Challenges of The Love escrita por Liz Rider, Kiera Collins


Capítulo 51
Preparativos


Notas iniciais do capítulo

OLAR MOZÔES
Desculpa por ser essa criatura desprezível que demora tanto para postar, eu juro que eu tento ser rápida, mas algo sempre me atrapalha. Esse capítulo está grandinho, pra compensar sz (mentira, é só porque eu acabei escrevendo muito. Mas finjam que é pra compensar a demora q) (aliás, vocês gostam de capítulos grandinhos ou preferem os pequeninos?)
Na verdade, eu nem postaria ele, postaria o próximo, mas esse é necessário. Sim, o próximo capítulo está pronto e eu ameeeei ele, ele é muito especial. A MÃO DE POSTAR CHEGA A TREMER, mas não posso. Eu estou muito animada, porque tem a ver com o otp.
Vocês verão...



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Visto o capuz do meu moletom porque o frio do shopping começa a me incomodar. Enquanto isso, Gustavo e Bruno dividem um sundae de chocolate, eles me deixam ficar com o canudinho de biscoito que enfeitava o sorvete. Eles usam colheres diferentes, mas lambem uma colherada e colocam de volta no copo, se distraindo antes de fazer o movimento de novo. Acabo de perceber que Bruno pegou a colher de Gustavo e vice versa, mas fico calada, rindo por dentro. O nome disso é beijo indireto, eu acho. A mesa está em silêncio, o que é bom e me incomoda ao mesmo tempo. Mas também incomodava Bruno, visto que ele começa a tentar puxar assunto, desesperadamente.

— Ei. - Ele me chama. Bruno leva uma das mãos aos cabelos e puxa algumas mechas para trás, fazendo um coquezinho. - O que acha?

Tiro os olhos do celular e levanto a cabeça. Faço uma careta. - Não fica legal. Seu cabelo é curto demais. Mas no moço emo ali - Aponto para Gustavo. -, talvez fique legal.

Bruno se levanta para testar o penteado no amigo, que se aproveita da sua distração e começa a devorar o sundae sozinho. Bruno segura os cabelos de Gustavo com uma mão e, com a outra, vira o rosto dele para mim. - Que tal? - Ele pergunta.

— Fica uns cinco anos mais velho. - Respondo, rindo. Sem soltar a mão, Bruno vira o rosto de Gustavo para si. - Que fofo. - Gustavo ri e dá de ombros. - Mas é mesmo, Meri. Se colocar uns óculos, fica parecendo um professor, um intelectual, algo assim. Tem alguns aí ou um cigarro?

— Não. Tenho lentes e um pirulito, serve? - Gustavo responde.

— Sério? - O loiro franze o cenho.

— As lentes ou o pirulito?

— As lentes, óbvio.

— Ah. Não tenho pirulito. - Ele cruza os braços. - Mas eu uso lente, sim.

— Que mentira. - Resolvo entrar na conversa.

— Não, é verdade, quer que eu tire para mostrar a vocês?

— Não é necessário. - Nego com a mão e faço uma careta. Tenho muita agonia com isso, a pessoa fica com o dedo dentro do olho para puxar a lente. Tenho a impressão que é muito incômodo.

— Ei. - Bruno fica com uma expressão curiosa, subitamente animado. - Você deve ficar bonito usando óculos. - Gustavo dá de ombros pela milésima vez hoje. Em um minuto, estamos numa ótica.

Um cara com um sorriso muito simpático vem imediatamente nos atender. No momento que Bruno começa a falar com ele, me afasto um pouco dele e deixo que ele se vire sozinho, porque eu acho meio esquisito pedir para somente experimentar uma armação, sem a menor intenção de comprá-la. Mas o meu amigo deve ser uma espécie de mago das palavras, porque Bruno consegue arrancar uma risada do atendente. Quando me dou conta, Gustavo está brincando com um daqueles espelhos de dois lados, rindo de si mesmo no lado que aumentava o reflexo, enquanto o loiro escolhe uma armação para ele experimentar.

