundo precisava ser tão feliz de manhã cedo, e ter tanto intercurso social. Pensava que ninguém notara a sua ausência, é claro.

Mas ela estava errada. Não pela primeira vez (e não pela décima), ele varreu a mesa da sonserina com os olhos. Era um hábito antigo, desde que entrara em Hogwarts, e se tornara automático localizar os membros de sua família na outra mesa. Ele fazia isso primeiro discretamente (porque ele não queria nenhum dos grifinórios achando que ele se importava com os parentes) e depois se tornara, ao longo dos anos, automático e inconsciente.

Até agora, quando a ausência dela todos os dias o fazia perceber que estava procurando de novo, antes que pudesse lembrar de impedir a si mesmo. Ele repetiu o seu mantra diário, “Não é da sua conta, Sirius”.

Então na saída ele puxou o irmão mais novo pela camisa para detrás de uma pilastra e lhe exigiu saber o que Bellatrix estava tramando. Regulus deu de ombro com um bocado de insolência, recebendo um safanão do irmão, que não ficou nada satisfeito com a resposta.

–BD-

Bella chegou atrasada, de mau humor e com uma caixa grande de madeira nas mãos. Depositou-a no chão de qualquer jeito e encarou o primo através das pálpebras semi-abertas (o sol daquele sábado estava fazendo seus olhos doerem). Tinha marcado a lição atrás da estufa número cinco, que estava desativada devido a uma infestação de pulgas-incendiárias que ameaçavam explodir a qualquer momento.

– Cadê o livro? E porque suas vestes estão amassadas? - acusou ranheta.

– Aqui – ele tirou de dentro da capa um exemplar amarelado – por sorte o enfeiticei para parecer um livro de transfiguração, ou Sirius me pegaria.

– Black? - arrastou o sobrenome com indisposição.

– Ele quer saber o que você está tramando. Porque não tem aparecido no café da manhã e tudo mais.

– Idiota. – ela disse só por dizer. Conferiu o livro e com um feitiço redutor o acomodou no bolso da calça.

A caixa estava cheia de coelhos brancos e gordos que Bella tinha transfigurado a partir de almofadas. Cada um deles parecia saber o que lhes aguardava, nervosos, os focinhos frenéticos. A sextanista pegou um dos animais e soltou no gramado, deixando-o ganhar um pouco de distância.

Apontou a varinha e mentalizou o feitiço não verbal, vendo o animal virar uma bolha de sangue por momentos, então tombar com as entranhas expostas. Se tivesse olhado para o primo naquele momento, veria sua expressão perturbada, mas ela estava ocupada com sua própria sensação de auto-realização pelo feitiço impecável.

Precisava dar um jeito de mostrar este a Lord Voldemort da próxima vez.

Ensinar foi mais complicado. Regulus parecia ter um bloqueio em imaginar as entranhas do coelho se projetando para fora, por mais que se esforçasse, por mais que tivesse acabado de presenciar isso. Ela repetiu mais uma vez o feitiço e o mandou copiar, mas ele demorou a se concentrar e o coelho conseguiu fugir. O segundo não teve tanta sorte – foi atingido, mas somente a pelagem foi alcançada e transformada em pó. O bichinho se livrou, em carne viva e cinzas, morrendo metros à frente. Ela se irritou. Morrer rapidamente não era o propósito da azaração.

– É laceração, não queimadura, Regulus! – brigou, pegando um coelho pelas orelhas e trazendo a altura do rosto dele – assim, olha.

Indicou a varinha, apontada entre as patas dianteiras do animal, mas quando estava prestes a proferir o feitiço, uma pontada no pé da barriga a atingiu com força, tão forte que sua visão escureceu. Ela levou a mão da varinha aos olhos, e as fagulhas quase atingiram Regulus, que gritou, se desviando. Apertou as orelhas do coelho com força, as esmagando na outra mão, mas suas mãos tremiam e ela acabou o soltando, ao mesmo tempo que seus joelhos cediam. Regulus teve a presença de espírito de saltar e segurá-la antes que a cabeça da garota fosse de encontro à quina da caixa.