Aproximo-me de novo assim que Bruno leva a escolhida. Uma armação preta, quadrada, bem simples. Gustavo a examina antes de colocar e depois que o faz, fica mais um tempinho se olhando no espelho. - Que tal? - Ele gira na cadeira, ficando de frente para nós dois, dando um sorriso extremamente sedutor e segurando o queixo com uma das mãos.

— Uau. - É tudo que eu digo.

— Nossa. Você fica... - Bruno vira a cabeça um pouquinho para o lado e franze o cenho. - Muito gato.

Reprimo uma risada. Gustavo fica envergonhado quando qualquer pessoa faz qualquer comentário sobre ele, mas Bruno faz isso mais vezes do que qualquer um. Antigamente as respostas eram um simples e curto "pare", mas agora Gustavo só segue em frente com a vida, enquanto Bruno se diverte com o embaraço dele. Não vou mentir, me divirto também.

Ele se levanta da cadeira e entrega a armação para Bruno, pronto para ir embora. Juro que, se tivesse dólares suficientes aqui comigo, compraria isso de presente pra ele, agora mesmo.

— Se existe uma pessoa que nasceu para usar óculos, essa pessoa é você, Gustavo. - Afirmo. - Por que você usa lente?

— Ahn, obrigado. - Ele ri. - Eu até usei por um tempo, mas os meus amigos diziam que era melhor sem.

— Esses "amigos" do outro colégio não parecem legais. Como você aguentava esses caras?

— Eu não tinha mais ninguém. - Gustavo ri sem humor.

— Nossa, que depressivo, para. - Bruno nos alcança, depois de devolver a armação com o coração doendo. - Agora você tem amiguinhos de verdade. - Ele põe o braço em volta do pescoço de Gustavo, com um pouco de dificuldade, já que Gusta é gigante.

— Eu sei. - Ele olha para Bruno e sorri.

Caminhamos juntos pelo shopping, eu pensei que estávamos indo para a saída, mas eles procuravam outra coisa. Os dois correm para livraria ao lado da saída mais próxima. Corro atrás deles e os paro. - Não, não. Eu quero ir embora.

Bruno suspira e solta o seu braço das minhas mãos. - Ok, vamos.

Saímos, finalmente. Mas paramos de novo, para olhar um suposto casal. Dois homens arrumam duas meninas no banco de trás de um carro.

— Awn. - Não me contenho. Gustavo sorri de canto.

— Quero ir lá e dizer que a família deles é linda. - Bruno diz e passa o dedo embaixo dos olhos, fingindo enxugar uma lágrima.

Mas uma mulher surge com sacolas na mão. Ela coloca tudo no porta-malas. Um dos homens senta no banco de trás, junto com as meninas, e a mulher senta na frente. Ela dá um selinho no outro homem.

— Hã... Acho que o nosso casal acaba de morrer. - Gustavo ri.

— Que decepcionante. E eu aqui vomitando arco-íris por nada. - Bruno balança a cabeça negativamente.

— Vai ver ela é irmã de um deles. - Brinco, no limite da ilusão. Mas ok, chega de observar estranhos.

Abro a porta de casa e dou de cara com uma Elinor irritada. - Ligaram do colégio. - Ela me informa.

— É? O que falaram? - Finjo estar despreocupada.

— Que você matou aula. Você e mais dois amigos.

Droga. Bruno ficou se dizendo especialista, se gabando por já ter feito isso várias vezes. Aí quando eu entro no barco, na primeira vez, ele afunda. Droga. - Olha...

Ela faz um gesto de mão que significa: cale a boca, desonra. -Você vai ficar de castigo. Estou muito decepcionada, Merida. - Ela me lança um olhar que me faz sangrar por dentro, antes de sair.

Subo a escada em silêncio, largo minha mochila num canto do quarto e me jogo na cama. Suspiro bem alto, tanto que meu irmão vem até mim.