– Bella! Que diab... – ele olhou do rosto assustadoramente branco da prima até as suas pernas. Um fio de sangue escorria entre elas, denso e devagar, vindo de debaixo da saia do uniforme. Os olhos dele se arregalaram de terror. Regulus nunca soube como conseguiu se mover para levá-la até a ala hospitalar.

–BD-

Bellatrix ficou inconsciente por uma semana inteira. Logo a sua doença misteriosa virou assunto de especulação pela escola inteira. A versão original, de que a jovem sonserina teria desmaiado nos jardins e socorrida pelo primo mais novo, ganhou dimensões muito mais espetaculares, que chegaram a envolver um testrálio e cinco pares de abafadores desaparecidos.

Suas colegas de quarto, Turnemore e Parkinson, se apressaram em contar ao diretor sobre o episódio que presenciaram no banheiro, e que Bellatrix as tinha feito ocultar. O suposto envenenamento chegou rapidamente também aos ouvidos do resto dos alunos – as sonserinas repetiam aquilo para quem quisesse ouvir, orgulhosas detentoras de uma informação inédita. Ninguém percebeu como o boato deixara Mme. Pomfrey irrequieta. A curandeira, que nunca tinha gostado muito da jovem e arrogante caçula Black, agora sentia o peso de sua negligência, por não ter lhe dado crédito quando ela viera lhe pedir um antídoto.

Ao longo daqueles dias, os pais da garota não tinham dado sinal de vida, nem mesmo após insistentes tentativas de McGonnagal através de correspondência. A única visita que tivera, no terceiro dia de sua estadia na enfermaria, tinha sido guardada em segredo pela curandeira.

O grifinório apareceu sorrateiro naquela noite – não era bem certo como ele conseguira escapar da guarda intensificada que os monitores e Filch faziam no castelo. Ele encostou à única cama ocupada, que era a da prima, e ficou simplesmente olhando, até Mme. Pomfrey se aproximar.

– Sr. Black, infelizmente terei que registrar sua visita noturna para a diretoria. As ordens são de que nenhum aluno, mal ou bem intencionado, esteja fora da cama após o toque de recolher.

– Isso é injusto – o jovem virou-se para a enfermeira sorrindo – você me colocaria em apuros, Poppy.

– Como se você precisasse de mim para isso, Sr. Black. – disse em tom de falsa reprimenda.

– Eu não vou aprontar nada hoje. Juro. – completou ao ver a expressão incrédula da senhora. – Só vim dar uma olhada.

– É admirável a importância que dá à sua familiar, mesmo levando em conta a rixa natural entre as suas casas.

– O quê? - Sirius fez uma careta de desagrado – Não, eu não me importo com ela. Só acho que está aprontando alguma coisa. A senhora sabe, de um jeito mal intencionado e prejudicial, como os sonserinos gostam de fazer.

Naquele momento Bellatrix certamente não parecia mal intencionada e prejudicial. A teoria de Sirius era que isso acontecia quando ela vestia branco – a exemplo da camisola da enfermaria. A cor produzia na garota um efeito ilusório de brandura; talvez toda a coisa do cabelo muito preto e a pele muito branca, o seu perfeitamente afilado nariz e o lábio cor de rosa, um conjunto que indicava inocência, o completo oposto da criatura viu que ela na verdade era.

– É sério o que estão dizendo, que ela foi envenenada? – perguntou sua boca teimosa antes que seu cérebro a contivesse.

– Ela se queixou disso comigo há alguns dias antes, na verdade. – confessou Mme. Pomfrey culposamente – Pensei que estivesse blefando, não me deixou examiná-la.

– E agora que examinou? – o moreno quis saber, fixo no contorno de Bella, azulado pelo luar.

– Há uma coerência – ela poderia ter tomado um veneno à base de farosutil, os sintomas coincidem. Mas é difícil – a bruxa suspirou – o ingrediente é fácil de conseguir, mas não surte esse efeito puro. A poção é muito complexa e difícil de encontrar. O único jeito... – ela se calou por um momento de hesitação.