— O que foi? - Hamish pergunta, com um tom tão preocupado que me comove.

— Nada não. - Respondo. Ele sai do meu quarto, sem que eu mande, me olhando desconfiado.

Será que ela vai me proibir de ir ao baile? Acho que não, ano passado ela queria tanto que eu fosse, mas eu não estava com vontade. Não fui, mas esse ano não quero cometer o mesmo erro. Mas... com quem eu vou? Talvez eu deva perguntar para o Bruno se ele quer ir comigo, como amigos mesmo, mas, ele já deve ter um. Também perguntaria para Gustavo, mas com certeza alguma menina foi mais rápida que eu.

Percebo que Hans não me convidou. Deve ser bobo, egoísta ou imbecil da minha parte, mas me sinto triste por causa disso. Eu queria que ele me convidasse só para ter o prazer de rejeitar. Ou não, poderia aceitar e ter uma noite agradável, algo assim. Mas uma parte de mim quer que ele sofra um pouquinho, não vou mentir.

Penso que estou fazendo errado, deveria ir lavar o rosto para me manter acordada, mas ignoro minha vozinha da razão e coloco os fones de ouvido. Fico deitada, ouvindo uma música calma e baixa. Até que pego no sono.

Quando acordo, já está escuro. Tiro o uniforme e coloco a blusa no cesto de roupa suja. Prendo meu cabelo num coque, entro no banheiro e tomo um banho quente, para relaxar ou lavar o desânimo de mim. Estou muito desapontada comigo mesma, porque a minha mãe também está. Faço uma terapia meio idiota: concentro-me no pensamento que, junto com a água que escorre pelo ralo, vai a minha angústia. Não sei se dá certo, mas faço uma anotação mental para conversar com a minha mãe. Depois de me vestir, percebo que estou com fome. Nem almocei de verdade. Desço para a cozinha e preparo um sanduíche para mim. Pego uma jarra de suco de maracujá que estava na geladeira e Harris aparece do nada pedindo um pouco. Sirvo um copo para ele e outro pra mim. Ele vai para sala levando o copo, torço para que Harris ou outro dos meus irmãos não derrube suco no tapete.

Estou degustando meu sanduíche quando ouço o som de um carro estacionando na garagem. Penso que é o meu pai, porque ele sempre chega mais cedo que a minha mãe, mas estou errada, porque dessa vez foi ela quem chegou antes. Ela entra em casa falando ao celular, mas desliga quando vê três pequeninas coisas ruivas correndo em sua direção. Ela beija a testa de todos. Pra mim, sobra o olhar esquisito. Não que eu ache que não mereça.

Respiro fundo e espero que ela fale comigo. - Oi, Merida.

— Oi, mãe. - Digo, olhando para o meu sanduíche. Ela se dirige à mesa de jantar e deixa a bolsa. Terei que ser eu a iniciar o assunto, infelizmente. - Está brava comigo?

— O que você acha?

— Que sim.

— Então por que pergunta? - Uma das coisas mais irritantes nela é que ela se parece muito comigo. Quando fica com raiva, então, somos iguais. Acabo ficando com raiva dela e com raiva de mim mesma, porque ela é tão chata e teimosa quanto eu e eu odeio o meu próprio jeito.

— Para ter certeza que não estou errada. - Ironizo.

Ela respira fundo e senta na cadeira mais próxima, juntando as mãos sobre seu colo. - Merida, nós pagamos esse colégio caro esperando ter retorno seu, em forma de dedicação. O que você acha que pensamos quando recebemos uma ligação do colégio dizendo que você não está lá? - Ela diz, se referindo a ela e a meu pai. Meu pai não se importa realmente, mas ela talvez sim. Para não deixá-la ainda mais puta, me calo. É só o que ela quer, na verdade, que eu fique calada e ouça. - Suas notas não eram sempre ótimas, mas eu via você estudando. Agora, quando você está no segundo ano, parece que está relaxando.