– O quê? – Sirius a encorajou.

– Bem, se ela tivesse contato com um farosutil vivo, o suficiente para ser picada. Mas isso não é possível, sabe, não há registro desse animal nessa parte do país.

– Eu sabia! – Sirius bateu o punho no criado mudo, ganhando um “Sr. Black!" de repreensão da curandeira – Ela está aprontando alguma! Eu sabia, ela está escapando da escola e fazendo coisas por ai...

– Mas farosutils são encontrados somente em lugares ermos... como aquele vilarejo que foi queimado no nort... oh. – Mme. Pomfrey finalmente percebeu onde o setimanista queria chegar – Oh, não, meu jovem, essas conclusões são extremamente...

– Precipitadas? – ele riu meio atravessado – Não duvide de um sonserino, Poppy. Principalmente de uma ardilosa como a minha priminha aqui.

– Sr. Black – a enfermeira aparentemente tentava trazer o jovem à lucidez – a acusação que está fazendo é muito grave. Se não tem provas, é melhor que não comente isso por ai ou pode arranjar problemas para a sua família. Agora, se tiver alguma evidência do que está dizendo…

– Eu preciso ir. – o rapaz disse abruptamente. Moveu-se rápido para perto da porta e virou-se a meio caminho do corredor. – Só me diga uma coisa, ela vai... – pigarreou - sobreviver?

– Ela já deveria ter acordado, mas receio que há algo agravando sua situação, por mais que eu lhe dê poções fortificantes elas não dão resultado. Conversei com o diretor, e se a situação não melhorar, vamos ter que mandá-la para o St. Mungus nos próximos dias.

– Esse agravante poderia ser magia negra, Mme. Pomfrey?

Sua pergunta provocou uma expressão de choque na velha enfermeira.

– Era o que eu precisava saber. – ele disse ao perceber que a resposta seria afirmativa. – Por favor, não conte a ninguém que eu estive aqui. Especialmente não a ela – ele indicou a enferma com a cabeça – eu odiaria fazê-la pensar que tem alguém no mundo que ainda se importa.

Ele deu uma piscadela e foi embora sem demora, transformando-se em cão quando estava longe o bastante. Sua forma canina era silenciosa, e o melhor de tudo – exercia uma incrível simpatia na gata velha do zelador. Após ele ir, Mme. Pomfrey ainda ficou olhando do lugar onde estava o contorno magro de Bellatrix, agora certamente com um outro, e muito menos favorável ponto de vista sobre a garota.

–BD-


A despeito do que Sirius quisesse fazer Mme. Pomfrey acreditar, alguém no mundo ainda se importava. Tão logo o sábado amanheceu em Hogwarts, a sonserina recebeu uma nova visita. Rodolphos se empoleirou ao lado da cama – depois é claro de ter passado no escritório do diretor para ter certeza de que estavam dando a maior atenção possível ao caso da noiva.

Ele aproveitou que dormindo Bella não podia lhe atingir com suas frases ácidas e olhares arrogantes, e segurou sua mão por algum tempo, observando como a pele era fina e branca e suave em seus dedos e palma. Ele achava que nunca tinha a tocado por tanto tempo como então. Precisaria estar Bellatrix inconsciente para deixá-lo se aproximar?

No meio da tarde ele já estava tão mortalmente entediado que acabou chamando Regulus para jogar um pouco de xadrez bruxo. Ao menos para aquilo o garoto prestava.

– Então, como vão as coisas lá fora? – o quartanista perguntou no inicio da rodada.

– Olhe pela janela e descubra por si mesmo. – respondeu enfadado, em seguida dando a ordem para a sua torre se mover.

– Você sabe o que eu quero dizer – o mais novo rolou os olhos, sussurrando em seguida – com Milord. Porque tudo anda quieto?

– Não é porque você não sabe das coisas que elas não estão acontecendo, moleque.

Isso o fez se calar com um torcer de boa, os olhos crispando. Então ele pigarreou, para que sua voz não saísse nada diferente de casual.