Puxo uma cadeira e sento, apoiando a minha cabeça com as mãos. A merda é que é verdade, não venho estudando para as provas, que já estão bem próximas, aliás. Balanço a minha cabeça, concordando com ela, porque é a única coisa que posso fazer.

— Então... Eu vou ficar de castigo por muito tempo...?

— Esse final de semana e até o próximo. Não vai sair, nada de internet, nada de celular, apenas estudo.

Suspiro, mas não de um jeito hostil. Um suspiro normal. - Quer dizer que não vou ao baile?

— Baile? - A expressão de Elinor muda.

— É. Baile a fantasia.

Ela fica em silêncio por um momento, provavelmente pensando se deve me deixar ir ou por que eu quero ir.

— Já sabe o que vestir? - Ela dá um sorriso mínimo. Retribuo com um maior.

— Eu estava pensando em ir de Ravena, zumbi...

— Ravena? Zumbi? Essas são as únicas opções? - Minha mãe me interrompe, não muito feliz com minhas escolhas.

— Não, você não me deixa terminar! - Respondo. - Ou bruxa, Mortícia Adams...

— Todas muito "dark". - Ela fala dark de um jeito muito estranho, carregando no sotaque, não consigo evitar a risada. - Por que não deixa essas fantasias para o Halloween?

— Bom, o que você sugere?

— Princesa sempre funciona.

Reviro os olhos. Não mesmo, nunca vou me vestir disso para o baile. - Também é uma fantasia de Halloween, só que é usada pelas crianças de seis anos de idade!

— É verdade. - Ela sorri. Então não tenho mais nenhuma opção para falar. Não. Espera. Tenho sim. - Ah é, a Elsa me sugeriu "Chapeleira Maluca".

Ela coça o queixo e me olha de cima a baixo. - Hm. Um vestido com um terninho por cima, um chapéu combinando. Podemos deixar seu cabelo mais volumoso e fazer uma maquiagem caprichada. - Ela diz, séria, como se pudesse me ver agora exatamente do jeito que está imaginando.

— Legal. - Digo, imaginando junto com ela. - Você me ajuda?

— É claro. - Ela afirma. Assinto com a cabeça, ligeiramente mais animada com o baile.

— É... obrigada, então. - Aperto os lábios num pequeno sorriso.

— De nada. - Ela diz. - Mas você ainda está de castigo!

No dia seguinte, quero saber as fantasias de todo mundo. Elsa está indecisa e meio paranoica como sempre. Porém ela me conta que levará sua prima, que vai de policial, e o namorado dela, que vai de ladrão. Clichê, mas fofo. Quero conhecê-los. Astrid e Soluço vão de vikings, me pergunto de onde eles tiraram essa ideia e fico triste por não ter pensado nisso, mesmo estando bem satisfeita com a minha. Elly não tem ideia do que vai vestir, o que é totalmente compreensível, já que ela vive em um mundo a parte. Ela não tinha se tocado que faltava uma semana e um dia para o baile, eu que a lembrei. Mas Elly não entra em desespero, só fica pensativa de repente e se afasta do nosso grupinho.

— Ué. - Franzo o cenho. As meninas dão de ombros e concluo que ela vai apenas fazer mais uma viagem ao mundo da lua. Então o sinal toca, nos avisando que vão dar início às aulas.

Astrid e eu suspiramos ao mesmo tempo. - Começou esta merda. - Ela diz, dou uma risada. Despedimos-nos de Elsa, que vai atrás de Elly, entrelaçamos nossos braços e subimos a escada juntas.

Alguns lugares na primeira fileira estão vagos. Com um só olhar, informo a Astrid que hoje não estou na maior vibe nerd-que-senta-na-frente, então nos sentamos mais no fundo, perto da parede. Perfeito para distrações.

— Se quiser sentar mais na frente, pode ir. - Digo, sorrindo.

— Nããão. - Ela diz, num bocejo. - Ontem, eu fiquei até tarde estudando. Não é algo muito inteligente a se fazer, mas eu não tenho dificuldade nas matérias de hoje.

— Nossa. Por que fez isso?

— Não posso ficar para a recuperação, não mesmo! Meus pais estão planejando uma viagem para fora do país, e se eu ficar, vou estragar tudo. Estou usando cada minuto que eu tenho para estudar. - Ela diz, sorrindo. Levanto uma sobrancelha e ela olha para os lados. Seu sorriso se transforma numa cara de sono e ela deixa a cabeça cair na banca de madeira. - É um saco. - A voz dela sai abafada e incrivelmente tediosa, dou uma risada.

— Mas vai valer a pena. Né?

— Sim. Sim! - Ela levanta a cabeça, sorrindo de novo. Rio, Astrid é doidinha.

A professora entra na sala. Francês não é a coisa que eu mais gosto, mas eu me dou bem. A professora também parece gostar de mim, então me permito usar a aula dela para copiar a revisão de física que Astrid fez ontem a noite. Não é muito certo, mas ela me ofereceu, muito orgulhosa do próprio trabalho, e eu aceitei, já que não tenho nenhuma revisão pronta. Na verdade, nem estudei. Todos a minha volta estão preocupados, e eu nem estudei. Temos um problema, não é, Merida? Faço outra anotação no meu bloco de notas mental, para estudar hoje de tarde. Minha mãe vai gostar.

Quando a aula acaba, Astrid tira uns minutos para me mostrar músicas, para o baile. Ela e mais um grupo seleto de estudantes super animados e engajados e esforçados e animados estão cuidando desses detalhes, como decoração e playlists. Digo que adorei, o que é verdade, mas tenho em mente que uma pessoa não vai gostar.

A pessoa vem caminhando até mim. - Oi. - Ela diz.

— Oi, Gustavo. - Respondo e começo a rir. Ele e Astrid não entendem. - Corra, Astrid! Fuja com a sua playlist, antes que o Monstro da Música Indie a destrua!

Astrid ri e entra na brincadeira. Ela faz uma cara exagerada de espanto e corre de costas para a direção que vai, numa espécie de moonwalker acelerado. - Oh, meu Deus, não. Salve-se, Merida!

— Fuja mais rápido, ou quebro seu celular, querida fã do Michael Jackson. - Gustavo pega a referência, sem eu ao menos ter falado em voz alta. Rio e aceno para ela. Vou andando até a minha outra aula e Gustavo vem atrás de mim.

— Escute, estava falando com Bruno sobre irmos comprar nossas fantasias juntos. Achei que seria legal ter uma opinião feminina... mesmo que você não seja a pessoa mais feminina que eu conheço.

— O quê? - Viro para ele e dou um soco no seu ombro, rindo. - Cale a boca, seu bosta.

Ele voa um pouco para trás, mas continua rindo. - Não estou te xingando, só falei verdades. Né? Ou você se acha feminina?

Dou de ombros. - Não. Mas tanto faz. Isso não é da sua conta.

— Eu sei. – Ele fica sério. Dou um meio sorriso e faço um gesto com a mão, indicando que não estou magoada. Não Gustavo, você não quebrou meu coração, só continue a falar. - Você quer ir?

— Pra onde?

— Comprar as fantasias, ora. - Ele franze o cenho. - Você ouviu algo do que eu disse?

Na verdade, eu não estava prestando atenção no que ele disse. Mas dá para entender a partir daí. Ele quer que eu vá com ele comprar fantasias, provavelmente Bruno vai, porque eles não se desgrudam.

— Vou. - Respondo, por fim.

— Ok. Depois a gente se fala pra combinar direitinho. - Ele diz e corre na direção contrária a que eu sigo.

As outras aulas são um saco.