– Você sabe, a Bella estava comigo quando passou mal.

Aquilo serviu para atrair a atenção de Rodolphos, que estreitou perigosamente os olhos para o garoto.

– Ela estava? Por que?

– Ela estava me ensinando uma azaração, e então, no momento seguinte, estava caindo no chão. Sangrando e revirando os olhos para dentro das orbitas.

– Não fale desse jeito – ele reclamou – como se tudo não passasse de um evento interessante da sua vida medíocre.

– Mas é o que é. – ele sorriu, os azul cristalino preenchendo o espaço estreito dos olhos franzidos – Eu estava lá, eu salvei a vida dela. Foi divertido.

Rodolphos lhe deu um empurrão, fazendo Regulus cair da cadeira de costas num grande barulho, o tabuleiro e as peças se espalhando por cima dele. Ele contornou a pequena mesa, se preparando para dar uma lição no moleque insolente, mas uma voz atordoada o fez parar no meio do caminho.

– Mas o que...

– Bella! – Regulus exclamou, levantando do chão e indo para o lado da prima recém desperta. Rodolphos veio rápido para o outro lado dela.

– Rodolphos? – ela ergueu uma sobrancelha – Certo. – a jovem olhou ao redor – Eu devo estar no inferno.

– Enfermaria. – o quartanista corrigiu.

Bella pareceu se dar conta da gravidade do que estava acontecendo, pois arregalou os olhos, procurando algo ao redor ao mesmo tempo que jogava as pernas para fora da cama.

– O que eu estou fazendo aqui?

– Você perdeu a consciência, mas isso foi há uma semana atrás, e até então não há poção ou feitiço reestabelecedor que lhe faça acordar. – o noivo explicou.

– A velha me examinou? – perguntou alarmada.

– Claro.

– E o que ela disse que eu tenho?

– Ela não sabe. Desconfia de envenenamento...

– Ah. Claro. – seus ombros tensos pareceram relaxar alguns milímetros.

– Você estava sangrando, Bella. – Regulus se pronunciou, seu tom denunciando mais temor do que deixara transparecer até aquele momento – Você tinha sangue escorrendo pelas suas pernas.

Ela levou a mão esperançosamente para a barriga diante da declaração do primo, no entanto seu coração falhou um batimento diante do que sentiu. Tinha certeza que todo o sangue abandonara sua cabeça porque a tontura e a palidez foram imediatas.

– O quê? – Rodolphos se aproximou a tocando no braço – está sentindo dor?

– Eu preciso ficar sozinha. – ela disse com frieza.

– Eu vou chamar a enfermeira, ela vai...

– Saiam daqui, os dois, agora! – o grito histérico e inesperado o deixou paralisado por um segundo, mas Rodolphos cruzou seus braços, de cara feia, e não se moveu.

– Isso é muito ingrato da sua parte, você sabe. Eu precisei desmarcar um monte de coisas para vir ver você. Tem idéia de há quanto tempo estou sentado do lado da sua cama?

Regulus olhou para ele como se tivesse brotado um par de antenas da testa do rapaz.

– É impressão minha, ou você está tentando apelar para o bom senso dela?

– FORA! - Bella perdeu sua paciência, já sentada na cama e pegando a sua varinha na mesa de cabeceira. Os dois finalmente saíram, Regulus murmurando alguma coisa como “ela precisaria ter um, primeiro”, e recebendo palavrões de Rodolphos.

Ela saltou da cama e correu para o único banheiro da enfermaria, tropeçando um pouco e parando em frente ao espelho. Olhou o próprio reflexo, mortificando-se. A camisola folgada não deixava transparecer o que sentira, mas estava ali, estava bem ali, inegavelmente... de alguma forma suas mãos foram firmes para erguer o pano e mostrar sua barriga, e então ela pôde ver, com uma clareza real e indiscutível, a sutil, mas existente curva em seu baixo ventre.

Havia uma elevação arredondada onde há dias, apenas poucos dias, existia uma barriga lisa como o tampo de uma mesa. Ela traçou com um dedo trêmulo a ondulação de sua barriga, querendo se convencer de que seus olhos estavam lhe pregando peças.