Mal posso esperar para o intervalo, já que ouço minha barriga roncar. Desço a escada segurando minha maçã, está tão vermelha que parece banhada em sangue - espere, esse foi um comentário muito, muito estranho. Tiro o plástico que a cobre, procurando um lugar para sentar e ficar em paz. Mas Astrid surge na minha frente.

— Elly está trancada no banheiro, venha, Merida, agora! - Ela diz, ofegante. Ela veio correndo até mim e volta correndo por aonde veio, a sigo na mesma velocidade.

Elsa batia com calma no box. - Elly, por favor, responda. - E só se ouviam soluços.

— Elly? Você está aí? - Pergunto o que todo mundo já tinha perguntado. Novamente, nenhuma resposta. - Amiga. - Suspiro e penso num jeito delicado de falar. - Não sei o que aconteceu, mas tenho certeza que ficar aí sozinha não vai melhorar nada. Sai, explica pra gente o que houve.

— Nós vamos te ajudar. - Astrid complementa.

— Eu já falei isso, ela não escuta... - Elsa sussurra para mim e Astrid. Então, ouvimos a porta destrancar. Ficamos em silêncio imediatamente.

Elly esfrega os olhos vermelhos e caminha até a pia. Ela liga a torneira e pega um pouco de água com as mãos, enquanto Elsa se move rapidamente e segura o cabelo dela. Elly se inclina e joga a água no rosto, Astrid se aproxima e põe a mão em seu ombro. - Então... - Começo a falar, mas ela me interrompe.

— Lucas. - Elly diz.

Ah, não. Problemas com garotos.

— O que ele fez? - Astrid pergunta.

— É mais o que ele não fez. Sabe, tem isso de baile, e eu achei que estivéssemos construindo algo entre nós. Mas ele não me chamou. Será que ele esqueceu? Mas se ele esqueceu, quer dizer que não se importa.

Levanto a sobrancelha. Sério? - Elly, você estava trancada no banheiro por causa disso? Não acredito.

Ela olha para mim irritada e as outras meninas a acompanham. Ok, me expressei mal. Mas não disse nenhuma mentira. - Ah, eu pensei que algum parente próximo tinha morrido. Algum motivo importante.

Elsa suspira e balança a cabeça. - O que a Merida quer dizer é que o Lucas é só um garoto. Têm vários por aí, pra quê se trancar no banheiro por ele?

— Eu acho que ele gosta de você, de verdade. - Astrid apoia as mãos na pia do banheiro, para logo depois perceber que ela estava molhada e ir pegar uma toalha de papel.

— Mas se ele não gostar, foda-se! - Completo.

— É. - Ela ri e continua. - Você não pode depender de alguém pra ser feliz, sabe? Se ele não gosta, outros vão gostar. O problema é ele!

— Isso! Elly, você é tão divertida, tão inteligente, gosta de ajudar as pessoas, é linda. Foda-se o Lucas. - Elsa diz, meio que gritando a última frase. Arregalo os olhos, Elsa não costuma dizer palavrão. Mas acho divertido.

— Foda-se o Lucas. - Repito, depois é a vez de Astrid. Seguramos Elly na frente do espelho e fazemos com que ela repita o nosso mantra. Logo depois nós estamos rindo. Elsa entrelaça o braço com o de Elly e nós saímos do banheiro juntas. Elly parece melhor, o rosto dela não está vermelho, mas ofereço papel toalha a ela.

— Para o caso de você for fazer drama de novo. - Digo. Ela ri e me mostra a língua.

Estamos caminhando pelo corredor quando ouço alguém me chamar. - Er... Merida? - A pessoa segura meu braço e eu levo um susto, mas não demonstro.

Viro o meu corpo devagar para trás. - Hans? - Franzo o cenho. - O que você quer?

— Falar com você. - Ele diz, colocando as mãos atrás das costas. As meninas continuam andando, sem falar nada ou fazer caretas - eu, pelo menos, não vejo -, e sou muito grata por isso.

— Então fale. - Digo, desenrolando o plástico da maçã de novo e dando uma mordida logo em seguida.

Ele segura o braço com a mão e limpa a garganta. - É que eu estava pensando... se você não queria ir ao baile. Comigo.

Levanto as sobrancelhas. Bem, é claro que a primeira coisa que passou pela minha cabeça quando ele me chamou, era que ele ia me convidar. Mas, sei lá, acabo me surpreendendo do mesmo jeito.

Abro a boca para falar, mas hesito. O que eu digo? Uma parte boba e alegre de mim fica toda boba e alegre, a outra me manda fechar a cara e dizer "não" da maneira mais cruel possível. - Bem... - Agora sou eu quem está nervosa. No fundo, eu queria poder aceitar sem ficar com raiva de mim mesma, queria que tudo voltasse ao normal, como era antes. Mas eu não posso, porque ainda não o perdoei totalmente. É infantil, eu sei, mas eu queria que ele sofresse um pouquinho, para ficarmos quites. Mas, talvez eu me permita ser infantil e um pouco cruel. - É que eu já tenho um par.

— Quem? - Ele não parece surpreso. Só desapontado.

— Gustavo.

Penso o tempo todo na merda que fiz. Ir com o Gustavo? Você estava louca, Merida?! Só olhar para ele, é impossível que ele não tenha se arranjado ainda. Alguma menina deve ter pedido, ele deve ter um par, eu sou burra. Devia ter falado que ia com Bruno.

Mas, talvez ele também tenha um.

Por que eu só não disse a porra do "não"?! Ou porque eu não disse "sim"?

Bom, agora já é tarde demais e não há nada que eu possa fazer, a não ser me torturar a caminho do treino, repetindo para mim mesma que eu sou uma idiota.

Eles estão lá, conversando. Abro um espaço entre os dois e me sento no meio, assustando-os. Sem querer. - Olá.

— Olá. - Eles respondem.

— Gustavo, você tem algum par para o baile? - Pergunto, como quem não quer nada. Talvez eu consiga fazer que ele desista de seja lá com quem ele vai para ir comigo.

— Não. - Ele diz. Minha boca se abre e deixo escapar um suspiro de surpresa. Ué. Não tem?

— Ué.

— É. Por que pergunta?

— Porque, sem pensar muito no que estava fazendo, eu disse que ia com você. Desculpa.

Ele levanta as sobrancelhas. - Você está pedindo para ir comigo?

— Seria bom. - Eu não tinha pensado em ir com você, mas... bom, não vou te deixar na mão, né? - Gustavo balança a cabeça, fitando o chão, pensando por um momento. Suspiro aliviada, quando vejo Bruno revezar seu olhar entre mim e Gustavo, com a boca entreaberta e expressão que vai de surpresa e descrença até desapontamento e tristeza absoluta. Ah, claro, eu só faço merda.

— Ok. - Gustavo responde. Decido que tenho que agir, e rápido.

— Na verdade, porque não vamos os três? - Bruno vira a cabeça para o meu lado. - Eu me lembro de ter visto num filme, um menino entrando no salão no meio de duas meninas bonitas, todo mundo parando para olhar. Você sabe, aquela cena clichê. - Sorrio. - Nós três vamos, tipo, como amigos. A menos que o Bruno tenha alguém.

— Eu tinha os meus planos. - Ele põe a mão na nuca. - Mas tanto faz. Por mim, eu vou. Seria legal, de verdade.

Nós dois olhamos para Gustavo, com expectativa. Ele levanta o olhar, sorrindo, e balança a cabeça, dizendo que tudo bem. Depois, começo a rir, me imaginando como o menino do filme. Entrando de braços dados com Gustavo e Bruno, de óculos escuros, bem badass. Adorei. - Cara, a um minuto atrás eu ia sozinha. Agora, vou acompanhada dos dois gatões do colégio. - Rio.

— Gatões? Quem me deu esse título? – Gustavo franze o cenho.

— Ahn, o mundo? - Bruno responde, como se fosse óbvio. Mas é um pouco, sim.