Bem, eles não estavam.

Um estalo agudo a fez despertar do torpor. O vidro do espelho começara a se rachar de um ponto bem abaixo da imagem do seu umbigo e a trilha subia reta separando seu reflexo em duas partes verticais. Ela podia sentir-se rachando por dentro, como se o espelho somente a acompanhasse, refletisse de alguma maneira o modo como se sentia.

O barulho do vidro se partindo era uma sinfonia agonizante, e ela se abaixou, protegendo o rosto, no exato momento que o espelho explodiu em centenas de pedaços ao seu redor.

–BD-

Atraída pela explosão no banheiro, Mme. Pomfrey entrou correndo, diminuindo a velocidade quando seus pés trituraram os cacos de vidro no chão. Ela atravessou o mar de cacos até a sua paciente, que estava abaixada, os braços ao redor da cabeça, tremendo.

– Srta. Black, você está...

Bellatrix deu um salto rápido para a parede oposta, os olhos vermelhos e coléricos.

– O que VOCÊ fez comigo! – acusou.

– Eu sinto muito, senhorita Black, mas se tivesse me deixado examiná-la na ocasião...

– VOCÊ ME TOCOU! – gritou, respirando rápido – o que você sabe?! O que você contou por ai sobre mim?

– Eu não disse… eu não… sinceramente! – atrapalhou-se a curandeira, assustada com a reação de Bellatrix – Srta. Black, volte para a comadre! Eu preciso examiná-la propriamente, agora que está acordada.

– Não! – a morena horrorizou-se. – Fique longe de mim.

– Mas você está doente! Você ficou em coma por sete dias. Alguma coisa em seu sistema está drenando sua energia, e é preciso descobrir o que é.

– Você não pode me curar. Eu vou concertar, eu vou...

– Se você não se sente confortável em ser tratada aqui, podemos encaminhá-la ao hospital - disse a mulher, empoada - Mas é preciso uma investigação adequada…

– Vá embora! – ela avançou sobre os cacos. – Me deixe sozinha! – sua insistência não pareceu surtir o efeito desejado. – SAIA! SAIA! SAIA!

Mme. Pomfrey se retirou do banheiro o mais rápido que pôde, reconhecendo que não poderia lidar com aquela reação intempestiva da sonserina. Murmurou algo sobre chamar o diretor e deixou a enfermaria. Bella saiu do banheiro em direção à suas roupas, enxergando manchas negras na frente dos olhos que a impediam de ver direito. Arrancou a horrível camisola e entrou nas próprias vestes, que tinham sido limpas do seu sangue e deixadas dobradas ao lado da cama.

Acabara de pegar a sua varinha quando a porta da enfermaria se abriu mais uma vez:

– Inferno, Rodolphos, eu disse que...

Mas não era o noivo no meio do seu grunhido raivoso.

– Acordou virada, priminha?

A raiva dentro dela cresceu em uma onda violenta. Uma coisa enorme e feita de fogo vibrou dentro do seu peito, querendo se vingar do dono daquela voz. Ele era o culpado. Ele precisava pagar por tudo aquilo pelo que a estava fazendo passar.

– Black – a varinha ergueu-se para ele, apontada para o seu coração – é melhor você sair da minha frente.

A varinha de Sirius também se ergueu instantaneamente, para o rosto dela.

– Eu não vou a lugar algum sem saber o que está matando você.

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

Eu imagino que seja mais difícil ler cap no meio da semana, mas para aqueles com tempo, deixem uma mensagem, ok? Eu adoro esse, é o meu segundo preferido =) O clima está esquentando para os nossos queridos, será que a Bella conta pra Sirius qual o problema? 

Ah, eu também quero de saber o que vocês gostariam de ver acontecer aqui. Sem promessas, mas quem sabe? Estou planejando um bônus, já que a fic está sendo revisada, posso incluir cenas extras ;)

E, quem está acompanhando mas ainda não colocou a fic nos alertas, tá esperando o que?? Hum.