Assim que chego a minha casa, vou tomar banho. É bom para me manter acordada o resto da tarde e também porque eu vou sair com os meninos. Desço para a mesa de jantar, para que todos possam ver que estou estudando. Meus irmãos estão assistindo tv e minha mãe está na ponta da mesa, com seu netbook, mexendo com planilhas do Excel, então prefiro me manter longe.

Sento numa cadeira que me permite ver a televisão. Hamish, Hubert e Harris não prestam atenção no MAD de Star Trek e penso automaticamente que Hans ia rir muito, já Gustavo ia se sentir ofendido. Gustavo. - Mãe, vou com o Bruno e o Gustavo comprar alguma fantasia. - Aviso, enquanto folheio o meu caderno a procura do assunto mais recente.

Ela levanta o olhar e ajeita os óculos. Sorri ao me ver estudando. - Comprar fantasias? Mas nós já temos ideias para a sua. É melhor você comprar amanhã, comigo.

— Eu vou ajudar com as fantasias deles. - Sorrio.

— E desde quando você pode ajudar quando o assunto é roupa?

Ela ri e faço careta. - Fique a senhora sabendo que eles que chamaram.

— Tudo bem, então. - Ela balança a cabeça afirmativamente e volta a prestar atenção no notebook. Mas ela me chama em seguida. - Por falar em fantasia, com quem você vai para o baile? Quem é o seu par?

— São eles. Bruno e Gustavo. Gustavo e Bruno.

Ela franze o cenho. Já imagino o que ela vai perguntar, "mas e o Hans?". Nunca disse para os meus pais que nós estávamos oficialmente namorando, mesmo que Hans tenha me pedido oficialmente em namoro e ela tenha o chamado de genro algumas vezes. E que ele a tenha chamado de sogra. E que ele tenha vindo me pegar para ir ao cinema e que, talvez, meus pais tenham me visto beijando Hans. Provavelmente, ela pensava que Hans (ainda) era meu namorado e que eu devia ir com ele.

— A gente... brigou. Faz um tempinho. - Brinco com o lápis em minha mão. Também já sei o que ela vai perguntar agora.

— E quando você ia me contar? - Acertei. Ela coloca as mãos na cintura e franze o cenho, parecendo muito confusa.

— Eu não queria falar sobre isso com ninguém. E quando eu pensei em contar, eu já tinha perdoado ele, então não fazia diferença. Mas nós não estamos namorando. E eu vou com meus amigos.

— E quando ia me contar? - Ela repete.

— Eu estou contando agora, não estou? - Solto o lápis e coloco as mãos sobre a mesa, batendo os dedos num ritmo impaciente. Suspiro. - Se quer mesmo saber, eu estava triste. Ás vezes, quando se está triste, você só quer ficar quieta pensando. E também porque seria muito estranho falar sobre relacionamentos com você. Agora está sendo estranho, na verdade.

— Mas o que aconteceu?

— Mãe... Não. Quero. Falar. Sobre. Isso.

Ela insiste e eu decido ir estudar no quarto. Pego minhas coisas e subo a escada repetindo que estou bem e essa história não tem importância, só não quero falar mesmo. Entro no meu quarto e tranco a porta.

Ás vezes é difícil, ela não respeita meu espaço. Mas eu tenho que lidar. E eu lido com música, é bom para me distrair. Tiro pulseiras e papéis e outras coisas desnecessárias da minha escrivaninha, puxo uma cadeira e subo em cima, para alcançar o meu som na estante acima. Conecto o celular ao som e aumento o volume. Alto, mas não alto o suficiente para me atrapalhar ou para que alguém lá em baixo ouça.

Coloco a cadeira na posição original e prometo para mim mesma que vou estudar, até que chegue a hora que vou ter que sair para encontrar com os meninos.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Digam suas opiniões.
Beijos da Kiera :*

P.S.: tá liberado me xingar.



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